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3 A ERRADICAÇÃO DA POBREZA COMO CONDICIONANTE PARA O

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E

Em obra intitulada Era dos Extremos: o Breve Século XX: 1914 - 1991, Hobswan (1995) afirma que embora o mundo estivesse envolto pelo manto da

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Human poverty is more than income poverty-it is the denial of choices and opportunities for living a tolerable life.

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Poverty is a great enemy to human happiness; it certainly destroys liberty, and it makes some virtues impracticable, and others extremely difficult.

bipolaridade proveniente da Guerra Fria, o momento posterior à II Guerra Mundial teve especial relevância no que concerne ao controle e a predominância dos Estados Unidos frente ao mundo capitalista. Foi neste período que o país assumiu o protagonismo da estabilidade política do capitalismo, imbuído do papel de gestor do sistema econômico e geopolítico mundial.

Neste prospecto, Furtado (2000) sugere que este foi o momento da emergência de uma nova forma de hegemonia internacional, calcada predominantemente no controle da tecnologia e da informação. Criou-se, por conseguinte, uma grande discrepância entre as nações ricas – denominados países de primeiro mundo – e os países pobres – comumente denominados terceiro mundistas, visto que segundo Montibeller Filho (1993) quem dirige o crescimento econômico global são os países ricos e, assim sendo, são eles que guiam os processos e as técnicas de produção, incorrendo, portanto, na concentração de produção de riquezas.

Segundo Hobswan (1995), a criação de riquezas e a busca incessante pelo lucro remontam ao cerne do sistema capitalista de produção, todavia o quarto de século seguinte a Segunda Grande Guerra caracterizou-se como um período de prosperidade ímpar para a expansão da economia mundial, conhecido como a época de ouro do capitalismo. Para o autor, o padrão desenvolvimentista da época, onde todas as nações aspiravam bases industriais eficientes para o pleno atendimento de suas necessidades, pautou-se na produção em massa e foi mantido, sobretudo, por fontes de energia não-renováveis, tornando tal padrão motor para as economias modernas, com os efeitos colaterais desta caça infrene ao lucro relegados ao obscurantismo, visto que para Lowe (2011) somente a partir do final da década de sessenta o ser humano passou a ter consciência da magnitude que o uso imoderado dos recursos mundiais poderia ter sobre o futuro da humanidade, principalmente devido à finitude destes recursos, ao aquecimento global e a poluição, problemas tão atuais e ao mesmo tempo tão antigos.

Para Lopes de Souza (1994), o início da década de setenta foi um período importante para os debates ambientais, especialmente pela busca das Nações Unidas em dar voz as nações mais pobres na discussão de sua perspectiva ambiental, em reunião preparatória para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de Estocolmo, a ser realizada em 1972. Neste aspecto,

Vieira (1992) aponta para a ampliação do escopo da discussão ambiental e do conceito de desenvolvimento. Segundo a autora, o ambiente passou a incorporar a preocupação com desenvolvimento humano e social ao passo que desenvolvimento passou a considerar a dimensão ambiental. Assim, a preocupação com a ação humana sobre o meio ambiente e seus impactos em relação ao futuro ganhou destaque ao redor do mundo, visto que a preservação ambiental adentrou ao cenário internacional como ideal avesso ao desenvolvimentismo desordenado, tendo em vista que segundo Baptista (2005) a ocupação sistemática das atividades econômicas sobre os ecossistemas suscitou o interesse em estudos sobre os aspectos energéticos dos processos econômicos, especialmente após a descoberta da finitude do petróleo.

Segundo Milani (2008), a problemática ecológica tornou-se relevante nas discussões de grandes atores internacionais em decorrência da urgência em construir uma agenda comum entre o desenvolvimento econômico e a inadiável proteção ambiental. Neste panorama, o Clube de Roma24, em relatório denominado

Limites do Crescimento, de 1972, tratou em uma perspectiva neomalthusiana a relação entre o homem e o ambiente, limitando o crescimento dos países a cinco pontos principais: I) crescimento demográfico; II) produção alimentar; III) ritmo do crescimento industrial; IV) níveis de poluição e V) consumo de recursos naturais. O relatório pontuou que caso as tendências da época continuassem, inexistiriam recursos em quantidade suficiente para atender a demanda global, incorrendo em um colapso mundial até o final do século. Cabe ressaltar que esta foi a primeira vez que se tornou pública a ideia de que o desenvolvimento poderia ser limitado pelo tamanho finito dos recursos terrestres, impondo limites ao crescimento econômico.

