• Nenhum resultado encontrado

A relação entre diferentes nações pautou-se pelo predomínio da esfera econômica desde o surgimento do sistema capitalista, especialmente através da acumulação de riquezas e da perquirição infrene pelo lucro. O progresso econômico trouxe consigo o desmantelamento gradativo das fronteiras e, por conseguinte, pautas outrora de exclusiva deliberação nacional transformaram-se em matérias de apreciação transnacional, incorrendo em uma nova dinâmica na estrutura mundial. Passados dois conflitos de proporções mundiais e após a falha da Sociedade das Nações na busca pela paz e cooperação internacional no período entre guerras, consolidou-se a percepção kantiana de que regimes democráticos apoiados nos direitos humanos tinham a abordagem de maior convergência no que concerne à manutenção da paz e da segurança internacional.

Destarte, fez-se urgente a criação de um organismo internacional para discutir a resolução de conflitos comuns ao futuro da humanidade. Para tal, fundou- se a Organização das Nações Unidas, aos vinte e seis dias do mês de junho de 1945, na cidade norte-americana de São Francisco. Tendo como norte primordial a segurança, a Carta Constitutiva do órgão pontuou outras áreas de intervenção na

sociedade internacional dentre seus objetivos, como suas relações sociais, econômicas, culturais ou de áreas específicas, com vias de incluir em seu escopo de atuação o maior número de ligações entre seus membros. As Nações Unidas, em decorrência da abrangência de sua atuação, tem sob sua égide instituições especializadas e organismos subsidiários em domínios de diferentes esferas, dentre estes o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, relevante financiador e coordenador das tarefas relacionadas ao desenvolvimento dentro das Nações Unidas.

O organismo atua em mais de cento e sessenta países, com vias de promover o desenvolvimento de todas as nações, ricas e pobres, tornando-se líder global da Organização das Nações Unidas na esfera desenvolvimentista. Responsável pela publicação anual do Relatório de Desenvolvimento Humano, o PNUD – através do economista paquistanês Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen – expandiu a compreensão acerca do conceito de desenvolvimento. Anteriormente alicerçado apenas no crescimento econômico, o nível de desenvolvimento de um país teve sua métrica de mensuração deslocada para uma abordagem de maior amplitude, convergindo aspectos voltados à centralidade do ser humano, como saúde, educação e renda, contrariando o enfoque exclusivamente econômico em voga até então. Criou-se, então, o conceito de desenvolvimento humano, tornando a capacitação do homem e a utilização de suas habilidades uma ferramenta a ser incorporada na avaliação de desenvolvimento e, concomitantemente, um meio para uma nação atingir o desenvolvimento.

A Cimeira do Milênio, realizada na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2000, ocorreu em um período de grandes transformações da realidade mundial, menos de uma década depois do fim da bipolaridade mundial e em um momento de escalada da globalização. Concomitantemente aos benefícios trazidos para a humanidade em decorrência da maior ligação entre os países, reacenderam-se debates acerca de diversos problemas. A fome e a miséria ainda configuram-se como realidade em muitos países e o acesso a serviços básicos como saúde e educação é debilitado, quando não inexistente. Transmitiu-se ao desenfreado ímpeto econômico à responsabilidade acerca das adversidades enfrentadas por

inúmeras nações empobrecidas por séculos de exploração e, neste aspecto, o ser humano foi qualificado como agente ativo para transformar esta realidade.

O início de um novo milênio trouxe à pauta temas espinhosos e desconfortáveis para uma sociedade que almeja conquistar o espaço sem antes garantir água potável para todos que habitam este planeta. Pobreza, problemas concernentes à igualdade de gênero e doenças infectocontagiosas são alguns dos males que se abatem sobre a humanidade neste novo século e buscar um caminho livre destes atrasos para as gerações vindouras incorre em tornar os povos do mundo mais conscientes e responsáveis sobre suas atitudes e desejos, em uma incessante luta por um mundo mais justo e menos desigual. Neste prospecto, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento atua principalmente com o propósito de assegurar que os países em desenvolvimento tenham para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) até 2015. Divididos em oito objetivos, com metas e indicadores para analisar sua eficiência e ajustar possíveis equívocos, os ODMs são uma possibilidade real de evolução em termos de direitos humanos, em especial para os países subdesenvolvidos, através da promoção do desenvolvimento humano em torno do tripé formado por renda, educação e saúde.

A expansão de políticas sociais é fundamental para a consecução dos objetivos, sendo possível destacar que a sua implementação deve ocorrer de acordo com as especificidades de cada país e que seu escopo deve ser direcionado às áreas de maior carência em cada região. Cria-se, deste modo, um meio para concretizar as metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Trabalho digno, acesso à saúde e educação, assim como direito à alimentação saudável são metas de amplo alcance social. Por fim, verifica-se que a conexão entre todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio deságua na perquirição do pleno desenvolvimento das capacidades do ser humano, homens e mulheres, para que estes se desenvolvam em sociedade, de forma livre e digna, sendo a consecução destes objetivos um caminho para garantir uma sociedade mais justa e igualitária, qualificando os ODMs como uma forma de promover o desenvolvimento humano, as capacidades e a dignidade de cada indivíduo.

3 A ERRADICAÇÃO DA POBREZA COMO CONDICIONANTE PARA O