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Os objetivos de desenvolvimento sustentável enquanto legado e aperfeiçoamento dos objetivos de desenvolvimento do milênio da organização das Nações Unidas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JEAN CARLOS SCHRÖDER

OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ENQUANTO LEGADO E APERFEIÇOAMENTO DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO

DO MILÊNIO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS Florianópolis 2015

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JEAN CARLOS SCHRÖDER

OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ENQUANTO LEGADO E APERFEIÇOAMENTO DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO

DO MILÊNIO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr. Florianópolis

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JEAN CARLOS SCHRÖDER

OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ENQUANTO LEGADO E APERFEIÇOAMENTO DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO

DO MILÊNIO DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 16 de novembro de 2015.

_______________________________________________________________ Prof. e Orientador José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Prof. Paulo Roberto Ferreira, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Prof. João Batista da Silva, Msc.

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Dedico este trabalho de conclusão de curso ao maior exemplo de vida de todos, Bernardete Ana Bortoli Schröder.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha mãe, Bernardete, por prover a criação de seus quatro filhos com muita luta e por não deixar que nos faltasse nada que estivesse ao seu alcance, especialmente afeto.

Às minhas irmãs, Shana e Dinara, pelo companheirismo de uma vida compartilhada e por trazerem uma conotação especial ao carinho fraterno.

À minha sobrinha, Clara, pela alegria de viver e, especialmente, por personificar o significado de amor incondicional.

Ao meu namorado, Luiz Ricardo, pelo amor que simplesmente acontece e pela grandeza dos nossos sentimentos.

Aos amigos de uma vida, os antigos e os mais recentes, pela qualidade da nossa relação e por terem sido pacientes no decorrer deste ano.

Agradeço, em nome da queridíssima Ingrid, aos colegas que se tornaram amigos pelos anos de convivência e pelos anos que virão e que espero tê-los próximos de mim.

Agradeço, em nome da Professora Kátia, aos bons mestres que nos guiaram nestes anos de aprendizado, tanto pela qualidade de seus ensinamentos em sala de aula quanto pela afabilidade e carinho mútuo construídos na nossa relação. Deste modo, agradeço especialmente a orientação do português mais manezinho desta ilha, Professor Baltazar, pela excelência profissional e pela atenção despendida.

Por fim, e em equivalente relevância, agradeço a mim mesmo, sem citar razões, simplesmente pela conclusão desta pesquisa.

A todos os envolvidos, muito obrigado!

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São as nossas escolhas que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades.

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RESUMO

O presente estudo discute a importância e a influência da adoção de objetivos claros e mensuráveis, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, através da Organização das Nações Unidas em busca do desenvolvimento. Deste modo, caracteriza-se a pesquisa através de sua natureza básica, abordagem qualitativa de caráter exploratório, em consonância com procedimento bibliográfico e documental. Para tanto, estão presentes neste artigo a caracterização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, a definição de desenvolvimento sustentável, pobreza, assim como o caminho percorrido até a definição dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Esta conceituação permite uma análise multifocal em torno dos objetivos definidos, com a mensuração dos resultados atingidos pelos países signatários da Declaração do Milênio e permite visualizar as novas metas atreladas a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 das Nações Unidas.

Palavras-chave: Organização das Nações Unidas. Desenvolvimento. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

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ABSTRACT

This paper discusses the importance and influence of the adoption of clear and measurable objectives, including the Millennium Development Goals and Sustainable Development Goals, through the United Nations in pursuit of development. Thus, the research is characterized by its basic nature, qualitative exploratory approach, in line with bibliographic and documentary procedure. For this purpose, are presented in this paper the characterization of the Millennium Development Goals, the definition of sustainable development, poverty, as well as the path to the definition of Sustainable Development Goals. This concept allows for a multifocal analysis around the set objectives, the measurement of results achieved by the signatory countries of the Millennium Declaration and allows viewing the new targets linked to the UN Post-2015 Development Agenda.

Key-words: United Nations. Development. Millennium Development Goals. Sustainable Development Goals.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ... 27

Figura 2 – Taxa de pobreza extrema nos países em desenvolvimento ... 74

Figura 3 – Número global de crianças fora da escola em idade escolar ... 77

Figura 4 – Proporção de matrículas em escola primária no Sul da Ásia ... 78

Figura 5 – Número global de mortes de crianças menores de cinco anos ... 80

Figura 6 – Taxa global de mortalidade materna (mortes para cada cem mil nascidos vivos) ... 82

Figura 7 – Taxa global de nascimentos atendidos por profissionais da saúde qualificados ... 83

Figura 8 – Número de pessoas com acesso à água potável, 1990 e 2015 ... 86

Figura 9 – Ajuda Oficial ao Desenvolvimento, 2000 e 2014 ... 88

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia em todo o mundo (milhões) ... 75 Gráfico 2 – Número e proporção de pessoas subnutridas nas regiões em desenvolvimento, entre 1990-1992 e 2014-2016 ... 76 Gráfico 3 – Número de crianças em idade escolar fora da escola, com recorte por regiões selecionadas, entre 1990 e 2015 (milhões) ... 77 Gráfico 4 – Proporção de assentos ocupados por mulheres nos parlamentos nacionais, 2000 e 2015 (percentual) ... 79 Gráfico 5 – Taxa de mortalidade de crianças com idade inferior a cinco anos, 2000 e 2015 (número de mortes para cada mil nascidos vivos) ... 81 Gráfico 6 – Estimativa do número de novas infecções de HIV, 2000 e 2013 (milhares) ... 84 Gráfico 7 – Estimativa da taxa de incidência da malária (casos por cada mil pessoas em risco) e taxa de mortalidade da malária (mortes para cada cem mil pessoas em risco), entre 2000 e 2015 ... 85 Gráfico 8 – Áreas terrestres protegidas, 1990, 2000 e 2014 (percentual) ... 87

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 13

1.2 OBJETIVOS ... 15 1.2.1 Objetivo geral ... 15 1.2.2 Objetivos específicos ... 16 1.3 JUSTIFICATIVA ... 16 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 17 1.4.1 Caracterização da pesquisa ... 18 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ... 19

2 OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO... 21

2.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E O PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO ... 21

2.2 A DECLARAÇÃO DO MILÊNIO E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO ... 25

2.2.1 Primeiro objetivo: acabar com a fome e a miséria ... 29

2.2.2 Segundo objetivo: educação básica de qualidade para todos ... 32

2.2.3 Terceiro objetivo: igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres ... 35

2.2.4 Quarto objetivo: reduzir a mortalidade na infância ... 37

2.2.5 Quinto objetivo: melhorar a saúde materna ... 40

2.2.6 Sexto objetivo: combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças ... 43

2.2.7 Sétimo objetivo: garantir a sustentabilidade ambiental ... 46

2.2.8 Oitavo objetivo: estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento ... 49

2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CAPÍTULO...52

3 A ERRADICAÇÃO DA POBREZA COMO CONDICIONANTE PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 55

3.1 A POBREZA E A FOME: DOIS MALES INDISSOCIÁVEIS ... 55

3.2 BEM-ESTAR E POBREZA ... 57

3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CONCEITUAL ... 62

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3.2 OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 89

3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 93

3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CAPÍTULO ... 96

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 100

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1 INTRODUÇÃO

Desenvolver um trabalho de pesquisa acerca um tema atual outorga algumas especificidades ao pesquisador, como o fato de tal análise não externar, por ora, um resultado final ou a premissa de que a ação unilateral de um Estado pode modificar as perspectivas da investigação a ser apresentada. Estudar uma temática relevante socialmente e com diferentes abordagens traz, contudo, ânimo e motivação ao acadêmico, instigando-o a desenvolver este levantamento sobre o desenvolvimento sustentável e a tornar esta temática um Trabalho de Conclusão de Curso.

