• Nenhum resultado encontrado

Agricultura familiar em El Salvador : caracterização e análise do impacto do crédito

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Agricultura familiar em El Salvador : caracterização e análise do impacto do crédito"

Copied!
179
0
0

Texto

(1)

INSTITUTO DE ECONOMIA

BALMORE ALIRIO CRUZ AGUILAR

Agricultura Familiar em El Salvador: Caracterização e

Análise do Impacto do Crédito

Campinas

2019

(2)

INSTITUTO DE ECONOMIA

BALMORE ALIRIO CRUZ AGUILAR

Agricultura Familiar em El Salvador: Caracterização e

Análise do Impacto do Crédito

Profa. Dra. Rosângela Ballini – orientadora

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Econômico, área de Economia Agrícola e do Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO BALMORE ALIRIO CRUZ AGUILAR, ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ROSÂNGELA BALLINI.

Campinas

2019

(3)

Biblioteca do Instituto de Economia Mirian Clavico Alves - CRB 8/8708

Aguilar, Balmore Alirio Cruz,

Ag93a AguAgricultura familiar em El Salvador : caracterização e análise do impacto do crédito / Balmore Alirio Cruz Aguilar. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

AguOrientador: Rosângela Ballini.

AguDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia.

Agu1. Agricultura familiar. 2. Créditos. 3. Produtividade. I. Ballini, Rosângela, 1969-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Family Agriculture in El Salvador : characterization and analysis of

the impacto of credit

Palavras-chave em inglês:

Family agriculture Credit

Produtivity

Área de concentração: Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente Titulação: Mestre em Desenvolvimento Econômico

Banca examinadora:

Rosângela Ballini [Orientador] Rodrigo Lanna Franco da Silveira Jose Marangoni Camargo

Data de defesa: 22-02-2019

Programa de Pós-Graduação: Desenvolvimento Econômico

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7505-073X

- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/9218320991154026

(4)

INSTITUTO DE ECONOMIA

BALMORE ALIRIO CRUZ AGUILAR

Agricultura Familiar em El Salvador: Caracterização e

Análise do Impacto do Crédito

Profa. Dra. Rosângela Ballini – orientadora

Defendida em 22/02/2019

COMISSÃO JULGADORA

Profa. Dra. Rosângela Ballini - PRESIDENTA Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Rodrigo Lanna Franco da Silveira Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Jose Marangoni Camargo

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

(5)

Kawamura e Marcela N. Ferrario que acreditaram no meu potencial durante a graduação, contribuindo para a realização deste sonho.

(6)

Agradeço, a minha família de sangue que está em El Salvador, que foi base para o desenvolvimento do meu caráter e para me tornar o homem que sou hoje. a minha família de coração que me abraçou no Brasil, em especial, a minha companheira Suiani Febroni Meira que me deu apoio incondicional durante a fase do mestrado.

a minha orientadora e amiga, Rosângela Ballini, que com muito apreço, dedicação e paciência, me motivou e incentivou para eu ser sempre o melhor. Ao professor Bastiaan Philip Reydon pelas muitas orientações e colocações nos debates durante os seminários. aos professores Rodrigo Lanna e Antônio Márcio Buainain que compuseram a banca de qualificação e pelas colocações que foram fundamentais para a conclusão desta Dissertação.

a meu amigo Temidayo James Aransiola, que esteve sempre me apoiando, aos colegas e amigos do Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente - NEA do Instituto de Economia da Unicamp. Em especial a Mayara Davoli, Adâmara Santos, Gabriela Solidário, Rafael da Silva, Marcelo Pignatari e Vahíd Shaikhzadeh.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

(7)

O objetivo desta dissertação é caracterizar a agricultura familiar e avaliar o impacto do acesso ao crédito das unidades produtivas familiares em El Salvador. Utiliza-se a base de dados do IV Censo Agropecuário 2007-2008 de El Salvador correspondente a estabelecimentos familiares. O procedimento metodológico consiste na delimitação de uma base para analisar a agricultura familiar, considerando os critérios abordados na literatura e, a tipificação a partir de uma análise univariada. Na sequência, para analisar o impacto do acesso ao crédito sobre a produtividade da terra e do trabalho para grãos básicos das unidades produtivas familiares, utiliza-se o Propensity Score Matching e as técnicas de pareamento por vizinho mais próximo,

Radius e Kernel. Os resultados apontam que a agricultura familiar contribui com 72,64% da

produção de grãos básicos e 37% na produção total. Os estabelecimentos familiares produzem com baixa produtividade se comparados com a agricultura não familiar, se caracterizam por estar sob condições de carência e fragilidade econômica, devido à baixa assistência técnica, baixos canais de comercialização e baixo nível tecnológico, o que dificulta sua formação de capital e a aquisição de conhecimentos para o desenvolvimento do setor rural e agrícola. Por outro lado, encontrou-se evidência que o impacto do acesso ao crédito foi positivo sobre a produtividade das unidades produtivas familiares, porém, ele foi muito pequeno e diferenciado entre os tipos de AF, mas com magnitude diferente entre os estabelecimentos de subsistência e os comerciais.

(8)

The objective of this dissertation is to characterize family agriculture and evaluate the impact of access to credit for family productive units in El Salvador. The database of the Fourth Agricultural Census 2007-2008 of El Salvador corresponding to family establishments is used. The methodological procedure consists of the delimitation of a basis for analyzing family farming, considering the criteria addressed in the literature and the classification based on a univariate analysis. Next, to analyze the impact of access to credit on the productivity of land and labor for the basic grains of the family productive units, we use the Propensity Score Matching and the matching techniques by nearest neighbor, Radius and Kernel. The results suggest that family farming contributes 72.64% of the production of basic grains and 37% of total production. Family farms produce with low productivity when compared to non-family agriculture, they are characterized by lack of conditions and economic fragility, due to low technical assistance, low marketing channels and low level of technology, which makes it difficult to train capital and the acquisition of knowledge for the development of the rural and agricultural sector. On the other hand, there was evidence that the impact of access to credit was positive on the productivity of the family productive units, however, the effect was small and differentiated between the types of FA, with a different magnitude between subsistence family agriculture and commercial family farming.

(9)

El objetivo de esta disertación es caracterizar la agricultura familiar y evaluar el impacto del acceso al crédito de las unidades productivas familiares en El Salvador. Se utiliza la base de datos del IV Censo Agropecuario 2007-2008 de El Salvador correspondiente a establecimien-tos familiares. El procedimiento metodológico consiste en la delimitación de una base para analizar la agricultura familiar, considerando los criterios abordados en la literatura y la tipi-ficación a partir de un análisis univariado. En seguida, para analizar el impacto del acceso al crédito sobre la productividad de la tierra y del trabajo para los granos básicos de las unidades productivas familiares, se utiliza el Propensity Score Matching y las técnicas de pareamiento por vecino más cercano, Radius y Kernel. Los resultados apuntan que la agricultura familiar contribuye con el 72,64 % de la producción de granos básicos y el 37 % en la producción total. Los establecimientos familiares producen con baja productividad si se comparan con la agricultura no familiar, se caracterizan por estar bajo condiciones de carencia y fragilidad económica, debido a la baja asistencia técnica, bajos canales de comercialización y bajo nivel tecnológico, lo que dificulta su formación de capital y la adquisición de conocimientos para el desarrollo del sector rural y agrícola. Por otro lado, se encontró evidencia que el impacto del acceso al crédito fue positivo sobre la productividad de las unidades productivas familiares, no obstante, el efecto fue equeño y diferenciado entre los tipos de AF, con una magnitud diferente entre los establecimientos de subsistencia y los comerciales.

