2.2 A DECLARAÇÃO DO MILÊNIO E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
2.2.5 Quinto objetivo: melhorar a saúde materna
A mortalidade materna configura-se como um grave problema de saúde pública enquadrado pelas Nações Unidas dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Atrelado à perquirição da diminuição da mortalidade infantil e na infância, este objetivo relaciona o óbito materno a uma questão principalmente cultural, visto que a ocorrência destas mortes é vista, por vezes, como uma fatalidade ou obra do destino. Deste modo, sua redução perpassa ao conhecimento de suas causas e especialmente a ampliação de ações em prol dos cuidados com a mãe. Enquanto continuidade do último objetivo, a saúde materna torna-se um mecanismo eficaz para baixar a mortalidade infantil e neste aspecto, criam-se dois benefícios com o cuidado à saúde das gestantes: reduzir a mortalidade materna e aumentar o número de sobreviventes recém-nascidos (TANAKA, 2000). Portanto, a Organização Mundial de Saúde, na 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças, definiu que:
Morte materna é a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de quarenta e dois dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais (BRASIL, 2009, p.39).
VICTORA (2001, p.7) destaca ainda que as “mortes maternas são divididas em mortes obstétricas diretas (hemorragia, sepsis, etc.) e indiretas (doenças já existentes complicadas pela gestação)”. Minorar a mortalidade materna requer, portanto, conhecimento sobre seus valores, de forma pontual ou através da sua variação ao longo do tempo (BONCIANI, 2006). Deste modo, as estatísticas sobre o tema despontam como melhor indicador para avaliar a saúde da população feminina e, por conseguinte, aperfeiçoar a gestão de políticas públicas para atenuar o número de óbitos maternos, sendo possível destacar que diferenças socioeconômicas entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento refletem nos resultados das políticas voltados ao atendimento à saúde materna (VIANA; NOVAES; CALDERON, 2011).
Neste prospecto, a idade é um fator decisivo em questões concernentes à mortalidade da mulher, tendo em vista que as extremidades da idade apresentam os
maiores riscos para óbito durante e após a gestação. Acerca deste fato, destaca-se que:
Na adolescência, a gravidez pode ocorrer por desconhecimento do risco de uma gestação precoce, pela baixa escolaridade ou pela inexperiência para conseguir trabalho, o que pode favorecer a união precoce, seja por desejo ou por pressão familiar. Estes fatores, juntos ou isolados, culminam na gravidez em fase de desenvolvimento corporal, associada a complicações próprias da primeira gestação, como as doenças hipertensivas e à menor adesão ao pré-natal. No extremo da idade fértil, as mulheres com mais de 35 anos na primeira gestação apresentam maior risco de óbitos, decorrentes de complicações hipertensivas (VIANA; NOVAES; CALDERON, 2011, p.144).
Objetiva-se, portanto, o fornecimento de serviços que promovam o acesso universal a saúde reprodutiva, desde o planejamento familiar até o acompanhamento pós-parto, perpassando à garantia de um parto com o atendimento de profissionais da saúde com habilidades adequadas. Comumente, a desigualdade entre os gêneros torna este problema potencialmente maior, visto que a privação do acesso ao sistema educacional prejudica as mulheres no que se refere aos cuidados com a própria saúde e com a saúde de seus filhos, limitando suas capacidades inclusive enquanto genitora de sua prole. Tendo em vista que grande parte dos óbitos maternos relaciona-se a causas evitáveis, cabe destacar que sistemas de saúde devidamente equipados e com profissionais capacitados para o atendimento à mulher são imprescindíveis para a redução da mortalidade materna (WALDORF; INGLIS, 2004).
O acesso aos cuidados pré-natais e serviços para a saúde reprodutiva, em especial para as populações vulneráveis, são fundamentais para garantir a evolução normal da gravidez e para prevenir complicações no período de gestação ou durante o parto. Além disso, o planejamento familiar e a utilização de métodos contraceptivos para evitar a gravidez indesejada – especialmente em mulheres jovens – são primordiais, visto que uma gestação precoce impacta diretamente na perda de oportunidades na escola e no trabalho, incorrendo na transmissão da pobreza através das gerações. Monitorar os esforços em prol da saúde materna visa garantir a eficiência destas ações, bem como aumenta a possibilidade destas meninas terem acesso à educação e ao desenvolvimento de suas capacidades e habilidades (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2014).
Com isto em vista, as Nações Unidas atestam seu compromisso com a saúde materna com o objetivo de reduzir em três quartos, no período entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna. Foram estabelecidas duas metas e foram definidos cinco indicadores como parâmetro para analisar as ações deste quinto objetivo. Interseccionados, os indicadores e as metas configuram o Quinto Objetivo de Desenvolvimento do Milênio. Assim sendo, as metas e os indicadores deste objetivo são:
Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna.
Taxa de mortalidade materna.
Proporção de partos assistidos por profissional de saúde qualificado Alcançar, até 2015, o acesso universal à saúde reprodutiva.
Taxa de prevalência de métodos contraceptivos
Taxa de nascimentos entre adolescentes
Cobertura de atendimento pré-natal8 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2015, tradução nossa)
A mortalidade materna acentua-se em regiões mais pobres, assim como a mortalidade infantil e na infância. Desta forma, garantir o acesso universal da atenção qualificada ao parto, assistência obstétrica emergencial e o acesso ao serviço de pré-natal são ações convergentes para a redução destes óbitos. Pautar- se na expansão quantitativa e também qualitativa do atendimento às famílias demonstra o intuito das Nações Unidas em assegurar as mães e aos seus bebês um parto decente e a possibilidade do recém-nascido ter um desenvolvimento sadio (BRASIL, 2014).
Faz-se necessário, portanto, a ampliação do acesso à assistência de saúde materna qualificada, bem como assegurar a intervenção médica com vias de evitar ou tratar complicações que coloquem a vida da mãe ou do bebê em risco. A adoção de medidas preventivas, o planejamento familiar e assistência pré-natal adequada são medidas urgentes para garantir melhorias na assistência à saúde da mulher. Deste modo, o impacto na família e na sociedade decorrentes do óbito
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Reduce maternal mortality by three quarters between 1990 and 2015.
Maternal mortality ratio
Proportion of deliveries attended by skilled health personnel Achieve universal access to reproductive health by 2015.
Contraceptive prevalence rate
Adolescent birth rate
materno pode ser evitado com a adequação dos serviços de saúde em prol de melhorar o atendimento à mulher, tornando-se providência singular no sentido de reduzir a mortalidade materna.