Neste capítulo introdutório, serão apresentadas a exposição do tema e do problema, objetivos geral e específicos, a justificativa, a metodologia e a estrutura da pesquisa.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

Os abusos totalitaristas que assombraram vários países europeus e que ocasionaram a Segunda Guerra Mundial solidificaram a percepção de Immanuel Kant de que regimes democráticos apoiados nos direitos humanos eram os mais congruentes à manutenção da paz e da segurança internacionais. Emerge daí a necessidade de apoiar em normas internacionais o ideal das liberdades fundamentais (LAFER, 1995).

A perquirição da defesa dos direitos naturais, a manutenção da paz mundial – firmando-se contra qualquer tipo de conflito armado, a busca por mecanismos que promovam o progresso social das nações e a criação de condições que mantenham a justiça e o direito internacional levou cinquenta e um Estados-Nação, após a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a fundarem a Organização das Nações Unidas (ONU). A Carta Constitutiva da organização registra o seu intento na manutenção de relações profícuas entre as nações, com vias de garantir a paz no sistema internacional e na contínua colaboração dos Estados para tal fim e, como pontua em seu primeiro capítulo, aspira à “[...] ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns [...]” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

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Conforme o site oficial da organização, atualmente, 193 Estados são membros das Nações Unidas, representados no órgão deliberativo, a Assembleia Geral. Outrossim, devido às faculdades conferidas por sua Carta Constitutiva e devido ao seu caráter internacional singular, as Nações Unidas podem tomar medidas sobre os problemas que a humanidade enfrenta no século XXI. Com base nesta prerrogativa, no ano de 2000, um conjunto de metas foi estabelecido para a erradicação ou diminuição dos maiores problemas mundiais, dentre eles a pobreza e a fome, a mortalidade infantil e a falta de acesso ao ensino básico. Com a finalidade de tornar o mundo um lugar mais justo e solidário, foram criados os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os quais devem ser cumpridos até o ano de 2015. No Brasil, são chamados de 8 Jeitos de Mudar o Mundo.

Após o término do prazo para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em setembro de 2015, será colocada em prática a Agenda de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas pós-2015. Neste prospecto, o documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, definiu um mandato para estabelecer um Grupo de Trabalho Aberto com o intuito de desenvolver um conjunto de objetivos para o desenvolvimento sustentável. De maneira complementar, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável buscam fortalecer e aprimorar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio na Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Assim, nos moldes dos Objetivos do Milênio, foram acordados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 17 objetivos e 169 metas sobre questões de desenvolvimento sustentável apresentados no documento, que irão pautar a nova Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas após 2015, quando expira o prazo para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

A declaração final da Rio + 20, em documento intitulado “O Futuro Que Queremos”, pontua que:

Reconhecemos [Organização das Nações Unidas] que para atingir o objetivo da Conferência, ou seja, para assegurar um compromisso político renovado para o desenvolvimento sustentável, bem como abordar os temas de uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e do quadro institucional para o desenvolvimento sustentável, devemos nos comprometer em preencher as lacunas que subsistem na implementação dos resultados das grandes cúpulas do desenvolvimento sustentável, em enfrentar os novos desafios e os já existentes [...]. Reconhecemos que as metas, os objetivos e os indicadores,

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inclusive, os indicadores relativos à problemática de gênero, são valiosos para medir e acelerar o progresso (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2012a, p.22).

Durante a apresentação do relatório-síntese sobre o trabalho desenvolvido para a definição e negociação da agenda pós-2015, que inclui os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, destacou que 2015 é o ano mais importante para o desenvolvimento desde a criação das Nações Unidas. Destacou, outrossim, que a criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é uma oportunidade histórica de reafirmar a fé na dignidade e no valor do ser humano e que a Organização das Nações Unidas tem o dever de atuar em prol de tornar a dignidade uma realidade para todos, sem deixar ninguém para trás.

Os fatos discorridos acima guiam o autor à questão central desta pesquisa, que direcionou o desenvolvimento deste trabalho: Qual a relevância da transição dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na promoção do desenvolvimento sustentável?

1.2 OBJETIVOS

Baseados na definição da questão central desta pesquisa serão apresentados na sequência os objetivos deste trabalho, geral e específicos.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral de uma pesquisa possui maior amplitude, configurando-se como meta de longo alcance. Assim, é a contribuição que configurando-se deconfigurando-seja oferecer com a execução do projeto. Portanto, o objetivo geral deste Trabalho de Conclusão de Curso é:

Evidenciar a relevância da transição entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na promoção do desenvolvimento sustentável.

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1.2.2 Objetivos específicos

Ao passo que o objetivo geral atende ao conceito do trabalho em sua totalidade, os objetivos específicos são voltados ao atendimento de questões mais particulares da pesquisa. Representam, portanto, um meio de atender especificidades encontradas no desenvolvimento do trabalho. Com vias de assestar e complementar o objetivo geral, seguem os objetivos específicos a serem auferidos no decorrer do trabalho:

a) Caracterizar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; b) Conceituar pobreza e desenvolvimento sustentável;

c) Contextualizar desenvolvimento sustentável e sua relação com a erradicação da pobreza na criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

1.3 JUSTIFICATIVA

Justificar uma pesquisa de tamanha relevância é, concomitantemente, um dever simples e árduo. Simples devido à importância de semear o conhecimento sobre a necessidade da criação de um desenvolvimento sustentável para garantir o futuro das próximas gerações. Especialmente árduo devido à crescente individualização do ser humano, com pautas personalíssimas e desprovidas de preocupações com o próximo, inclusive com o amanhã do planeta. Este trabalho legitima-se, portanto, pela pertinência em propalar o Desenvolvimento Sustentável com o uso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a fim de atingir melhores níveis de bem estar social global, visando desta forma, alcançar a ampliação das opções de escolhas do homem, para que cada indivíduo tenha a capacidade e a oportunidade de ter uma qualidade de vida mais adequada.