(10)

(John Maynard Keynes in The General Theory of Employment, Interest, and Money - 1935)

(11)

Figura 1 – Crescimento do PIB (a preços constantes de 1990) . . . 24

Figura 2 – setor agropecuário como proporção do PIB (a preços constantes de 1990) 25 Figura 3 – Evolução da Estrutura agropécuaria de El Salvador . . . 25

Figura 4 – Histograma e Ogiva sobre a Distribuição da Produtividade da Terra para a AFS . . . 44

Figura 5 – Histograma e Ogiva sobre a distribuição da produtividade da terra da AFC. 46 Figura 6 – Distribuição geográfica dos estabelecimentos familiares. . . 49

Figura 7 – Concentração da Agricultura Familiar por departamento 2007-2008 . . . 50

Figura 8 – Distribuição da Terra em El Salvador. . . 60

Figura 9 – Suporte Comum para a Distribuição dos Escores de Propensão Estimados 91 Figura 10 – Qualidade do Pareamento dos Escores de Propensão antes e Depois do Pareamento . . . 96

Figura 11 – Pareamento dos Escores de Propensão - Modelo 1 . . . 108

Figura 12 – Pareamento dos Escores de Propensão - Modelo 2 . . . 109

Figura 13 – Pareamento dos Escores de Propensão - Modelo 3 . . . 110

Figura 14 – Pareamento dos Escores de Propensão - Modelo 4 . . . 112

Figura 15 – Pareamento dos Escores de Propensão - Modelo 5 . . . 113

Figura 16 – Pareamento dos Escores de Propensão - Modelo 6 . . . 114

Figura 17 – Suporte Comum para a Distribuição dos Escores de Propensão Estimados 159 Figura 18 – Pareamentos dos Grupos no do Suporte Comum por Vizinho mais Próximo 167 Figura 19 – Escores de Propensão Antes e Depois do Pareamento por Vizinho Próximo 168 Figura 20 – Pareamentos dos Grupos dentro do Suporte Comum por Radius . . . 170

Figura 21 – Escores de Propensão Antes e Depois do Pareamento por Radius . . . . 171

Figura 22 – Pareamentos dos Grupos dentro do Suporte Comum por Kernel . . . 173

(12)

Tabela 1 – Bases de dados e variáveis do IV Censo Agropecuário 2007-2008 a serem

utilizadas . . . 39

Tabela 2 – Relação entre Tipo de Produtor e Categoria do Estabelecimento segundo o IV Censo Agropecuário . . . 41

Tabela 3 – Características Principais da Agricultura Familiar de Subsistência (AFS) 43 Tabela 4 – Estrutura Agropecuária de El Salvador . . . 48

Tabela 5 – Agricultura Não Familiar (ANF) e Agricultura Familiar (AF) . . . 48

Tabela 6 – Quadro Resumo da Produção da Estrutura Agrícola . . . 51

Tabela 7 – Estrutura agropecuária: Atividades Diversas . . . 52

Tabela 8 – Frutas, Grãos Básicos, Hortaliças e Vegetais . . . 53

Tabela 9 – Agroindustriais Anuais e Agroindústrias Permanentes e Semipermanente 54 Tabela 10 – Estrutura Agrícola por Tipo de Cultivos . . . 56

Tabela 11 – Desempenho Agrícola por Tipo de Agricultura . . . 56

Tabela 12 – Desempenho Agrícola para Tipo de Estabelecimento . . . 58

Tabela 13 – Distribuição da Superfície Total por Tipos de Cultivos . . . 61

Tabela 14 – Distribuição da Superfície por Tipo de Agricultura . . . 61

Tabela 15 – Posse da Terra por Tipo de Agricultura . . . 62

Tabela 16 – Condição Jurídica, Gênero e Tipo de Organização da AF . . . 62

Tabela 17 – Utilização de Insumos para Atividades da AF e ANF . . . 63

Tabela 18 – Práticas Agrícolas para as Atividades da AF e ANF . . . 64

Tabela 19 – Assistência Técnica para AF e ANF . . . 64

Tabela 20 – Utilização de Maquinários, Ferramentas, Equipamentos e Instalações da AF e ANF . . . 65

Tabela 21 – Utilização de Máquinas, Ferramentas, Equipamentos e Instalações por Tipo de Atividade . . . 66

Tabela 22 – Utilização de Canais de Comercialização . . . 67

Tabela 23 – Demanda de Trabalho Temporário e Permanente da AF e a ANF . . . . 68

Tabela 24 – Acesso ao Financiamento da AF e ANF . . . 69

Tabela 25 – Fonte e Destino de Financiamento da AF e ANF . . . 70

Tabela 26 – Seleção dos Dados a Serem Utilizados para a Pesquisa . . . 101

Tabela 27 – Dados da Pesquisa . . . 102

Tabela 28 – Descrição das Variáveis Utilizadas . . . 103

(13)

dade da terra e do trabalho para grãos básicos . . . 105

Tabela 31 – Escores de Propensão . . . 106

Tabela 32 – Pareamento dos Escores de Propensão 𝑝𝑠(𝑥) - Modelo 1 . . . 107

Tabela 33 – Pareamento dos Escores de Propensão 𝑝𝑠(𝑥) - Modelo 2 . . . 108

Tabela 34 – Pareamento dos Escores de Propensão 𝑝𝑠(𝑥) - Modelo 3 . . . 109

Tabela 35 – Pareamento dos Escores de Propensão 𝑝𝑠(𝑥) - Modelo 4 . . . 111

Tabela 36 – Pareamento dos Escores de Propensão 𝑝𝑠(𝑥) - Modelo 5 . . . 112

Tabela 37 – Pareamento dos Escores de Propensão 𝑝𝑠(𝑥) - Modelo 6 . . . 113

Tabela 38 – Efeito do Crédito sobre a Produtividade (para grãos básicos) da Terra da Agricultura Familiar . . . 115

Tabela 39 – Efeitos do Crédito sobre a Produtividade do Trabalho da Agricultura Fa-miliar . . . 117

Tabela 40 – Distribuição e Produção de Grãos Básicos da AF . . . 131

Tabela 41 – Características Gerais de El Salvador 2005-2017 . . . 132

Tabela 42 – Mercado de Trabalho em El Salvador . . . 133

Tabela 43 – Efeitos Marginais dos Determinantes do Rendimento das Unidades Pro-dutivas Agrícolas na Categoria de Agricultura Familiar em El Salvador . 135 Tabela 44 – Covariáveis Utilizadas para Calcular os Escores de Propensão . . . 136

(14)

1 Introdução . . . . 17

2 Agricultura Familiar em El Salvador: Delimitação e proposta tipológica para a Agricultura Familiar (AF) . . . . 21

2.1 Contextualização . . . 21

2.1.1 Processo de transformação econômica da região . . . 21

2.1.2 Aspectos do setor agropecuário de El Salvador . . . 23

2.1.3 Estrutura agrária . . . 26

2.1.4 Mercado de trabalho e pobreza . . . 28

2.2 Agricultura Familiar em El Salvador . . . 29

2.2.1 Caracterização e definição da Agricultura Familiar em El Salvador se-gundo o “Plan de Agricultura Familiar y Emprendedurismo Rural para la Seguridad Alimentaria Nutricional (PAF) 2011-2014” . . . 29

2.3 Evidência empírica sobre crítérios de delimitação da Agricultura Familiar e de construção tipológica . . . 31

2.3.1 Críterios de delimitação da Agricultura Familiar . . . 31

2.3.2 Tipologias de Agricultura Familiar . . . 33

2.4 Metodologia . . . 38

2.4.1 Delimitação da Agricultura Familiar para El Salvador . . . 40

2.4.1.1 Tipificação da Agricultura Familiar de Subsistência (AFS) . 42 2.4.1.2 Delimitação e construção tipológica da Agricultura Familiar Comercial (AFC) . . . 43

2.5 Resultados: Dimensão, composição e caracterização da Agricultura Familiar em El Salvador . . . 47

2.5.1 Distribuição geográfica da AF . . . 49

2.5.2 Estrutura da produção agrícola . . . 50

2.5.3 Desempenho Agrícola dos estabelecimentos familiares . . . 55

2.5.4 Estrutura Agrária, Posse da Terra, Gestão e Formas de Organização dos Estabelecimentos Familiares . . . 59

2.5.5 Insumos, Práticas Utilizadas e Assistência Técnica . . . 62

2.5.6 Acesso a Tecnologias, Mercados, e a Financiamento . . . 65

2.6 Considerações Finais do Capítulo . . . 70 2.6.1 Comentários: Aspectos Econômicos e Institucionais da AF Salvadorenha 73

(15)

Produtivas Familiares . . . . 76

3.1 Introdução . . . 76

3.2 Estrutura Institucional em Apoio à Agricultura Familiar . . . 77

3.2.1 Crédito Rural Orientado à Agricultura Familiar . . . 77

3.3 Evidências Empíricas sobre a Importância do Crédito para a AF . . . 79

3.4 Metodologia . . . 82

3.4.1 Estratégia Empirica . . . 83

3.4.1.1 Primeira Etapa: identificação dos modelos de pesquisa e o efeito causal objetivo . . . 83

3.4.1.2 Segunda Etapa: cálculo do Propensity Score . . . . 87

3.4.1.3 Terceira Etapa: Qualidade e diagnostico do Propensity Score 89 3.4.1.4 Quarta Etapa: determinação do Matching ou reamostragem 92 3.4.1.5 Quinta Etapa: qualidade do Pareamento ou reamostragem . 95 3.4.1.6 Sexta Etapa: estimação e interpretação do efeito médio do tratamento . . . 97

