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EXPLICITAÇÃO DO PROCESSO METODOLÓGICO

ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

1. EXPLICITAÇÃO DO PROCESSO METODOLÓGICO

Tal como vem sendo referido ao longo do enquadramento teórico, os adolescentes com doença crónica, nomeadamente com FQ, são um grupo de indivíduos que se confrontam com experiências traumáticas, negativas e até impeditivas de atividades normalizadas, que poderão ser causadoras de atitudes de não adesão terapêutica, havendo, no entanto, adolescentes que não consideram a doença crónica dificultadora de um dia-a-dia habitual e regular.

Seguindo este mesmo raciocínio, deparamo-nos com os pais destes adolescentes, que vivenciam uma realidade complexa com necessidades de reformulação da própria dinâmica familiar.

Com base nesta perspetiva e tendo em conta as preocupações acima referidas, propusemo-nos realizar dois estudos: um sobre os adolescentes, para compreender como vivenciam o seu processo de doença ao longo do tempo e o outro sobre os pais dos adolescentes para compreender como estes vivenciam a doença do seu filho baseado no paradigma interpretativo característico da investigação qualitativa.

A problematização do estudo de investigação foi sendo formulada através da progressão da pesquisa efetuada em registos bibliográficos e também decorrente da experiência pessoal e profissional.

O contacto profissional com a população a ser estudada e a compreensão sobre o aumento da esperança de vida associada ao investimento técnico-científico das ciências da saúde, tornou-se mais um incentivo para a ampliação do conhecimento.

Neste capítulo descreve-se o tipo de estudo, os participantes, os instrumentos, os procedimentos adotados e o tratamento da informação produzida. É o capítulo que se propõe traduzir o quadro conceptual, que suportou este estudo num articulado de vários contributos teóricos que deram sustentabilidade a esta investigação.

Esta pesquisa foi direcionada para um tipo de estudo integrado no paradigma de investigação qualitativa por nos parecer a mais adequada.

“A investigação qualitativa proporciona a oportunidade de responder a perguntas

centradas na experiência social, como esta é criada e como dá sentido à vida humana”

As características do paradigma qualitativo, nomeadamente a pesquisa do tipo indutivo, o estudo dos participantes no ambiente natural, a interpretação dos significados que as próprias pessoas atribuem às suas experiências e os dados resultantes, são essencialmente descrições narrativas, estão presentes na escolha do problema a abordar (Driessnack, Sousa e Mendes, 2007).

O recurso ao paradigma qualitativo é indicativo nesta investigação, pelo facto de pretendermos estudar como os adolescentes com FQ crescem e a perceção dos pais sobre o adolescer desses jovens, no seu ambiente natural e experiência pessoal.

A nossa opção está também fundamentada por Strauss e Corbin (2008), que nos apresenta a escolha do paradigma qualitativo relacionado com a natureza do problema de pesquisa, nomeadamente quando o estudo visa “entender o significado

ou a natureza da experiência de pessoas com problemas como doenças crónicas…”

(p. 24), sendo este o tema do nosso estudo.

Nos estudos de investigação, a seguir à escolha do paradigma, parte-se para a seleção dos procedimentos e técnicas de colheita e análise dos dados.

Nesta investigação a nossa seleção do método recaiu sobre a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) ou Grounded Theory (GT), apesar de se ter em consideração a existência de três diferentes abordagens: clássica, straussiana e construtivista (Hunter, 2011). No entanto, estas três abordagens têm características em comum: amostragem teórica, análise comparativa dos dados, elaboração de memorandos e diferença entre teoria substantiva e teoria formal. Quanto às diferenças destacam-se três: a base filosófica, o uso de literatura e o sistema de análise de dados (Santos et al, 2018).

A TFD “visa compreender a realidade a partir da perceção ou significado que certo

contexto ou objeto tem para a pessoa, gerando conhecimentos, aumentando a compreensão e proporcionando um guia significativo para a ação” (Dantas et al,

2009). Consiste “num método para construção de teoria com base nos dados

investigados de determinada realidade, de maneira indutiva ou dedutiva que, mediante a organização em categorias conceituais, possibilita a explicação do fenómeno investigado” (Peluzo,2001, citado por Dantas et al, 2009).