A expansão do conhecimento é singular na História da humanidade. Através das mídias, tenham elas qualquer natureza, o acesso à informação ocorre em tempo real ou muito próximo a isso. Assuntos outrora distantes da realidade da população são acessados em segundos. Dentre as pautas em discussão, a sustentabilidade permeia o debate de pessoas comuns. Deste modo, buscar, ler, reler e publicar ideias previamente existentes visa engrandecer a formação do

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aprendizado e a definição de uma conclusão pessoal acerca do tema em pauta. Enquanto acadêmico, a pretensão é incorporar os estudos deste trabalho para contribuir tanto para o conhecimento, aperfeiçoamento e desenvolvimento pessoal, como também para a instituição, agregando valores numa cadeia produtiva. Portanto, pretende-se, com o término deste trabalho, compreender o processo de criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a posição destes na Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas.

Tratando-se de um objeto de pesquisa atual e que se refere a questões que envolvem política internacional, diplomacia e direitos humanos, dentre outros, o tema em foco poderá contribuir para uma melhor compreensão do papel da Organização das Nações Unidas em uma questão global, podendo ser usado como fonte por outros acadêmicos, pesquisadores ou interessados no assunto. Além disto, do ponto de vista científico, pretende-se analisar e aprofundar o conhecimento acerca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da sua implementação como parte integrante da Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas. Profissionalmente, a aplicação dos instrumentos descritos nesta pesquisa para o aprimoramento das atividades de uma empresa privada ou órgão público poderia impactar diretamente no bem estar comum, sendo este outro destaque positivo quanto à elaboração deste projeto de pesquisa.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Devido à relevância do tema deste projeto, diferentes abordagens de investigação foram empregadas, com a utilização de conhecimentos teóricos e práticos de pesquisa que objetivam o desenvolvimento do conhecimento. Segundo Andrade (1998, p.101) “pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”. Oliveira (1998, p.57), por sua vez, aponta que “o Método deriva da Metodologia e trata do conjunto de processos pelos quais se torna possível conhecer uma determinada realidade, produzir determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos”.

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Isto posto, seguem as diretrizes deste projeto, bem como as classificações específicas da pesquisa.

1.4.1 Caracterização da pesquisa

No que concerne às classificações específicas de pesquisa existentes, neste projeto a segmentação destas ocorreu quanto à natureza, à abordagem do problema, objetivos e procedimentos. Para compreender a natureza desta pesquisa, faz-se necessário entender sua definição, que para Gil (1999, p. 42) “busca o progresso da ciência sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas”. Desta forma, quanto à natureza, neste trabalho inexistem finalidades práticas imediatas – além de gerar conhecimento – caracterizando-se, então, como uma pesquisa básica. Esse tipo de pesquisa não implica, em um primeiro momento, ação interventiva e transformação da realidade social, tendo por finalidade o conhecer por conhecer (BARROS; LEHFELD, 2000).

O objeto de pesquisa é o desenvolvimento e a abordagem qualitativa justifica-se neste caso através da análise, compreensão e classificação de processos dinâmicos experimentados, com a apresentação de contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões (OLIVEIRA, 1998). Não utilizar técnicas estatísticas não significa que a análise qualitativa seja meramente especulação subjetiva, visto que “[...] esse tipo de análise tem por base conhecimentos teórico-empíricos que permitem atribuir-lhe cientificidade” (VIEIRA, F.; ZOUAIN, p.17). A pesquisa qualitativa possui, portanto, para Oliveira (1998, p.117) “a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema [...]”. Deste modo, faz-se possível analisar as especificidades do processo de criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Com a finalidade de amparar a análise qualitativa na abordagem da pesquisa, a forma de investigação escolhida quanto aos objetivos é a pesquisa de caráter exploratório. Para Gil (1999, p. 43), “a pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Nesta etapa do desenvolvimento do trabalho é realizado um levantamento do material para análise do tema central e o autor deste projeto

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utilizar-se-á de documentos e bibliografias ligados diretamente ao objeto de estudo, sendo assim fonte de informação: periódicos, manuscritos, documentos oficias, livros, folhetos, pesquisas, monografias, teses e inclusive meios de comunicação orais (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Os procedimentos utilizados para realização deste projeto foram a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental. Para Oliveira (1998, p.119), “a pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno.” A pesquisa bibliográfica assemelha-se, desta forma, à pesquisa documental, sendo que a diferença destas se encontra na natureza das fontes, onde Gil (1999, p.66) aponta que “a pesquisa documental vale-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico”. Por conseguinte, esta pesquisa baseou-se em acervos virtuais, livros e artigos científicos produzidos sobre o tema que continham informações relevantes ao conteúdo do objeto de estudo. Desta forma, este procedimento de investigação busca examinar o tema sob um novo ponto de vista. As palavras chave utilizadas foram Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Desenvolvimento Sustentável, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Rio+20 e Sustentabilidade.

Primeiramente, esta pesquisa utilizar-se-á amplamente de dados referentes aos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas e, em um segundo momento, será feita uma abordagem acerca da relação entre o fim da pobreza e desenvolvimento sustentável, tratando sobre o processo de criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas pós-2015. Partindo desta análise, o autor enfatizará a promoção do desenvolvimento sustentável através da adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assumidos em decorrência da Rio+20.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

A estrutura desta pesquisa está dividida em quatro capítulos. No primeiro, encontram-se a introdução, o tema do trabalho, sua delimitação e problemática. São apontados, ademais, os objetivos – geral e específicos –, a justificativa e os procedimentos metodológicos utilizados na construção do trabalho. O segundo

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capítulo, por sua vez, apresenta a revisão bibliográfica do trabalho, visando aprofundar o conhecimento acerca do tema em voga. Deste modo, encontra-se no segundo capítulo a criação e delimitação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas. Responde-se, logo, ao primeiro objetivo específico neste capítulo.

O terceiro capítulo trata sobre a pobreza como fator limitante ao desenvolvimento sustentável, abordando tanto a definição de pobreza quanto o conceito de desenvolvimento sustentável, iniciando com uma abordagem histórica e evolutiva do tema até os dias atuais. Após a delimitação dos termos, trata-se sobre os resultados atingidos pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e, ao final do capítulo, destaca-se a relevância da criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para dar continuidade às ações das Nações Unidas na Agenda de Desenvolvimento pós-2015. Respondem-se, portanto, ao segundo e terceiro objetivos específicos neste capítulo.

O quarto capítulo apresenta as considerações finais sobre o trabalho realizado. Encerra-se o trabalho, por fim, com o apontamento do referencial bibliográfico utilizado na elaboração desta pesquisa.

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2 OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

Neste capítulo serão apresentadas as ideias de diferentes autores com vias de sustentar e integrar as etapas desta pesquisa. Pretende-se montar uma estrutura com a intersecção de estudos e informações para fundamentar a revisão bibliográfica deste trabalho. Desta forma, serão incluídos os tópicos relevantes para a consecução dos objetivos essenciais do projeto. Primeiramente, será feita uma explanação acerca da Organização das Nações Unidas e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Na sequência, o autor caracterizará os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, destacados na Declaração do Milênio.