3.4.1.7 Sétima Etapa: análise de sensibilidade e verificação da robus-tez do efeito médio do tratamento . . . 99

3.4.2 Procedimento Técnico . . . 100

3.4.3 Limitações Estruturais dos Dados Estatísticos Disponíveis . . . 100

3.4.4 Fonte de dados e variáveis usadas no modelo . . . 102

3.5 Resultados . . . 103

3.5.1 Estatísticas descritivas . . . 103

3.5.2 Qualidade do Escore de Propensão e Qualidade do Pareamento . . . 105

3.5.2.1 Análise preliminar . . . 105

3.5.2.2 Escores de propensão e pareamento para a produtividade da terra . . . 106

3.5.2.3 Escores de propensão e pareamento para a produtividade do trabalho . . . 110

3.5.3 Avaliação do Impacto do Acesso ao Crédito sobre o Rendimento das Unidades Produtivas Familiares . . . 114

3.6 Considerações Finais do Capítulo . . . 116

4 Considerações Finais . . . . 119

Referências . . . . 121

(16)

B.0.1 Covariáveis Utilizadas e cálculo do propensity score . . . . 136

B.0.1.1 Escore de propensão - modelo 1 . . . 136

B.0.1.2 Escore de propensão - modelo 2 . . . 139

B.0.1.3 Escore de propensão - modelo 3 . . . 141

B.0.1.4 Escore de propensão - modelo 4 . . . 143

B.0.1.5 Escore de propensão - modelo 5 . . . 146

B.0.1.6 Escore de propensão - modelo 6 . . . 148

ANEXO C Implementação do Propensity Score Matching no Stata . . . . 151

(17)

1 Introdução

El Salvador, é o país mais pequeno na região centroamericana, com uma extensão territorial de 21,041 𝑘𝑚2, uma população de 6.377.853 em 2017, segundo o Banco Mundial

(2018). Conforme o “Informe Analítico de Comercio Exterior de El Salvador, Enero de 2019” do Banco Central de Reserva de El Salvador (BCR) (2019), o principal setor exportador da economia salvadorenha é pautado no setor manufatureiro industrial (produto textil e confec-ções, produtos alimenticios, fabricação de produtos plástico e papel, etc), que compõe o 96% do total das exportações. Os produtos agrícolas de maior relevancia são para a agroexportação da cana de açucar e o café.

Segundo o Banco Mundial (2018), dois terços do crescimento econômico observado, foi impulsionado pelos setores da agricultura, pecuária, silvicultura, pesca, o setor manufatu-reiro e mineiro e, o turismo e serviços. O crescimento econômico dos últimos anos, tem sido modesto, em torno dos 2% nos últimos anos, refletindo-se no nível de pobreza rural e no alto índice da pobreza relativa rural (Tabela 41), nas altas taxas da sub-utilização laboral (de-semprego e subemprego, Tabela 42), e na alta dependência das remesas advidas das familias que moram no exterior.

O setor agropecuário do país, nos últimos anos, apresentou uma tendência decrescente como consequência das mudanças estruturais recentes, da pauta exportadora baseada na dinâmica da indústria manufatureira, dos diferentes investimentos estrangeiros direcionados a outros setores, dos poucos incentivos ao setor e, da atual estrutura produtiva agrícola baseada em unidades produtivas de subsistência. A estrutura produtiva do setor agrícola, é conformada predominantemente por pequenas unidades agrícolas familiares, cuja produção agrícola é voltada para a subsistência, e em menor proporção, voltadas para o comercio local e externo. De acordo com a Representación de la FAO en El Salvador (2011), os pequenos produtores agrícolas familiares, utilizam a terra praticamente para o cultivo de grãos básicos, contribuindo com 2% ao PIB do país e 28% do PIB agropecuário.

A motivação desta pesquisa, advêm da necessidade de conhecer algumas potenciali-dades e fraquezas desde grupo de produtores, e sobretudo, da importância que este setor representa para a economia salvadorenha. De fato, o setor rural é o espaço que apresenta maior vulnerabilidade econômica e maior risco social. Não só pela elevada concentração de pobreza verificada, mas também, porque as familias rurais agrícolas, contribuem de forma significativa na produção nacional de grãos básicos (aproximadamente dois terços) e fornecem mais de um terço da produção total. São identificadas cinco frentes de contribuição da AF:

(18)

(i) na segurança alimentar, (ii) na gestão dos espaços rurais, (iii) na preservação do meio ambiente,(iv) na acumulação, geração de riqueza e ocupação, e (v) na sua resiliência.

Acrédita-se que, a baixa produtividade agrícola dos estabelecimentos familiares, possa colocar em risco a segurança alimentar do país e, criar baixo dinamismo econômico no entorno rural. Desta forma, o objetivo deste trabalho é caracterizar a Agricultura Familiar e avaliar o impacto do crédito sobre a produtividade da Agricultura Familiar em El Salvador. Espera-se contribuir com evidência empírica sobre o impacto potencial que representa o fornecimento de recursos financeiros (canais formais de crédito) alocados para estes atores sócio-produtivos.

Duas perguntas nortearam esta pesquisa: o desempenho produtivo da Agricultura Familiar (AF) é maior que o desempenho da Agricultura Não Familiar (ANF) e, quais são as características deste setor? Qual é o impacto do acesso ao crédito sobre o rendimento das unidades produtivas familiares?

A hipótese à primeira pergunta é que o desempenho produtivo da AF quando com-parado à ANF, é fraco devido à falta de condições que favoreçam mudanças estruturais no setor: ausência de políticas públicas, de instituições orientadas neste setor e a falta de re-cursos diponíveis. Este último ponto, se relaciona de forma direta com a segunda hipotése da segunda questão: existe um impacto positivo do crédito sobre a produtividade da AF. A movilização dos recursos financeiros para suprir as necesidades operativas, administrativas e de investimento para os estabelecimentos agrícolas, pode permitir um maior aproveitamen-tos dos recursos financeiros e produtivos das unidades econômicas familiares, fornecendo ao setor, eficiência (financiamento para capital operativo), capacidade produtiva (alocação efi-ciente dos recursos disponíveis), maior competitividade (abertura para novos mercados) e o acesso a fatores tecnológicos (financiamento a capital produtivo).

Para responder a primeira pergunta e verificar sua hipotése, é necessário identificar o desempenho produtivo da Agricultura Familiar (AF) por meio da comparação das produtivi-dades entre estabelecimentos agrícolas familiares e não familiares e conhecer as características gerais do setor. Será utilizado o IV Censo Agropécuario 2007-2008 de El Salvador, específica-mente os dados que correspondem a estabelecimentos agrícolas. Uma vez que a AF familiar se divide em AF de Subsistência e AF Comercial, o censo, proporciona uma variável donde se identificam os pequenos estabelecimentos associados ao conceito de AF de subsistência, porém, carece de uma variável que especifique de forma direta aos estabelecimentos familiares comerciais.

Diante desta situação, da ausencia de uma base de dados específica para a análise, é realizada uma delimitação das observações de estabelecimentos comercias e, define-se aos estabelecimentos familiares comerciais, e desta forma, se constrói um universo de dados para a

(19)

AF. Os agricultores comerciais familiares, são identificados em termos do tipo de organização dos estabelecimentos (gestão pelo produtor chefe de família) e pelo acesso a fatores produtivos (superfície) conforme a literatura.

Uma vez delimitado este universo, se procede à estratificação da AF comercial e de subsistência, em função da capacidade produtiva dos estabelecimentos, tomando como base o nível de produtividade da terra, utilizando assim, a análise univariada. A estratifi-cação/tipificação por meio da análise univariada permitira clasificar o universo da AF em termos de produtividade, permitindo observar em certa forma, as diferenças de rendimento. As limitações dos dados do censo, não permitem fazer uma tipificação mais robusta - em termos de rentabilidade, por exemplo -, limitação que também extrapola a análise.

Esta delimitação e tipificação são apresentadas no Capítulo 2, o qual é organizado em seis seções. A primeira (Seção 2.1) apresenta uma breve descrição dos processos de trans-formação econômica da região da América Central para, a seguir, apresentar os aspectos do setor agropecuário e da estrutura agrária de El Salvador. A Seção 2.2 expõe a AF desde a perspectiva do “Plan de Agricultura Familiar y Emprendedurismo Rural para la Seguridad

Alimentaria Nutricional(PAF) 2011-2014 ”. A Seção 2.3, apresenta as evidências empíricas

sobre critérios de delimitação da Agricultura Familiar e como proceder para a construção tipológica da AF.

Em seguida, a metodologia é apresentada na Seção 2.4, na qual são descritas as bases de dados e as variáveis para a delimitação e posterior estrataficação da AF. A tipificação, se realizará tomando como base as considerações teóricas expostas na Seção 2.3. Na Seção (2.5) são apresentados os resultados da Agricultura Familiar de Subsistência e da Agricultura Familiar Comercial e se analisa o desempenho produtivo entre Agricultura Familiar (AF) e Agricultura Não Familiar (ANF). Na Seção 2.6 são apresentadas as considerações finais e alguns comentários.

