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Reflexões sobre a educação de jovens e adultos no Brasil: as implicações de evasão escolar na vida do estudante trabalhador

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Academic year: 2018

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

PAULO PESSOA DE FARIAS

REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL: AS

IMPLICAÇÕES DA EVASÃO ESCOLAR NA VIDA DO ESTUDANTE

TRABALHADOR

(2)

PAULO PESSOA DE FARIAS

REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL: AS

IMPLICAÇÕES DA EVASÃO ESCOLAR NA VIDA DO ESTUDANTE TRABALHADOR

Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Profª. Drª. Josefa Jackline Rabelo

FORTALEZA

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PAULO PESSOA DE FARIAS

REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL: AS

IMPLICAÇÕES DA EVASÃO ESCOLAR NA VIDA DO ESTUDANTE TRABALHADOR

Trabalho de Conclusão de Curso ao Curso de Pedagogia do Departamento de Teorias e Práticas da Educação da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Profª. Drª. Josefa Jackline Rabelo

Aprovado em: _____/_____/______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profª. Drª. Josefa Jackline Rabelo (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Profº. Drº. Luís Távora Furtado Ribeiro

Universidade Federal do Ceará (UFC)

________________________________________

Profª. Drª. Francisca Maurilene do Carmo

(5)

À minha esposa, Nólia, minha filha, Camila, a minha mãe, е a toda minha família que, cоm

muito carinho е apoio, nãо mediram esforços

para quе еu chegasse аté esta etapa dе minha

vida. Аоs meus colegas e professores, pelo incentivo е pelo apoio constantes. Todos vocês

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus, razão da minha existência, que com a sua infinita misericórdia tem me

suportado e amado, apesar de todas as minhas imperfeições.

À minha esposa Nólia, e minha filha Camila, que tão generosamente souberam

entender e apoiar essa minha decisão de volta aos estudos, por compreenderem minhas

ausências nas horas em que a presença não foi possível.

Ao meu pai, Osvaldo, in memorian, que deixou à família um legado de integridade moral e honradez. Sendo o que somos honramos a sua memória.

À minha mãe, Albani, que do alto de seus 91 anos continua firme como uma rocha,

sendo a coluna e sustentáculo da nossa família.

A todos os meus familiares, que sempre me incentivaram a continuar, pois sabiam que

este momento seria a realização de um sonho.

À minha professora orientadora, Drª. Josefa Jackline Rabelo, que prontamente aceitou

o desafio de orientar este trabalho, mesmo sabendo das minhas limitações. Obrigado,

professora, por gastar seu precioso tempo comigo.

Aos professores que compuseram minha banca juntamente com minha orientadora, Dr.

Luís Távora Furtado Ribeiro e Drª. Francisca Maurilene do Carmo, mestres queridos e de fino

trato na relação aluno-professor-aluno. É um honra tê-los julgando este trabalho de conclusão

de curso.

A todos meus professores da FACED pelo exemplo de dedicação e compromisso com

o sublime dom do magistério. É em vocês que nos espelhamos.

À minha amiga, Scarlat Maciel Vasconcelos, companheira desde o início do curso em

todas as equipes e seminários, pelo carinho e respeito que a mim sempre dedicou durante

estes cinco anos de luta, e agora, neste apagar das luzes, fazendo uma revisão geral, e

colocando as vírgulas nos seus devidos lugares. Obrigado, minha amiga, lhe devo mais esta.

A todos os meus amigos queridos de turma, com quem durante todos esses anos dividi

sentimentos, planos, sonhos, alegrias, tristezas, medos, dúvidas, mas acima de tudo,

companheirismo. Levarei todos vocês em meu coração, na esperança de nos encontrarmos

(7)

PRECARIZAÇÃO

Com a chegada do capitalismo o ensino virou mercadoria, O estudante não é visto com os olhos com que deveria. Em um país sério seu papel seria de protagonista, Mas como a escola que temos tem visão mercantilista, O direito a uma educação gratuita e de qualidade é roubado, Seu futuro é comprometido pelo presente que lhe é negado.

Cada um vale o que tem, e quem tem mais, mais lhe é dado. O que nada tem, coitado, até do nada que tem ainda é tirado. Essa é a filosofia do capitalismo selvagem, o lucro acima de tudo. Conhecimento tem preço, quem paga fala, quem não paga fica mudo. Na luta entre os desiguais, onde o Estado só aos ricos acode,

Faz valer o lema que diz: quem pode, pode, quem não pode se sacode.

Professor já foi autoridade, pelos alunos e pela sociedade, respeitado, Hoje tudo mudou, tem de assistir a todo tipo de assédio calado. Parece que ninguém mais lembra que tudo começou com ele um dia, O médico, o juiz, o promotor e o advogado precisaram de assessoria, E quem estava lá ciente das dificuldades que o magistério cobrava? O professor, claro, reconhecimento era o mínimo que se esperava.

O professor, pobre coitado, depois de perder a ilusão, Por todos sendo humilhado, sofre com a precarização. Do prestígio que outrora tivera, quase nada lhe restou, Sem ter pra quem apelar, come o pão que o diabo amassou, Contudo segue resignado, pois uma certeza lhe ocorre,

Agarra-se ao ditado que diz: a esperança é a última que morre.

A escola deveria ser um local de acolhimento e harmonia, Nela deveria ser oferecida formação para a cidadania, Contudo está abandonada, pelo poder público esquecida, Parece ninguém se lembrar que ela prepara para a vida, A educação está sucateada, a infância está sendo roubada, O resultado é abandono e ociosidade, violência multiplicada.

Será que é possível mudar, tomar outra direção? Ou nem adianta tentar, essa luta é em vão?

A resposta o tempo dirá, vem da nossa formação, A pedagogia que iremos usar apesar da precarização, Os alunos que iremos formar esperam a nossa ação, Pois em nossas mãos estará o futuro desta nação.

(8)

RESUMO

O presente trabalho se propõe a fazer um estudo sobre um problema que tem trazido muita preocupação para a comunidade escolar. É um problema que atinge a toda a educação, mas que na modalidade Educação de Jovens e Adultos se manifesta de modo mais acentuado. Este problema é a evasão. Portanto o objetivo dele será analisar de que forma, e em que circunstâncias esse fenômeno acontece nesta modalidade de ensino. Sabemos que é um problema complexo, que será difícil ter uma causa específica, pois muitos fatores podem interferir na continuidade deste aluno numa sala de EJA. O público que a frequenta é muito heterogêneo, pois a idade mínima para poder acessar essa modalidade é de 15 anos, mas não tem limite para máxima, qualquer um acima de 15 pode ter acesso. O objetivo geral desse estudo se consolida nesse campo, quando pretende analisar a modalidade de ensino EJA, investigando, desse modo, os motivos e os indicadores da problemática da evasão escolar para a vida dos educandos trabalhadores. O trabalho foi estruturado em três capítulos. No primeiro viajamos pelo mundo do trabalho; desde sua origem nas sociedades primitivas ao seu desvirtuamento, quando passou a ser instrumento de opressão de um ser humano sobre o outro. Analisamos as causas e conseqüências das desigualdades sociais, e o acúmulo de riquezas. Tudo isso sendo afunilado com quando o capitalismo se sobrepôs aos outros sistemas. No segundo fizemos uma viagem pelo universo da educação vendo todo o seu contexto, desde a chegada dos padres jesuítas que vieram com os colonizadores até os nossos dias atuais. Por fim, no terceiro e último capitulo, abordamos dentro do universo da educação a problemática mais específica da EJA, vimos como ela foi transformada em modalidade de ensino, pontuando o fenômeno da evasão de que ela é vitima. Analisamos o perfil do egresso na EJA, que são pessoas com um histórico difícil de vida, que ficaram à margem das políticas públicas, abandonados pelo Estado que lhes deveria oferecer as condições mínimas de oportunidades, e a educação deveria ser uma delas. Compreendemos que a Educação de Jovens e Adultos foi criada não para ficar por tempo indeterminado, mas até conseguir erradicar o analfabetismo, ou pelo menos uma diminuição drástica destes números. Vimos, entretanto, que os avanços foram muito tímidos, e que precisamos avançar muito para chegar a números aceitáveis.