2.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO

As relações interestatais têm uma longa história, todavia o seu desenvolvimento sob a luz de organismos internacionais tem seu nascedouro em um passado muito recente, com surgimento datado do início do século XIX. Segundo Herz e Hoffmann (2004), as organizações trazem ao cenário internacional o multilateralismo, com a outorga moral aos atores internacionais da premissa do respeito às regras, criando assim uma via capaz de coordenar o relacionamento profícuo entre as nações. Para Moreira (1996) reside aí um grande percalço para as organizações internacionais: a moral, visto que a prevalência de um poder com autoridade supranacional interfere na anarquia do sistema, bem como no protagonismo do Estado-Nação como ator principal das relações internacionais.

Predecessora das Nações Unidas, a Sociedade das Nações foi idealizada pelos Estados Unidos ainda anteriormente a Primeira Guerra Mundial. Após o trauma deste embate, materializou-se a necessidade de criar um mecanismo capaz de ser um sustentáculo do equilíbrio no período pós-guerra. Os Estados Unidos – novo centro da política internacional, visto a divisão europeia entre Estados capitalistas liberais, Estados fascistas e a Rússia Comunista e frente a todas as cicatrizes de guerra – estimulou a criação de uma organização internacional que tivesse como fim a identificação e resolução de qualquer ameaça à paz e à segurança internacionais. Em visto disso, acabou fundada através de um pacto, a

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Sociedade das Nações, em 1919. Sua fissura ocorreu em seu principal norte: evitar um novo conflito em nível global. Duas causas principais favoreceram sua falência: a discrepância entre os vencedores e os vencidos no que concerne aos termos de paz e imposições sobre os derrotados e a não adesão do estado idealizador – Estados Unidos – à Liga das Nações, descaracterizando, por conseguinte, a relevância desta organização para a manutenção da estabilidade internacional (XAVIER, 2007).

Manteve-se inalterado, portanto, o relacionamento de resguarda entre as nações, embora fosse latente a urgência de criar um fórum com capacidade para discutir a resolução de conflitos comuns ao futuro da humanidade. Especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, fez-se necessário institucionalizar as relações internacionais e, deste modo, ocorreu uma mudança no centro da discussão e de decisão de processos relativos a um amplo número de matérias, antes de ponderação exclusiva de governos nacionais para sua apreciação por organizações internacionais (CRETELLA NETO, 2007). Com vias de lograr êxito a este objetivo, cinquenta e um países assinaram a Carta de São Francisco, após o término da Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, no dia vinte e seis de junho de 1945, dando origem a Organização das Nações Unidas (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

O primeiro objetivo da nova organização foi a segurança, com atuação capaz de restaurar a paz abalada por dois conflitos de proporções universais em menos de meio século. Sua carta constitutiva garantiu a inclusão da possibilidade de ações preventivas por parte da organização no sentido de impedir a ruptura do equilíbrio no sistema internacional, caracterizando como inimigo da organização não apenas a guerra, mas sim a ameaça de guerra (SEITENFUS, 2000). No entanto, a atuação da organização, enquanto entidade distinta e independente de seus membros individuais, não se exaure nas previsões de sua Carta Constitutiva (TRINDADE, 2003). Embora a imagem da organização seja comumente associada a seu propósito primordial – manutenção da paz e da segurança internacionais – o enunciado do primeiro artigo de sua constituição pontua seus objetivos, de forma ampla, a fim de incluir em seu escopo de atuação diversas áreas de intervenção na sociedade internacional, como cooperação econômica, social, política, humanitária, cultural, militar ou técnico-científico. Desta forma, a cooperação no âmbito multilateral do sistema internacional deve incluir de forma abrangente todas as suas

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ligações, tais como em suas relações sociais, econômicas, culturais ou de áreas específicas (XAVIER, 2007).

Portanto, o sistema intergovernamental das Nações Unidas é caracterizado como o organismo de maior universalidade na negociação de normas internacionais, com personalidade jurídica própria, assumindo posturas e qualificando ideias dentro dos limites estabelecidos por seus membros constituintes. O Sistema ONU, especialmente após o fim da Guerra Fria, corroborou no processo de intensificação da globalização, gerando maior interdependência entre as nações através do modelo ocidental de organização e governança das sociedades nacionais, com base no tripé formado por economia de mercado, democracia e direitos humanos (HERZ; HOFFMANN, 2004). Neste prospecto:

As atividades da Organização das Nações Unidas são de grande amplitude, pois a sua ação abrange uma área imensa no conjunto internacional. Destarte, para que possa exercer as suas diligências, a Organização se vale da cooperação de vários organismos criados por acordos intergovernamentais e a ela vinculados e que aspiram a melhorar as condições econômicas, sociais, culturais, educacionais e sanitárias de todos os Estados [...] (AMORIM, 2002, p.55).

Decorre da abrangência da atuação da organização a necessidade de descentralizar e flexibilizar o sistema, com o intuito de assegurar coerência e coordenação internas aos seus objetivos. Porquanto, instituições especializadas e organismos subsidiários foram criados pela organização com atribuições internacionais em domínios de diferentes esferas, sendo possível destacar que estes órgãos estão sob a égide da Organização das Nações Unidas (XAVIER, 2007). Com vias de desburocratizar as atividades das Nações Unidas e tornar suas ações mais eficazes no que concerne ao desenvolvimento dos países membros, durante a XX Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1965, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (UNITED NATIONS, 1965).

Sua instituição visou proporcionar aos países o alcance de soluções para os desafios do desenvolvimento em seus diferentes níveis, caracterizando o órgão como um relevante financiador e coordenador para as tarefas relacionadas a este tema dentro das Nações Unidas. A sua formação, portanto, objetivou unificar as operações referentes ao desenvolvimento através da transferência de tecnologia, formação de recursos humanos e a criação de estruturas aptas para enfrentar os

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desafios de uma política de desenvolvimento dos países membros (SEITENFUS, 2000). Enquanto líder global de uma rede de desenvolvimento das Nações Unidas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento desenvolve suas atividades em mais de cento e sessenta países e tem como norte principal eliminar a pobreza e a fome do mundo, bem como promover o desenvolvimento dos países, a governança em moldes democráticos, a prevenção e vias de recuperação para crises, a proteção do ambiente e o combate às alterações climáticas. O financiamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é feito de forma integral por contribuições voluntárias dos países-membros e conta com um orçamento anual de aproximadamente US$5 bilhões/ano (UNITED NATIONS, 2011). Cabe destacar que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é responsável pela publicação do Relatório de Desenvolvimento Humano, documento que proporciona uma visualização do grau de desenvolvimento humano nas diferentes regiões do mundo (MACHADO; PAMPLONA, 2008). Na esteira destes relatórios, o economista paquistanês Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen criaram os conceitos de Desenvolvimento Humano e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), fatores de grande destaque no que tange a prática do desenvolvimento econômico ao redor do mundo. A medição tem como base três critérios: longevidade, nível educacional e poder de compra, ou seja, saúde, educação e renda. A intersecção destas três variáveis é, portanto, uma medida geral e sintética para avaliar o desenvolvimento humano (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2015a).

