• Nenhum resultado encontrado

3 A BUSCA DE RESPOSTAS: PERCURSO METODOLÓGICO

4.2 A produção textual de sujeitos com deficiência intelectual:

4.2.1 As características da produção textual que sugerem a evolução

4.2.1.1 Segmentação gráfica (palavras hipersegmentadas e

A análise comparativa sobre o uso da segmentação gráfica entre T1 e T2 se apoiou em Koch e Elias (2015a, p.28), ao esclarecerem que,

A segmentação gráfica em textos de crianças é feita com base nos vocábulos fonológicos ou aquilo que a criança aprende como tal. O que se nota é que a criança ao tentar efetuar a segmentação gráfica adequada, acaba, por vezes, caindo no extremo oposto, isto é ‘picando’ demais a palavra ou, pelo contrário, emendando vocábulos, conforme a maneira como são pronunciados.

Neste estudo, com base na explicação das autoras citadas, ocorreram duas possibilidades de segmentação gráfica das palavras nos textos: hipossegmentação (junção) e hipersegmentação (separação indevida). A hipossegmentação se manifesta pelas palavras gráficas escritas em um scriptio

contínuo. Enquanto isso a hipersegmentação é expressa pela palavra gráfica com

separação incorreta. Em ambos os casos, são alterações caracterizadas pela junção ou separação não convencional das palavras (ZORZI, 1998).

De acordo com Cagliari (1989) e Zorzi (1998), citados por Verçossi e Gonçalves (2011), ao realizar essas alterações indevidas, os escritores iniciantes se apoiam na fala e em sua entoação. Desse modo, eles pronunciam as palavras segmentando-as em grupos tonais e transpõem tais características para a escrita, “por meio dos espaços brancos colocados indevidamente entre palavras, ou no interior de uma mesma palavra, ou por meio de junções indevidas”. (VERÇOSSI; GONÇALVES, 2011, p. 2).

125

Ao analisar, de modo comparativo, a ocorrência da hipossegmentação e hiperssegmentação entre T1 e T2, identifiquei uma diferença significativa quanto à frequência dessas características nos textos. Notei nos 15 textos produzidos via

Scala web (T1) na SRM, um quantitativo de 38 palavras gráficas hipossegmentadas

e duas hipersegmentadas. Enquanto isso nos textos revisados e reescritos (T2) na sala de aula, notei a frequência de 145 palavras hipossegmentadas e 27 hiperssegmentadas. O quadro 14 a seguir traz esse total, de acordo com a ocorrência manifestada por parte de cada sujeito.

Quadro 14 - Quantitativo de palavras hipossegmentadas e hipersegmentadas T1 – T2

Fonte: Dados da pesquisa.

Ao comparar a ocorrência quantitativa de hipo e hipersegmentação, levando em consideração T1 e T2, identifiquei o predomínio da hipossegmentação. Provavelmente, essa motivação de escrita ocorre porque os sujeitos, escritores iniciantes, se apoiam oralmente para escrever as palavras. Possivelmente, também, eles ainda estão se apropriando sobre o funcionamento dos registros escritos no interior de um texto, o que implica a necessidade de realizar a separação entre as palavras. Os estudos de Ferreiro e Pontecorvo (1996) coadunam-se com os dados obtidos nesta pesquisa. As autoras mencionadas realizaram um estudo em que as crianças eram solicitadas a reescrever o conto clássico Chapeuzinho Vermelho. Ao analisar os dados obtidos, as autoras verificaram que existia uma dominância da hipossegmentação sobre a hipersegmentação. Eles acrescentaram, ainda, que essa dominância da hipossegmentação foi observada nas produções textuais de crianças de 2º e 3º anos.

