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Este capitulo contribui com a construção de um universo para análise da AF, a partir dos dados do IV Censo Agropecuário 2007-2008 de El Salvador, e por meio da análise uni- variado, foi possível obter a distribuição dos dados e estratificar a AF. De forma geral, cada categoria dos estabelecimentos familiares se distribui-se de maneira homogênea nos departa- mentos de El Salvador, com maior presença da AFS tipo A, a menos capitalizada, e menor presença da AFC tipo D, mais capitalizada.

Tem-se que 79,4% da superfície cultivada é utilizada para grãos básicos; 13,4% para cana-de-açúcar, 41,1% da superfície é utilizada para cultivo de grãos básicos (feijão, sorgo, milho e arroz), 7,0% para cultivo de cana de açúcar, 16,4% para cultivo de café e 31,8% para pecuária. A produtividade para atividades diversas foi de 81,88% menor para estabe- lecimentos familiares em relação aos estabelecimentos não familiares. A produtividade de frutas foi 15,44% menor para estabelecimentos familiares em relação aos não familiares; a produtividade de grãos básicos foi maior para os estabelecimentos não familiares em 59,45% em relação aos estabelecimentos familiares; situação similar para o cultivo de hortaliças e vegetais, onde a produtividade da AF foi menor em 21,49% em relação à ANF. Em relação a

agroindústria, a produtividade dos cultivos semipermanentes e permanentes da AF foi menor em 2,80% em relação à ANF, a exceção dos cultivos agroindustriais anuais, que a AF teve uma produtividade maior (7,64%) em relação à ANF.

De modo geral, a AF contribui com 96% da produção de grãos básicos (excluindo outros cultivos e alguns grãos básicos), e a ANF com 4%. Excluindo grãos básicos, a ANF contribui com 88% da produção de outros tipos de cultivos e a AF (tipos C e D) com 12%. A AF corresponde a um total de 371.849 estabelecimentos, os quais estão distribuídos da seguinte forma29:

∙ Agricultura Familiar de Subsistência tipo A: nesta categoria, houve 260.724 estabele- cimentos que corresponderam ao 70,12% do total de estabelecimentos familiares, com cultivo apenas de grãos básicos. Teve uma produtividade total média (só cultiva grãos básicos) de 3,58 toneladas por hectare e uma produtividade média por estabelecimento de 3,64 toneladas por hectare. A superfície média foi de 0,97 hectares por estabeleci- mento e o tamanho do estabelecimento variou entre 0,01 até 12,58 hectares. A produção média foi de 3,46 toneladas por estabelecimento, com produção entre 0,02 e 6,00 tone- ladas. Esta categoria de AF, contribuiu com 55,1% da produção total de grãos básicos. ∙ Agricultura Familiar de Subsistência tipo B: esta categoria tem 61.583 estabelecimen- tos, uma proporção de 16,56% do total de estabelecimentos familiares e cultiva apenas grãos básicos. Tem uma produtividade total média de 7,42 toneladas por hectare para estabelecimento, uma produtividade média de 7,67 toneladas por estabelecimento. A superfície media é 0,70 hectares por estabelecimento e o tamanho do estabelecimento varia entre 0,01 e 5,59 hectares. A produção média é de 5,22 toneladas por estabele- cimento e a produção entre 6 e 17,89 toneladas por estabelecimento. A AFS tipo B, contribuem com 19,7% da produção total de grãos básicos.

∙ Agricultura Familiar Comercial tipo C: esta categoria correspondeu a 12,07% do total da produção, com um total de 44.867 estabelecimentos familiares, cultiva grãos básicos e outros itens. Para grãos básicos, esta categoria teve uma produtividade total média de 5,33 toneladas por hectare para estabelecimento e uma produtividade média de 5,32 toneladas por estabelecimento. A superfície média foi de 1,82 hectares por estabeleci- mento e o tamanho do estabelecimento variou entre 0,00 e 27,96 hectares. A produção média foi de 9,69 toneladas por estabelecimento, e produção entre 0 e 367,50 tonela- das por estabelecimento. Considerando outros itens, a produtividade total média foi de 9,62 toneladas e a produção média foi de 20,53 toneladas por estabelecimento, sendo

a produção entre 0 e 966,60 toneladas por estabelecimento. Em relação à produção de grãos básicos, a AFC tipo C contribuiu com 24,5% da produção total de grãos básicos e 30,5% da produção total considerando outros itens. Por último, a superfície média por estabelecimento foi de 2,13 hectares e o tamanho variou entre 0,07 e 46,13 hectares. ∙ Agricultura Familiar Comercial tipo D: aqui somam 4676 estabelecimentos comerciais,

