• Nenhum resultado encontrado

Neste experimento de teor científico acadêmico, investiguei, sala de aula comum, quais as influências das atividades de revisão e reescrita de textos sobre a evolução da língua escrita de alunos com deficiência intelectual. Para tanto, foram propostas na sala de aula comum as atividades de revisão e reescrita de textos produzidos por meio do sistema Scala web em díades de alunos com e sem deficiência intelectual.

Com base nos dados coletados, finalizo dizendo que a revisão e a reescrita textuais em díades de alunos podem favorecer o desenvolvimento da escrita e, consequentemente, promover melhorias na produção textual. O diálogo entre os pares proporcionou a emergência de questionamentos que resultaram em conflitos cognitivos, os quais capacitaram o aluno com DI a refletir sobre seus registros escritos.

A minha hipótese é que uma atividade de revisão e reescrita textual, em um contexto de mediação na sala de aula entre díades de alunos com e sem deficiência intelectual, pode contribuir para a evolução conceitual da língua escrita dos primeiros, e em consequência, favorecer sua inclusão escolar.

Com base nessa hipótese, os dados permitiram elaborar algumas considerações, que foram discutidas em quatro categorias de análise: as estratégias de escrita utilizadas por sujeitos com DI durante a atividade de revisão e reescrita textual; a produção textual de sujeitos com DI: uma análise comparativa entre os textos produzidos na SRM (T1) e os textos revisados e reescritos na sala de aula comum (T2); os efeitos da mediação sobre a produção textual de sujeitos com DI; os resultados da aplicação do pré e pós-testes: uma análise comparativa.

A primeira categoria de análise - As estratégias de escrita utilizadas por sujeitos com DI durante a atividade de revisão e reescrita textual - respondeu ao primeiro objetivo específico, que se propôs identificar e analisar a emergência das estratégias de escrita por alunos que apresentam deficiência intelectual durante a atividade de revisão e reescrita de textos produzidos por meio do sistema Scala

web.

Na primeira categoria de análise, foram identificadas seis tipos de estratégias, agrupadas em elementares (apoio visual na sequência de letras que compõem o alfabeto, associação do som de uma letra com a letra inicial de uma

198

palavra do seu repertório); intermediárias (identificação da necessidade da segmentação entre as palavras, silabação das palavras enquanto escreve (leitura controle)), e avançadas (identificação de palavras incorretas no texto não revisado, uso do acento gráfico til para realizar a nasalização da sílaba).

Dentre as seis estratégias de escrita, a de identificação da necessidade de segmentação entre as palavras (estratégia intermediária) foi a mais utilizada pelos cinco sujeitos. Enquanto, a de apoio visual na sequência de letras que compõem o alfabeto (estratégia elementar) foi a menos utilizada. Os resultados permitiram aferir que os sujeitos da pesquisa estavam em via de constituir a concepção de palavra gráfica, já que passaram a perceber, mais sistematicamente, a função dos espaços em branco entre uma palavra e outra, assim como demonstraram maior regulação da escrita, com suporte na silabação das palavras durante a escrita das mesmas (estratégia elementar).

Dos cinco sujeitos da pesquisa, Joana utilizou maior quantidade de estratégias, sendo sua maior frequência concentrada na estratégia intermediária de identificação da segmentação entre as palavras. Tereza usou menos estratégias de escrita, e se centrou na utilização de duas estratégias intermediárias: identificação da necessidade da segmentação entre as palavras e a silabação das palavras enquanto escreve (leitura-controle). Relativamente ao emprego das estratégias avançadas, Joana e Renata empregaram a de uso do til para nasalização da sílaba, durante a aplicação do pré-teste do ditado de palavras com imagens. Os demais sujeitos passaram a utilizar essa estratégia, desde a reescrita textual mediada, exceto Karla, uma vez que em nenhuma das sessões ela recorreu a essa estratégia.

A segunda categoria - A produção textual de sujeitos com DI: uma análise comparativa entre os textos produzidos na SRM (T1) e os textos revisados e reescritos na sala de aula comum (T2) – respondeu ao segundo objetivo específico, constituído em analisar em que medida a mediação efetuada em sala de aula por alunos sem deficiência intelectual pode contribuir para a evolução conceitual da escrita de alunos com deficiência intelectual. A análise comparativa entre os textos produzidos na SRM e suas versões revisadas e reescritas em sala de aula, sob a mediação, permitiu identificar avanços em relação ao nível conceitual de escrita em quatro dos cinco sujeitos. Em conclusão, com esteio na atividade de revisão e reescrita textual mediada, ocorreram melhorias na qualidade dos textos, na medida em que eles passaram a observar a necessidade de utilizar a segmentação gráfica

199

entre as palavras, inserir os conectores para garantir a coerência e progressão textual, bem como escrever as palavras que oralizavam no planejamento, nos períodos antecedentes e durante suas produções textuais.

A terceira categoria - Os efeitos da mediação sobre a produção textual de sujeitos com DI – respondeu ao terceiro objetivo específico, que demandou identificar a ocorrência dos tipos de mediação exercida nas díades de alunos com e sem deficiência intelectual no decorrer das atividades de revisão e reescrita de textos na sala de aula comum. A interação das duplas de trabalho (aluno com e sem deficiência intelectual) permitiu a identificação de cinco tipos específicos de mediação: apontamento de letras como modelo; verbalização silabada de uma palavra; soletração de sílabas; organização das ideias do aluno com DI para uma melhor compreensão textual e manutenção do foco na tarefa. A emergência desses tipos de mediação contribuiu para a mais qualitativa produção textual dos sujeitos da pesquisa, na medida em que os pares que mediavam chamavam a atenção, não só, para os aspectos normativos da escrita, mas também para a necessidade de estabelecer a coerência e garantir a progressão dos textos. Dentre os cinco sujeitos, apenas na turma da aluna Tereza não foi observada a mediação do tipo organização das ideias do aluno com DI para melhor compreensão textual. Talvez esse resultado se explique porque a prática desenvolvida nessa sala de aula com a produção textual mantinha o foco na atividade e não na interação escritor/leitor.

A quarta categoria - Os resultados da aplicação do pré e pós-testes: uma análise comparativa – contribuiu, especialmente, para responder ao objetivo geral deste estudo de investigar, na sala de aula comum, quais as influências das atividades de revisão e reescrita de textos sobre a evolução conceitual da língua escrita de alunos com deficiência intelectual. Constatou-se evolução no resultado do pós-teste do reconto escrito das alunas Tereza e Jéssica. Esses sujeitos demonstraram avanços significativos na segmentação gráfica entre as palavras. No pré-teste, exibiram um excesso de palavras hipossegmentadas, indicando dessa maneira avanços na concepção de palavra gráfica. A aluna Renata, por sua vez, demonstrou avanços no reconto escrito, ao se comparar os resultados do pré e pós- teste. Na fase final da pesquisa, os sujeitos demonstraram maior capacidade de organização das ideias para a produção textual. Eles reescreveram um texto com riqueza de detalhes maior, elencaram todas as personagens do enredo e escreveram as ideias principais e secundárias do texto em revisão.