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Considerações preliminares da pequisa

INVESTIGANDO O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO HABITUS DOCENTE EM EDUCAÇÃO MUSICAL

4. Considerações preliminares da pequisa

Os prejuízos causados pela ausência de professores licenciados em Música e comprometidos com o fortalecimento da área de Educação Musical na instituição escolar gera uma falha inestimável no currículo formativo dos educandos, pois significa que as escolas não terão professores de Música em número suficiente e com formação adequada para exercer o ofício de professor de Artes no espaço escolar e, também, consequentemente, poderá acarretar a desvalorização progressiva por parte da comunidade escolar e sociedade geral que não reconhecerão a importância educacional da música no ambiente escolar.

A respeito da inserção do processo de inserção do educador musical no campo de atuação, afirmo que é fundamental definir com clareza acerca da especificidade do componente curricular Arte, com indicação de que esse componente, para ser implementado de forma consistente, precisa contemplar as especificidades das quatro linguagens básicas: Música, Artes Visuais, Dança, Teatro. É válido salientar que as diretrizes aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), no que diz respeito à formação de professores nas áreas de Artes, orientam para a formação de docentes nas diferentes linguagens artísticas em cursos específicos em cada uma destas áreas. Portanto, é uma contradição querer que os profissionais que foram formados em uma determinada área específica da linguagem artística atuem de forma genérica no ensino de Artes no âmbito da escola regular. Essa ação tomada pelas administrações públicas desrespeita a trajetória de formação individual específica inerente a cada professor de Arte, resultando, consequentemente, em um ensino de qualidade precário e frágil enquanto campo de saber. Exponho, a seguir, a fala de Sobreira que traz um questionamento interessante para refletirmos: “Se há um consenso social e político de que o ensino de música seja tão importante e merece lugar específico na formação escolar, por que ainda temos tantos problemas para que ela seja contemplada nos concursos públicos para área específica?” (SOBREIRA, 2008, p. 49). Portanto, é necessário pleitear junto aos órgãos competentes a realização de concursos públicos para a área específica de Música, no intuito de inserir estes estudantes-egressos em concordância com o campo específico de formação e, também, para que haja um maior envolvimento por parte deste licenciando com a área da docência em Música, garantindo um espaço de atuação profissional.

Precisamos refletir, enquanto campo de saber e como profissionais da área de Educação Musical, sobre o conjunto das mudanças advindas deste contexto de reinserção da música no ambiente escolar. Precisamos ouvir o que dizem os professores

de Arte e seus respectivos estudantes que já atuam nas escolas; enxergar e refletir em torno da diversidade de opiniões nas instituições formadoras – universidade, institutos, escolas técnicas, escolas especializadas, cursos livres, organizações não- governamentais, etc. – no que tange à prática formativa em Música, em colaboração e apoio com as instância municipal, estadual e federativa, com intuito de uma ação conjunta a nível local, regional e nacional para desenvolvimento da Educação Musical no país. Precisamos compreender a legislação e os documentos oficiais que regulamentam o ensino de música nas escolas públicas, pois seu domínio possibilita a validade de argumentos para o fortalecimento do campo musical, explorado como um conteúdo importante e válido a ser trabalhado na escola.

O estudo desses aspectos pode contribuir para uma melhor compreensão da prática docente em Educação Musical e, consequentemente, influir na formação de educadores musicais em nosso país. Enfim, precisamos sentir, de maneira geral, as necessidades inerentes ao nosso campo de atuação profissional para melhor atender a demanda e as expectativas sociais com relação ao processo de ensino-aprendizagem acerca da exploração do conhecimento musical no ambiente escolar e, ao mesmo tempo, possibilitar no estudante-egresso a oportunidade de dar continuidade ao processo de construção do habitus docente em Educação Musical iniciado durante a graduação em Música. Não adianta investir apenas na construção do habitus docente durante a licenciatura em Música deste estudante-egresso, é preciso refletir sobre a inserção deste no campo de atuação profissional e reivindicar mudanças para a melhoria da área de Educação Musical como um todo.

Referências

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MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS