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5.5 Perspetivas futuras

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o decorrer da análise dos discursos dos participantes e composição da respetiva codificação, surge-nos a necessidade de construir a categoria central, que segundo Strauss e Corbin (2008, p. 145) “representa o tema central da pesquisa”. A PROCURA DA NORMALIDADE parece-nos ser o fenómeno central decorrente da análise dos discursos dos adolescentes.

À medida que o adolescente se desenvolve, a sua capacidade cognitiva faz com que procure novos valores, se interesse por temas filosóficos, políticos, sociais e reforce a sua capacidade de pensamento abstrato. A capacidade de perceber e atuar a longo prazo, conduz o adolescente com FQ à aquisição de mestria e capacidade de reformulação da sua identidade, contribuindo para o processo de orientação de uma transição saudável.

Neste estudo, dando voz aos adolescentes portadores de FQ percebemos que o processo de consciencialização necessário ao desenvolvimento de uma transição saúde/doença eficaz, exige atributos edificadores capazes de produzirem o restabelecimento do equilíbrio das respostas dos jovens. Identificamos discursos que se refletem nas propriedades de mudança e diferença e que ajudaram a consolidar o processo de consciencialização (Meleis et al, 2000). Os adolescentes confrontaram-se com a doença quando se começaram a aperceber que havia diferenças no seu quotidiano relativamente ao dia-a-dia dos seus amigos e familiares. Esta constatação está associada ao sentido de mudança pois reconheceram que as suas expectativas eram diferentes. Estes jovens começaram a sentir que algo na sua vida era distinto dos outros, não podiam correr, brincar sem ter cuidados acrescidos e também não podiam gozar do seu tempo, tal como as outras pessoas, visto que tinham tarefas que deveriam ser cumpridas em determinados horários matinais e noturnos.

Os adolescentes, ao lidarem com situações de doença crónica, debatem-se com uma série de acontecimentos e de mudanças no seu dia-a-dia, que implicam a adoção de estratégias que o ajudem a adaptar a essas circunstâncias adversas. Assim, consideramos que o desenvolvimento de confiança e o recurso a estratégias de coping convergem para a construção de uma vida com qualidade e adaptada à realidade vivenciada no momento.

Os pontos críticos referidos pelos adolescentes e reconhecidos como sendo uma das propriedades da natureza das transições, facilitam a consciencialização e mudança de atitudes dos adolescentes com FQ. Os eventos críticos negativos descritos pelos adolescentes poderão ter repercussões na sua formação da identidade e da interação social (Meleis et al, 2000). No entanto, estando os profissionais de saúde atentos e reconhecendo o esforço efetuado pelos adolescentes na aceitação da doença, poderão contribuir para uma integração positiva da transição.

Para além dos pontos críticos identificados, os adolescentes optam por padrões de resposta ligadas ao desenvolvimento de estratégias de coping, particularmente optando por atitudes de aceitação e sentimentos de controlo da situação.

Ao refletirmos sobre os pressupostos da Teoria de Meleis, nomeadamente nos indicadores de processo do padrão de resposta, surge-nos alocuções construtivas desta identificação.

As pessoas atribuem significados às suas condições de vida, são condições pessoais que influenciam o processo de transição (Meleis et al, 2000). Os adolescentes participantes deste estudo recorreram à palavra normalidade como sendo o significado atribuído ao seu quotidiano como portador de FQ. Pressupõe-se pelos discursos que os adolescentes se sentem adaptados às questões relacionadas com a fisioterapia, com a medicação, com alguns impedimentos relativos à atividade física e afins e que estas situações não são condicionantes de uma vida ativa.

Mas os adolescentes vivem com os seus pais ou familiares, têm amigos, portanto consideramos que pertencem e sentem-se integrados no meio social. Assim. reconhecemos os discursos dos adolescentes que nos reportaram para o conceito de sociedade como uma condição de transição; Meleis e colaboradores (2000) consideram que a identificação de algumas circunstâncias de caráter social, comunitário e pessoal, torna-se um fator facilitador ou inibidor da transição.

Tal como foi referido anteriormente, o estabelecimento das relações intrafamiliares e também entre os amigos, foram fatores facilitadores no processo de transição, não esquecendo que, por vezes, alguns adolescentes não davam conhecimento da sua patologia aos seus amigos. Aos pais é-lhes atribuído um papel muito importante no desenrolar da vida diária, e no acompanhamento do processo da patologia.

Para os adolescentes, existem outros membros da sociedade preponderantes para o seu desenvolvimento: os profissionais de saúde. Devido às contingências da sua patologia,

os adolescentes necessitam de acompanhamento clínico: recorrem a consultas médicas, ao fisioterapeuta, ao enfermeiro, ao nutricionista. Todos estes elementos contribuem com os seus conhecimentos, para o bem-estar do adolescente e da sua família, e uma melhor integração na sociedade, capacidade essa, reconhecida pelo próprio adolescente e referida como sendo fundamental para o seu desenvolvimento.

Assim, a preparação e o conhecimento do adolescente são condições facilitadoras do processo transicional (Meleis et al, 2000).

Neste sentido identificamos discursos de adolescentes relacionados com o facto de não se preocuparem em dar conselhos e orientações de sobrevivência a outos doentes com FQ, o que nos fez apreender que os participantes tinham conhecimentos e encontravam-se preparados para enfrentar a mudança nas suas vidas. Apercebemo- nos assim, que adotam posturas facilitadoras para a progressão na transição saúde- doença em que se encontram.

Para Meleis et al (2000), sentir-se ligado é outro indicador de processo, que nós identificamos nos dados recolhidos. Os adolescentes mostravam atitudes positivas quando falavam das suas vivências, conheciam as suas limitações, os seus recursos, as atividades obrigatórias, a oscilação entre bons e maus momentos.

Ou seja, o adolescente interage com os amigos a nível de ocupação dos tempos livres e atividades de grupo, mas no que concerne à comunicação da doença aos seus pares, as opiniões não são unânimes. Os adolescentes que apresentam sintomatologia expressa, nomeadamente dificuldade respiratória e acessos de tosse, falam da patologia aos seus pares, se por outro lado, os sinais exteriores de doença não são visíveis, as informações são ocultadas.

Os adolescentes apresentaram discursos de normalidade, não se sentem diferentes dos outros jovens. Optam por apresentar atitudes positivas, de enfrentamento das situações mais desagradáveis. A aceitação da situação crónica estava patente nos discursos dos jovens essencialmente quando se sugeriu, na entrevista, que nos transmitissem numa só frase o que era ter FQ.

ESTUDO II

A perspetiva dos pais dos adolescentes com