• Nenhum resultado encontrado

3. CAPÍULO II HISTÓRICO DA EJA: REFLEXÃO SOBRE AS POLÍTICAS DE

3.1. Histórico da educação e da EJA no Brasil: elementos de

3.1.3. Mobral

Depois de vários projetos fracassados ao longo da história, o governo, já sob o regime militar, institui o Mobral, Movimento Brasileiro de Alfabetização. Esse projeto foi desenvolvido em todo o território nacional, atingido a grande maioria dos municípios e um grande volume de recursos públicos foi investido na sua implementação, ficando cada cidade responsável pela implantação do programa. O objetivo de seus criadores é que o programa fosse extinto tão logo acabasse com o grande número de analfabetos existentes em nosso país. Logicamente o objetivo não foi alcançado, pois segundo Di Pierro, Joia e Ribeiro, 2001, p.61:

A partir de 1969, o governo federal organizou o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), um programa de proporções nacionais, proclamadamente voltado a oferecer alfabetização a amplas parcelas dos adultos analfabetos nas mais variadas localidades do país. Diferentemente do que ocorrera na Campanha de 1947, o governo federal investiu um volume significativo de recursos na montagem de uma organização de âmbito nacional e autônoma em relação às secretarias estaduais e ao próprio Ministério da Educação. O Mobral instalou comissões municipais por todo o país,responsabilizando-as pela execução das atividades,enquanto controlava rígida e centralizadamente a orientação, supervisão pedagógica e produção de materiais didáticos. Sendo concebido como ação que se extinguiria depois de resolvido o problema do analfabetismo,o Mobral tinha baixa articulação com o sistema de ensino básico.

O Mobral, como projeto do governo brasileiro, foi criado através da Lei n° 5.379, de 15 de dezembro de 1967 e tinha como objetivo principal a alfabetização de jovens e adultos, dada a grande quantidade de pessoas nesta situação, nesta época, além de procurar proporcionar a estes melhores condições de vida. Contudo, apesar de ter sido um projeto abrangente, distribuído em todo o território nacional, não atingiu sua meta, pois com a recessão que atingiu o país na década de 1980 o gasto que ele demandava ficou impraticável e o governo o extinguiu, substituindo-o pela Fundação Educar, também extinta. De acordo com Ricetti, 2015, p.59:

Da mesma forma, o MOBRAL iniciou efetivamente as suas atividades em 1970 e teve existência nacional até a primeira metade da década de 80, isto é, durante 15 anos. Apesar desse tempo de funcionamento, o MOBRAL não conseguiu reduzir o número absoluto, nem o índice relativo de analfabetismo no país. A meta primeira do MOBRAL era chegar em 1980 com o analfabetismo erradicado, pois que, em 1970 o Brasil contava com 33,6% de sua população com mais de 15 anos de idade

analfabeta, ou seja, à época, 18.146.977 de brasileiros, conforme o Recenseamento Geral de 1970.

Inicialmente o Mobral foi constituído em dois pilares: o de Alfabetização Funcional e o de Alfabetização Integrada. Enquanto na Alfabetização Funcional tratava da leitura e da escrita apenas para inserir o indivíduo na sociedade com o mínimo para subsistir, a Alfabetização Integrada correspondia aos quatro primeiros anos do antigo ensino primário, e era feito após o indivíduo estar alfabetizado.

Contudo, apesar de todos os esforços empreendidos neste, e em outros projetos que tinham a finalidade de erradicar o analfabetismo em nosso país, segundo o Censo Parcial de 1996, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE existiam naquela época mais de 20 milhões de analfabetos espalhados em todo o território nacional.

A constituição de 1988, atendendo ao que pedia a sociedade organizada, restitui o direito de voto ao analfabeto, este agora poderia exercer o mais básico dos direitos, o de escolher aquele que lhe representaria nas diversas esferas de governos. A chamada pelo Deputado Ulisses Guimarães de Constituição Cidadã concedeu ainda aos jovens e adultos o direito ao ensino fundamental público e gratuito e conclamou os governos a investirem com afinco na luta contra o analfabetismo.