cuja proporção foi de 1,26% em relação ao total de estabelecimentos familiares, cultiva grãos básicos e outros itens. Para grãos básicos, teve uma produtividade total média de 5,50 toneladas por hectare para cada estabelecimento e uma produtividade média de 5,63 toneladas por estabelecimento. A superfície média foi de 1,11 hectares por estabelecimento e o tamanho do estabelecimento variou entre 0,00 e 16,77 hectares. A produção média foi de 6,10 toneladas por estabelecimento, e produção entre 0 e 120 toneladas por estabelecimento. Considerando outros itens, a produtividade total média foi de 69,66 toneladas por hectare e a produtividade média foi de 67,47 toneladas por estabelecimento, a produção média foi de 188,08 toneladas por estabelecimento, com produção entre 2,80 e 3.354,80 toneladas por estabelecimento. Em relação à produção de grãos básicos a AFC tipo D contribui com 0,7% da produção total de grãos básicos, e 29,1% da produção total, considerando cultivos de grãos básicos, outros cultivos e alguns grãos básicos e, outros cultivos excluindo grãos básicos. E por último, a superfície media deste tipo de estabelecimento é 2,70 hectáres, e varia o tamanho entre 0,07 e 44,73 hectáres.

Por outro lado, houve evidências de concentração da terra. Segundo a curva de Lorenz, 10% dos produtores com maiores superfícies, concentra 70% da superfície total. O índice de Gini resultou igual a 0,75, indicando uma desigualdade da distribuição da terra muito alta. Também observou-se um déficit de assistência técnica (4,4% da AF recebe assistência técnica) e há uma utilização desprezível de maquinário como tratores para a produção. Observou-se também que 66,5% da AF utilizou canais de comercialização, e poucos estabelecimentos se associaram a Cooperativas para comercializar os seus produtos. Uma contribuição da AF foi a geração de 65,2% dos empregos totais. Em relação à solicitação de crédito, houve uma proporção muito ampla que não solicitou credito, e dentre os que solicitaram crédito e foram aprovados, destinaram a maior parte desse financiamento para as atividades agrícolas.

Sobre a produção, do total da produção de grãos basicos, a AF produziu 72,64% (cul- tivos de grãos básicos + outros cultivos e alguns grãos básicos), sendo que a AFS produziu 48,34% e a AFC 24,3%. Da produção total, a AF como um todo, produziu 37% e a ANF 63% da produção total. Em relação ao rendimento dos estabelecimentos familiares, observou-se que houve uma baixa produtividade da AF em relação à ANF, com um uso limitado de

tecnologias, a concentração de pobreza persistiu nas zonas rurais, houve falta de incenti- vos financeiros, de informação, baixo nível de capacitação tecnológica, baixo associativismo como canal de comercialização, e a potencial existência de uma transmissão intergeracio- nal das limitações produtivas dos estabelecimentos agropecuários. Porém, a AF forneceu um abastecimento considerável de grãos básicos, contribuindo para a segurança alimentar e ges- tão dos espaços rurais, sendo a principal fonte de renda e emprego no meio rural conforme observamos.

2.6.1

Comentários: Aspectos Econômicos e Institucionais da AF Salvadorenha

De um ponto de vista microeconômico encontrou-se que existe uma carência de in- centivos políticos e econômicos para a setor agropecuário e, em particular, para a AF. A literatura referente a este tema, evidência este fato. Algumas deficiências do setor agropé- cuario foram apontadas por Aghón et al. (2001, p. 13-14), para micro e pequenas empresas latino-americanas, onde foi destacada algumas limitações como a falta de informação, baixo nível de capacitação empresarial e tecnológico, carência de financiamento de longo e de mé- dio prazo, baixa qualificação, baixo grau de associativismo e problemas do lado da oferta de instrumentos de fomento produtivo como ineficiência, geração descoordenada e falta de visão integrada dos territórios.

Constatou-se que essas características não são diferentes para a AF salvadorenha na atualidade. Ao ser analisados os recursos disponíveis e os fatores de produção da AF salvadorenha, pode-se destacar a resiliência como qualidade importante frente à concentração da pobreza, baixa articulação institucional, incentivos econômicos e falta de políticas com um foco para a integração da agricultura do país. É certo que a partir de 2011, o governo começou a dar passos para fortalecê-la, porém, ainda está longe de melhorá-la pela falta de investimentos apropriados para a região e para este setor agrícola em particular.

Ao analisar o fator terra, por exemplo, este é limitado, e na construção da curva de Lorenz neste trabalho encontrou-se uma distribuição desigual da terra, concentração que pode levar a uma apropriação improdutiva, e a presença da especulação das terras30 devido

à falta de uma boa gestão da estrutura agrária, e na ausência de uma “boa governança fundiária”(REYDON; FELÍCIO, 2017, p. 15) que limita a “dimensão participativa (...) [e a busca] da sustentabilidade socioeconômica e ambiental da terra”(idem). O Instituto In- teramericano de Cooperación para la Agricultura (IICA) (2016) propõe que um primeiro passo para fortalecer os recursos da AF é solucionar vínculos de posse da terra e incorporar uma participação da AF na dinâmica dos territórios e na gestão deste, superar os modelos

de produção pouco sustentáveis, de baixa produtividade e sem inovação produtiva e tecno- lógica para lograr competitividade ante a “instabilidade de preços agropecuários”(Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura (IICA), 2016, p. 05).