(9)

ABSTRACT

The present work was proposed to make a study on a problem that has brought much concern to the school community. It is a problem that affects all education, but in the form of Youth and Adults Education it manifests itself in a more marked way. This problem is avoidance. So his goal will be to analyze how, and in what circumstances, this phenomenon happens. We know that it is a complex problem, that it will be difficult to have a specific cause because many factors can interfere in the continuity of this student in an YAE room. The public that attends the YAE is very heterogeneous, because the minimum age to access this modality is 15 years, but there is no limit to maximum, anyone over 15 can have access. The general objective of this study is consolidated in this field, when it intends to analyze the YAE teaching modality, thus investigating the motives and indicators of the problem of school dropout for the life of the working students. The work was structured in three chapters. In the first we traveled through the world of work from its origin in primitive societies, to its distortion, when it became an instrument of oppression of one human being over another. We analyze the causes and consequences of social inequalities, and the accumulation of wealth. All this being tapped with when capitalism overtook other systems. In the second we made a journey through the universe of education, seeing all its context, from the arrival of the Jesuit priests who came with the colonizers to our present day. Finally, in the third and final chapter, we approach within the education universe the more specific problem of the YAE, we saw how it was transformed into a teaching modality, punctuating the phenomenon of evasion that it is a victim. We analyze the profile of the egress in the YAE, who are people with a difficult history of life, who were left out of public policies, abandoned by the state that should offer them the minimum conditions of opportunity, and education should be one of them. We understand that Youth and Adults Education was created not to remain indefinitely, but to eradicate illiteracy, or at least a drastic decrease in numbers. We have seen, however, that the advances have been very timid, and that we need to go a long way to reach acceptable numbers.

(10)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...10

2. CAPÍTULO I - TRABALHO E SER SOCIAL VERSUS TRABALHO E REPRODUÇÃO CAPITALISTA: A TÍTULO DE CONTEXTUALIZAÇÃO...14

2.1. Trabalho e reprodução capitalista na Revolução Industrial...18

2.2. Trabalho e reprodução capitalista na Revolução Francesa...20

2.3. Breves pontuações sobre o trabalho em Karl Marx...22

2.4. O trabalho no contexto da crise estrutural do capital...23

2.5. Contexto do trabalho no Brasil...25

2.5.1. Trabalho escravo: a dívida social com índios e negros...25

2.5.2. O trabalho no Brasil na contemporaneidade...27

3. CAPÍULO II - HISTÓRICO DA EJA: REFLEXÃO SOBRE AS POLÍTICAS DE INCENTIVO À SUPERAÇÃO DA PROBLEMÁTICA EVASÃO...29

3.1. Histórico da educação e da EJA no Brasil: elementos de contextualização...30

3.1.1. Paulo Freire e sua visão libertadora de educação...33

3.1.2. A educação nas amarras da Ditadura Militar...36

3.1.3. Mobral...37

3.1.4. LDB 9394/96 e as políticas de EJA no Brasil...39

4. CAPÍTULO III - EVASÃO NA EJA: FALTA DE INTERESSE OU FALTA DE INCENTIVO?...42

4.1 As confinteas...45

4.2. O estudante trabalhador da EJA...48

4.2.1 Motivação para o ingresso...49

4.3. Evasão: escolha ou imposição?...52

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...56

(11)

1. INTRODUÇAO

O presente trabalho nasceu fruto de uma reflexão sobre as causas que levam os alunos

a se evadirem da modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos - EJA.

Com o intuito de me aprofundar nesta questão, conversei com minha orientadora e

resolvemos que este seria o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso.

Tenho consciência das dificuldades que estes alunos enfrentam para voltar aos bancos

escolares. Alguns deles, pela primeira vez realizam essa aproximação com a escola.

Partindo do princípio que são alunos já adultos, é fácil imaginar que todos têm uma

história de vida complicada, o que os impediu de frequentarem a escola na idade certa, se é

que esta idade existe de fato. A grande maioria deles, senão todos, busca uma forma de

emancipação que só o saber ler pode proporcionar. Coisas simples, como ler a placa de uma

rua, a placa de um ônibus para chegar ao seu destino, o nome de um remédio, entre tantas

outras necessidades que somente alguém minimamente alfabetizado consegue superar.

O Brasil como um todo passa por dificuldades. Estamos mergulhados em um mar de

corrupção, e a educação não foge a essa regra, é muito afetada por toda essa crise que não é só

financeira, mas também política, ética e moral. Ela também sofre com a falta de recursos, ou

pelo mau uso destes, que já são parcos. É inegável que temos problemas muito sérios nessa

área, e que eles contribuem para que não avancemos na melhora dos índices em níveis

aceitáveis no cenário mundial.

No ranking mundial de qualidade de educação divulgado em 2015 pela OCDE –

Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entre os 76 países avaliados o

Brasil ficou com a 60ª posição. Nas primeiras posições ficaram os países asiáticos: Cingapura,

Hong Kong1 e Coréia do Sul, enquanto nas 15 últimas posições ficaram países da América do

Sul, entre os quais, o Brasil.

Acreditamos que nem mais deveríamos ter a modalidade de ensino EJA. Ela só existe

porque o Estado tem ao longo da sua história negligenciado uma obrigação que é sua, de

proporcionar uma educação de qualidade para todos. Uma educação onde todos possam ter as

mesmas oportunidades, onde não precisemos instituir sistemas de cotas para diminuir a

1 É

uma das duas regiões administrativas especiais (RAE) da República Popular da China (RPC), sendo a outra Macau. Uma Região Administrativa Especial da República Popular da China situada na costa sul da China e delimitada pelo delta do Rio das Pérolas e pelo Mar da China Meridional,[13] é conhecida por seu horizonte

(12)

distância entre uma classe e outra da sociedade. Uma educação onde os diferentes possam ser

tratados de forma diferenciada, respeitando as especificidades de cada indivíduo, o tempo e a

forma de assimilação que cada um possui, pois cada aluno constitui um universo de infinitas

possibilidades.

A EJA é composta por alunos a partir de 15 anos de idade, estando estes fora da série

em que deveriam, e não tem limite de idade para cima, qualquer um pode se inserir nela.

Existe um contingente muito grande de indivíduos que poderia estar cursando esta

modalidade de ensino, contudo somente uma pequena parcela opta por se inserir nela, pois:

De acordo com a legislação vigente, consideramos como público potencial da EJA correspondente ao Ensino Fundamental (EJA-EF) todos os brasileiros e brasileiras de 15 anos ou mais de idade que não têm instrução e que não completaram o Ensino Fundamental. Como público potencial da EJA correspondente ao Ensino Médio (EJA-EM), são considerados todos os maiores de 17 anos que não completaram o Ensino Médio, embora tenham completado o Fundamental. Os dados do Censo 2010 informam que esses públicos correspondiam a 65 milhões e 22 milhões de brasileiros respectivamente.

Das 65 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não completaram o Ensino Fundamental, cerca de 1,3 milhão (2%) estava de fato cursando a EJA no nível fundamental e outros 851 mil (6,2%) estavam em classes de alfabetização de jovens e adultos, enquanto aproximadamente 4,9 milhões (7,5%) estavam cursando o ensino fundamental regular com defasagem na relação idade/série ideal. Entre os 22 milhões que não completaram o Ensino Médio, cerca de três milhões (14,7%) cursavam o ensino médio regular e 1,5 milhão (7,2%) cursava a EJA-EM. Os dados evidenciam, portanto, que o atendimento do público potencial da EJA é mínimo, e que, mesmo estando parte da demanda sendo atendida pelo ensino regular, há parcela importante – 90,5% para o EF e 77,9% para o EM – que está fora da escola. (RIBEIRO; CATELLI JR.; HADDAD, 2015, pp.12,13).