A avaliação do impacto do crédito sobre o rendimento das unidades produtivas famili-ares é discutida no Capítulo 3. Para atingir tal objetivo é utilizado o IV Censo Agropecuário 2007-2008 de El Salvador e a delimitação da AF construida no Capitulo 2. O crédito anali-sado considera as instituições formais e canais informais de financiamento1 e, é analisado o

impacto do crédito sobre a produtividade da terra e do trabalho destes agentes produtivos. A partir dos resultados, trata-se de inferir a necessidade ou não, de um programa de crédito rural específico orientado para a Agricultura Familiar. Portanto, os estabelecimentos serão divididos em dois grupos: um de tratamento, ou seja, se recebeu algum tipo de crédito e outro de controle caso não tenha recebido. O contrafactual para o grupo tratamento será estimado

1 Variável dummy que indica se o estabelecimento teve acesso a crédito ou não, independente da instituição

(20)

por meio do método de Propensity Score Matching. Além disso, pretende-se analisar de forma breve a atual política agrícola voltada para este setor.

O capítulo se divide em seis seções. A Seção 3.1 apresenta uma breve introdução do capítulo, na Seção 3.2 se apresenta a estrutura institucional em apoio à Agricultura Familiar. Na Seção 3.3 se apresentam algumas evidências empíricas sobre a importância do crédito para a Agricultura Familiar Salvadorenha. A Seção 3.4 expõe a metodologia utilizada neste trabalho, a qual apresenta os procedimentos para a estimação do pareamento do escore de propensão e os algoritmos utilizados. Na Seção 3.5 são apresentados os resultados principais da pesquisa e, por último, não Seção 3.6 são apresentadas as considerações finais.

(21)

2 Agricultura Familiar em El Salvador:

Delimi-tação e proposta tipológica para a

Agricul-tura Familiar (AF)

2.1

Contextualização

2.1.1

Processo de transformação econômica da região

O meio rural salvadorenho ainda não supera problemas de caráter estrutural que limitam o seu desenvolvimento econômico e social. A desarticulação da institucionalidade pública, a falta de políticas públicas orientadas ao desenvolvimento rural, os problemas so-cioeconômicos como a pobreza, a falta de governabilidade e participação cidadã, afetam a democracia e o desempenho econômico e social do país. A isto se somam os problemas histó-ricos que vem se arrastando do passado associados à desigualdade na distribuição dos ativos produtivos, conforem Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) (2010). De um ponto de vista histórico, a região da América Central iniciou um novo padrão de desenvolvimento no qual é possível identificar quatro fatores associados a um processo de transformação con-tínua: i) liberalização da economia; ii) reestruturação produtiva; iii) globalização financeira; e iv) transformação estrutural interna.

A liberalização da economia implicou reduzir as medidas de proteção tarifárias para facilitar as exportações, modelo que aumentou o Investimento Estrangeiro Direto (IED) e trouxe uma diminuição dos custos de transporte e de comunicações. Se inicia uma forte orientação para o mercado externo. Em El Salvador, este processo da exportação como driver, dissociou-se do desenvolvimento rural, pois a região se inseriu nas cadeias globais de valor com um baixo nível tecnológico baseado na agroexportação e na indústria de têxtil. O país, se caracterizou nos últimos anos, por funcionar sob um baixo dinamismo do crescimento econômico e uma generalização da pobreza concentrada nos espaços rurais. Este processo de liberalização comercial tem trazido um crescimento desigual, incrementando as disparidades sociais e territoriais dos espaços rurais e dos produtores agrícolas.

O IED aumentou, mas não apresentou resultados diretos e efetivos para o espaço rural. A reestruturação produtiva e social ineficiente das economias internas, acompanhada de uma “institucionalidade desarticulada e debilitada para atender devidamente as crescentes demandas de serviços básicos da população”(Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC)

(22)

, 2010), resultou na vulnerabilidade socioeconômica dos territórios rurais. Isto se traduz na falta de oportunidades e insatisfação de necessidades básicas da população rural e escassa qualificação dos recursos humanos.

Os investimentos públicos têm melhorado a maioria dos espaços urbanos, porém, não tem sido sustentáveis no tempo para os territórios rurais. A estrutura produtiva salvadorenha, ainda conjuga espaços rurais pobres, insegurança, infraestrutura inadequada, falta de recur-sos produtivos e serviços básicos, a dependencia das remesas familiares dos salvadorenhos residentes nos Estados Unidos1. Neste último ponto, se destaca que no ano 2000, segundo Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos (CEMLA) (2009), as remessas representa-ram 13,3% do PIB, e em 2006, 18,6%. Em 2018 o Banco Central de Reserva de El Salvador (BCR) (2018) estimou a tendência crescente entre 2011 e 2018 de 8,2% a 10,3%. Esta fra-gilidade, resulta em baixo dinamismo econômico, fuga de mão de obra qualifica e migrações masiças.

Por outro lado, a reestruturação produtiva a partir dos anos noventa melhorou a produção, a diversificação e o crescimento agroexportador. Mas este processo tem sido exclu-dente, uma vez que a distribuição da renda é desigual e não ampliou oportunidades no setor rural. Ademais, a implementação de políticas econômicas restritivas para o setor agropecuário resultaram em um baixo investimento produtivo, social e tecnológico desde os anos 1980. De forma geral, a agricultura sofreu um processo de tecnificação e agroindustrialização desigual na inserção do comércio internacional e, em particular, da inserção dos espaços rurais.

A globalização financeira também teve um impacto sobre a economia nacional e as condições socioeconômicas referentes à remuneração dos fatores produtivos e, à distribuição da renda nos espaços rurais e agrícolas. A transformação estrutural interna se viu afetada pe-los processos mencionados anteriormente. A estrutura agrária por exemplo, segundo Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) (2010), ainda está baseado na concentração de recur-sos e distribuição desigual da terra, e sua apropriação especulativa e improdutiva trouxeram estagnação na agricultura e uma persistente pobreza rural.

Ademais a transformação produtiva da economia rural não trouxe necessariamente um aumento sustentável do investimento agropecuário, o que levou à inércia da estrutura sócio-produtiva da região, figurada na baixa produtividade laboral e uma “subvalorização do rural” (Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) , 2010), o que se refletiu na persis-tência do desemprego, subemprego e do emprego informal rural ou auto-emprego, associado a uma baixa remuneração da força de trabalho rural. Por outro lado, a baixa produtividade dos pequenos estabelecimentos, como a agricultura familiar “camponesa”, gerou uma baixa

(23)

rentabilidade às famílias, com rendimentos estagnados, já que segundo Consejo Agropecua-rio Centroamericano (CAC) (2010) a renda laboral rural média é a mais baixa de todos os setores produtivos.

No campo político-institucional, as zonas rurais sofrem de estruturas institucionais débeis, o que acentua as desigualdades socioeconômicas na região pela falta de investimento público e de investimentos produtivos para esta região, pois o poder de decisão sempre tem se concentrado nas grandes cidades. O Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) (2010) aponta que este processo tem empobrecido, debilitado e fragmentado à Agricultura Fami-liar, assim como também os tecidos sociais, provocando vulnerabilidade frente aos desastres naturais, emigração da população em idade produtividade e falta de oportunidades para a inclusão da juventude e mulheres rurais. Como sugere o Consejo Agropecuario Centroame-ricano (CAC) (2010), precisa-se de uma “nova institucionalidade, aberta e articulada” que integre o público à sociedade civil e estes, por sua vez, a atores relevantes como governos locais, e organizações não governamentais, que visem um modelo econômico sustentável.

2.1.2

Aspectos do setor agropecuário de El Salvador

Uma particularidade da economia salvadorenha é que a dolarização adotada a partir de 2001 criou uma dependência dinâmica com a economia norte-americana, o que causou efeitos imediatos. Isto coincidiu com uma primeira fase da economia da região da América Central, na que Tijerino (2010) relacionou com a crise das empresas de internet e dos atentados terroristas do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, o que teve impacto sobre o desempenho da produção mundial e da região. Uma segunda fase também se deu a partir da relação a importantes fluxos de capitais privados entre 2004-2007, que foi acompanhada pela economia internacional.

Entre os anos 2006-2007 houve um incremento nos preços dos alimentos e do petróleo, que por sua vez gerou um aumento na demanda global por estas commodities nos mercados mundiais, em parte como consequência da expansão da economia chinesa e indiana, que acabou com uma desaceleração muito acentuada a partir de 2008 (MORA; CODÍNEZ, 2013; TIJERINO, 2010). Segundo Mora e Codínez (2013), a região da América Central sofreu os efeitos via pressões inflacionárias que arriscaram o acesso a alimentos e serviços básicos dos setores de rendas baixas. El Salvador e a região da América Central também entraram em uma terceira fase, que foi recessiva, relacionada com a crise financeira internacional de 2008-2009.

