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Críterios de delimitação da Agricultura Familiar

2.3 Evidência empírica sobre crítérios de delimitação da Agricultura Familiar e de

2.3.1 Críterios de delimitação da Agricultura Familiar

A categoria da Agricultura Familiar “é uma categoria política e, por conseguinte, é diversa, ampla e extensível por decisão política” (SABOURIN et al., 2014, p. 27–28) e distinta entre países e, as vezes, no interior do mesmo país, sendo necessária definí-la de um ponto de vista operativo. Tendo como base a Schneider (2014, p. 07), a noção, definição e compreensão da AF pode ser situada de três formas: i) por algum marco de referência teórico; ii) por definições normativas, operativas, institucionais, ou empíricas; ou iii) por uma definição política e social.

Nesta pequisa é tomada uma definição empiríca. A criação de uma definição norma- tiva ou empírica pode permitir um certo grau de homogeneização entre as categorias ainda que, com certas limitações pois, segundo Schneider (2014), esta tentativa conduz a certo

grau de arbitrariedade e discriminação já que reduzem a heterogeneidade e diversidade. A construção de uma definição “implicaria abster-se de juízos valorativos ou de propor formas ideais de organização social, para centrar-se (...) no estudo dessa estrutura e sua dinâmica” (MALETTA, 2011, p. 02).

Maletta (2011) indica que há aproximações ao conceito de agricultura familiar a par- tir de algumas definições que permitiram soluções empíricas possíveis, como a “agricultura predial, pequena escala, pequena escala da terra, ou capital ou a produção, padronização de terras, trabalho familiar e assalariado, propriedade da terra”(p. 05–07). Salcedo et al. (2014, p. 21–22) indicam que mesmo havendo definições dissimilares na América Latina, existem elementos em comum em todas elas, a saber, aquelas que tem mão de obra predominante- mente familiar, administração da unidade econômica-produtiva concedida ao chefe do lar e o tamanho da exploração e/ou da produção. Estes elementos também são determinante para a classificação da AF.

De acordo com Salcedo et al. (2014), a definição de mão de obra predominante familiar como critério exclusivo de classificação deve relativizar-se pelo contexto em que as rendas não agrícolas têm cada vez mais importância. O critério da gestão do estabelecimento por parte do chefe da exploração pode ser de muita ajuda para critérios de acesso a políticas públicas. O critério do tamanho da exploração definido mediante superfície de terra das explorações ou estabelecimento, pode levar a considerações equivocadas, já que existe uma heterogeneidade de qualidade de terra e solos agrícolas, recursos hídricos e produtividades diferentes. Salcedo

et al. (2014) expõe que seria importante incorporar o conceito de “produtividade da terra”

para classificar os produtores familiares em tipologias, pois teria maior peso que o tamanho da propriedade.

A estratificação ou tipificação por meio da superfície da AF pode deixar de lado a heterogeneidade em termos de potencial produtivo. Em 1980, Schetjman (1981) ao retratar as tipologias “no Agro mexicano em 1980” e tratar da heterogeneidade em termos de po- tencial produtivo da superfície de trabalho que possuem as diversas unidades, tratou de se aproximar a uma homogeneização a partir da construção de um índice ou coeficiente sobre os rendimentos do milho em áreas de irrigação ou milho de cultivo temporal, que media a relação entre o rendimento médio de milho entre o rendimento médio nacional tanto para cultivo de irrigação como para cultivo temporário.

As técnicas centrais para identificação de grupos objetivos e homogêneos podem ir desde uma análise univariada a análise multivariada. Ambas análises válidas. Por exemplo, a análise multivariada pode ser utilizada para redução da dimensão a partir da seleção de atributos, visualização de dados, ou geração de agrupamentos homogêneos via clusters. Este

método permite tratar sistemas complexos e sua estratificação. Escobar e Berdegué (1990) sugerem que cada aproximação seja avaliada em função da sua eficiência operacional e a partir dos supostos teóricos.

A análise univariada as vezes pode não tratar informações sobre condições socioeconô- micas, culturais, ou hierárquicas, mas pode reduzir o emprego de informação redundante sobre um mesmo fenômeno. Algumas aplicações de critérios univariados para classificação de es- tabelecimentos agropecuários tem empregado, por exemplo, a composição da renda familiar, tamanho da exploração, nível de capitalização, informações climáticas ou de solos. Esco- bar e Berdegué (1990) expõem que um resultado prático pode sugerir também um critério univariado como, por exemplo, para o caso da construção de uma tipologia.

Os autores sugerem elementos de tipificação e/ou classificação de sistemas de ex- plorações ou estabelecimentos agropecuários a partir da determinação de um marco teórico específico, seleção de variáveis que permitam operacionalizar um marco teórico, coleta de dados, análises estatísticas multivariadas ou univariadas para a interpretação de dados e resultados, validação da tipologia e classificação. Os tipos de variáveis de importância vão desde o tamanho da propriedade, nível de capitalização, estrutura da mão de obra disponível e empregada no estabelecimento, sistemas produtivos existentes nos estabelecimentos (sis- tema de cultivo, animal etc), nível tecnológico, posse da terra, qualidade do solo, composição da renda familiar, grau e articulação de mercados de produtores, localização geográfica e agroecológica, capacidade de gestão, habilidades e metas dos produtores.

Para este estudo, utiliza-se a base de dados correspondente a estabelecimentos (explo- rações) do IV Censo Agropecuário 2007-20088. Se identificaram duas variáveis que permitiram

construir um universo de dados para a AF, em vista que, não existe uma base de dados espe- cífica para este setor. Foi identificada a variável de pequenos produtores familiares associadas ao conceito de AF de subsistência, porém, o censo carece de uma variável que especifique de forma direta aos estabelecimentos familiares comerciais. Para criar um universo de AF, se utiliza a variável dos estabelecimentos comerciais, e apartir deles, define-se aos estabeleci- mentos familiares comerciais em função à forma de organização dos estabelecimentos (gestão pelo produtor chefe de família) e em termos de acesso a fatores produtivos ou insumos (su- perfície do estabelecimento), conforme sugestões da literatura. Posteriormente, procedesse à estratificação da AF em função da capacidade produtiva do estabelecimeto, tomando como base o nível de produtividade da terra, utilizando a análise univariada.

8 Daqui em diante, quando “produtores familires” for mencionado, será referente a estabelecimentos ou explo-