Os motivos e as circunstâncias que levaram ou levam estas pessoas a ingressarem

nesta modalidade de ensino são os mais variados possíveis, começando por aqueles que muito

cedo tiveram de adentrar ao mercado de trabalho, como forma de ajudar no orçamento

familiar, bem como aqueles que se atrasaram por sucessivas repetências nas séries regulares,

assim como aqueles que são oriundos de lares desestruturados onde os pais não têm condições

de acompanhar a escolarização dos filhos, passando pelos que muito cedo ingressaram no

mundo das drogas, até o caso de uma gravidez precoce em que a adolescente fica sem

condições de dar continuidade aos seus estudos. A grande maioria é sem dúvidas de famílias

pertencentes às classes mais baixas da população, pois:

(13)

Diante desse contexto de negação histórica e social do direito à escolarização,

ressalta-se a importância de refletirmos sobre a Modalidade EJA e os sujeitos a quem ela acolhe:

A dificuldade enfrentada pela EJA para ser reconhecida efetivamente como direito pela sociedade e pela gestão educacional está profundamente ligada aos sujeitos a quem ela é destinada, pessoas que em pleno século 21 ainda não são reconhecidas plenamente como detentoras de direitos pela sociedade e pelo Estado brasileiro, a gigantesca maioria delas – na verdade, cerca de 70% da demanda potencial e dos matriculados – , constituída por mulheres e homens negros, que vivem nas periferias e no campo e que integram os grupos mais pobres da população. A EJA todo ano recebe milhares de pessoas do grande contingente de alunas e alunos excluídos da educação básica regular, a maioria jovens negros, que por diversas razões voltam e dão “mais uma chance” à escola por meio da educação de jovens e adultos. (RIBEIRO; CATELLI JR.; HADDAD, 2015, p.36).

O objetivo geral desse estudo se consolida nesse campo, quando se pretende analisar

as causas que levam os educandos-trabalhadores a se evadirem da modalidade de ensino EJA,

e as conseqüências que essa evasão provoca, investigando, desse modo, os motivos e os

indicadores dessa problemática.

Para tanto, apresenta-se, como objetivos específicos:

- Analisar, de forma abreviada, o trabalho no Brasil trazendo uma crítica à exploração

do homem pelo homem segundo o pensamento marxista;

- Compreender o contexto da educação no Brasil, iniciando pelos nossos

colonizadores, e todo o percurso feito, situando a origem da educação de jovens e adultos

dada a necessidade de correção de um erro histórico de exclusão da classe trabalhadora da

escola;

- Recuperar historicamente a constituição da EJA no Brasil, situando as questões

legais e pedagógicas em torno da problemática da evasão para essa modalidade de ensino;

- Revisar, criticamente, autores que se debruçam sobre a problemática da evasão, no

sentido de melhor compreender a modalidade EJA;

- Examinar criticamente os documentos de âmbito nacional que orientam a política

educacional da EJA, indicando, na medida do possível, os dados relativos à evasão escolar

nessa modalidade de ensino na perspectiva de encontrar as causas que expliquem a

problemática em questão, a exemplo das Conferências Internacionais de Educação de Adultos

(CONFINTEA), tendo em vista compreender as concepções e princípios que balizam o

movimento de educadores de EJA quando analisam a questão da evasão nessa modalidade de

ensino.

Para o desenvolvimento e alcance dessas proposições de reflexão, a investigação se

pautará pela revisão de literatura teórico-crítica acerca da temática, mormente, nos estudos de

(14)

Jimenez(2001). Vincula-se ainda, o esforço de revisão crítica de literatura sobre a

problemática da evasão na modalidade EJA, consubstanciada nos autores Ricetti (2015),

Ceratti (2008), Santos (2003), Fornari (2010), como forma de compreender as concepções dos

supracitados teóricos.

Ademais, o exame dos documentos oficiais nacionais e locais, a exemplo da UNESCO

e do MEC, somada aos estudos dos textos finais das CONFINTEAS, estarão presentes na

pesquisa, na perspectiva de levantamento de concepções, princípios e indicadores que

revelem, minimamente, a forma como é analisada a problemática da evasão nas salas de EJA.

O trabalho encontra-se estruturado em 03 capítulos. No primeiro trataremos do

trabalho e do ser social, pois entendemos que como o trabalho focará no estudante

trabalhador, que é o perfil majoritário do aluno da EJA, nada mais justo do que fazer um

apanhado de todo o contexto do trabalho, tanto no cenário mundial, como no nacional. Aqui

também falaremos abreviadamente da origem do trabalho desde as sociedades primitivas,

passando por todas as outras sociedades, até a modernidade. Neste capítulo também

procuramos, à luz do que pensa Karl Marx, apresentar a nossa visão crítica de todo o contexto

do trabalho, focando principalmente na exploração do homem pelo homem e,obviamente, na

gritante desigualdade social que o capitalismo possibilitou, além, é claro, do acúmulo de

riquezas por poucos, em detrimento da maioria do conjunto da sociedade.

No segundo capítulo abordaremos de forma abreviada, mas procurando dar uma

panorâmica geral da educação no Brasil, desde o seu descobrimento até os dias atuais.

Veremos que grau de importância foi dispensado à educação durante todo este período,

porém, buscando focar nos pontos que julgamos mais importantes, dando uma ênfase maior

na estruturação e formalização na Educação de Jovens e Adultos, que é o fundamento deste

tratado. Nele também traremos um olhar sobre as políticas públicas que possibilitaram que

esta modalidade de ensino viesse a existir, mas traremos também exposto no trabalho a nossa

visão crítica a respeito da mesma, pois entendemos que ela deveria ter sido criada como um

paliativo para recuperar um histórico de negação da educação, mas atingido este objetivo,

deveria ser gradativamente eliminada. Entendemos, portanto, que houve falhas no processo

que precisam ser avaliadas pela sociedade e autoridades competentes, e revistas para correção

de rumos.

Por fim, no terceiro capítulo abordaremos a questão da evasão na Educação de Jovens

e Adultos, e todo o contexto em que ela se dá. De forma mais contundente, tentaremos

(15)

as causas e as conseqüências que esta atitude pode acarretar. Entendemos que, mais do que as

outras modalidades de ensino, a EJA tem as suas especificidades, que são muito complexas,

pois os alunos que a frequentam, a maioria, pelo menos, vem de uma realidade muito difícil.

Alguns, por muitos anos foram abandonados pelo Estado, alijados das políticas públicas, e

que, por virem de famílias muito pobres, muito cedo tiveram de ingressar no mercado de

trabalho para ajudar no sustento da família, ficando sem tempo, portanto, para ingressar na

escola ou tendo que abandoná-la por falta tempo para as duas coisas. Alguns desses,

certamente, estão freqüentando a escola pela primeira vez. Outros por virem de lares

desestruturados onde os pais negligenciaram este direito dos filhos, deste modo se atrasaram

para o estudo regular sendo obrigados por força da lei a ingressarem na EJA. E outros ainda,

pelos mais variados motivos, como tentaremos demonstrar neste trabalho, mais

especificamente neste capítulo. Diante desta realidade fica muito difícil segurar este aluno em

sala de aula, pois, além de tudo isso, a realidade da escola não atende às expectativas destes

estudantes, com uma estrutura precária, sem metodologia e material didático adequado e, em

muitos casos, professores sem condições adequadas de ensino

Desta forma, esperamos que este trabalho seja proveitoso, pois a realidade da

educação no Brasil como um todo não é boa, e precisa de uma mudança radical, de políticas

públicas voltadas para o bem da classe estudantil.