É observável, com base no quadro 14, o fato de que o maior quantitativo de palavras hipossegmentadas se concentrou nas versões revisadas e reescritas

Palavras hipossegmentadas e hipersegmentadas por sujeito em T1 e T2 Alunos com

deficiência intelectual

Hipossegmentada Total Hipersegmentada Total

T1 T2 T1/T2 T1 T2 T1/T2 Tereza 19 103 122 0 18 18 Joana 10 21 31 01 01 02 Jéssica 07 19 26 0 0 0 Karla 0 02 02 01 07 08 Renata 02 0 02 0 01 01 Total 38 145 183 02 27 29

126

dos textos (T2=145). Do mesmo modo sucedeu em relação às palavras hipersegmentadas, que se manifestaram em 27 palavras. A menor frequência dessas características em T1, provavelmente, decorre dos seguintes motivos: 1 - os textos produzidos por meio do software (T1) eram consideravelmente menos extensos, portanto, diminuía a possibilidade de ocorrer a hipo ou hipersegmentação de palavras; 2 – o software Scala web sublinhava as palavras escritas, de modo inadequado, fato que auxiliava os sujeitos a reverem suas escritas. Outros aspectos também parecem justificar essa diferença quantitativa entre T1 e T2: os textos de T2, diferente de T1, além de mais extensos, eram manuscritos. Desse modo, a tarefa de escrever o texto exigia que os alunos com DI evocassem as letras para comporem as palavras, e, consequentemente, expressassem suas hipóteses quanto à noção de palavra gráfica.

Quanto às palavras hipersegmentadas, não ocorreram dados quantitativos significativos em T1, uma vez que observei essa incidência apenas nos textos de Joana e Karla, na frequência de uma vez cada uma delas. Diferente de T1, a incidência em T2 se manifestou, de modo mais intenso, uma vez que Tereza e Karla utilizaram a hiperssegmentação, respectivamente, 18 e sete vezes, enquanto Joana e Renata, apresentaram uma vez.

De modo particular, ao analisar individualmente, a maior ocorrência de palavras hipossegmentadas, verifiquei que, dentre os cinco sujeitos, Tereza manifestou a maior incidência, tanto em T1 como T2, respectivamente, a frequência de 19 e 103 palavras. Em contrapartida, a menor ocorrência desse tipo de segmentação foi manifestada por Karla, que apresentou 02 vezes em T1 e nenhuma frequência em T2.

Como já informado anteriormente, considerei para a análise os textos produzidos em três momentos distintos das duas investigações: início (sessão 2), meio (sessão 5), fim (sessão 9). Selecionei, então, aqueles de maior e menor incidência dos dois tipos de segmentação. Nesse sentido, serão mostrados alguns exemplos dessas produções textuais, realizadas tanto em T1 como T2.

Para ilustrar a maior incidência de hipossegmentação, foram destacados dois textos produzidos na segunda sessão (T1- Imagem 20; T2 – Imagem 21), ambos escritos por Tereza. Esclareço que T1 foi produzido, individualmente, no contexto da SRM, enquanto T2 na díade formada por aluno com e sem deficiência

127

intelectual no ambiente da sala de aula. Na imagem 20, destaco em vermelho as palavras em que esse tipo de segmentação apareceu no texto.

Imagem 20 - Texto produzido na sessão 02 no contexto da SRM (Tereza)

Legenda: GHO (O gato) PI (pegou) AO (rato) AI (ai chegou) KOO

(cachorro) AI (ai) UAO (o gato pegou) PAIO (passarinho)

UKOUOUA (U-o KOU – cachorro comeu A –passarinho).

Fonte: Dados da pesquisa de Barros (2017)

No texto da imagem 20, a junção das palavras ocorreu do seguinte modo: para a sequência PIAO, a aluna apontou PI e atribuiu à escrita da palavra PEGOU, ao passo que, para as letras AO, ela afirmou que havia escrito RATO; Na escrita de UAO, Tereza leu O GATO PEGOU, e, no registro UKOUOUA, ela separou a leitura da sequência das letras e atribuiu o seguinte significado: UKOU, CACHORRO COMEU, A, PASSARINHO. Nas sequências exemplificadas identifiquei, por exemplo, a junção de verbo e substantivo em um mesmo conjunto aglutinado de letras (PIAO para as palavras PEGOU e RATO).

Dando continuidade à exemplificação da maior ocorrência da hipossegmentação, mostro a imagem 21 (T2), que ilustra a revisão e reescrita do texto no ambiente da sala de aula, a partir do texto (T1), produzidos na SRM, ambos realizados na segunda sessão.

128

Imagem 21 - Texto revisado e reescrito na sessão 02 no

contexto da sala de aula comum (Tereza)

Legenda: Era uma vez (um) gato (e um) rato que estavam

brincando de/ Pega-pega (na) floresta e apareceu um/ Cachorro aí apareceu um passarinho/ Eles brigaram sem querer (e) pediram desculpas/ A menina resolveu isso tudo/ Aí o menino e a menina foram (para) casa

Fonte: Dados da pesquisa.

A imagem 21 (T2), diferente da imagem 20 (T1), revelou um texto mais extenso, além de informações mais detalhadas, que conferiram um enredo à história. Nesse sentido, a produção em parceria possibilitou maior qualidade na escrita, apesar da incidência maior de palavras hipossegmentadas. No texto da imagem 19, identifiquei uma quantidade significativa de junções de palavras. Dentre outras ocorrências, destaca-se a escrita da seguinte frase: ERAUMAFGATORATOOITAVARICÃNOGII. A aluna com DI ao ler seu texto atribuiu a seguinte interpretação: ERA UMA VEZ UM GATO E UM RATO QUE ESTAVAM BRINCANDO.

Ante o exposto, concluo que as características da hipossegmentação se justificam, também, pelo fato de a aluna, no início da pesquisa (T1 - sessão 2), apresentar a escrita no nível conceitual silábico inicial. Nessa fase, Tereza representava as palavras, geralmente, com uma letra para cada sílaba, e, desse modo, não demonstrava conhecimento sobre a necessidade de segmentar as palavras gráficas. Na sessão 2, de T2 (imagem 21), por sua vez, vi que a atuação da aluna mediadora (par do sujeito com DI), possibilitou que Tereza começasse a mostrar unidades intrassilábicas na escrita das palavras.

Na continuidade das análises em uma perspectiva temporal das ocorrências das sessões, em T1, Tereza, na sessão 5, não indicou nenhuma palavra hipo ou hiperssegmentada. Dessa forma, não foi possível extrair exemplos ilustrativos dessa evolução comparativa entre T1 e T2. Julgo, porém, importante exemplificar, com base na imagem 22, o avanço significativo de Tereza

129

relativamente à segmentação gráfica das palavras, ao comparar o T2 (imagem 21) da segunda sessão com o T2 (imagem 22) da quinta sessão.

Imagem 22 - Texto revisado e reescrito na sessão 05 no contexto da sala de aula

comum (Tereza)

Legenda: Era uma vez uma menina que (se) chamava/ Débora e tem uma irmã que

se chama Thaynná/ De noite eu fui no extra e ficava sozinha/ Aí a minha irmã me encontrou a gente voltou para/ Casa

Fonte: Dados da pesquisa.

Ressalto que a reorganização do texto (imagem 22) foi realizada com o auxílio da aluna mediadora, que durante a escrita de algumas palavras, reforçava a necessidade de sua segmentação. Nesse diálogo entre a díade, a aluna mediadora questionava Tereza por meio dos termos junto ou separado, para indicar se deveria haver segmentação ou não entre uma palavra e outra. Apesar desses questionamentos, no texto da imagem 22, ainda é observada a hipossegmentação das palavras UMA VEZ (UMAVE), E TEM UMA (ETEUMA). Assim como a hipersegmentação e hipossegmentação, ao mesmo tempo, das palavras MINHA IRMÃ (MI /NA I/ MA).

Nessa contextura de análise, concordo com Guimarães (2011) quando explica que a capacidade para segmentar as palavras gráficas é uma das aquisições mais importantes para a escrita alfabética.

Para concluir a análise individual de Tereza, evidencio o fato de que, na sessão 09, em T1, ela não mostrou nenhuma palavra hipo ou hipersegmentada. Desse modo, a título de ilustração, destacou-se apenas T2 (imagem 23), na versão revisada e reescrita, sob a mediação de um colega sem DI. Nessa produção textual ocorreu apenas uma palavra hipersegmentada, conforme apontei no sublinhado em vermelho. Essa baixa frequência da hiperssegmentação sugere significativa evolução, visto que esta apareceu no período final das sessões de intervenção na sala de aula. Evidenciou-se, também o fato de que, em T2, todos os sujeitos escreviam textos mais extensos, e, por isso, facilmente poderiam demonstrar essas dificuldades de segmentação.

130

Imagem 23- Texto revisado e reescrito na sessão 09 no contexto da sala de aula

comum (Tereza)

Legenda: Era uma vez a coruja foi ao médico/ abrir a barriga dela aí teve 9

filhotes/ preto ele tava brincando na calçada

Fonte: Dados da pesquisa.

Explico que a hipersegmentação destacada em vermelho se relacionou a maneira como Tereza verbalizou a palavra antes da sua escrita. O sujeito verbalizou a palavra TEVE, segmentando-a em sílabas, e, assim, transcreveu para a escrita (TE/VI). Percebi que a segmentação gráfica da palavra TEVE foi realizada com base na segmentação oral das sílabas que compõem a palavra.

Concluo, pois, ao analisar, individualmente, as produções de Tereza entre T1 e T2, no decorrer das três sessões (2ª, 5ª, 9ª), ocorreu uma evolução importante quanto à apropriação sobre a segmentação gráfica, especialmente, em T2 no contexto de mediação no ambiente da sala de aula25.

Dando prosseguimento às análises, por sujeito, foram também destacadas as produções de Joana. Para isso, elegi o texto produzido na sessão 02, no contexto da SRM. A imagem 24 apresenta oito palavras hipossegmentadas.

25

131

Imagem 24 - Texto produzido na sessão 02 no contexto da SRM (Joana)

Legenda: A princesa estava no castelo o lobo mau pegou a

fruta levou pra casa/ O lobo foi embora nunca mais voltou a princesa viveu feliz pra sempre

Fonte: Dados da pesquisa de Barros (2017)

Na imagem 24, foram identificadas junções nas palavras: LOBOMA, ULOBU, FOIBO, APRINCZA. Os resultados deste estudo corroboram os achados de Guimarães (2011, p.96), quando se refere à escrita de uma criança em processo de apropriação do sistema alfabético.

[...] apesar de ter escrito alfabeticamente o que lhe havia sido solicitado, suas respostas indicam que não é ainda capaz de operar com o critério morfológico de segmentação da escrita, que exige a colocação dos espaços em branco entre as palavras.

Importante é registrar que a aluna Joana demonstrou, no início da pesquisa, a hipótese de escrita no nível conceitual silábico-alfabético. Nesse sentido, o nível conceitual inicial mais avançado de Joana, em relação ao nível inicial de escrita de Tereza (silábico inicial), favorecia seu desempenho, tanto nas atividades em T1 como T2. De acordo com Teberosky e Colomer (2003), a progressão na aprendizagem da escrita se reflete diretamente na ideia de construção da palavra gráfica. Tal característica reforça essa capacidade de Joana em utilizar com maior frequência, e, de modo adequado, a segmentação escrita.

132

Para ilustrar a apropriação sobre a segmentação escrita demonstrada por Joana, identifiquei a frequência de uma vez de uma palavra hipersegmentada, conforme imagem 25.

Imagem 25- Texto revisado e reescrito na sessão 02 no contexto da sala de

aula comum (Joana)

Fonte: Dados da pesquisa.

No texto da imagem 25, a aluna escreveu a palavra A/ PARESSEO, em vez de APARECEU. Nesse exemplo, constatei a hiperssegmentação, com base na relação entre oralidade e escrita. Isto é, a aluna controlou a escrita das letras que compõem a palavra com base na oralidade.

Já na sessão 05, Joana não expressou mudanças significativas entre o T1 e T2, uma vez que, em T2, ela decidiu apenas complementar seu texto inserindo mais dois enunciados. Nessa sessão, em sala de aula, Joana afirmou que não queria revisar o T1 e sim complementá-lo. Na imagem 26 referente à versão revisada (T2), foram destacadas três palavras hipossegmentadas: CHOUDEMAGIA. Nesse caso, a aluna deveria ter escrito ortograficamente e com segmentação a seguinte sequência de palavras: SHOW DE MAGIA.