Anteriormente negligenciado nas análises de crescimento, o ser humano passa a ser protagonista do desenvolvimento como principal meio para atingir seu logro. O elemento humano é, portanto, um meio para chegar ao objetivo final e, concomitantemente, uma ferramenta a ser incorporada na avaliação de desenvolvimento (ANAND; SEN, 2000). Deste modo, a ideia de desenvolvimento pauta-se especialmente na esfera humana, frente ao predomínio das esferas econômica, política e social. Buscando dar centralidade ao ser humano, a ideia do programa é expandir as escolhas e oportunidades de cada pessoa, objetivando o desenvolvimento do homem e não a acumulação de riquezas (SHISHITO; REZENDE, [2015]).

(25)

Assim, através da evolução das atividades ligadas ao desenvolvimento humano, as Nações Unidas buscam acompanhar o avanço de alguns dos objetivos do programa e através dos relatórios anuais a organização visa destacar a relevância da produção nacional em prol das metas para a dignidade do homem e assim verificar o quanto de seu progresso é transformado em desenvolvimento para as sociedades (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 1990). É possível destacar ainda que os números apresentados pelo programa refletem dados de uma sociedade global altamente diversificada e desta forma cria-se uma nova orientação ao direcionar os esforços para a esfera humana do desenvolvimento, apresentando uma mudança na atuação das nações e das organizações multilaterais no que concerne a implementação e execução de políticas públicas (SHISHITO; REZENDE, [2015]). Atualmente, a principal meta do programa é assegurar que os países em desenvolvimento tenham a capacidade para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

2.2 A DECLARAÇÃO DO MILÊNIO E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

Inúmeros foram os experimentos de coletivismo ao longo do último século. No entanto, dois conflitos de projeção mundial e a bipolaridade subsequente ao segundo embate criaram um sistema que impediu o protagonismo de organismos internacionais nas relações internacionais. Apenas após o fim da Guerra Fria, durante a década de 1990, ficou patente a necessidade de criar convergências no que concerne ao atendimento das novas demandas da agenda de desenvolvimento no sistema internacional, bem como se fez necessário adequar esta pauta aos interesses da sociedade (ALMEIDA, 2004). Deste modo, na última década do século passado, diferentes conferências sociais mobilizaram a comunidade internacional. O escopo destas incluiu diferentes áreas de atuação das Nações Unidas e temas de grande relevância do cenário internacional como direitos humanos, direitos da criança e da mulher, meio ambiente e desenvolvimento social e econômico permearam as discussões. A intersecção do resultado destas conferências pode ser classificada como um embrião para a vindoura Declaração do Milênio (KORBES, 2011).

(26)

Levando em conta o posicionamento de reuniões regionais que caracterizaram as suas especificidades e após o Fórum do Milênio, que permitiu que as considerações da sociedade civil fossem ouvidas, chega à contemporaneidade e durante a maior reunião de dirigentes mundiais até então, a Cúpula do Milênio, em promoção das Nações Unidas, firmou-se um documento que compõe os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: a Declaração do Milênio, assinada no ano de 2000. Contemplaram a firmação deste documento Chefes de Estado e de Governo de quase duzentos países, firmando os novos desafios socioeconômicos vigentes, com fins de construir uma sociedade global mais sustentável e rica, porém menos desigual (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000).

Para Rezende (2008), a cúpula serviu para a obtenção de respostas frente aos principais desafios sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais que vieram pautar a agenda de desenvolvimento que o novo século trouxe consigo. Neste prospecto, em nível nacional, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento objetiva contribuir para este fim e por intermédio da cooperação técnica e em parceria com o governo brasileiro, o setor privado e a sociedade civil, tem a missão de alinhar seu trabalho às necessidades de desenvolvimento do país (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2015).

Assim, os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas são metas para as nações atingirem até o ano de 2015, com a intersecção entre oito áreas consideradas essenciais para a consecução do objetivo de tornar o mundo um lugar mais sustentável e menos desigual. Estão elencados abaixo os Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio:

(27)

Figura 1 – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2015)

Outras necessidades, segundo Kofi Atta Annan, então Secretário-Geral das Nações Unidas, são o combate à:

[...] injustiça e a desigualdade, o terror e o crime, e que protegêssemos [Organização das Nações Unidas] o nosso patrimônio comum, a Terra, em benefício das gerações futuras. Na Declaração, os dirigentes mundiais deram indicações claras sobre como adaptar a Organização ao novo século. Estão preocupados – aliás, justamente – com a eficácia da ONU. Querem ação e, acima de tudo, resultados. Pela minha parte, renovo a minha dedicação e a do meu pessoal ao cumprimento deste mandato. Mas, em última análise, são os próprios dirigentes que são as Nações Unidas. Está ao seu alcance, e, portanto, compete a eles, alcançar os objetivos que definiram. A eles e àqueles que os elegeram, os povos do mundo, digo: só vós podeis decidir se a ONU estará à altura do desafio (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000, prefácio).

Dentre os objetivos traçados durante a cúpula, cruzam-se ações de diferentes esferas e que se referem ao amplo escopo de atuação das Nações Unidas. Cabe destacar, no entanto, o foco central no estabelecimento do combate a extrema pobreza e a fome no mundo até 2015, com objetivo de erradicá-las. Para tal, é necessário convergir esforços tanto de governos, quanto de cidadãos, instituições e organizações em ações do cotidiano (KORBES, 2011). A adesão dos países à Declaração reafirma, outrossim, os propósitos e princípios presentes na Carta das Nações Unidas como valores atemporais e de caráter universal. O ser humano torna-se, enquanto centro e maior beneficiário da Declaração do Milênio,

(28)

protagonista do processo desenvolvimentista. Definiu-se, portanto, uma escala de necessidades humanas intrínseca aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, sendo possível destacar que, por fim, a dignidade humana é a maior meta a ser alcançada no que concerne ao desenvolvimento (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000).

Segundo a Declaração do Milênio, determinados valores fundamentais são essenciais para as relações internacionais neste novo século. É possível destacá-los entremeados aos Oito Jeitos de Mudar o Mundo, tais como:

A liberdade. Os homens e as mulheres têm o direito de viver a sua vida e de criar os seus filhos com dignidade, livres da fome e livres do medo da violência, da opressão e da injustiça. A melhor forma de garantir estes direitos é através de governos de democracia participativa baseados na vontade popular.

A igualdade. Nenhum indivíduo ou nação deve ser privado da possibilidade de beneficiar do desenvolvimento. A igualdade de direitos e de oportunidades entre homens e mulheres deve ser garantida.

A solidariedade. Os problemas mundiais devem ser enfrentados de modo a que os custos e as responsabilidades sejam distribuídos com justiça, de acordo com os princípios fundamentais da equidade e da justiça social. Os que sofrem, ou os que beneficiam menos, merecem a ajuda dos que beneficiam mais.

A tolerância. Os seres humanos devem respeitar-se mutuamente, em toda a sua diversidade de crenças, culturas e línguas. Não se devem reprimir as diferenças dentro das sociedades, nem entre estas. As diferenças devem, sim, ser apreciadas como bens preciosos de toda a humanidade. Deve promover-se ativamente uma cultura de paz e diálogo entre todas as civilizações.

Respeito pela natureza. É necessário atuar com prudência na gestão de todas as espécies e recursos naturais, de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável. Só assim poderemos conservar e transmitir aos nossos descendentes as imensuráveis riquezas que a natureza nos oferece. É preciso alterar os atuais padrões insustentáveis de produção e consumo, no interesse do nosso bem-estar futuro e no das futuras gerações.

Responsabilidade comum. A responsabilidade pela gestão do desenvolvimento econômico e social no mundo e por enfrentar as ameaças à paz e segurança internacionais deve ser partilhada por todos os Estados do mundo e ser exercida multilateralmente. Sendo a organização de caráter mais universal e mais representativa de todo o mundo, as Nações Unidas devem desempenhar um papel central neste domínio (ORGANIZAÇÃO NAS NAÇÕES UNIDAS, 2000, p. 3-4).

Com vias de transformar estes valores em medidas eficazes, as Nações Unidas definiram um conjunto de objetivos durante a Cúpula do Milênio, outorgando aos diferentes atores capazes de aperfeiçoar o processo de desenvolvimento a aptidão de lutar pela consecução das garantias básicas do homem. O Projeto do Milênio, iniciativa elaborada pelo Secretariado das Nações Unidas, em conjunto com

(29)

especialistas de diversas áreas, sob a liderança do economista estadunidense Jeffrey Sachs, projeta a execução de um plano global que permite aos países alcançarem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O projeto propõe-se a desenvolver um plano de ação que possibilite reverter à pobreza, a fome a as várias doenças epidêmicas que afetam bilhões ao redor do mundo, dividindo-se em objetivos, metas e indicadores. A utilização destes parâmetros visa medir o progresso atingido em relação aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e cabe destacar que a principal recomendação do projeto é para que as estratégias nacionais e internacionais de combate à pobreza devem pautar-se, de forma central, nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (LIBOREIRO, 2006).

2.2.1 Primeiro objetivo: acabar com a fome e a miséria

Desde o nascedouro das Nações Unidas, o mundo atravessou um desenvolvimento econômico sem precedentes na história do homem. O desmantelamento gradual e progressivo das barreiras comerciais e a mobilidade de capitais possibilitaram o avanço da globalização, potencializado pelo progresso tecnológico e pela descida dos custos dos transportes, das comunicações e da informática. Seus benefícios são perceptíveis e o crescimento econômico das últimas cinco décadas evidencia isso. No entanto, a economia global não pode subjugar-se ao poderio econômico e a sua lógica e, por conseguinte, as Nações Unidas devem assentar-se sobre valores comuns e práticas institucionais estáveis, aspirando a objetivos sociais mais igualitários e justos, visto que embora os países demonstrem aptidão ao crescimento econômico, a pobreza e a fome ainda são realidade para uma em cada seis pessoas deste planeta (ANNAN, 2000).

A definição de pobreza foge ao consenso na literatura econômica, entretanto o significado de maior aceite é determinado por um estado de carência. A utilização de diversas abordagens no que concerne a esta matéria finda em diferentes medidas-sínteses que visam explicar quais aspectos de um indivíduo devem ser mantidos. Portanto, quanto à abordagem das capacidades para dimensionar a pobreza, é verificável o foco nas necessidades básicas e nas capacidades de cada ser humano (DINIZ; DINIZ, 2009). Amartya Sen (2000), um dos criadores do conceito de Desenvolvimento Humano, afirma que a pobreza não

(30)

deve ser entendida apenas como baixo nível de renda – critério tradicional para identificá-la. Segundo ele, a pobreza deve ser analisada como a privação de capacidades fundamentais do homem, fato que não desconsidera a baixa renda como raiz da pobreza, visto que esta pode ser qualificada como primordial para a privação de capacidades de um indivíduo. Portanto, Sen argumenta em favor da abordagem da pobreza como privação das capacidades pontuando que:

1) A pobreza pode sensatamente ser identificada em termos de privação de capacidades; a abordagem concentra-se em privações que são

intrinsecamente importantes (em contraste com a baixa renda, que é

importante apenas instrumentalmente).

2) Existem outras influências sobre a privação de capacidades – e, portanto, sobre a pobreza real – além do baixo nível de renda (a renda não é o único instrumento de geração de capacidades).

3) A relação instrumental entre baixa renda e baixa capacidade é

variável entre comunidades e até mesmo entre famílias e indivíduos (o

impacto da renda sobre as capacidades é contingente e condicional) (SEN, 2000, p. 109-110).

Sen (2000) destaca ainda que um indivíduo, quando capacitado a desenvolver suas habilidades, retorna esta capacidade para a sociedade através da expansão de sua produtividade e seu poder de gerar renda, fator que possibilita a este garantir alimento e saúde. Deste modo, quando plenamente capaz, qualquer indivíduo soma a economia. À vista disso, Korbes (2011) destaca que o cumprimento deste objetivo visa transpor privações extremas que interferem nas capacidades básicas das pessoas e que impedem o desenvolvimento destas de forma adequada em sociedade. A erradicação da pobreza extrema e a da fome compõe o primeiro dentre os Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, fato que demonstra, portanto, sua primazia dentre os desígnios listados na Declaração do Milênio.

Intrínsecas aos objetivos estabelecidos fixaram-se três metas e foram definidos os indicadores a serem utilizados como parâmetros para a análise das ações frente ao propósito de erradicar a pobreza extrema e a fome até 2015. Interseccionados, os indicadores e as metas configuram o Primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio. Portanto, as metas e indicadores deste objetivo são:

Reduzir pela metade a proporção da população com renda inferior a um dólar por dia.

 Proporção da população que ganha menos de 1 dólar (Paridade do Poder de Compra) por dia

(31)

 Índice de hiato de pobreza1 (incidência x grau de pobreza)

 Participação do 1/5 mais pobre da população no consumo nacional2 Alcançar o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente para todos, incluindo mulheres e jovens.

 Taxa de crescimento do PIB por pessoa empregada

 Razão entre emprego e população dos dois sexos

 Porcentagem de pessoas empregadas com renda inferior a 1 dólar (Paridade do Poder de Compra) por dia

 Porcentagem de trabalhadores por conta própria e que contribuem para a previdência social, em relação ao emprego total3

Reduzir pela metade a proporção da população que sofre de fome.

 Prevalência de crianças menores de cinco anos abaixo do peso.

 Proporção da população que não atinge o nível mínimo de crescimento dietético de calorias4 (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2015, tradução nossa)

Destaca-se, neste aspecto, a intenção de reduzir a pobreza pela metade, utilizando como parâmetro de análise a linha da pobreza, cujo valor é de US$1,25 per capita por dia, levando em conta a Paridade do Poder de Compra. Do mesmo modo, reduzir na mesma proporção o número de pessoas que convivem com a mazela da fome configura-se como outra meta intrínseca a este objetivo. Alcançar o emprego produtivo e o trabalho decente para todos é igualmente fundamental para a plena efetivação deste objetivo (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2015).

Portanto, o cumprimento das metas deste objetivo relaciona-se diretamente à abordagem das capacitações destacadas por Sen. Neste prospecto, o ser humano capacitado extirpa a concepção de ser apenas um indivíduo com necessidades, transformando-se em um agente de mudança, que depende das oportunidades que lhes são oferecidas para tornar-se capaz de lutar por seus próprios objetivos de vida (DINIZ; DINIZ, 2009). São estas as razões que colocam o

1

Hiato de pobreza é a distância entre a renda per capita e o custo da cesta básica para a satisfação das necessidades essenciais (CEPAL, Panorama Social da América Latina, 2009).

2

Reduce by half the proportion of people living on less than a dollar a day.

 Proportion of population below $1 (PPP) per day

 Poverty gap ratio

 Share of poorest quintile in national consumption

3

Achieve full and productive employment and decent work for all, including women and young people

 Growth rate of GDP per person employed

 Employment-to-population ratio

 Proportion of employed people living below $1 (PPP) per day

 Proportion of own-account and contributing family workers in total employment

4

Reduce by half the proportion of people who suffer from hunger.

 Prevalence of underweight children under-five years of age

(32)

trabalho digno como meta dentre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, visto que um emprego decente é uma via que atua diretamente no combate à fome e à pobreza, configurando-se, portanto, um meio de ascensão social (SEN, 2000).

2.2.2 Segundo objetivo: educação básica de qualidade para todos

Com vias de conduzir o desenvolvimento humano e das sociedades de forma mais igualitária e inclusiva e frente aos variados desafios das gerações vindouras, cabe à educação o protagonismo na construção de um mundo pacífico, livre e socialmente justo. A ampliação ao seu acesso serve como instrumento de promoção do gênero humano e a propagação de políticas educativas visa compor a figura do ser humano individualmente, mas acima disto, construir o homem em suas relações com os demais indivíduos, grupos e nações. Faz-se imprescindível, portanto, que seus responsáveis estejam atentos aos fins e também aos meios da educação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1998).

Desafios da era contemporânea permeiam a realidade deste novo século e à vista disso fez-se necessário aperfeiçoar o processo educacional no sentido de apresentar alternativas para a formação de seres humanos, encontrando convergências entre desenvolvimento econômico, humano e sustentável. A conexão entre as diferentes formas do saber e a complementaridade de práticas que proliferam identidades e valores comuns favorecem a interação entre o indivíduo enquanto educando e a sociedade enquanto formadora e receptora destes indivíduos. É possível destacar, assim, a educação como agente central no processo de mudanças estruturais em questões concernentes ao desenvolvimento (JACOBI; LUZZI, 2013).

Os paradigmas atuais determinaram a transformação dos modos de produção do conhecimento, deslocando seu foco central para uma construção interdisciplinar, tendo em vista a multiplicidade das demandas sociais ascendentes. Em consequência disto, a concepção de educação sofreu uma transformação significativa e atualmente objetiva promover a cidadania através da formação de indivíduos comprometidos com o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária (FERRIOTTI; CAMARGO, 2008). Deste modo, a Declaração do Milênio

(33)

pontua que as Nações Unidas devem “velar para que, até esse mesmo ano [2015], as crianças de todo o mundo – meninos e meninas – possam concluir um ciclo completo de ensino primário e que as crianças de ambos os sexos tenham acesso igual a todos os níveis de ensino” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000, p.9). Nasce o Segundo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio: atingir o ensino básico universal. Assim, de acordo com o Relatório da Comissão Internacional de Educação para o século XXI:

A educação deve encarar de frente este problema, pois, na perspectiva do parto doloroso de uma sociedade mundial, ela se situa no coração do desenvolvimento tanto da pessoa humana como das comunidades. Cabe-lhe a missão de fazer com que todos, sem exceção, façam frutificar os seus talentos e potencialidades criativas, o que implica, por parte de cada um, a capacidade de se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1998, p.16).

O acesso universal ao ensino primário e secundário faz-se imperioso na nova economia global, sendo urgente a redução das disparidades entre os sexos no ingresso a escola. Corriqueiramente, famílias pobres são obrigadas a escolher qual dos filhos deve adentrar ao sistema educacional e para a tomada desta decisão, considera-se a premissa de que os pais não tem certeza de que uma filha com instrução traz tantos benefícios à família quanto um filho instruído, além do fato de as meninas fornecerem trabalho doméstico gratuito. Portanto, o objetivo das Nações Unidas é garantir educação básica de qualidade para todos, independentemente de sexo, com o intuito de capacitar todos os indivíduos a viver em sociedade de forma mutuamente profícua. Estratégias e políticas nacionais com este fim requerem apoio financeiro internacional e para tal é necessário à convergência das ações entre governos nacionais. Enquanto motor da economia globalizada, a educação ocupa figura central no processo de desenvolvimento, progresso social e da liberdade humana (ANNAN, 2000).

Neste segundo objetivo, foi estabelecida uma meta e foram definidos três indicadores como critérios para a análise das ações no intuito de garantir o acesso universal ao ensino básico até 2015. Cruzados, os indicadores e a meta configuram o Segundo Objetivo de Desenvolvimento do Milênio. Assim sendo, a meta e os indicadores deste objetivo são:

(34)

Garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino básico.

 Taxa líquida de matrícula no ensino primário

 Proporção dos alunos que iniciam o 1º ano e atingem o 5º ano

 Taxa de alfabetização na faixa etária de 15 a 24 anos, para ambos os sexos5 (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2015, tradução nossa)

A carência do ensino vincula-se tanto a obstáculos na vida adulta quanto a dificuldades na infância, embora seja patente que o processo deve começar com foco nas crianças e expandir-se de forma gradativa. Assim, eleva-se o número de indivíduos com capacidade de exercer suas habilidades, configurando a educação como um meio de ascensão social que propiciará retorno à sociedade, fato duplamente benéfico. A debilidade educacional cria um elevado contingente de jovens e adultos com baixo desenvolvimento de suas capacidades, fator que abala suas perspectivas laborais. Do outro lado da cadeia produtiva, encontram-se setores com potencial de crescimento reduzido devido à escassez de trabalhadores com habilidades técnicas e profissionais, enfraquecendo seu impulso econômico e, consequentemente, o ímpeto para a redução da pobreza (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 2014).

A garantia de uma educação básica de qualidade para todos – meninos e meninas – configura-se então pelo esforço em prol do acesso universal ao ensino, bem como pela melhoria qualitativa deste. O intuito deste objetivo é proporcionar a capacitação de todas as crianças, sem distinção de cor, raça ou gênero, outorgando a estes sua própria liberdade frente à suas escolhas de vida. Assim, o desenvolvimento educacional incorre no progresso da dignidade humana e ao assinar a Declaração do Milênio, cada nação consentiu com a premissa de que apenas a educação inclusiva pode responder aos inúmeros desafios para a criação de uma sociedade socialmente justa e livre neste novo século.

5

Ensure that, by 2015, children everywhere, boys and girls alike, will be able to complete a full course of primary schooling

 Net enrolment ratio in primary education

 Proportion of pupils starting grade 1 who reach last grade of primary

(35)

2.2.3 Terceiro objetivo: igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres

A abordagem de temáticas concernentes a gênero evidencia a discussão acerca de um conceito sociológico estruturado para analisar a construção histórica da definição das identidades feminina e masculina. A constituição de gênero traz consigo a ideia de legitimação sexual e alicerçada neste discurso cria-se a hierarquização da figura masculina sobre a figura feminina. Definem-se, portanto, características intrínsecas a cada sexo e também os direitos, condutas e obrigações de cada gênero, sendo possível destacar que esta conceituação define a identidade que a sociedade espera de homens e mulheres, pautada em um agrupamento de qualidades e de comportamentos resultantes da socialização dos indivíduos (PULEO, 2003). Desta forma:

[...] [o modelo familiar] tradicionalmente assente numa construção social de papéis de gênero em função do sexo, conduzindo a uma concepção do masculino e do feminino diferenciada e hierarquizada em termos de importância, segundo as quais se atribuíam ao homem papéis e responsabilidades no domínio público, de sustento, e de orientação para resultados, de competitividade e força, e à mulher papéis no domínio privado, de cuidado da casa e da família, com base em características mais emocionais e relacionais (PORTUGAL, 2014, p.3).

Destoante da concepção tradicional de modelo familiar, as Nações Unidas destacam o acesso universal ao ensino básico como trunfo para enfrentar os desafios do novo século, enfatizando neste aspecto a urgência da redução das disparidades entre os sexos nos domínios do sistema educacional. Deste modo, a educação torna-se ferramenta para capacitar as mulheres na disputa justa por oportunidades de emprego, permitindo-lhes a valorização de seu papel social enquanto agentes de transformação da contemporaneidade (ANNAN, 2000). A evolução da sociedade coloca em xeque, portanto, a perspectiva convencional de gênero. A nova economia global necessita da força de trabalho feminina e atualmente as práticas laborais afetam direta e negativamente as mulheres, colocando-as em desvantagem em relação aos homens. Chega-se, consequentemente, ao ponto em que a igualdade de gênero traduz-se como questão fundamental para a otimização das forças econômicas de cada nação, tornando esta pauta mais profunda do que a concepção das figuras feminina e masculina, com a ponderação de que a igualdade dos direitos e liberdades entre os

(36)

gêneros deve acarretar reconhecimento e valorização para homens e mulheres, em todos os domínios da sociedade (PORTUGAL, 2014).

A incorporação da luta pela igualdade entre os gêneros e o empoderamento feminino explicita, outrossim, a importância do papel da mulher na busca pela redução da pobreza no mundo, visto serem estas metade da população global. De forma impreterível, através da Declaração do Milênio, a promoção do direito da mulher à igualdade de gênero é colocada como mecanismo para alcançar o progresso (WALDORF; INGLIS, 2004). Neste aspecto, as Nações Unidas destacam a equidade entre os gêneros através da “promoção da igualdade entre os sexos e da autonomia da mulher como meios eficazes de combater a pobreza, a fome e as doenças e de promover um desenvolvimento verdadeiramente sustentável” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000, p.9).

Assim, no terceiro objetivo foi estabelecida uma meta e foram definidos três indicadores como critérios para avaliar as ações em prol de garantir a redução das disparidades entre os sexos. Cruzados, os indicadores e a meta configuram o Terceiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio. Assim sendo, a meta e os indicadores deste objetivo são:

Eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primário e secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, a mais tardar até 2015.

 Razão meninas/meninos no ensino básico, médio e superior.

 Percentagem de mulheres assalariadas no setor não-agrícola.

 Proporção de mulheres exercendo mandatos no parlamento nacional6 (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2015, tradução nossa)

A ampliação da participação da mulher em sociedade intensifica sua exposição a situações de discriminação e desigualdade. Neste aspecto, cabe ao poder público efetivar condições para o pleno exercício das capacidades femininas através da avaliação de práticas na política, na gestão pública e na vida social, com vias de criar um ambiente livre de padrões e estereótipos sexistas (PULEO, 2003). Promover a igualdade de gênero é, por conseguinte, uma ação de múltiplas facetas,

6

Eliminate gender disparity in primary and secondary education preferably by 2005, and at all levels by 2015.

 Ratios of girls to boys in primary, secondary and tertiary education

 Share of women in wage employment in the non-agricultural sector

(37)

sendo possível destacar que a análise da inserção feminina na sociedade deve ser pautada a partir da concepção de todos os problemas intrínsecos a desigualdade entre os sexos, incluindo neste escopo educação, exposição à violência de gênero, bem como participação política e valorização socioeconômica da mulher enquanto ser humano. A inclusão da batalha em prol da redução das disparidades de gênero também é o reconhecimento da influência dessa igualdade na busca pela consecução de todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, atribuindo à mulher protagonismo na luta por uma sociedade mais justa e igualitária, para meninos e meninas. (WALDORF; INGLIS, 2004).

2.2.4 Quarto objetivo: reduzir a mortalidade na infância

A relação entre o desenvolvimento econômico de uma nação e o estado de saúde de seu povo remonta a ligação entre melhorias nas condições de saúde da população e a elevação equivalente de seu padrão de vida. Trata-se, portanto, da premência da ampliação de ações preventivas e de práticas sanitárias aliadas a inovações tecnológicas e ao desenvolvimento socioeconômico de um país como fatores determinantes para a redução da mortalidade em seu território (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014). Dentre as questões concernentes à saúde pública, a morte por si só é um acontecimento indesejável. O óbito infantil é, por sua vez, uma ocorrência que foge ao clico da vida, visto que as vidas ceifadas são levadas de forma extemporânea e, em grande parte, são ocorrências evitáveis. Internacionalmente, a taxa de mortalidade infantil caracteriza-se pelo número de óbitos de crianças com idade inferior a um ano de vida sobre o número de nascidos vivos, multiplicado por mil. A mortalidade na infância, por sua vez, caracteriza-se pelo número de óbitos registrados em menores de cinco anos de idade, também multiplicado por mil. Estes cálculos indicam o risco de um nascido vivo vir a falecer e é um parâmetro utilizado para definir políticas públicas direcionadas à saúde infantil (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000).

Reflexo da efetividade da ação governamental em questões concernentes à saúde pública, a mortalidade infantil reverbera diretamente o modelo socioeconômico em vigência dentro de um país. Enquanto parâmetro para a avaliação da eficiência do poder público neste aspecto, este índice torna-se um

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