2. CAPÍTULO I - TRABALHO E SER SOCIAL VERSUS TRABALHO E REPRODUÇÃO

CAPITALISTA: A TÍTULO DE CONTEXTUALIZAÇÃO

Há um ditado popular que diz: o trabalho dignifica o homem. Realmente, se formos

olhar à luz da racionalidade, este ditado está muito correto. Um homem que deliberadamente

não trabalha não é visto com bons olhos pela sociedade, pelo contrário, é um indivíduo que

causa repulsa. Infelizmente o homem descaracterizou o trabalho, ou seja, o que deveria ser

uma forma de distribuição de renda, de cooperação entre seres semelhantes, transformou-se

ao longo da história em um instrumento de opressão de uns sobre os outros. A sociedade

humana foi se desumanizando ao longo de sua história, pois:

(16)

Se a história é feita pelos homens, por que eles não têm sido capazes de construir uma sociedade verdadeiramente humana? Se os homens constroem a si próprios, por que são tão desumanos não apenas com os outros, mas também com aqueles que amam e mesmo consigo próprios? Se não há uma essência humana que imponha um destino à humanidade, como querem os conservadores, de onde vem essa força que frequentemente empurra as nossas vidas para onde não desejamos, por vezes transformando nossos mais belos sonhos em pesadelo? (LESSA; TONET, 2011, p.15).

Realmente são perguntas que de tão simples nem precisariam ser feitas, contudo, no

processo de desumanização que o ser humano iniciou quando passou a conviver em

sociedade, ganharam uma complexidade difícil de serem respondidas. Isso se reflete em todo

o conjunto da sociedade hodierna, desembocando em um viver onde as pessoas tentam se

proteger umas das outras, pois nesta sociedade o interesse individual está acima dos interesses

coletivos. Talvez, em razão de todo esse sentimento de querer sempre se dar bem passando

por cima de tudo e de todos, estejamos vivendo dias difíceis, onde a criminalidade e a

violência alcançam a todos indistintamente.

O pensamento de Karl Marx era fundamentado no fato de que para existir o homem

precisaria transformar a natureza constantemente, ou seja, se o ser humano, diferentemente

dos outros animais, não tivesse criado estratégias de transformação da natureza estaria fadado

a ter o mesmo destino que muitos outros tiveram: a extinção, pois de acordo com Ivo Tonet,

“o homem, ao contrário dos animais, não nasce “sabendo” o que deve fazer para dar

continuidade à sua existência e à da espécie. Deve receber este cabedal de instrumentos de

outros indivíduos que já estão de posse deles” (2005, p.213).

Para o homem, então, é praticamente impossível sobreviver sem transformar as coisas

da natureza em benefício da sua própria subsistência. Foi assim que ele descobriu o fogo, sem

o qual não teria futuro, os objetos cortantes, armas para caçadas, enfim, uma infinidade de

coisas que propiciaram o seu sucesso enquanto outros seres não dotados de inteligência não

foram capazes. Pois, a isso tudo chamamos trabalho, não na forma como o temos hoje, da

exploração de uns pelos outros, mas na sua forma originária, precípua, pois o homem,

diferentemente dos demais animais, age de forma consciente e orientada, não apenas por

instinto. Esse era o pensamento de Marx, que:

entende por trabalho um tipo de atividade muito diferente daquela que podemos encontrar nas abelhas ou formigas. Nessas, a organização das atividades e sua execução são determinadas geneticamente e, por isso, não servem de fundamento para o desenvolvimento desses insetos. Por séculos, as abelhas e as formigas produzirão, exatamente da mesma forma, o que já produzem hoje.

(17)

objetiva ou materialmente) que funda, para Marx, a diferença do homem em relação à natureza, a evolução humana. (LESSA; TONET, 2011, p.18).

Portanto, ao transformar a natureza, o homem garante a perpetuação da sua espécie, e

de acordo com as suas necessidades vai se aperfeiçoando, adquirindo novas habilidades que

lhe garantam menor esforço e mais ganho como resultado do seu trabalho.

A partir de quando o trabalho passou a ser instrumento de exploração do homem pelo

homem? Para Lessa e Tonet (2011), há duas respostas possíveis para esta questão que podem

ser definidas como radicais e antagônicas entre si. A primeira resposta seria uma resposta

conservadora que afirma não ser possível superar essa exploração porque o homem é por

essência um ser mesquinho, egoísta, individualista e movido pela ganância, ou seja, pelo

desejo de acumular riquezas, e que esta característica própria do ser humano é imutável não

podendo sofrer alteração pela história. A maior parte dos filósofos conservadores asseveram

que:

Para eles, a história nada mais seria que a afirmação, em diferentes momentos e sob formas distintas, dessa mesma essência mesquinha dos homens. Por isso, segundo eles, o máximo que se pode almejar é desenvolver o mercado e a democracia que, para eles, são as melhores e mais civilizadas formas de disputa entre os indivíduos, não passando de um mero sonho a proposta de Marx de uma sociedade sem classes. Como poderia ser abolida a sociedade perguntam eles, se os homens são essencialmente marcados pela propriedade privada, se são individualistas, mesquinhos e egoístas? (LESSA; TONET, 2011, pp.13,14).

Já a segunda resposta tem outro viés completamente distinto da primeira. Os mesmos

autores afirmam que não só é perfeitamente possível mudar esse quadro, mas, mais do que

isto, faz-se necessário que o ser humano busque a superação desta situação de exploração e

opressão em que está submetido a viver, sendo que a forma correta para esta finalidade se

daria somente através da evolução da sociedade contemporânea mudando essa condição de

barbárie crescente que pode culminar até com a própria extinção da humanidade. Para Marx a

única forma de evitar esse cenário catastrófico não é outro senão a emancipação humana da

opressão dos homens pelos homens, assim sendo:

(18)

Ou seja, o homem pode, ao contrário do que ocorre hoje, ser o sujeito da sua própria

história, sendo, portanto, necessário que se insurja contra o modelo vigente que o amordaça e

oprime, como se o destino que lhe fora traçado pelo sistema capitalista fosse o mais perfeito e

acabado.

Nas comunidades primitivas o que determinava o trabalho era a luta constante e

incessante pela sobrevivência. A busca pelo alimento e de um lugar para servir de abrigo era

que ditava a necessidade de trabalhar. O homem desenvolvia técnicas de caça, fabricava seus

instrumentos, avaliava o melhor local e o melhor material para construção de sua habitação.

Tudo isso demandava trabalho, ou seja, o trabalho é tão antigo quanto o próprio ser humano,

neste sentido, ele sempre existiu, só que o trabalho existia em função do homem, não o

contrário como o vemos hoje.

Até meados do século XVIII as forças da natureza ditavam as regras, ou seja, um ano

em que o clima fosse favorável fazia a diferença entre fartura e escassez. Toda uma

comunidade poderia ser dizimada se algum fenômeno da natureza a atingisse, pois até aí o

homem ainda era afetado pelas suas limitações, dessarte:

Um ano de seca ou de bom clima poderia fazer a diferença entre anos de fome ou de menos carência. Um incêndio em uma floresta, um terremoto que alterasse o curso de um rio etc. Claro que isso era mais grave na Antiguidade Clássica e muito menos agudo no século 18. Ainda assim, considerada essa diferença fundamental, nessas circunstâncias históricas a ação da natureza sobre o desenvolvimento social era muito mais intensa do que em nossos dias. (LESSA; TONET, 2011, pp.33,34).

Portanto, até esta época, o ser humano ainda era muito dependente do “bom humor” da

natureza, pois ainda não havia desenvolvido mecanismos capazes de amenizar os efeitos

destes fenômenos, o que veio a acontecer a partir da Revolução Industrial e posteriormente da

Revolução Francesa.

2.1. TRABALHOE REPRODUÇÃO CAPITALISTA NA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial foi um conjunto de mudanças ocorridas na Europa, iniciada na

Inglaterra por volta da segunda metade do século XVIII. Até então o trabalho era artesanal, a

população se concentrava predominantemente no campo e, portanto, a base da sua economia

era a agricultura. O principal efeito da Revolução Industrial foi a substituição do trabalho

artesanal pelo trabalho assalariado, propiciado pelo uso das máquinas que foram inseridas

neste cenário. Surgiu, assim, uma nova classe que ficou conhecida como proletariado, que

(19)

que as fábricas pudessem funcionar, posto que as máquinas precisavam ser manipuladas por

alguém.