Imagem 26- Texto revisado e reescrito na sessão 05 no contexto da sala de aula comum (Joana)

133

No exemplo destacado (imagem 26), a escrita de Joana sugeriu que caminha em sua hipótese rumo ao nível alfabético, bem como, em algumas palavras, em vias de construção do sistema ortográfico. Em relação ao sistema ortográfico, Zorzi (1998, p.87) explica que, a partir desse momento, a criança terá que “pensar a palavra não só do ponto de vista de sua estrutura acústica, mas também a partir de um referencial visual, considerando a forma gráfica que as palavras têm [...]”.

Por fim, na sessão 09, a aluna Joana demonstrou mais uma vez a sua conquista e apropriação do sistema de escrita alfabético. Essa relação evolutiva se manifestou, especialmente, na noção constituída de palavra gráfica. Em T1, notei, com base na imagem 25, apenas uma palavra hipersegmentada, esta destacada em vermelho.

Imagem 27- Texto produzido na sessão 09 no contexto da SRM (Joana)

Legenda: Era uma vez uma cachorrinha (que) apareceu (na) cidade (e) tava brincando no jardim

(com as) borboletas. O cachorrinho (ficou) olhando as estrelas triste. A pessoa tava passando na rua (e) e viu (o) cachorrinho. A mulher pegou o cachorrinho (e) levou para casa.

Fonte: Dados da pesquisa de Barros (2017)

Foi verificado, em T1, na sessão 09 (imagem 27), a repetição da hiperssegmentação de uma mesma palavra (APARECEU), já que em T2, na sessão 02 (imagem 26), Joana também havia apresentado a escrita dessa palavra com hiperssegmentação. Na sessão 09, na versão revisada (T2), por sua vez, o sujeito não escreveu essa palavra. Notei, entretanto, nessa sessão, a segmentação gráfica adequada em toda a extensão de T2, como se pode visualizar na imagem 28.

134

Imagem 28 - Texto revisado e reescrito na sessão 09 no contexto da sala

de aula comum (Joana)

Fonte: Dados da pesquisa.

Conclui que, em uma perspectiva evolutiva entre as três sessões selecionadas para análise, Joana, gradualmente, reduziu a quantidade de palavras hipossegmentadas. Esse resultado corrobora os dados observados nos estudos de Guimarães (2011), ao asseverar que a apropriação do sistema de escrita alfabética mantém relação evolutiva com a capacidade de segmentar convencionalmente os registros escritos.

Analiso, na sequência, os dados obtidos nas sessões realizadas com a aluna Jéssica. A produção textual (T1) de Jéssica durante a sessão 02 no contexto da SRM indicou cinco palavras hipossegmentadas. Para ilustrar essa frequência, veja-se a imagem 29.

Imagem 29 - Texto produzido na sessão 02 no contexto da

SRM (Jéssica)

Legenda: Fui na praia domingo minha amiga e foi massa. Eu e

minha amiga tomamos banho mar e depois merendamos tomamos refrigerante.

135

No texto da imagem 29, é observada a hipossegmentação na escrita das palavras E FOI MASSA - IFOMASA, bem como das palavras E DEPOIS - IDBA.

Na literatura, a investigação empreendida por Gomes (2006) enfatizou que a falta de segmentação entre as palavras é bem mais comum nos textos iniciais dos alunos. Em contrapartida, a aprendizagem da segmentação também depende da relação que o aluno mantém com textos escritos. Esse dado que atesta a importância de se participar de produções textuais para a conquista da segmentação talvez justifique o desempenho de Jéssica. Essa aluna, na época da pesquisa, cursava o 5º ano Ensino Fundamental e, durante o período de observação da pesquisa, ela raramente participava ou era incluída em atividades que proporcionassem experiências com a produção textual.

Comprovei, ainda, que, na versão revisada do texto (T2), ela ainda apresentou palavras hipossegmentadas. Percebi, no entanto, uma ampliação da qualidade em sua escrita, quando ela era mediada por outra aluna. Para ilustrar essa evolução, evidencio a imagem 30, que exemplifica as palavras hipossegmentadas em T2.

Imagem 30- Texto revisado e reescrito na sessão 02 no contexto da sala de aula

comum (Jéssica)

Fonte: Dados da pesquisa.

Nos textos T1 e T2 da sessão 05, os dados sugeriram evolução da escrita da aluna Jéssica, uma vez que ela não escreveu nenhuma palavra hipo ou hipersegmentada. Desse modo, não foram apresentadas as imagens dos textos referentes a essas sessões.