Lopes de Souza (1994) avalia que se fez premente, portanto, a criação de uma abordagem interdisciplinar em questões relativas ao desenvolvimento, interseccionando o crescimento econômico aos aspectos sociais e ambientais decorrentes dele. Em decorrência disto, Vieira (1992) aponta que a Conferência de Estocolmo é tida como um marco nas discussões acerca do desenvolvimento sustentável, pois a partir desta conferência o caráter pluridimensional do tema e sua

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O Clube de Roma nasceu em abril de 1968, em um encontro de trinta pessoas de dez países. Esse grupo era formado por cientistas, educadores, economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos de nível nacional e internacional. Eles se reuniram na Academia dei Lincei, em Roma – Itália instados pelo Dr. Aurélio Peccei, empresário e economista, para discutir os dilemas atuais e futuros do homem.

correlação entre desenvolvimento e qualidade de vida foram verdadeiramente reconhecidos. Segundo Lago (2006), a Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano e seus princípios formaram o primeiro conjunto de leis intencionais para questões ambientais de caráter internacional. Outrossim, a conferência instituiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com objetivo de tratar o desenvolvimento de uma forma mais globalizante, vinculando-o a questões ambientais e socioeconômicas. O autor aponta ainda que a perquirição pela maior participação da sociedade civil nas questões ambientais, o fortalecimento das organizações não-governamentais e o estímulo à criação de órgãos nacionais dedicados à temática ambiental foram outros êxitos provenientes de Estocolmo. Portanto, Rodrigues e Marietto (2013) destacam que o desenvolvimento sustentável é fruto de uma avaliação crítica da interação entre o ser humano e o meio ambiente e, por conseguinte, a sustentabilidade visa o pleno atendimento das necessidades da geração atual, salvaguardando as necessidades das próximas gerações.

Nesta linha, Lopes de Souza (1994) destaca que embora as discussões em curso mostrassem ser latente a necessidade de tornar congruentes desenvolvimento e meio ambiente no combate à pobreza, as ações de cada nação individualmente não refletiam tais preocupações. Rocha, J. (2003) diz que o início de década seguinte foi um período minorado para as discussões em favor do meio ambiente, devido a crescente problematização de alguns conflitos locais, bem como em função de questões concernentes à economia, como as altas tendências inflacionárias e a estagnação do crescimento real da economia mundial. Para o autor, outro fator negativo na agenda da sustentabilidade foi o fracasso da Conferência de Cancún, em 1981, onde os países periféricos tiveram de abdicar de reformar econômicas necessárias para alcançar níveis satisfatórios de desenvolvimento em prol de questões ambientais, ação caracterizada como injusta pela população e por governantes destes países, visto que a crença destes é que esta foi uma forma de contrabalançar a deterioração do planeta em função das riquezas dos países mais ricos.

Duarte (2003) ainda destaca dois fatos marcantes desta década que demonstraram o despreparo dos governos para lidar com graves acidentes ambientais e suas consequências. Ambos ocorridos em 1986, o vazamento da indústria química de Bhopal, na Índia e o acidente na usina russa de Chernobyl

tiveram grande repercussão na época e suscitaram a necessidade de precauções contra desastres e suas consequências ao meio ambiente.