Conforme Figura 1 observa-se que, a partir de 2007, os níveis de crescimento médio tiveram uma tendência decrescente com um impacto negativo em El Salvador em 2009, que

(24)

afetou, principalmente, o IED, as remessas provenientes dos Estados Unidos, e o dinamismo turístico.

Figura 1 – Crescimento do PIB (a preços constantes de 1990)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Central de Reserva de El Salvador (BCR)

As médias de crescimento, conforme a mesma Figura, entre 2010-2011, reportam um período de recuperação da economia salvadorenha, após este periodo, houve uma queda até 20142 e um pequeno aumento depois desse ano. Segundo Mora e Meneses (2016), o setor primário da economia no período 2004-2008 teve um crescimento de 5% e em 2010-2013 um crescimento de 0,9%. Durante este último período também houve um estagnamento do crescimento médio do valor agregado da agricultura, da indústria e do setor de construção.

Segundo Mora e Codínez (2013), a inserção de El Salvador na economia internacional é baseada em um baixo conteúdo tecnológico, baseado na agroexportação e na indústria têxtil, uma intensiva migração e fluxos de remessas, com pouca capacidade de IED, volume baixo de exportações e agroexportações e com um forte peso para o mercado regional, resultando em baixos indicadores econômicos e sociais. Com a ressalva que o país realizou esforços para se constituir em um centro logístico de transporte, de comunicações e finanças para a América Central.

No plano do crescimento do setor agropecuário, a evolução deste setor desde 2000 oscila entre 11% e 12% como proporção do PIB conforme Figura 2. Em 2003 houve um

2 Nas Figuras 1 e 2, os anos 2014(p), 2015(p) e 2016(p) referem-se às cifras preliminares, ou seja, são dados

sujeitos a revisão até um periodo de três anos. Essas cifras se publicam em março de cada ano e correspondem ao último período econômico (ano anterior) estimado.

(25)

crescimento do setor até os anos 2010. A partir desse ano, o setor apresentou uma tendência decrescente.

Figura 2 – setor agropecuário como proporção do PIB (a preços constantes de 1990)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Central de Reserva de El Salvador (BCR)

A Figura 3 expõe que os grãos básicos representam uma quinta parte do setor agrope-cuário, porte semelhante com outras produções agrícolas e a pecuária. A produção de grãos básicos se mantém ao longo dos anos, ressaltando o “paradoxo latino-americano do cres-cimento do PIB agrícola com a manutenção da pobreza”(SABOURIN et al., 2015, p. 22), sobre tudo, a concentração da pobreza nas zonas rurais de El Salvador. Em 2008 a situação da pobreza na área rural foi geral, pois o 49,0% estava em situação de pobreza, 17,5% em extrema pobreza e 31,5% em situação de pobreza relativa, sendo esta proporção mantida até o período recente.

2.1.3

Estrutura agrária

Segundo Pérez (2010) a estrutura agrária salvadorenha passou por dois momentos históricos importantes: o primeiro foi a reforma liberal (“modelo econômico liberal”) de 1880, “que expropriou as terras comunais a camponeses e indígenas e deu forma a um setor rural das explorações agrícolas de monocultivos, cujo produto se destinaria à exportação”(p. 08). O segundo se dá 100 anos depois, na crise do modelo exportador (modelo econômico de Importação via Substituição de Importações (ISI)) e o início da guerra civil salvadorenha em 1980. Doze anos depois, ocorreu o fim da guerra com os Acordos de Paz em 1992 e com

(26)

Figura 3 – Evolução da Estrutura agropécuaria de El Salvador

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Banco Central de Reserva de El Salvador (BCR)

a implementação de um modelo econômico neoliberal que descuidou do setor agropecuário pela falta de apoio técnico e financeiro que o tornou menos rentável.

No período dos anos 1980, a reforma agrária de El Salvador se alinhou a projetos que visavam o desenvolvimento econômico da América Latina, ao considerar-se que as estruturas rurais e agrárias eram economicamente ineficientes. A reforma, também surgiu pela pressão social por parte dos camponeses descontentes pelas injustiças sociais dos governos. Em 1980 foram promulgados os Decretos Executivos 153, 154, e 207 (Decreto Ejecutivo 153, 1980; Decreto Ejecutivo 154, 1980; Decreto Ejecutivo 207, 1980) vigentes até hoje. As proposições fundamentais desta Lei Básica da Reforma Agrária expõem que, a exploração ou estabeleci-mento, tenha um mínimo de produção e produtividade de acordo com o nível médio nacional, tomando em conta a conservação do espaço agrícola. As terras afetadas foram aquelas que excediam os 100 hectares em imóveis com qualidade de terra classificadas por tipos de I a IV e, terras com 150 hectares em qualidade de terra do tipo V a VII. O processo da reforma agraria se deu em três fases.

A primeira fase, “afetou as propriedades maiores de 500 hectares” sob a posse de um só dono, que atingiu 15% da produção agropecuária do país. A segunda fase afetou as terras compreendidas entre 100 a 500 hectáres segundo a qualidade do solo. Porém, em 1982 “esta lei se suprimiu sem haver-se iniciado”(FLORES, 1998, p. 136–141) e se estipulou um

(27)

máximo de 245 hectares. No contexto dos Acordos de Paz em 1992, ratificou-se a atribuição de excedentes de 245 hectares, com modificações. De acordo com Flores (1998) a falta de um Censo Agropecuário posterior ao III Censo de 1971, dificultou uma visão abrangente da estrutura agrária para o processo da segunda fase.

Uma terceira fase, consequência do decreto 207 de 1980, atingiria propriedades com vocação agrícola que gestionaram propriedades de até sete hectares e aquelas sob qualquer forma de arrendamento e tamanho. Ou seja, a lei expropriava as terras que não eram explo-radas por seus proprietários e as transferia aos produtores arrendatários que trabalhavam e produziam nessas terras independentemente do tamanho. Foi encabeçada pela “Financiera Nacional de Tierras Agrícolas” (FINATA), a qual concedia e financiava as propriedades com 50% à vista e 50% em bônus de acordo com o valor fiscal declarado da propriedade. Em 1982 a aplicação deste decreto foi modificada para autorizar o aluguer de terras durante o ciclo agrícola e em 1997 outras leis foram revogadas com a finalidade de regular o arrendamento de terras.

Segundo Pérez (2010) e Flores (1998) a reforma de 1980 não fez modificações impor-tantes na abrangência de minifúndio e de pequenas propriedades. Porém, a partir de 1984, os estratos de mais de 100 hectares aumentaram significativamente e os estratos entre 500-2500 hectares considerados latifúndios desapareceram para 1984, rompendo com o sistema latinfundista da época. Nos anos 1990, no contexto dos Acordos de Paz entre o exército e a guerrilha salvadorenha, distribuiram-se terras aos ex-combatentes de guerra por meio do Programa de Transferências de Terras (PTT 1991-2002). A tendência neoliberal promoveu a iniciativa individual e o desenvolvimento dos mercados, fomentou a agricultura individual no setor cooperativo e foram reduzidos os custos administrativos relacionadas com o processo de reforma.

Entre 1982-1991 a distribuição das terras pela aplicação dos três decretos descritos resultou em um endividamento das associações cooperativas e beneficiários individuais que não lhes permitiria continuar suas operações. Entre 1989-1998 iniciou-se o Programa de Promoção da Reativação Econômica e Social, implementou-se o Banco de Terras que também distribuiu e redistribuiu terras no marco legal, além de outras instituições que ajudaram no processo de reforma agrária. Ademais a dívida agrária foi suportada pelo sistema financeiro para que as cooperativas adquirissem crédito.

Em 1992, as cooperativas se beneficiaram desta medida e o decreto 747, de acordo com Pérez (2010), permitiu a partição de propriedades para a transferência individual e coletiva sob o sistema de novas opções de posse de terra, dando liberdade para a definição da forma de propriedade que desejavam praticar (individual, mista, coletiva, etc) e para os que

(28)

não queriam mudanças se propôs a alternativa de Cooperativas de Serviços Múltiplos ou de Cooperativas Coletivas.

De forma geral, os entraves dos anos 1980-1990 se deviam por um lado, as pequenas propriedades que estavam em condições vulneráveis, devido primeiramente à guerra, e após pela falta de assistência técnica e financiamento, o que obrigava mulheres e idosos a arrendar as suas terras para obter uma renda mínima. Com o decreto 207 referente à terceira fase da reforma agrária, aplicado a qualquer propriedade arrendada e a qualquer tipo de tamanho, atingiu estes pequenos proprietários, evidenciando uma diminuição ainda maior das pequenas propriedades, em vista do dilema das zonas rurais agrícolas.