Na sessão 09, Jéssica produziu um texto no contexto da SRM (T1), em que foi identificada apenas uma palavra hipersegmentada, conforme se observa na imagem 31.

136

Imagem 31 - Texto produzido na sessão 09 no

contexto da SRM (Jéssica)

Legenda: A novela Cúmplices de um Resgate vai

terminar essa semana muito ansiosa com final. Eu acho a Rebeca tá grávida do Otávio. Vou sentir saudade da Cúmplices e eu quero que banda faça maior sucesso.

Fonte: Dados da pesquisa de Barros (2017).

Na imagem 31, é perceptível a hiperssegmentação, e destaquei de vermelho a sequência separada escrita em dois grupos de letras A XU. Essa ocorrência relaciona-se com o apoio da oralidade, tanto em relação à hipersegmentação, como também nas letras utilizadas para a escrita da palavra ACHO. Jéssica apoiou-se no valor sonoro do X para representar o som da sílaba CHO e também se utilizou da segmentação silábica na verbalização da palavra.

Na sessão 09 da versão revisada e reescrita (T2), a aluna omitiu essa palavra do texto. Surgiram, contudo, outras palavras não mais com hipersegmentação, e, sim com hipossegmentação. Para ilustrar, mostro a imagem 32.

Imagem 32- Texto revisado e reescrito na sessão 09 no contexto da sala de aula comum (Jéssica)

137

No texto da imagem 32, Jéssica escreveu com hipossegmentação as palavras TEMFÃ, em vez de TEM FÃ, e PARAOFILHO, no lugar de PARA O FILHO. Essas palavras, por sua vez, não apareceram no T1 da sessão 09. Quanto ao aspecto da hipossegmentação, Ferreiro e Teberosky (1999, p.116) ensinam que, embora pareça simples segmentar as palavras, não o é, pois “É preciso recordar que a escrita adota a definição de ‘palavra’ - ao decidir quando corresponde escrever ‘junto’ ou separado’ [...]”.

Nessa sessão mediada, verifiquei que, a reescrita do texto nesse contexto nem sempre era suficiente para garantir a segmentação gráfica convencional. A baixa frequência dessas ocorrências nos textos de Jéssica (T1, T2), no entanto, ela apesar de ainda demonstrar dificuldades tem, sua escrita inteligível e resguarda um enredo coerente, bem como progressão textual.

A aluna Karla, cujos textos serão também analisados, não apontou nenhuma palavra hipossegmentada nas produções textuais realizadas por meio do

software SCALA web. Na sessão 02, a ocorrência relativa à segmentação gráfica se

deu pela hipersegmentação. Para ilustrar esse episódio, selecionei o T1 (imagem 33) produzido nessa sessão.

Imagem 33 - Texto produzido na sessão 02 no contexto da SRM (Karla)

Legenda: Meu sonho é conhecer Luan Santana. Abraçar ele e dizer gosto dele./ Depois Luan

Santana cantou a minha música meteoro/ Eu fui gostei do show e dormi. Fim

138

No texto da imagem 33, a aluna hipersegmentou a palavra MINHA (MI/ A). Chamo a atenção para o fato de que tal ocorrência se deu no contexto do ambiente digital do software Scala, que aponta quando ocorre alguma inadequação da escrita. Karla não realizou, no entanto, a adequação da sua escrita.

No que se refere à revisão textual, segundo os autores Luquez e Ferreiro (2003), os estudos (PAOLETTI; PONTECORVO, 1991; MORANI; PONTECORVO, 1995) apontaram que as crianças demonstram maior capacidade de revisão textual, quando em pequenos grupos. Em contrapartida, quando revisam os próprios textos, de maneira individual, essa atividade pode se tornar menos eficaz.

Na versão revisada, ilustrada na imagem 34, a aluna também escreve palavras hipersegmentadas.

Imagem 34 - Texto revisado e reescrito na sessão 02 no contexto da sala

de aula comum (Karla)

Fonte: Dados da pesquisa.

A existência de palavras hipersegmentadas no texto (imagem 34) da aluna Karla, parece se justificar, porque ela utilizou a segmentação silábica das