No ano posterior, 1987, o Relatório Brundtland tornou-se referência nos debates da temática ecológica e alicerçou a expressão desenvolvimento sustentável. O Relatório intitulado Nosso Futuro Comum (1987, p.24) afirma que o “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”. Segundo o relatório, em questões concernentes ao desenvolvimento, a prioridade absoluta deve ser orientada ao atendimento das necessidades básicas do mais pobres para que estes possam participar de forma verdadeira da sociedade. Outrossim, pontua que os objetivos econômicos e sociais de cada país devem ser determinados em termos de sustentabilidade, embora as especificidades de cada nação devam ser consideradas neste aspecto, tendo em vista que para Chaves e Rodrigues (2006, p.102) a sustentabilidade deve “ter diferentes estruturas a partir das diferentes escalas de organização na qual se encontre inserida”. Portando, Mendes (2009) reitera que embora o conceito de desenvolvimento tenha permanecido durante muito tempo atrelado exclusivamente ao crescimento econômico, tal delimitação não incorre obrigatoriamente em melhorias no bem-estar social, fator que torna urgente a necessidade de convergir a dimensão econômica a outras dimensões com vias de criar um desenvolvimento sustentável, para as gerações atual e futura.

Lago (2006) diz que apesar do arrefecimento das discussões acerca da temática ambiental no início dos anos oitenta, a década seguinte iniciou com o entendimento revigorado acerca dos impactos das intervenções humanas sobre a natureza. Muito disso decorreu da ampliação do número de regimes democráticos ao redor do mundo e do final da Guerra Fria, fatores que interseccionados favoreceram a discussão de novas temáticas concernentes ao sistema internacional. Para Lafer (2002), a multilateralidade decorrente do fim da bipolaridade colocou em voga temas como a proteção do meio ambiente e dos direitos humanos, o pluralismo e a solidariedade na interação interestatal. Deste modo, Lago (2003) aponta que a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, tornou-se o momento de maior concentração sobre a temática ambiental até então, visto que após a tensão de dois conflitos bélicos mundiais sucedidos de um conflito

que dividiu o mundo ideologicamente, a percepção corrente indicava a possibilidade de constituir um tratado global capaz de alterar o caminho destrutivo ao meio ambiente em curso em prol de um desenvolvimentismo infrene.

Breitmeier e Rittberger (2000 apud LAGO, 2006, p. 52-53) aponta que a Conferência foi convocada para:

[...] elaborar estratégias e medidas para parar e reverter os efeitos da degradação ambiental no contexto dos crescentes esforços nacionais e internacionais para a promoção do desenvolvimento sustentável e ambientalmente adequado em todos os países.

Para Milani (2008), o foco central da Rio-92 foi a perquirição de um acordo global com abrangência de áreas voltadas ao meio ambiente, com a finalidade de calcar o desenvolvimento em moldes sustentáveis. Neste aspecto, a possibilidade de uma regulação internacional e a delegação da soberania em questões globais permearam a discussão sobre o desenvolvimento sustentável, com forte interferência durante a conferência, visto que a discussão foi amplamente pautada em fatores institucionais.

Desta forma, Lago (2003) aponta que o desenvolvimento sustentável é composto por três alicerces centrais – aspecto econômico, social e ambiental – e acrescenta que este formato favoreceu as discussões no Rio de Janeiro tanto em favor das prioridades dos países em desenvolvimento quanto em relação as prioridades dos países desenvolvidos. Assim, durante a Rio-92 ocorreu a assinatura de acordos e posicionamentos para os países signatários. Do encontro, surgiram convenções internacionais concernentes as mudanças climáticas globais e relacionadas a necessidade de preservação da biodiversidade. Outrossim, a Declaração do Rio externou princípios gerais do comportamento humano e sua relação com o planeta. Foi também em solo carioca que surgiu a Agenda 21, um plano de ação com o intuito de guiar as economias à preservação do meio ambiente e a mitigação dos problemas ambientais no vindouro século XXI.

Conforme a Organização das Nações Unidas (1995), dividido em quarenta capítulos e mais de oitocentas páginas, o documento da Agenda 21 é um manual para a implementação do desenvolvimento sustentável. Através do documento, a comunidade internacional procurou identificar problemas prioritários, recursos e meios para enfrentá-los. A construção do plano previu a sua aplicação

em esfera global, nacional e local, através de organismos representativos das Nações Unidas, governos e grupos em todas as áreas em que a ação do homem tenha impacto no ambiente, em especial com o objetivo de financiar projetos concernentes ao desenvolvimento em quatro áreas centrais: mudanças climáticas, biodiversidade, camada de ozônio e águas internacionais. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente continuou como centro de coordenação dos temas ambientais e, em suma, a Agenda 21 consolidou a promoção do desenvolvimento no que concerne ao progresso social, econômico e ambiental.