Esse fenômeno acarretou em êxodo rural, ou seja, a população que morava no campo

migrou para as cidades inflando os grandes centros para satisfazer a carência de mão-de-obra

que essas mudanças exigiam, contudo essa grande demanda de transferência de domicílio do

campo para a cidade causou transtornos, conforme escreve Freitas Neto e Tasinafo, 2007,

p.345: “As áreas urbanas, onde passou a se concentrar a população trabalhadora das sociedades industriais, tiveram um rápido crescimento, que ocorreu de forma não-planejada e

deram origem a diversos problemas sociais”.

A Inglaterra possuía por essa época uma burguesia muita rica, com empresários ávidos

por mais lucro e que, por conta de todo este contexto de fartura de mão-de-obra dos que

migraram da zona rural para a cidade, passaram a explorar o operário forçando-o a trabalhar

em uma carga horária exorbitante de 12 horas, chegando em muitos casos a até 15 horas de

jornada por dia, em péssimas condições de trabalho e em troca de um salário muito baixo. Se

não bastasse todo esse cenário degradante a que o operariado era submetido, as mulheres, e

até mesmo as crianças eram obrigadas a trabalharem para complementarem a renda da

família. Nesse sentido:

Um dos grandes problemas que a Revolução Industrial colocou para o operariado era o ritmo de trabalho intenso, sem garantias legais e recrutando homens, mulheres e crianças para os postos nas fábricas. Na Inglaterra, predominava o trabalho feminino e infantil na indústria têxtil. As crianças começavam a trabalhar a partir dos 5 anos de idade. (FREITAS NETO; TASINAFO, 2007, p.353).

Tudo isso gerou um clima de revolta não só no operariado, mas também nos que

faziam parte da pequena burguesia. Era bem verdade que muitos acreditavam em seus patrões,

na ilusão de que quanto mais trabalhassem, mais ganhariam, embora isso nunca se

concretizasse, dado a baixíssima remuneração recebida. Cada vez mais crescia o número de

miseráveis, o que levou muitos deles a se rebelarem, surgindo as greves e a organização de

sindicatos, em busca de melhores salários e melhores condições de trabalho. Naquela época,

na Inglaterra:

(20)

Esse sistema capitalista perverso trouxe discórdia entre as classes, distanciando-as

cada vez mais. O trabalhador que precisava trabalhar era penalizado, pois, como não tinha o

capital para esta finalidade, era obrigado a ficar a mercê dos grandes capitalistas que, a custa

da força de trabalho de seus semelhantes, acumulavam riquezas e mais riquezas para si,

enquanto as classes inferiores, inclusive os pequenos burgueses, ficavam cada vez mais

empobrecidos. O clima de revolta existente uniu essas classes que buscavam derrubar os

privilégios que a classe burguesa, propriamente dita, detinha.

Este conjunto de mudanças que interferiu em todas as áreas, mudando as relações

sociais, de produção, e política, constituiu uma verdadeira revolução, não só na Inglaterra,

mas em toda a Europa, e mais tarde se espalharia pelo mundo afora.

A Inglaterra transformou-se em uma grande potência, sendo Londres a maior cidade

do continente europeu, contudo este enriquecimento não se converteu em melhoria de vida

para seus habitantes, pelo contrário, distanciou cada vez mais os ricos dos pobres, ou seja,

daqueles que se apropriavam da força de trabalho do trabalhador, dos que realmente

trabalhavam em uma jornada exorbitante. É o que afirmam Freitas Neto e Tasinafo, 2007, pp.

351, 352: “Uma minoria, os industriais, banqueiros, entre outros, habitava as regiões nobres

da cidade. A maioria da população, entretanto, sobrevivia precariamente, em termos de

habitação, alimentação e higiene”.

Todo esse contexto de exclusão social provocou o sentimento de revolta nos que eram

mais penalizados pela falta de políticas públicas que os protegesse contra a sanha de desejo de

acúmulo de riqueza pela pequena parcela de exploradores da força de trabalho de quem

precisava se submeter a essa situação.

2.2. TRABALHOE REPRODUÇÃO CAPITALISTA NA REVOLUÇÃO FRANCESA

A França pré Revolução Francesa era constituída por uma Sociedade Estamental, que

é aquela onde o nascimento define a sua posição social. Do Primeiro Estado fazia parte o

clero, que se dividia em dois ramos: alto clero e baixo clero. O alto clero era constituído por

indivíduos vindos da nobreza ou de ricas famílias e eram mantidos com recursos integrais

repassados pelo Estado, enquanto o baixo clero era formado por pessoas vindas das classes

mais baixas da população, e recebia recursos menores que o alto clero, e na maioria dos casos

precisava completar a renda trabalhando na agricultura. O Segundo Estado era o estado da

(21)

privilégios. Ocupavam também os maiores cargos da administração. O Terceiro Estado era

compostos pelos burgueses, pelos agricultores e por trabalhadores das cidades. Aqui se

encontrava a maior parcela da polução francesa, que era responsável por sustentar toda a

nação, pois era entre os três estados o que se auto-sustentava e sustentava também com os

tributos que era obrigado a pagar aos outros dois estados com seus privilégios. Nesta época:

A forma como a França se encontrava organizada socialmente antes da Revolução demonstra que o seu Estado Nacional preservara uma base essencialmente feudal: os privilégios para setores do Primeiro e Segundo Estados, tais como pensões e isenções de impostos, só poderiam ser mantidos por meio de crescentes taxações sobre os membros do Terceiro Estado, que em troca contavam apenas com uma estrutura política e administrativa que já não atendia a seus interesses econômicos e da qual eles não tinham o direito de participar, por não terem nascidos nobres. (FREITAS NETO; TASINAFO, 2007, p.392).

Por conta deste cenário onde uns precisavam trabalhar dobrado, sendo submetidos a

todo tipo de tributação para sustentar os privilégios de outros que viviam da exploração da

força de trabalho dos menos favorecidos, sem que estes recebessem quase nada em contra

partida, não podendo nem ter poder de influência por não terem seus direitos políticos

reconhecidos, os diminuindo como cidadãos, gerou um forte clima de insatisfação na maior

parcela da sociedade francesa

A França, assim como toda a Europa do século XVIII, passava por sérios problemas

sociais gerados por uma forte crise monetária. Enquanto a população sofria todo tipo de

privação, a elite composta pela nobreza e o clero cometia todo tipo de excessos, o que

contribuía para aumentar a insatisfação do povo, daquele que compunha a força do trabalho,

pois sobre este era cobrado pesados impostos para a manutenção de uma vida folgada da

corte, assim como do clero, que gozavam de isenção da maioria dos impostos que o Governo

Monárquico cobrava.

Esse conjunto de fatores, aliado à má administração dos recursos pelo rei, que

governava sob um regime absolutista, detendo todo o poder, e cometendo todo tipo de

injustiça, levou com que o povo, que sustentava tudo isso e praticamente sem receber nada em

contra partida, se revoltasse dando origem assim à Revolução Francesa. Dessa forma:

A insatisfação da maior parte da sociedade francesa, sobretudo dos setores enriquecidos da burguesia, devia-se principalmente naquele ponto: custeavam um aparelho burocrático administrativo, sem terem direitos políticos, sem serem reconhecidos como cidadãos e, portanto, sem poderem interferir, ainda que por meio de representantes, na elaboração e execução de leis. (FREITAS NETO; TASINAFO, 2007, p.393).

Todo esse contexto de injustiças contribuiu para que a população se revoltasse contra

(22)

à nobreza. O sentimento do povo estava no princípio da igualdade para todos, ou seja, que o

poder fosse exercido para o bem comum sem a supremacia de uma classe sobre as demais.