A falta de uma boa institucionalidade nos espaços rurais, na utilização ineficiente dos recursos disponíveis (pela ausência de acompanhamento ou condições necessárias) e outros fatores externos se traduzem em deseconomias de escala permanentes na agricultura fami- liar, o que pode levar ao aumento dos seus custos médios de produção, ineficiência e pouca rentabilidade, como consequência dessa subvalorização do espaço rural e a fragilidade insti- tucional presente na zona rural. Isto resulta em um aumento do desemprego, subemprego e emprego informais e a uma baixa qualidade dos empregos com níveis baixos de remuneração nas economias rurais, o que leva “ao desenvolvimento deficitário dos mercados de trabalho rurais”(Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) , 2010, p. 25–34).

Por outro lado, constatou-se neste trabalho, que a falta de capital físico (máquinas e tecnologias) também é um problema presente dos pequenos estabelecimentos familiares de- vido à falta de acesso ao mercado de alguns produtores que tem os canais de acesso limitado, a falta de crédito e incentivos financeiros, o apoio de políticas públicas estatais que permitam o acesso a bens de capital a estes produtores. Estas restrições para a produção, também são determinadas pela limitação do acesso a tecnologias que não permitem a reestruturação da economia rural. O acesso a tecnologias e a falta de informação, pela sua vez, também limitam a agregação local de valor nos produtos, que tem um impacto sobre os rendimen- tos/produtividade dos estabelecimentos produtivos, que são muito baixos em comparação com a agricultura não familiar.

De um ponto de vista da globalização financeira, se faz cada vez mais acirrada a concorrência nos mercados internacionais e nacionais, o que requer maior produtividade, rentabilidade e competitividade da AF e exige novos vínculos locais e territoriais que integrem programas de inovação produtiva e tecnológica para fazer frente a estas novas realidades. De um ponto de vista macroeconômico, o setor agrícola salvadorenho dependiu historicamente dos preços do café (RUÍZ, 2015), o que torna a economia instável e, ainda mais, com a dolarização absoluta da economia em 2001 torna o cenário econômico mais vulnerável. Por exemplo, diante de uma inflação de custos de insumos para produtos agrícolas, é inegável uma diminuição da oferta de alimentos por parte de setores vulneráveis como a AF salvadorenha, a qual, apesar de sua resiliência, apresenta déficits estruturais em termos de produtividade, rentabilidade e concorrência, devido à limitação tecnológica e falta de incentivos financeiros, que se traduzem também em problemas de médio prazo de segurança alimentar.

nomia global, pois não somente é eficaz para aliviar a pobreza rural, mas, também é eficaz para o crescimento industrial e para reduzir a pobreza urbana, pois nos países mais pobres, a agricultura frequentemente é a maior fonte de emprego de toda a economia. A AF é chave no fornecimento de emprego e a principal fonte de renda no meio rural e sua resiliência se faz presente porque ainda com dificuldades econômicas a AF contribui significativamente para a produção de grãos básicos, o que permite destacar a sua importância atual na segurança alimentar, na sustentabilidade socioeconômica, e na gestão ambiental.

Os agricultores familiares, como novos atores sócio-produtivos, multifuncionais, têm sido abordados em El Salvador por uma visão assistencialista ineficiente, que foi foco de 1997 até 2011. Estes novos atores têm a capacidade e o potencial de contribuir para a se- gurança alimentar, sobre tudo porque, atualmente na América Central, “mais da metade da população rural (...) vive em unidades produtivas, geralmente familiares, que produzem grãos básicos, frequentemente combinados com outros cultivos ou atividades econômicas” (Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) , 2010, p. 35), e tem o potencial de contribuir na ges- tão sustentável dos recursos naturais, do meio ambiente, dos territórios e espaços rurais, da conservação da biodiversidade, da proteção dos conhecimentos ancestrais das comunidades desde o nível local territorial até o nível global.

A falta de apoio político e social pode comprometer às famílias agrícolas que contri- buem com grande parte da produção de alimentos básicos. Em El Salvador, os agricultores agropecuários apresentam uma serie de carências que não permitem um desenvolvimento sus- tentável no longo prazo. A partir de 2011 iniciaram esforços por parte do governo para dar maior prioridade aos pequenos produtores agrícolas por meio de políticas públicas orientadas ao setor agrícola com maior apoio ao setor.

3 Crédito e Produtividade: Impacto do Crédito

sobre o Rendimento das Unidades Produtivas

Familiares