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O objetivo deste trabalho foi analisar os motivos que levam os alunos da modalidade Educação de Jovens e Adultos se evadir da sala de aula.

Vimos que a sua entrada não se dá de forma simples, mas é fruto de muitos conflitos internos, medos e dúvidas. Muitos dos ingressantes estão, há muito tempo, fora da escola, portanto é até compreensível que não se sintam muito à vontade imediatamente após o regresso. Naturalmente precisam sentir-se acolhidos para, gradativamente, irem adquirindo confiança para poderem avançar. Em outros casos, a complicação é ainda maior, pois nunca frequentaram uma escola, fazendo-o pela primeira vez. Por fim estão o que poderíamos chamar de alunos problemas para o sistema, que são aqueles que, depois de repedidas idas e vindas à escola, se atrasaram e precisam deixar o ensino regular e adentrar na EJA. Portanto é uma modalidade muito heterogênea e palco de muitos conflitos, inclusive de gerações.

Para podermos estruturar este trabalho acordamos que devido esta modalidade ser pensada principalmente para o estudante trabalhador, oferecida no turno da noite por motivos óbvios, era fundamental que fizéssemos um estudo que envolvesse a educação e o trabalho, sendo assim, precisaríamos ter uma visão tanto de uma como do outro. Dividimos, então, em capítulos aonde no primeiro a ênfase foi no trabalho. Procuramos fazer a trajetória deste, passando pelos eventos que julgamos mais importantes, posto que era um estudo abreviado, apenas para poder contextualizar a educação para o estudante trabalhador.

Vimos a origem do trabalho começado nas sociedades primitivas, a questão da mais valia, até chegar ao que temos hoje: o capitalismo. Vimos que o capitalismo degenerou a sociedade, conforme denunciou Karl Marx. Com ele veio a exploração do homem pelo homem, onde as relações de força são desproporcionais, pois o que detém o capital se apropria da força de trabalho daquele que não o possui, submetendo-o, em muitos casos, a trabalhos análogos à escravidão, contribuindo para a desumanização da sociedade.

Abordamos ainda o aprofundamento das desigualdades sociais que esse sistema propiciou, com o enriquecimento cada vez maior dos detentores do capital, enquanto as camadas mais pobres da sociedade são cada vez mais penalizadas, aumentando o distanciamento entre elas. Falamos, portanto, sobre o acúmulo de riquezas que o capitalismo

provoca, pois os donos do capital buscam cada vez mais a obtenção de maior lucro aliado ao menor custo, ou seja, quanto menos ele pagar pela força de trabalho do trabalhador, mais lucro atrairá para si. Desta forma, a concentração da riqueza sempre ficará em suas mãos, e aquele que realmente cede sua força de trabalho não ganha nem o mínimo para a satisfação de suas necessidades básicas. A EJA se insere nesse contexto de desigualdades sociais.

No segundo vimos todo o contexto educacional no Brasil, iniciado pelos padres jesuítas portugueses, passando pelas mais diversas reformas, até chegar ao que temos hoje. Aqui fizemos uma crítica fundamentada em vários teóricos sobre a educação que temos e a educação que queremos, quando pudemos constatar que houve avanços, mas que estes foram tímidos se comparados a países que tiveram um salto de qualidade muito maior. Talvez por termos um país com dimensões continentais, com uma grande variedade de culturas e costumes, esse tema tenha encontrado dificuldades, sobretudo por fazermos parte da periferia do capitalismo.

Procuramos também abordar a falta de vontade política, por parte das autoridades competentes, na implementação de políticas que fossem de estado, duradouras, ao invés de políticas de governos, que ao assumir outro, desfaz o que o primeiro houvera feito.

No terceiro capítulo, procuramos ver em que contexto se dá a evasão deste estudante trabalhador. Vimos que não é fácil determinar uma causa específica, pois é um processo muito complexo, com muitos fatores que devem ser levados em consideração. São estudantes que tem um histórico de vida complicado, que foram excluídos por muito tempo das políticas públicas, abandonados pelo Estado que deveria lhes dar proteção. Alguns tiveram que trabalhar desde muito novos, ainda crianças, às vezes, para ajudar no orçamento familiar. Outros estão entrando em uma escola para estudar pela primeira vez, seus pais não tiveram a preocupação de colocá-los na escola, achavam que isso não era importante, pois eles próprios nunca a freqüentaram. Os mais jovens, que entram a partir dos 15 anos por estarem fora da faixa para a série em que deveriam estar, também vem de sucessivas idas e vindas à escola, com abandonos e retornos, se atrasaram e foram despejados na EJA.

Realmente ter uma escola que seja atrativa, capaz de segurar esses alunos com diferenças tão patentes, é difícil. Não por acaso seja tão complexo determinar uma causa para o abandono, como pudemos constatar neste trabalho que ora apresentamos, mesmo porque essa causa única não existe, pois como ficou claro, as causas são as mais variadas possíveis, e as consequências as mais desastrosas. Vidas que são tolhidas ao nascerem e sonhos que são sufocados demonstram que a educação em nosso país nunca teve a importância que deveria

ter, pelo contrário, sempre sobreviveu de medidas paliativas, que não são capazes de gerar benefícios duradouros.

Ao contrário do Brasil, países que investiram na educação colhem agora os frutos deste investimento. É o caso, por exemplo, da Coréia do Sul, que, até bem pouco tempo, estava como estamos hoje, mas começou a estruturação do seu sistema de ensino, priorizando de fato a educação, e neste momento ocupa o terceiro lugar no ranking em qualidade da educação entre os 76 países pesquisados pela OCDE, ficando atrás apenas de Cingapura e Hong Kong. As políticas públicas voltadas para a educação são do tipo que demoram a surtirem efeito, e nossos governantes, visando a perpetuação no poder, preferem aquelas que têm resultados imediatos, onde os dividendos são colhidos na próxima eleição. É dever de cada indivíduo abrir mão de seus interesses pessoais e mesquinhos e lutar pelo conjunto da sociedade para que as próximas gerações tenham uma melhor qualidade de vida.

Neste sentido, acreditamos que a aspiração de um ser humano emancipado não é uma utopia, mas uma possibilidade factível, pois, como já vimos, algumas nações investiram em uma educação de qualidade e conseguiram sair das péssimas condições sociais em que se encontravam para posições privilegiadas, dando um grande salto de qualidade e melhorando consideravelmente a vida de seus habitantes.

Portanto, para que possamos ter uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária, de acordo com o que preconizava Karl Marx, é preciso que lutemos para diminuir as desigualdades sociais, que o sistema capitalista tenta perpetuar, e busquemos uma transformação da sociedade para além da lógica desumanizante da presente sociabilidade.

Entendemos que isso não é fácil, nem rápido. São mudanças que demandam tempo e organização da classe trabalhadora, e que precisam ser feitas gradativamente, mas são urgentes, se pensarmos que os resultados só virão em longo prazo, no mínimo uma ou duas décadas para colhermos os primeiros resultados.

Entendemos, por fim, que as próximas gerações merecem que se pensem nelas.

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