Strauss e Corbin (2008) quando se referem à TFD, querem dizer que “foi derivada dos

dados, sistematicamente reunidos e analisados por meio de processos de pesquisa”

com a realidade do que a teoria derivada da reunião de uma série de conceitos baseados em experiências ou somente por meio de especulação” (p. 25). Estes autores

referem que todos os procedimentos da TFD, têm o objetivo de identificar, desenvolver e relacionar conceitos. Resumidamente estas são as etapas a seguir: colheita dos dados empíricos, codificação ou análise dos dados; codificação aberta, codificação axial ou formação e desenvolvimento do conceito; codificação seletiva ou modificação e integração do conceito e delimitação da teoria.

Assente nestas premissas construímos a nossa investigação “buscando compreender

a forma como os seres sociais vivem as suas experiências, extraindo os significados, o que sentem, pensam e como interagem esses seres, considerando a atenção na dimensão humana e nos aspetos sociais relacionados, nos contextos mais variados, por meio de um conjunto de procedimentos e técnicas de coleta e análise de dados sistematizados” (Baggio e Erdmann, 2011, p.178).

Para Lopes (2003) o recurso à TFD justifica-se na enfermagem, pois esta tem necessidade de conceptualizar as suas práticas e a diversidade de atores e de natureza a estudar, implica o uso de uma metodologia que envolva abordagens qualitativas e quantitativas. A finalidade desta metodologia “é a teorização do não

conhecido ou uma nova abordagem ao já conhecido” (Lopes, 2003, p.63).

De acordo com o exposto, parece-nos pertinente recorrer ao paradigma de investigação qualitativa - pois estuda fenómenos inseridos em contextos naturais, pretendendo compreender as interpretações e perceções das próprias pessoas - e à TFD como referencial metodológico – “cujo foco é compreender as experiências e

interações de pessoas inseridas em um determinado contexto social, buscando evidenciar estratégias desenvolvidas diante de situações vivenciadas” (Santos et al,

2016) - para operacionalizar os estudos que nos propomos elaborar.

A abordagem escolhida para este estudo foi a da escola de Strauss e Corbin (2008). Santos e Luz (2011) resumem as características da abordagem de Strauss e Corbin. Assim, relativamente à sensibilidade teórica “aceita a revisão da literatura para

estimular o pensamento analítico; recorre a técnicas de análise para estimular a reflexão e desenvolver a sensibilidade do investigador”; quanto à codificação e

diagramação “desenvolve métodos complexos, rigorosos e densos de codificação; tipos

de codificação: aberta, axial e seletiva; paradigma de análise: condições, ações/interações e consequências; considera o uso de diagramas fundamental, desde o início da análise”; e a identificação da categoria central é “identificada através da

codificação seletiva; tem um papel central na “história”; a teoria é a concetualização final da categoria central” (p. 7 e 8).

Para conhecermos e obter dados acerca das perspetivas dos participantes destes estudos, utilizamos como instrumento de recolha de dados a entrevista semiestruturada.

Esta tem várias vantagens, entre elas a flexibilidade para garantir uma resposta mais profunda, estabelecer uma relação de confiança entre o entrevistador e o entrevistado; e a possibilidade de poder estar atento aos sinais corporais apresentados e à expressão de emoções dos adolescentes e dos pais (Coutinho, 2011). As entrevistas foram agendadas de acordo com a disponibilidade dos participantes, em local que proporcionasse privacidade.

O tempo de realização das entrevistas decorreu entre os 15 minutos e duas horas.

A seleção dos participantes foi feita através da técnica de amostragem tipo snowball (bola de neve). Através do primeiro participante, foi sendo possível localizar o contacto de novos participantes, construindo assim uma rede de intervenientes (Vinuto, 2014).

“A amostragem teórica exige partir com um primeiro grupo de sujeitos para depois ampliá-lo progressivamente, em base aos estímulos que provêm da teoria emergente”