Lago (2006) destaca que para atingir os objetivos assumidos era premente conduzir as ações globais através da intersecção de três fatores principais: a criação de um mecanismo financeiro autônomo e com elevado contingente de recursos, a reforma e a consolidação das instituições em prol de assegurar que os planos criados fossem realmente efetivados e um compromisso que possibilitasse a criação de um sistema eficiente de transferência de tecnologia entre os países. Portanto, a criação do Fundo Mundial para o Meio Ambiente objetivou criar um órgão para gerar dividendos ecológicos a partir do desenvolvimento local e regional, fornecendo subvenções e empréstimos à juros baixos para países em desenvolvimento e economias em transição. Deste modo, a parceria entre o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente consolidou-se como um reflexo das pretensões da comunidade internacional, através do comprometimento de organismo conectados pelos três pilares do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental. Destaca-se, por fim, que:

A Agenda 21 não é apenas um documento. Nem é um receituário mágico, com fórmulas para resolver todos os problemas ambientais e sociais. É um processo de participação em que a sociedade, os governos, os setores econômicos e sociais sentam-se à mesa para diagnosticar os problemas, entender os conflitos envolvidos e pactuar formas de resolvê-los, de modo a construir o que tem sido chamado de sustentabilidade ampliada e progressiva (NOVAES, p.5).

Neste prospecto, Silva (2011) infere que o consenso político obtido em prol do desenvolvimento sustentável proveniente da conferência parecia ter arquitetado consolidada base para colocar em prática as recomendações da Agenda

21. Deste modo, o autor aponta que uma década após a Rio-92, em 2002, ocorreu a Cúpula de Joanesburgo. Para o autor, cabe ressaltar que o período entre as duas cúpulas foi um período de forte crescimento econômico, especialmente devido ao fim da bipolaridade proveniente da Guerra Fria e da progressiva integração chinesa do modelo capitalista ao seu modo de produção. Outrossim, a ampliação dos fluxos de transações comerciais e financeiras e o avanço tecnológico do período são apontados como fatores que fortaleceram o processo de globalização vigente, embora tal padrão não tivesse como princípio central o desenvolvimento sustentável. Portanto, Silva (2011, p.4) afirma que a Conferência de Joanesburgo objetivou “promover uma revisão decenal do progresso alcançado na implementação dos resultados da Rio-92”.

Lago (2006) aponta que apesar dos esforços negociados na década anterior no Brasil tivessem apontado o caminho para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, a execução dos compromissos assumidos apontou um revés aos ânimos dos ambientalistas. Frente ao ímpeto econômico do período, a década entre as cúpulas foi marcada também pelo menor interesse político em suprir a demanda da sustentabilidade, bem como pela redução da multilateralidade apregoada dez anos atrás perante a falta de resultados objetivos daí decorrentes. O pessimismo frente à cúpula sul-africana foi tamanho que o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Atta Annan, um mês antes da realização da conferência, afirmou que o período entre a Rio-92 e Joanesburgo foi um estágio de progresso lento e aprofundamento da crise ambiental. À vista disso, Silva (2011, p.5) afirma que “apesar do enriquecimento do arcabouço jurídico negociado no âmbito da ONU [...], a dificuldade de implementação dos compromissos era inegável”.

Segundo a Organização das Nações Unidas (2002), a Declaração de Joanesburgo reiterou os princípios abordados em outros encontros acerca do desenvolvimento sustentável e, deste modo, a conferência foi uma reafirmação com o compromisso perante a intersecção social, ambiental e econômica do desenvolvimento. Ressaltou-se, neste aspecto, a premência de um esforço global em prol da erradicação da pobreza, da urgência da modificação nos padrões de consumo e produção, bem como foi novamente destacado o dever em proteger e adequar o manejo dos recursos naturais.