É bem verdade que houve resistência, e o processo que se seguiu foi muito sangrento,

pois quem exerce o poder não o quer perder por nada, entretanto a população estava

determinada a lutar pelos seus direitos, e não houve quem a pudesse demover desse objetivo.

Essa insatisfação se transformou:

Em um movimento ascendente do processo civilizatório, a força revolucionária arrancou os dormentes da letargia, quebrou as amarras embrutecedoras da dominação da nobreza, superou a mediocridade opressora do absolutismo já fora do seu tempo. A razão se irradiou, a liberdade encontrou na França seu território. O poder absolutista, supra sumo da arbitrariedade, cedeu lugar ao contrato social. A religião institucionalizada, igualmente opressora e obscurantista, foi sendo substituída pela sociedade secular e dessacralizada. (CATTANI, 2002, p.72).

O evento que se tornou o marco dessa luta do povo em prol da democracia contra o

absolutismo monárquico ficou conhecido na história como a Queda da Bastilha. Bastilha era a

prisão para onde o rei mandava injustamente aqueles que não lhe eram favoráveis.

A Queda da Bastilha2 (1789) foi o marco de um novo tempo para o povo Francês, pois

a partir dela o rei foi deposto, e uma nova constituição foi promulgada retirando os privilégios

e vícios até então vigentes das classes dominadoras, assegurando que todos agora seriam

iguais perante a lei.

A Assembleia Nacional, impelida pela pressão popular que se formou, achou por bem,

no dia 22 de setembro de 1792, proclamar a República, garantindo que todos os homens

pudessem votar, sem levar em conta a sua posição social. No juramento que se seguiu surgiu

então o lema da Revolução Francesa que até hoje é conhecido em todo o mundo: liberdade,

igualdade e fraternidade.

2.3. BREVES PONTUAÇÕES SOBRE O TRABALHO EM KARL MARX

Karl Marx nasceu no Reino da Prússia, no dia 18 de maio de 1818, sendo o segundo

filho entre os nove que seus pais tiveram. Estudou direito na Universidade de Bonn, indo

posteriormente para a Universidade de Berlim onde conheceu e sofreu grande influência do

filósofo alemão Hegel.

2

(23)

Viveu numa época de muita efervescência política e social. No contexto de sua vida

estavam a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, período em que o povo europeu, de

uma forma geral, passava por grandes problemas sociais, como o empobrecimento da Europa

e a opressão de governos totalitários. O povo, na sua totalidade, aspirava por governos

democráticos, que governassem em benefício da população e contra os privilégios das classes

dominantes, como a nobreza e o clero.

Com a industrialização, os camponeses migraram de suas propriedades para os

grandes centros em busca de emprego nas indústrias formando uma massa conhecida como

proletariado. Essa classe, cansada por uma jornada extenuante de trabalho e a concentração da

riqueza nas mãos dos empresários, começou a se revoltar contra a situação em que se

encontrava, ocasionado assim que as revoluções viessem a acontecer.

As relações de trabalho sempre foram uma preocupação de Karl Marx, e sobre isso ele

escreveu diversas obras, sendo a mais famosa, O Capital3, um conjunto de livros, cujo

primeiro foi escrito no ano de 1867. Nele Marx descreveu a sua concepção de trabalho, que

consiste em:

O trabalho, na concepção de Marx, “é uma condição natural eterna da existência

humana”. Sem o trabalho, não haveria a produção e a reprodução (histórico-social)

da vida humana. “O processo de trabalho não é outra coisa senão o próprio trabalho, visto no momento de sua atividade criadora”. O homem, sendo o portador

consciente da atividade criadora, que se realiza por meio do exercício propositado da força vital, das energias do cérebro e músculos, utilizados conscientemente no processo de conformar e moldar a natureza segundo as necessidades humanas, é agente de transformação, colocando em prática o projeto de dominar as forças naturais e externas ao homem. (HIRANO, 2001, pp.1,2).

Marx era contra a exploração do homem pelo homem, se insurgindo contra o sistema

dominante onde uns trabalham enquanto outros usufruem da força de trabalho que estes

executam, ocasionado assim a concentração da riqueza nas mãos de poucos.

Isso é um fato que vem acontecendo ao longo da história da humanidade, pois:

Nesse sentido, as classes dominantes, através da história, têm lançado mão dos maiores malabarismos para tentar instruir trabalhadores sem educá-los para governar; sem capacitá-los para assumir a função de dirigentes, sem habilitá-los para pensar e falar bem. (JIMENEZ, 2001, p.75).

Elogiado por uma infinidade de estudiosos, e pessoas comuns, enquanto outros tantos

o criticam, Marx continua ainda hoje sendo referência em questões que dizem respeito às

3

(24)

relações que envolvem capital e trabalho, sendo uma das personagens mais influentes nessa

área. Não é por acaso que o mundo intelectual, sindicato de trabalhadores, e até partidos

políticos de todo o mundo, entre os quais o Brasil, tem sido influenciado por suas idéias e

princípios revolucionários.

2.4. O TRABALHO NO CONTEXTO DA CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL

O mundo vive uma crise como jamais se viu na história da humanidade. Enquanto

poucos acumulam muita riqueza, muitos vivem sem praticamente nada. A distribuição da

riqueza é inexistente, e isso tem levado a uma grande desigualdade social.

Desde o início do sistema capitalista, que monta do século XV, quando o sistema

feudal foi sobreposto, as classes foram se diferenciando umas das outras. De lá para cá houve

um distanciamento muito grande, com milhões de pessoas passando fome e toda sorte de

privações, ao passo que uma pequena minoria controla praticamente toda a produção e a força

de trabalho dos que forçosamente precisam se submeter ao seu comando.

Até pouco tempo atrás o mundo se dividia em capitalistas e socialistas, ficando nestes

últimos a antiga União Soviética, os países do leste europeu, e a China, entre outros. Aos

poucos estes países foram também sendo cooptados pelo sistema capitalista, mas ao que

parece, a simples mudança de sistema não beneficiou o conjunto da população, pelo contrário,

houve barateamento da mão-de-obra, e pesadas jornadas de trabalho, como é próprio do

sistema capitalista. Neste sentido:

(25)

atrás de sua própria fase progressiva de desenvolvimento e abandonando completamente o projeto capitalista liberal, apesar de toda mistificação ideológica auto-justificatória em contrário. É por isso que hoje se tornou mais óbvio do que nunca que o alvo da transformação socialista não pode ser somente o capitalismo, se quiser um sucesso duradouro; deve ser o próprio sistema do capital. (MESZAROS, 1998, p.4).

O Capitalismo ao longo da história da humanidade passou por várias adequações,

modificações, contudo a sua essência é o lucro. No modelo pensado por Adam Smith, o

próprio mercado deveria ditar as normas, sem a intervenção do Estado, coisa que ele achava

prejudicial. Contudo, nas relações de poder que o sistema capitalista fomenta, a parte mais

fraca é sempre o trabalhador assalariado. Este fica a mercê da vontade do patrão que nunca

considera ser justa a distribuição do lucro, uma vez que é ele que detém o capital, e se arvora

de dono deste, com direito de fazer com este o que lhe convier. Neste sistema o trabalhador é

visto apenas como força de trabalho necessária, sem o devido valor para o capital, pois:

Dessa forma, desvinculando seus antigos componentes orgânicos dos elos dos sistemas orgânicos precedentes e demolindo as barreiras que impediam o desenvolvimento de alguns novos componentes vitais, o capital, como um sistema orgânico global, garante sua dominação, nos últimos três séculos, como produção

generalizada de mercadorias. Através da redução e degradação dos seres humanos

ao status de meros “custos de produção” como “força de trabalho necessária”, o

capital pode tratar o trabalho vivo homogêneo como nada mais do que uma “mercadoria comercializável”, da mesma forma que qualquer outra, sujeitando-a às determinações desumanizadoras da compulsão econômica. (MESZAROS, 1998, p.8).