O problema dos anos 90 foi que, durante a transferência das terras, houve beneficiários que vendiam suas terras o que levaria a uma nova concentração das terras em El Salvador. Nos anos 2000, houve limitação ao acesso à terra devido à especulação no mercado de terras, a dolarização vigente no país desde 2001 e a importância das remessas, a urbanização e os projetos turísticos impulsionados pelo IED. O problema mais recente exposto por Pérez (2010) é que até o ano de 2010 ainda existiam mais de 100 mil casos com problemas de titulação de parcelas, o que gera insegurança jurídica e dificuldades para que os camponeses tenham acesso a crédito para a produção.

Destaca-se que a reforma agrária é um mecanismo de distribuição e redistribuição da terra no setor agropecuário que tenta gerar mudanças que afetam de forma positiva a produção agrícola do país. É fato que uma estrutura agrária baseada, principalmente, em minifúndio-latifúndio é insustentável, uma vez que os pequenos produtores contribuem de forma significativa para a produção e a segurança alimentar do país.

2.1.4

Mercado de trabalho e pobreza

Em 2008, 40% das famílias estava em condições de pobreza, na qual 49% se concen-trava na zona rural, 17,5% estava na categoria de pobreza absoluta, e 31,5% em pobreza relativa e, em 2007, as porcentagens foram próximas. A escolaridade média também é muito baixa no país, com média de 4 anos de estudo para a zona rural, e 7 para a zona urbana para esses anos. Recentemente a pobreza ronda 30% das famílias, com maior concentração nas zonas rurais. Nos últimos anos, a média de anos de estudo aumentou para 5 na zona rural e 8 anos de estudo para a zona urbana3 (Tabela 41, Anexo A).

3 O Informe revelado por meio da “Encuesta de Hogares de Propósitos Múltiples (EHPM)” considera em

extrema pobreza famílias cuja renda familiar não cobre o custo de uma cesta básica alimentar (CBA) e famílias em condições de pobreza relativa são aquelas cuja renda familiar não cobre o custo da CBA estendido (duas vezes o valor da CBA). Para o ano 2007, o custo da CBA por famílias urbanas foi de US$ 146,3 e para famílias rurais US$ 110,69, com uma média de 4 membros por família. Para 2008, o custo da CBA foi de US$ 171,2 na zona urbana e na zona rural foi de US$ 127,9 para uma média de 4 membros no núcleo familiar.

(29)

Por outro lado, a oferta de trabalho representada pela População Economicamente Ativa (PEA) foi de 2.874.608 pessoas para 2006 e para 2007 foi de 2.173.963 indivíduos. A taxa global de participação derivada da PEA mostrou que para 2006, de cada 100 pessoas em idade para trabalhar (PET) 52 estavam ofertando sua força de trabalho, das quais 93,4% foi empregada e 6,6% esteve desempregada. Para 2007, de cada 100 pessoas em idade para trabalhar, 62 estavam ofertando sua força de trabalho, das quais 93,7% foi ocupada e 6,3% esteve em condições de desemprego. De forma geral, nos últimos 13 anos, a média de desem-prego em El Salvador se manteve em patamares próximos a 7%. Porém, estas taxas foram maiores para o setor rural, quando comparada com a taxa de desemprego do setor urbano (Ver Tabela 42). Para o ano de 2006, a oferta de trabalho na área rural foi de 1.069.354 indivíduos e para o 2007 foi de 754.308 pessoas a partir dos dados extraídos da EHPM 4.

Segundo Soto et al. (2007), na região da América Latina, em especial no setor agrícola, há prevalência de empregos informais gerados por empresas modernas, o que incide sobre a pobreza rural destes trabalhadores ocupados, além de não receber o salário mínimo legal. As rendas são menores no setor rural e, em especial, as rendas dos trabalhadores agropecuários se comparados com o resto dos trabalhadores de outros setores. Ainda que o custo de vida seja relativamente menor, a zona rural, com predominância de produtores agrícolas, concentra as maiores taxas de pobreza.

2.2

Agricultura Familiar em El Salvador

2.2.1

Caracterização e definição da Agricultura Familiar em El Salvador segundo

o “Plan de Agricultura Familiar y Emprendedurismo Rural para la

Seguri-dad Alimentaria Nutricional (PAF) 2011-2014”

O Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) (2010, p. 101) define a Agricultura Familiar (AF) da América Central “como a produção de pequena escala, desenvolvida em estabelecimentos que são unidades domésticas de produção e consumo, e têm mão de obra familiar não remunerada como principal força de trabalho (...)” e participam dos distintos mercados de produtos, insumos, mercado de terra, de trabalho, de crédito e de serviços. A AF se caracteriza por três elementos: i) pela relação entre produção para o autoconsumo e venda de produtos; ii) pela relação do trabalho dentro e/ou fora do estabelecimento (trabalho agrícola ou não agrícola); e iii) diversificação de suas atividades de produção.

4 Estes dados não podem ser comparados com a Demanda de trabalho agropecuário do IV Censo Agropecuário

por serem de diferentes natureza. Porém, podem ajudar a dimensionar o tamanho do mercado de trabalho salvadorenho. O Censo tem maior cobertura objetiva, com 60,3% do universo, se comparado com a Encuesta de Hogares de Propósitos Múltiples, que abrange 1,1% do universo do segmento de domicilios.

(30)

O informe do Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) (2010) identifica dois tipos de AF: a “pequena Agricultura Familiar Empresarial e a Agricultura Familiar Campo-nesa”(p. 35). A primeira é fortemente orientada para a produção de mercados internos ou externos, que tende a se especializar e contribui para a geração de rendimentos monetários para as famílias rurais. Ainda persiste na região a inserção de uma parcela minoritária mas crescente em nichos de qualidade. A segunda, combina autoconsumo e venda de produtos em proporções variáveis, além de outras atividades. Esta é importante por contribuir para a produção de grãos básicos em pequena escala (milho, feijão, sorgo e arroz) e, atualmente, mais da metade da população rural da região, mora em unidades produtivas familiares.

A AF da região da América Central de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) (2011) se caracteriza por ser uma unidade econômica auto-gestionada, pelo uso de mão de obra familiar, pelo limitado acesso a terra e capital, pela aplicação de estratégias de supervivência baseadas em rendas múltiplas, pela sua hete-rogeneidade e por formar parte de um território rural especifico conformado por mercados e redes de cooperação e dependência5.

Em El Salvador, a Agricultura Familiar (AF) é definida pelo Ministerio de Agricultura

y Ganaderia(MAG, 2011) no “Plan de Agricultura Familiar y Emprendedurismo Rural para la Seguridad Alimentaria Nutricional (PAF) 2011-2014”, como parte do plano Quinquenal

de desenvolvimento 2010-2014, o qual caracteriza as condições dos produtores familiares 6. A

classificação e sua metodologia baseia-se no IV Censo Agropecuário de 2007-2008 divulgado pelo (Ministerio de Economía (MINEC), 2008), utiliza os produtores agropecuários e reco-nhece dois tipos de AF presentes no país: a Agricultura Familiar de Subsistência (AFS), e a Agricultura Familiar Comercial (AFC).

De acordo com a caracterização do Plano de Agricultura Familiar (PAF) 2011-2014, a AFS utiliza predominantemente mão de obra familiar e, eventualmente, contrata mão de obra de forma externa, com algum vínculo com o mercado. De acordo com MAG (2011) a AFS depende geralmente, da propriedade, produz para o autoconsumo, utiliza mão de obra familiar com exclusividade, a extensão da propriedade não excede 3 hectares, o que não permite que tenha uma renda mínima para suprir suas necessidades básicas. A AF7 é constituída por

“390.475 produtores sendo 325.044 produtores de subsistência e 65.431 produtores comerciais [pequenos]” (MAG, 2011, p. 07). A agricultura não familiar utiliza exclusivamente mão de obra assalariada e com vínculos fortes com o mercado e está composta por 5.113 produtores sendo 3.030 produtores comercias (medianos) e 2.083 grandes produtores comerciais.

5 Ver Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) (2011) 6 Neste trabalho se fará a análise por estabelecimento ou exploração.

(31)

O grupo da AFS contribui com a segurança alimentar, com mais de 70% na produ-ção nacional de grão básicos e outros itens, paradoxalmente concentra-se em altos níveis de pobreza e altos níveis de desnutrição (MAG, 2011). O principal problema refere-se às rendas muito baixas como consequência da baixa produção e produtividade, a baixa assistência téc-nica, de acesso a créditos e outros incentivos financeiros, deficientes canais de comercialização e escassa associatividade empresarial, levando a uma vulnerabilidade econômica, social e am-biental. Por outro lado, na AFC o produtor vive no local ou em um lugar próximo, utiliza mão de obra familiar como principal força de trabalho e contrata mão de obra externa de forma eventual, sendo o destino principal o mercado, o que permite gerar renda a partir da produção e satisfazer suas necessidades.