Para Diniz (2002), a Declaração de Joanesburgo trouxe poucas novidades em termos de desenvolvimento sustentável ao contexto do novo século. Alguns objetivos foram detalhados, concomitantemente à afirmação da continuidade de diversos problemas ambientais em escala global, dentre eles aspectos associados à globalização, visto que comumente seus benefícios e custos são distribuídos de forma irregular e desigual no planeta. Portanto, embora o período entre as duas conferências não tenha apresentado grandes avanços em razão da priorização do aspecto econômico no período antecedente à segunda cúpula, o autor destaca o combate a adversidades à vida e à dignidade humana como maior fruto da Conferência de Joanesburgo. Neste prospecto, firmaram-se metas para a erradicação da pobreza, a proteção ambiental, o acesso à água potável e a proteção à biodiversidade, além de temas espinhosos em negociações passadas, como energias renováveis e responsabilidade corporativa.

De acordo com o Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico (2013), cinco anos mais tarde, em 2007, durante o discurso de abertura da 62ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs que a realização da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente ocorresse no Brasil. Segundo a resolução da Assembleia Geral, a Conferência seria um fórum para avaliar o progresso alcançado até então em termos dos compromissos assumidos nas conferências precedentes ao encontro e teria como pauta a perquirição pela resolução de desafios novos e emergentes. Desta forma, os temas centrais discutidos durante a cúpula foram a economia verde no contexto do desenvolvimento e a erradicação da pobreza.

Isto posto, duas décadas após a Rio-92, realizou-se no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Segundo a Organização das Nações Unidas (2012a), reuniram-se novamente governos, instituições internacionais e setores-chaves da sociedade a fim de adotar medidas em prol da redução da pobreza, concomitantemente à promoção do trabalho decente, de energias limpas e do uso sustentável dos recursos. A renovação do compromisso político frente ao desenvolvimento sustentável, a análise dos resultados obtidos até o presente momento e a abordagem dos novos desafios emergentes foram os principais objetivos da Conferência. Deste modo, a Rio+20 foi considerada mais uma oportunidade para fomentar o senso de propósito comum e a

responsabilidade coletiva entre governos, empresas, investidores, cidadãos, consumidores, trabalhadores e educadores na definição dos caminhos para um mundo mais seguro, igualitário, limpo e próspero para todos. Segundo Kunzler (2012), além de verificar o progresso e as lacunas na implementação das decisões tomadas nas principais conferências anteriores sobre o tema, a Rio+20 pretendia discutir formas de melhorar a coordenação e a eficácia das atividades desenvolvidas pelas Nações Unidas com vias de aperfeiçoar a atuação das instituições ligadas aos pilares social, ambiental e econômico do desenvolvimento.

Para Guimarães e Fontoura (2012), a humanidade nunca esteve tão próxima de vivenciar os efeitos da fragilidade de sistemas vitais para a vida no planeta e, por conseguinte, a convocação da Rio+20 renovou as expectativas sobre o avanço na transição à uma sociedade global sustentável. Sobre o remodelamento dos padrões vigentes, Naredo (1997) pontua que a transição à sustentabilidade infere drásticas transformações nos padrões de articulação entre o homem e a natureza e que o uso meramente político do conceito de desenvolvimento sustentável desprovido de significado social de mudança incorre na deterioração da vida sobre a Terra. Silva (2012) destaca, no entanto, discrepâncias no cenário internacional durante as duas conferências realizadas no Rio de Janeiro. Para o autor, ao passo que o início da década de noventa foi um período de renovação da crença no multilateralismo frente aos problemas mundiais devido ao colapso do comunismo e o consequente fim da era bipolar, o pano de fundo da Rio+20 foi marcado por uma crise econômica iniciada em 2008 e de proporções incomuns desde a Segunda Guerra Mundial, com forte reverberação em economias desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos e na Europa. Assim, devido ao foco europeu e norte-americano em favor de temas econômico-financeiros, a liderança do