O capitalismo tem avançado praticamente no mundo inteiro, poucos países resistem às

suas investidas, os que ousam ficam isolados, ainda mais neste mundo globalizado e integrado

pela rede mundial de computadores, contudo suas conseqüências nefastas se fazem presente

independente do local onde ele é instalado. Países onde ele conseguiu se introduzir como a

China, por exemplo, beneficia muito a economia do país, mas seu povo continua na pobreza,

pelo menos a maioria esmagadora da sua população, tem de se submeter a uma pesada

jornada diária de trabalho e baixa remuneração. De acordo com Viktor Sukup, 2002, p.96:

As condições de trabalho, em particular nas zonas econômicas especiais, lembram muitas vezes as descrições da época do capitalismo das origens industriais européias. Jornadas longuíssimas, inexistência, ou quase inexistência, de férias e de dias de descanso, salários baixíssimos e falta de segurança são aspectos típicos do trabalho em muitas dessas fábricas que sustentam o crescimento chinês.

Esse mesmo fenômeno acontece na Índia, não por acaso são os dois países mais

populosos do globo terrestre, tendo, portanto, um excedente de mão-de-obra que ou se

(26)

2.5. CONTEXTO DO TRABALHO NO BRASIL

A história de nosso país é relativamente nova, pouco mais de quinhentos anos, quando

comparada com outros que já tem milênios. Desde a colonização pelos portugueses, até final

do século XIX, com a promulgação da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, nosso histórico foi o

mais vergonhoso possível, com a exploração da mão de obra escrava. O Brasil foi o que mais

importou negros da África, e foi o último dos países americanos a decretar a sua abolição.

Com a abolição dos escravos, era necessário que nova mão de obra surgisse, pois os

grandes latifundiários precisariam manter o ritmo de trabalho, para que não sofresse solução

de continuidade. Para isso foi de suma importância a vinda de imigrantes, principalmente da

Europa, pois era mão de obra barata, fugindo da crise porque passava o velho continente,

vindo arriscar a vida neste novo continente.

De lá para cá muitas coisas sofreram mudanças nas relações de trabalho no Brasil, as

quais abordaremos nos itens a seguir.

2.5.1. TRABALHO ESCRAVO: A DÍVIDA SOCIAL COM ÍNDIOS E NEGROS

Diferentemente do que vimos há décadas nos bancos escolares, a subjugação do índio

e, posteriormente, do negro no Brasil se deu em um contexto de muita violência e o silêncio

conivente das autoridades ditas competentes.

Primeiro os nativos, aqueles povos que já habitavam nossas terras tiveram seu

território usurpado por aqueles que lhes escravizariam e roubariam sua força de trabalho.

A coroa portuguesa precisava incrementar a construção de indústrias açucareiras no

Brasil para promover o comércio com a Europa para amenizar a crise financeira porque

passava o continente. A escravidão havia acabado em quase toda a Europa, mas Espanha e

Portugal ainda a utilizavam em algumas ilhas que colonizavam. As primeiras indústrias de

açúcar funcionavam com os índios que trabalhavam de início na forma de escambo, ou seja,

em troca de alguma coisa. Como a demanda cresceu muito os colonizadores optaram por

escravizar os nativos, invadindo suas tribos e capturando-os de forma violenta e mantendo-os

escravizados. A experiência com índios não deu muito certo porque os jesuítas se opuseram a

essa situação. Contudo, somente no final do século XVI para início do século XVII a

(27)

Com a conquista de algumas colônias na África, a coroa portuguesa passou a enviar

através de navios negreiros um número muito grande de negros saídos principalmente de

Angola. Dessa forma:

[...]os portugueses aprimoravam o funcionamento do tráfico negreiro transatlântico, sobretudo após a conquista definitiva de Angola em fins do século XVI. Os números do tráfico bem o demonstram: entre 1576 e 1600, desembarcaram em portos brasileiros cerca de 40 mil africanos escravizados; no quarto de século seguinte (1601-1625), esse volume mais que triplicou, passando para cerca de 150 mil os africanos aportados como escravos na América portuguesa, a maior parte deles destinada a trabalhos em canaviais e engenhos de açúcar. (MARQUESE, 2006, p.111).

As relações entre senhores e escravos sempre foi de extrema dificuldade, as tentativas

e as fugas concretizadas deixavam ambos os lados em constante apreensão. Muitos

quilombos4 foram se formando ao longo do tempo durante a era colonial brasileira. O mais

famoso deles foi o Quilombo dos Palmares, localizado onde hoje fica o estado das Alagoas, e

que se formou por escravos fugidos das capitanias de Pernambuco e da Bahia.

Palmares cresceu e se tornou um grande e próspero ajuntamento de pessoas, e a coroa

portuguesa estava precisando de mão-de-obra para tocar a produção do açúcar depois de

expulsar os holandeses que haviam se instalado por aqui, seduzidos pelas riquezas que o

açúcar proporcionava.

O Quilombo de Palmares resistiu o quanto pode a várias investidas da coroa

portuguesa, liderados por Zumbi dos Palmares5, contudo em novembro de 1695 veio a ser

totalmente dizimado, e seu líder morto, tendo sua cabeça sido decepada, e levada para Recife

como troféu, e exposta em praça pública.

A forma violenta como se deu a exterminação do Quilombo de Palmares desestimulou

a que novos quilombos fossem formados, e a figura do capitão-do-mato, que era o

encarregado de manter a ordem e capturar os que se aventurassem a fugir, também contribuiu

para que isso acontecesse.

Contudo, com o tempo algumas alforrias foram acontecendo. Em alguns casos com os

bebês, até como forma de amenizar as tensões existentes. Sendo assim:

As alforrias em Minas Gerais, enfim, em linhas gerais reiteraram o modelo que Stuart Schwartz encontrou para a Bahia já em fim do século XVII. Esse padrão

4

Os quilombos constituíram-se em locais de refúgio dos escravos africanos e afrodescendentes em todo o continente americano.Eram entendidos pelo Conselho Ultramarino do governo português em 1740 como todo "agrupamento de negros fugidos que passe de cinco, ainda que não tenham ranchos levantados em parte despovoada nem se achem pilões neles".

5

(28)

obedeceu a uma norma básica: quanto mais afastados da experiência do tráfico negreiro transatlântico, maiores seriam as possibilidades de os escravos e as escravas ganharem alforria; o homem africano, predominante nos tumbeiros, dificilmente a obteria, mas seus descendentes, em uma ou mais gerações, sim. (MARQUESE, 2006, pp.116,117).

O clima de tensão entre senhores e escravos era constante. Essa situação proporcionou

que algumas medidas governamentais fossem tomadas para amenizar este quadro. Em 1850

foi promulgada a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos para o Brasil.

Posteriormente, em 1871, foi criada a Lei do Ventre Livre, que considerava livre todos os

filhos de mulheres escravas nascidos a partir da lei. Em seguida, a Lei dos Sexagenários, em

1885, que concedia liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade. Essa lei, contudo,

teve pouca eficácia, pois poucos escravos, devido as circunstâncias da vida que viviam,

atingiam esta idade. Três anos depois, em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea sancionada

pela Princesa Isabel, a escravidão enfim era extinta, concedendo liberdade a mais de 700 mil

escravos que ainda existiam em nosso país.

A escravidão de fato acabou, mas a cultura escravista permaneceu e ainda permanece

em nosso país. Vivemos, mesmo muito tempo tendo se passado, uma cultura que exclui o

negro de muitas formas. Precisamos passar pela vergonha de ter que instituir cotas para

amenizar essa diferença que ainda não conseguimos eliminar.

2.5.2. O TRABALHO NO BRASIL NA CONTEMPORANEIDADE

Desde o término da escravidão até os nossos dias atuais, as relações de trabalho no

Brasil mudaram bastante, contudo, passados alguns séculos, vemos que não avançamos no

ritmo que deveríamos.

Temos uma jornada de trabalho muito longa, onde sobra pouco ou nenhum tempo,

para a dedicação a outras coisas da vida, que também são, ou deveriam ser muito importantes.