A contribuição da AF é fundamental em cinco frentes: (i) na segurança alimentar, (ii) na gestão dos espaços rurais, (iii) na preservação do meio ambiente,(iv) na acumulação, geração de riqueza e ocupação, e (v) na sua resiliência. A AF salvadorenha tem um papel importante na sustentabilidade do país em termos de produção, contribuição da segurança alimentar, geração de renda das famílias rurais, e geração de emprego. O “nível de vida das famílias que vivem da agricultura, no longo prazo, depende fortemente de sua produtivi-dade”(FAO, 2004, p. 41). Porém, a área rural “(...) concentra altos níveis de pobreza (...), embora, paradoxalmente, produz uma elevada proporção dos alimentos consumidos pela po-pulação”(FAO, 2012, p. 16). El Salvador tem experimentado níveis de pobreza muito altos; a pobreza , entre 2006-2008, revelou que 35,1% da população estava em situação de pobreza.

2.3

Evidência empírica sobre crítérios de delimitação da Agricultura

Familiar e de construção tipológica

2.3.1

Críterios de delimitação da Agricultura Familiar

A categoria da Agricultura Familiar “é uma categoria política e, por conseguinte, é diversa, ampla e extensível por decisão política” (SABOURIN et al., 2014, p. 27–28) e distinta entre países e, as vezes, no interior do mesmo país, sendo necessária definí-la de um ponto de vista operativo. Tendo como base a Schneider (2014, p. 07), a noção, definição e compreensão da AF pode ser situada de três formas: i) por algum marco de referência teórico; ii) por definições normativas, operativas, institucionais, ou empíricas; ou iii) por uma definição política e social.

Nesta pequisa é tomada uma definição empiríca. A criação de uma definição norma-tiva ou empírica pode permitir um certo grau de homogeneização entre as categorias ainda que, com certas limitações pois, segundo Schneider (2014), esta tentativa conduz a certo

(32)

grau de arbitrariedade e discriminação já que reduzem a heterogeneidade e diversidade. A construção de uma definição “implicaria abster-se de juízos valorativos ou de propor formas ideais de organização social, para centrar-se (...) no estudo dessa estrutura e sua dinâmica” (MALETTA, 2011, p. 02).

Maletta (2011) indica que há aproximações ao conceito de agricultura familiar a par-tir de algumas definições que permipar-tiram soluções empíricas possíveis, como a “agricultura predial, pequena escala, pequena escala da terra, ou capital ou a produção, padronização de terras, trabalho familiar e assalariado, propriedade da terra”(p. 05–07). Salcedo et al. (2014, p. 21–22) indicam que mesmo havendo definições dissimilares na América Latina, existem elementos em comum em todas elas, a saber, aquelas que tem mão de obra predominante-mente familiar, administração da unidade econômica-produtiva concedida ao chefe do lar e o tamanho da exploração e/ou da produção. Estes elementos também são determinante para a classificação da AF.

De acordo com Salcedo et al. (2014), a definição de mão de obra predominante familiar como critério exclusivo de classificação deve relativizar-se pelo contexto em que as rendas não agrícolas têm cada vez mais importância. O critério da gestão do estabelecimento por parte do chefe da exploração pode ser de muita ajuda para critérios de acesso a políticas públicas. O critério do tamanho da exploração definido mediante superfície de terra das explorações ou estabelecimento, pode levar a considerações equivocadas, já que existe uma heterogeneidade de qualidade de terra e solos agrícolas, recursos hídricos e produtividades diferentes. Salcedo

et al. (2014) expõe que seria importante incorporar o conceito de “produtividade da terra”

para classificar os produtores familiares em tipologias, pois teria maior peso que o tamanho da propriedade.

A estratificação ou tipificação por meio da superfície da AF pode deixar de lado a heterogeneidade em termos de potencial produtivo. Em 1980, Schetjman (1981) ao retratar as tipologias “no Agro mexicano em 1980” e tratar da heterogeneidade em termos de po-tencial produtivo da superfície de trabalho que possuem as diversas unidades, tratou de se aproximar a uma homogeneização a partir da construção de um índice ou coeficiente sobre os rendimentos do milho em áreas de irrigação ou milho de cultivo temporal, que media a relação entre o rendimento médio de milho entre o rendimento médio nacional tanto para cultivo de irrigação como para cultivo temporário.

As técnicas centrais para identificação de grupos objetivos e homogêneos podem ir desde uma análise univariada a análise multivariada. Ambas análises válidas. Por exemplo, a análise multivariada pode ser utilizada para redução da dimensão a partir da seleção de atributos, visualização de dados, ou geração de agrupamentos homogêneos via clusters. Este

(33)

método permite tratar sistemas complexos e sua estratificação. Escobar e Berdegué (1990) sugerem que cada aproximação seja avaliada em função da sua eficiência operacional e a partir dos supostos teóricos.

A análise univariada as vezes pode não tratar informações sobre condições socioeconô-micas, culturais, ou hierárquicas, mas pode reduzir o emprego de informação redundante sobre um mesmo fenômeno. Algumas aplicações de critérios univariados para classificação de es-tabelecimentos agropecuários tem empregado, por exemplo, a composição da renda familiar, tamanho da exploração, nível de capitalização, informações climáticas ou de solos. Esco-bar e Berdegué (1990) expõem que um resultado prático pode sugerir também um critério univariado como, por exemplo, para o caso da construção de uma tipologia.

Os autores sugerem elementos de tipificação e/ou classificação de sistemas de ex-plorações ou estabelecimentos agropecuários a partir da determinação de um marco teórico específico, seleção de variáveis que permitam operacionalizar um marco teórico, coleta de dados, análises estatísticas multivariadas ou univariadas para a interpretação de dados e resultados, validação da tipologia e classificação. Os tipos de variáveis de importância vão desde o tamanho da propriedade, nível de capitalização, estrutura da mão de obra disponível e empregada no estabelecimento, sistemas produtivos existentes nos estabelecimentos (sis-tema de cultivo, animal etc), nível tecnológico, posse da terra, qualidade do solo, composição da renda familiar, grau e articulação de mercados de produtores, localização geográfica e agroecológica, capacidade de gestão, habilidades e metas dos produtores.

Para este estudo, utiliza-se a base de dados correspondente a estabelecimentos (explo-rações) do IV Censo Agropecuário 2007-20088. Se identificaram duas variáveis que permitiram

construir um universo de dados para a AF, em vista que, não existe uma base de dados espe-cífica para este setor. Foi identificada a variável de pequenos produtores familiares associadas ao conceito de AF de subsistência, porém, o censo carece de uma variável que especifique de forma direta aos estabelecimentos familiares comerciais. Para criar um universo de AF, se utiliza a variável dos estabelecimentos comerciais, e apartir deles, define-se aos estabeleci-mentos familiares comerciais em função à forma de organização dos estabeleciestabeleci-mentos (gestão pelo produtor chefe de família) e em termos de acesso a fatores produtivos ou insumos (su-perfície do estabelecimento), conforme sugestões da literatura. Posteriormente, procedesse à estratificação da AF em função da capacidade produtiva do estabelecimeto, tomando como base o nível de produtividade da terra, utilizando a análise univariada.

8 Daqui em diante, quando “produtores familires” for mencionado, será referente a estabelecimentos ou

(34)

2.3.2

Tipologias de Agricultura Familiar

Como descrito, o Consejo Agropecuario Centroamericano (CAC) (2010) define a Agricultura Familiar na América Central como unidades produtivas domésticas de pequena escala desenvolvidas em estabelecimentos e que tem mão de obra não remunerada como principal suporte, podendo ser de dois tipos: “Pequena Agricultura Familiar Empresarial” e “Agricultura Familiar Camponesa”. Particularmente em El Salvador, a definição oficial não-institucionalizada9 de AF foi definida pelo MAG (2011, p. 16) no PAF 2011-2014, onde

foi identificada uma Agricultura Familiar de Subsistência (AFS) e uma Agricultura Fami-liar Comercial (AFC). No país não existe uma tipificação detalhada que permita fazer uma caracterização mais específica sobre a AF.

Uma primeira tentativa de tipificação teórica da AF em El Salvador foi realizada por Tobar (2011) num breve relatório técnico que sugere caracterizar, especificamente, a tipologia da Agricultura Familiar de Subsistência (AFS) por destino da produção via “proporções da

produção vendida” (quantidade vendida em relação às quantidades totais produzidas) de

grãos básicos. Para tal, o autor utilizou a base de dados do IV Censo Agropecuário a variável “pequenos produtores”, sendo esta a mesma já classificada como AFS pelo MAG (2011). A tipificação foi feita com base na comercialização ou venda da produção de grãos básicos (feijão, sorgo, milho e arroz) dos pequenos produtores.

