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Estrutura Institucional em Apoio à Agricultura Familiar

3.2.1

Crédito Rural Orientado à Agricultura Familiar

O nível de vida das famílias salvadorenhas ligadas às atividades agropecuárias depende de sua produtividade. Segundo a Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación

y la Agricultura - Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura

(FAO) (2004) os países onde os produtores carecem de capacidade para efetuar investimentos necessários para elevar sua produtividade não conseguem financiamento dos bancos devido ao seu rendimento/salário serem baixos. A CEPAL et al. (2014) relata que a Agricultura Familiar enfrenta problemas de baixos rendimentos na produção, o que limita seu acesso aos mercados rurais e, especialmente, ao crédito que incentive e aumente sua produtividade.

O contexto de alocação creditícia para estes estabelecimentos agrícolas não tem sido flexível; a oferta financeira privada para o setor agrícola concentra-se apenas nas unidades de produção com renda diversificada e exige-se, muitas vezes, participação de um processo de transformação dos produtos agropecuários. Os serviços financeiros do setor privado de apoio às micro, pequenas e médias empresas (MPME) estão “concentrados no subsetor agroindus- trial” (ECHARTE; PORTILLO, 2009, p. 12).

A oferta financeira do Estado para o setor agrícola tem-se concentrado no financia- mento por meio de linhas de crédito agropecuário, considerado um ativo de risco, fornecido pelo Banco de Fomento Agropecuário, especificamente, a pequenos e médios produtores qua- lificados na categoria de risco A1, A2 ou B1 pela Superintendência do Sistema Financeiro (SSF)3. Os critérios para qualificar uma das categorias são: capacidade empresarial, responsa-

bilidade, situação econômica e financeira estável, capacidade de pagamento e fatores internos e externos que podem afetar os resultados econômicos da empresa. Alguns destes critérios excluem os agentes produtivos dentro da categoria de Agricultura Familiar.

As políticas públicas não necessariamente apresentam uma abordagem rural (VILLA- LOBOS; LAZO, 2006). Mejía e Delgado (2014) afirmam que desde 1997 El Salvador impul- sionou políticas agrícolas sob uma abordagem subsidiária e assistencialista, que consistia em programas de entrega de pacotes de sementes e fertilizantes e, em alguns casos, assistência técnica, a fim de aumentar a capacidade do país para a produção de grãos básicos. A histó- ria das políticas agrícolas promovidas pelos governos entre 1997 e 2009 estão resumidos em programas de entrega de pacotes agrícolas4.

3 A1 são os Créditos Normais, A2 os Créditos Normais Declinantes e B os Créditos Subnormais. Esta qua-

lificação baseia-se nas Normas para Classificação de Ativos de Risco de Crédito e constitui as Reservas de Saneamento (NCB-022). Disponível em < http://www.ssf.gob.sv/>

O governo de Carlos Mauricio Funes Cartagena (2009-2014) buscou implementar uma política agrícola diferente, de modo a atender vários tipos de produtores e, de maneira espe- cial, a Agricultura Familiar de subsistência. O objetivo principal era contribuir para a redução da pobreza e melhorar as condições de vida das famílias. No entanto, o Plano de Agricultura Familiar 2011-2014 (PAF) tinha também como ação principal a entrega de pacotes incluindo sementes de feijão, milho e fertilizantes, beneficiando, em 2013, 514.927 famílias.

Entretando, não é suficiente implementar uma política baseada apenas na entrega de pacotes agrícolas devido a riscos enfrentados pelas famílias e limitações dos recursos disponí- veis pelos agricultores familiares. Destaca-se além de riscos climáticos e dos cultivos, há riscos de custos de produção devido a baixa produtividade, altos índices de pobreza concentrados na zona rural e baixos níveis salariais abaixo do salário mínimo vigente no país.

Ainda que haja pacotes agrícolas deve-se ter a assistência técnica e acesso ao finan- ciamento para potencializar a produção. Mesmo havendo instituições de fomento ao crédito, ainda há diversas limitações que fazem com que os agricultores de pequena escala não cum- prem com os requesitos exigidos, o que dificulta o acesso ao crédito.

Cardoso (1983) analisou as relações de crédito rural no processo do desenvolvimento agrícola brasileiro e encontrou fatores que afetam a necessidade de crédito nesse setor. Se- gundo o autor, a necessidade do crédito é determinada pelas características específicas do setor agrícola. As razões que levam os agricultores a demandar financiamento são a necessi- dade de capital na agricultura, dificuldades de poupança, riscos, expectativas e o bem-estar. Falkowski et al. (2009), Echarte e Portillo (2009) afirmam que ao restrição de crédito5

é devido a informação assimétrica na relação de crédito entre um devedor e a instituição financeira, pois a garantia de pagamento é importante para a concessão ao crédito. De acordo com Comite Interinstitucional (CI) (2004), o crédito em El Salvador é definido pela forma da carteira do setor financeiro baseado em critérios de risco, critérios de rentabilidade, garantias de empréstimo ou segurança de recuperação e análise de risco para o financiamento.

Os autores Guirkinger e Boucher (2006) descobriram que a restrição ao crédito influi na rentabilidade, de modo que afeta o bem-estar das famílias e as decisões de alocação de recursos. A rentabilidade da AF é minimizada pela falta de incentivos financeiros aos produtores rurais. A baixa rentabilidade, como resultado da falta de incentivos financeiros, torna o setor da AF um financiamento de alto risco para os serviços financeiros públicos e privados.

O crédito possibilita o acesso a fatores tecnológicos para a mudança estrutural na

5 Segundo Santos e Braga (2013) o crédito pode ser limitado por problemas não resolvidos de seleção adversa

produção agrícola, permitindo o bom funcionamento dos mercados rurais, bem como desen- volver e implementar tecnologias novas (SALCEDO; GUZMÁN, 2014). De acordo com Gra- cias (2007), a concessão ao crédito desempenha um papel importante no desenvolvimento de um país, “porque o financiamento às decisões de consumo e investimento geram um efeito multiplicador nos setores da economia pois mobiliza recursos financeiros destes agentes para os outros”(GRACIAS, 2007, p. 03).

Assim, o financiamento às atividades agrícolas é um fator determinante do cresci- mento econômico e do desenvolvimento. No entanto, fontes de financiamento em El Salvador são limitadas tanto para investimentos em tecnológicas, infraestrutura agrícola e outras ne- cessidades dos produtores, que poderiam destinar o financiamento na potencialização de sua produtividade.

Dessa maneira, esta dissertação busca avaliar o impacto do acesso ao crédito sobre a produtividade de grãos básicos para agricultores familiares salvadorenhos, e destacar a necessidade de uma política de crédito para estes produtores.