Contudo, os anos 1990 não começaram muito animadores, entramos na última década do século XX ainda com uma defasagem grande na área da educação. Apesar da propaganda sobre os esforços no sentido de minorar o problema do analfabetismo no Brasil, os números que saíram das estatísticas são desanimadores:

A contagem da população realizada pelo IBGE em 1996 verificou que entre os brasileiros com 15 anos ou mais, 15,3 milhões (14,2%) não completaram sequer um ano de escolaridade, 19,4 milhões (18,2%) têm apenas de um a três anos de instrução e outros 36 milhões (33,8%) completaram de quatro a sete anos. Totalizando esses dados, podemos constatar que são 70,7 milhões (66,2% dos brasileiros com 15 anos ou mais) os que não completaram o ensino fundamental e que, segundo a Constituição, teriam direito ao ensino fundamental gratuito adequado à sua condição de jovens e adultos trabalhadores. Se quisermos ainda considerar a intenção expressa no texto constitucional de universalização do ensino médio, teríamos que acrescentar a esse contingente os 23,3 milhões de brasileiros com 20 anos ou mais que puderam concluir o ensino fundamental, mas não o médio. Segundo levantamentos do Ministério da Educação e do Desporto (MEC), entre 1995 e 1998, o número de matrículas iniciais no ensino fundamental de jovens e adultos ficou em torno dos 2 milhões. No que se refere à alfabetização, o índice de cobertura não chega a 1%; quanto ao acesso ao ensino fundamental, temos 8,41% dos jovens e adultos cursando o sistema regular com alguma defasagem entre a idade e a série e apenas 4% freqüentando cursos para jovens e adultos. (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001, pp.65,66).

Como pudemos constatar nos números acima, não basta apenas ter os planos e projetos no papel, é preciso ser cuidadoso e colocá-los realmente como prioridade, ou seja, realizar

propostas que apontem a transformação que seria necessária. Infelizmente nossos políticos não coadunam o discurso com a prática, e isso foi desde sempre. A erradicação do analfabetismo deveria ser enfrentada com responsabilidade por todas as esferas de governo, contudo não é isso que percebemos, pelo contrário, a cada dia mais salas dessa modalidade de ensino são fechadas e a escassez de oferta é uma realidade muito dura de ser aceita.

Contudo, ao contrário do que se esperava, a expectativa que a constituição gerou a respeito da EJA não se confirmou, os governos priorizaram, no plano do discurso e não das práticas efetivas, o acesso das crianças e adolescentes ao ensino fundamental, preterindo o incentivo à educação de jovens e adultos. Somente a partir de 2003, segundo publicação:

No início do terceiro milênio, a alfabetização de jovens e adultos adquiriu nova posição na agenda das políticas nacionais, com o lançamento,em 2003, do Programa Brasil Alfabetizado e a progressiva inclusão da modalidade no Fundo de Financiamento da Educação Básica (Fundeb), a partir de 2007. (UNESCO, 2008, p.31).

Consideramos que, não é apenas importante garantir que haja recursos para financiamento da Educação de Jovens e Adultos, mas, paralelo a isso, que haja comprometimento por parte dos órgãos públicos responsáveis no sentido de fazer valer o direito que foi conquistado em lei.

O que se percebe é a escassez de oferta, que a cada ano diminui consideravelmente com o fechamento de salas desta modalidade. A educação como um todo no Brasil, em especial a pública, enfrenta o descaso das autoridades competentes, com escolas sucateadas, falta de estrutura mínima em muitas escolas para um bom funcionamento, professores desmotivados pelos baixos salários e péssimas condições de trabalho, famílias desestruturadas e longes da escola.

A escola pública hoje funciona muito mais como um depósito de crianças, onde estas são deixadas pelos responsáveis sob a tutela do estado, que é quem tem a obrigação perante a lei de garantir que este direito seja cumprido, contudo isto é negligenciado e, por conta de toda esta problemática, em muitos casos, ocorre a evasão, ou seja, o abandono da escola por parte do aluno. Fica, portanto a dúvida se o aluno é quem abandona a escola, ou se saiu por se sentir abandonado por ela.

Documentos relacionados