Tobar (2011) sugere 5 categorias teóricas de AF: i) AF de auto-consumo sem saída agropecuária (AFA-NA), que concentra 26% do total de produtores pequenos que ven-dem/comercializam 13% da produção de grãos básicos; ii) AF de auto-consumo para o mer-cado (AFA-VM), na qual concentra-se 49% da produção pequena e vende 37% da produção de grão básicos; iii) AF em Transição Diversificada e sem Organização (AFT-SO), onde se concentra 24% da pequena produção e comercializa 58% da produção de grãos básicos; iv) AF em Transição Diversificada e Gestão Empresarial Associativa (AFT-GE), categoria contida na anterior e que requer maior detalhamento; v) Agricultura Familiar Consolida (AFC), na qual, concentra-se 1% de pequenos produtores que comercializam 76% de grãos básicos.

Outro estudo a considerar, é o de Cabrera (2013) que utilizou as informações de duas fontes de dados para realizar uma análise descritiva e comparativa da AF. A primeira base de dados foi do IV Censo Agropecuário 2007-2008 cujo critério de classificação de AF foi o nível de emprego que contratam. A segunda fonte foi a da “Encuestas de Hogares de Propósitos Múltiples (EHPM)” dos anos 2000 e 2009, sendo que os critérios de classificação foram ser auto-empregados em sua ocupação principal e se dedicar a atividades agropecuárias, com exceção da pesca, das atividades cooperativas ou familiar não remunerado. A tipologia

9 Não existe nenhum decreto, regulamento ou lei que defina a AF, mas existe um plano da AF que define e

(35)

específica construída foi: i) Lares especializados ii) Lares diversificados, e iii) Lares rurais. Para a base de dados da “Encuestas de Hogares de Propósitos Múltiples (EHPM)” dos anos 2000 e 2009, seria válida esta classificação, porém, para os dados do IV Censo Agropecuário 2007-2008, Cabrera (2013) não conseguiu esta tipificação devido à ausência de variáveis de valor da produção e da renda monetária das famílias.

Os trabalhos descritivos por Mejía e Delgado (2014), Ruíz (2015) utilizaram os dados do IV Censo Agropecuário de 2007-2008 para analisar a AF, considerando o universo com-pleto dos produtores comerciais (que não grandes produtores) como Agricultores Familiares Comerciais (AFC), sem fazer uma delimitação dos dados.

Passando a um marco de experiências regionais, o caso quiçá mais emblemático a ressaltar seja o caso no Brasil. Em 1989 Kageyama e Bergamasco (1989) utilizaram o Censo Agropecuário do Brasil de 1980, onde propuseram a primeira classificação entre AF e suas tipologias. Se fez uma classificação dos estabelecimentos agropecuários via “uma variável que pudesse refletir possíveis diferenças na forma de organizar a produção e valorizar o patrimônio e/ou capital”(p. 56). Para reafirmar essa classificação, as autoras fizeram um segundo procedimento “baseado na área total e na utilização de tratores” o que permitiu dar suporte à hipótese de que ainda nesses grupos havia heterogeneidade.

Foram identificados dois tipos de unidades produtivas, as unidades familiares e as unidades empresariais. As unidades empresariais ou empresas capitalistas são dirigidas por um administrador contratado e usam necessariamente mão de obra familiar. Por sua vez, a produção familiar ou unidade familiar de produção agrícola era caracterizada por serem dirigidas pelo produtor chefe de família e utilizar mão de obra familiar, porém, existia hetero-geneidade entre elas. As unidades de produção familiar agrícola foram classificadas com base no peso relativo do trabalho assalariado ou contratado, o que permitiu estabelecer a seguinte tipologia: i) estabelecimentos familiares puros; ii) estabelecimentos familiares complementa-dos por empregacomplementa-dos temporários; iii) empresas familiares que contratam força de trabalho externa à família de forma permanente e as vezes temporários. Os estabelecimentos sem mão de obra familiar foram classificados como menores a dois hectares, intensivos e extensivos.

Outro estudo importante é o proposto por Kageyama et al. (2014), que usaram o Censo de 1985 para criar tipologias via variáveis de empregados permanentes, renda bruta monetária e outras. O estudo baseou-se na presença de empregados permanentes e temporários em relação à mão de obra. Em 2000, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação - INCRA-FAO (2000, p. 10) adotou uma tipologia que permitisse “classificar os produtores a partir das condições básicas do processo de produção” que explicassem suas reações externas e sua apropriação com a natureza. A

(36)

metodologia publicada da delimitação do universo para os dados do Censo Agropecuário do IBGE no Brasil para o ano 2000, foi feita com base a três elementos.

O primeiro caracteriza os agricultores por meio da condição de que o produtor é o gestor do estabelecimento; segundo, que o trabalho familiar fosse superior ao trabalho contra-tado, com base na relação entre as Unidades de Trabalho Familiar (UTF)10e as Unidades de

Trabalho Contratado (UTC)11; e o terceiro, que a área total dos estabelecimentos seja menor

à área máxima regional. Para definir uma tipologia, optou-se por construir dois indicado-res: Renta Total (RT) dos estabelecimentos por produtor e Valor de Custo de Oportunidade (VCO).

A Renda Total (RT) dos estabelecimentos foi definida como o Valor Bruto da Produ-ção (VBP)12 mais a receita agropecuária indireta e o valor da produção da indústria rural,

descontados o valor das despesas. Isto permitiu separar a AF da não familiar ou patronal. Esse indicador permitiu caracterizar os tipos de agricultores familiares em vista dos “distintos graus de desenvolvimento socioeconômico e, portanto, com distintas lógicas de produção e sobrevivência” (INCRA-FAO, 2000, p. 40) para poder captar aspectos de sua atividade pro-dutiva como inserção no mercado, transformação de produtores agrícolas e auto-consumo. Outro indicador denominado “Valor de Custo de Oportunidade (VCO)” mede o custo de oportunidade de mão-de-obra que representa o valor da remuneração paga a um diarista na agricultura13. Desta forma, os tipos de AF estariam estratificados em tipo A, B, C, e D, em

função da relação entre RT e VCO.

Neste mesmo trabalho do INCRA-FAO (2000) também foi proposta uma estratifi-cação complementar da AF14. Sobre o mesmo universo de AF, segundo os autores, podem

ser feitas três classificações: i) pelo Grau de especialização como a relação da variação do valor da produção do produto principal entre o VBP subdividida em superespecializados, especializados, diversificados e muito diversificados; ii) Grau de Integração ao mercado dado como a relação da variação da produção vendida entre o VBP subdividida em unidades muito integradas ao mercado, integradas ao mercado, e pouco integrada ao mercado; e iii) as formas de relações de trabalho nos respectivos estabelecimento 15.

10 Pessoal ocupado da família de 14 anos ou mais e (Pessoal ocupado da família de menos de 14 anos)/2 11 (Sálarios + Valor da quota-parte entregue a parceiros empregados + Serviços de empreitada de mão-de-obra)

+ (Diária estadual x 260)

12 Somatória do Valor da produção colhida/obtida de todos os produtos animais e vegetais 13 O VCO = 1,2 x Diária média estadual x 260

14 Tanto o tipo A, B, C e D de AF pode ser subdivido pelo seu grau de especialização e as suas subcategorias,

como pelo seu Grau de integração ao mercado e suas subcategorias, ou pelas formas de relações de trabalho e suas subcategorias.

15 Apenas mão-de-obra familiar, Mão-de-obra familiar + empregados temporários, Mão-de-obra familiar +

empregados temporários + empregados permanentes, Mão-de-obra familiar + empreitada de máquinas + outros, Mão-de-obra familiar + demais combinações

Referências

Documentos relacionados

Almeida (2009) ao discutir tal temática, indica que para se inserir no novo cenário de forma atuante é preciso uma abordagem interdisciplinar que uma a História, as Ciências Sociais

Assim, o objetivo geral desta pesquisa é: analisar na literatura estrangeira, entre os anos de 2005 e 2017, a fim de entender quais são as contribuições

DECivil GESTEC Tecnolog ia da Construção de Edifícios Mest rado In tegrado em Engenharia Civi l Processo de fabrico Estacas de secção quadrada -. Betonagem e

O presidente da Coprel, Jânio Vital Stefanello, destacou que as duas cooperativas atendem o município de Boa Vista do Cadeado com a distribuição de energia elétrica e, agora

e) demissão com justa causa: com saldo devedor a empresa poderá efetuar o desconto como hora normal, e com saldo credor pagará como horas normais. §4º: As horas creditadas ou

O manejo incorreto deste equipamento pode resultar em acidentes graves ou fatais. Antes de colocar o implemento em movimento, leia cuidadosamente as instruções contidas

(Gêneros digitais. B) Revelar o que faziam os autores na ditadura militar. C) Identificar os gêneros digitais como uma escrita concisa, objetiva. D) Ressaltar como Chico Buarque

3º da Lei Complementar 108/2001, ao estabelecer ser vedado o repasse de ganhos de produtividade para os reajustes dos benefícios em manutenção, evidencia que