Apesar disso foi por meio de muita luta da classe operária que algumas conquistas foram

alcançadas, mas que agora estão sob risco de serem tiradas.

A Reforma Trabalhista6 que entrou em vigência recentemente em nosso país, não só

flexibiliza, como também fragiliza as relações de trabalho, causando prejuízos aos direitos do

trabalhador tão duramente conquistados em meio a muita luta de sua classe, pois ninguém

6

(29)

pode ser ingênuo de pensar que um trabalhador entrará em pé de igualdade em uma

negociação com o seu empregador. É lógico que na relação de forças o trabalhador será

sempre o lado mais fraco nesta negociação, o elo mais fraco nesta corrente, tendendo, na

maioria dos casos, que se submeter aos desejos do empregador por medo de ser descartado

neste processo.

Infelizmente, ainda temos em nossos dias, em pleno século XXI, muitos trabalhadores

sendo explorados, trocando sua força de trabalho por um salário não condizente com as

necessidades que tem.

Temos ainda para indignação nossa, pessoas sendo submetidas a situações análogas à

escravidão. Frequentemente vemos reportagens de pessoas, de trabalhadores, trabalhando

apenas pela comida que comem,que é de péssima qualidade, vigiados constantemente por

outro semelhante seu de arma em punho, em situação degradante. Isso acontece no campo

com mais frequência, mas também incide nas cidades, nos grandes centros urbanos de nosso

país. Neste sentido:

A definição de trabalho escravo é ampla, possibilitando o uso da legislação para diversas situações, tais como aquelas em que o trabalhador não consegue se desligar do patrão por fraude ou violência, quando é sujeito a condições desumanas ou é obrigado a trabalhar tão intensamente que sua vida é colocada em risco. Trabalho escravo, além de desrespeito a leis trabalhistas, é apresentado como violação aos direitos humanos. Veja-se que o artigo 149 do Código Penal, que prevê cadeia para quem se utilizar dessa prática, é de 1940, e foi reformado em 2003 tornando-se mais claro. (HEIDEMANN; TOLEDO; BOECHAT, 2014, p.62).

Infelizmente, a crise financeira porque passa o mundo, de proporções gigantescas, e

em especial no Brasil, tem levado a que milhões de pessoas amarguem a situação de estarem

desempregadas, perdendo a sua dignidade, e,em muitas ocasiões, caindo nas mãos de

aproveitadores que procuram se locupletar à custa da força de trabalho dos outros. Ainda há a

situação dos imigrantes que são ludibriados com vãs promessas, caindo na rede de pessoas

inescrupulosas e sendo escravizados por estes.

Este é, pois, o cenário degradante em que nos encontramos atualmente. Somos talvez

um dos países com os maiores índices de desigualdades sociais. Não temos acesso aos direitos

mais básicos que os seres humanos precisam para sobreviver com dignidade. O direito à vida,

que é o mais elementar, não nos é garantido por conta em muito dessa desigualdade em que

nos encontramos. A situação de miséria em que muitos vivem decide quem pode e quem não

pode viver. O direito à saúde, que nos é negado quando não temos uma rede pública que

atenda às demandas da população e nem ganhamos o suficiente para arcar com o custo de um

(30)

é roubado, quando não temos uma escola pública, gratuita, e de qualidade, que atenda às

expectativas daqueles que por ela procuram. Os sucessivos governos colocaram a educação

nas mãos de poderosos grupos empresariais que monopolizaram esse direito que deveria ser

de todos, e com isso criaram uma sociedade com cidadãos de primeira e de segunda linha, ou

seja, quer uma educação de qualidade? Pague por ela.

Portanto vivemos em uma sociedade onde os desiguais lutam em igualdade de

condições, sem que as diferenças existentes sejam respeitadas, afunilando cada vez mais as

desigualdades. Os trabalhadores que procuram a EJA são desdobramentos desse modelo

perverso que expulsa os alunos da escola.

3. CAPÍULO II - HISTÓRICO DA EJA: REFLEXÃO SOBRE AS POLÍTICAS DE

INCENTIVO À SUPERAÇÃO DA PROBLEMÁTICA EVASÃO

A pretensão inicial do estudo desse capítulo reside no esforço de expor, brevemente,

sobre as formas de enfrentamentos da problemática da evasão na EJA no processo histórico

de constituição das políticas educacionais para essa proposta de ensino.

Nessa perspectiva, apresenta-se elementos de contextualização da EJA no Brasil, a

partir das análises de autores como Freire (1993), Ricetti (2015), Piana (2009), Di Pierro, Joia

e Ribeiro (2001), Dias (2015), Carvalho e Pio (2017), entre outros, além da Organização das

Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB).

De acordo com a nossa compreensão, advinda das observações e percepções

adquiridas ao longo dos anos de estudos até a universidade, e fundamentados nos teóricos que

se debruçaram sobre este assunto especificamente, traremos uma visão geral de todo o

contexto em que a Educação de Jovens e Adultos foi forjada dentro do contexto amplo da

educação no Brasil, desde que os portugueses aportaram na recém descoberta colônia, neste

continente sul americano, começando com a chegada dos padres jesuítas liderados pelo padre

Manoel da Nóbrega até os nossos dias.

Este é, portanto, o objetivo deste capítulo, a compreensão de todo o contexto

educacional, contudo com uma visão crítica de todo esse processo, pois passados muitos anos

entendemos que caminhamos muito pouco, tendo muito que ainda caminhar para, senão

alcançar, pelo menos nos aproximarmos das nações que hoje ocupam os primeiros lugares no

(31)

Entendemos que já passou da hora de a educação ter o destaque no âmbito da política

nacional que ela merece ter. O país que não prioriza a educação está deixando um legado de

atraso para seus habitantes e, consequentemente, penalizando suas futuras gerações, pois é um

investimento para colher em longo prazo, planta-se hoje o que se colherá em algumas

décadas. É, portanto, uma necessidade urgente sob pena de permanecer no atraso e ser

ultrapassado por quem optou por essa escolha política.

3.1. HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO E DA EJA NO BRASIL: ELEMENTOS DE

CONTEXTUALIZAÇÃO

A história da educação no Brasil teve seu início ainda no período colonial, quando

desembarcou em Salvador, no ano de 1549, Tomé de Sousa, que veio a ser o primeiro

governador geral, trazendo consigo alguns padres jesuítas, entre estes, Manoel da Nóbrega,

para esta finalidade. Foram, portanto, estes, os primeiros educadores desta terra recém

descoberta chamada Brasil. Abriram escolas onde os índios poderiam estudar, com a

finalidade de aprenderem a língua portuguesa, para a partir daí poderem entender a doutrina

cristã. Estas escolas também serviram para os filhos dos colonos.

O sistema de educação implantado pelos jesuítas tinha, além dos ensinos das letras, o

objetivo de disseminar a fé católica entre os primeiros habitantes deste recém descoberto país,

pois esta fé havia sofrido um duro golpe na Europa com a Reforma Protestante7 em 1517. Era,

portanto, um sistema rígido de ensino. O método utilizado pelos jesuítas baseava-se nos

princípios da Ratio Studiorum8, estudo que alia o ensino de humanidades, filosofia e teologia: No ano de 1599, é publicada a Ratio Ataque Instituto Studiorum Societas Jesu, fruto do estudo do processo educativo em todos os colégios da Companhia em todo o mundo, complemento das “constituições”, promulgada pelo p. Cláudio Aquaviva. Este plano educacional, posto imediatamente em prática, conhecido com “Ratio Studiorum”, apesar de sua coerência interna, demonstrada pelos extremos cuidados em todos os detalhes de suas normas, conteúdos, disciplinas, textos, metodologias e hierarquias previstos para o bom funcionamento dos colégios, não tinha coerência externa, pois era válido para todo aluno, de qualquer lugar do mundo e inflexível com o decorrer dos tempos[...] (FREIRE, 1993, p.39).

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Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano.

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Referências

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