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As observações preliminares permitiu inferir que no CMEI há muitas nuances de mudanças nas relações de prática emocional tais como: motivações, camaradagem e vivas expres- sões de satisfação, frustação, medos e conflitos. Isso faz com que nos espaços e ambientes de socialização dos saberes e fazeres predomine um ambiente cativante, otimista de conversas, troca de sorrisos, experiências cambiais, livros e pessoas, que é quase frenético nos horários de início e final das atividades de rotina pedagógica. Momentos de um maior relaxamento da desafiadora intervenção pedagógica e do barulhento intervalo de atividades sociais entre professoras e crianças. Gestores e professoras em

movimento constante são as participantes do processo formativo e evolutivo das crianças, além de um pequeno grupo de funcioná- rios de apoio, em suas múltiplas dimensões, em seus diferentes interesses e compromissos no colorido intenso mundo dos sabe- res e fazeres da educação das crianças pequenas.

As estratégias desenvolvidas pelas gestoras são estrutu- rantes nas relações subjetivas e objetivas. Percebe-se em suas falas sentimentos de fuga (formação relativa), desinteresse (anulação), renúncia (sublimação) distância entre a pessoa e o profissional (isolamento), entendidos como mecanismos de defesa do Ego (FREUD, 2005). Com essa abordagem psicanalítica (FERREIRA, 2012) torna-se possível uma análise mais vertica- lizada na busca de revelar o campo sensível da administração das emoções no qual se observa a dinâmica afetiva e confli- tiva entre a realização da formação e da cultura profissional. Portanto, como o objetivo foi compreender as especificidades das práticas desenvolvidas por cada uma delas, assim como os intercâmbios simbólicos e afetivos envolvidos nessas práticas, o desafio da pesquisa é compreender essas relações a partir das inferências pelas gestoras entre o seu perfil formativo (saberes formativos) e o seu fazer (saberes experienciais), pautadas nas experiências formativas advindas das interações sociais cotidia- nas com a força das emoções talvez mais fortes que a formação acadêmica. É importante considerar, nessa perspectiva, que a formação acadêmica envolve a formação inicial e continuada, dois momentos de um processo formativo integrado e holístico, numa lógica de desenvolvimento profissional e de aprendiza- gem ao longo da vida.

Do processo formativo das gestoras da educação infantil e da análise de sua arte de fazer na gestão escolar, emergem ques- tões importantes que constituem a especificidade do ser gestora

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da educação infantil. As considerações apresentadas a seguir destacam alguns desses aspectos, que se consideram relevantes.

Assim, os relatos pessoais de formação, ao longo das apre- sentações, permitem evidenciar que várias foram as formas que levaram essas gestoras a perceberem as contribuições do curso de formação inicial para o seu desempenho profissional e mais diretamente, à educação infantil. Por outro lado, na fala de uma delas, outros fatores são apontados, tais como a limitação de conteúdos e idealização no curso de formação (pedagogia) como potencial de bloqueio para aplicação na prática cotidiana. Fica a questão a ser analisada: trata-se de uma tensão entre o que se aprende na formação acadêmica e o que se aplica no fazer do dia a dia? Há ainda muito caminho a ser analisado...

As gestoras também destacaram o papel da família na escolha da profissão, essa escolha no incentivo do contexto familiar, que se deve a uma visão idealizada da profissão, consi- derada adequada à mulher, por permitir conciliar vida pessoal e profissional. Percebem-se as dificuldades encontradas e as emoções das conquistas e a busca pela formação acadêmica na área. A opção pelo magistério se apresenta como uma necessi- dade externa de se buscar uma formação “sofrida” para uma escolha profissional. Por outro lado outros fatores são aponta- dos, enquanto “escolhas possíveis”.

Os caminhos percorridos para se chegar tanto à docência quanto a gestão escolar na educação infantil se devem muito mais as interações de contexto social coletivo em que vivem as gestoras. Ao tratar dos caminhos percorridos percebem-se sentimentos de pertenças, de desejo e compromisso empregadas nas falas e certas ambiguidades quando se referem a oportuni- dade a ao mesmo tempo de influências.

Sem idealizações racionalistas ou utopias morais (FERREIRA, 2012) a investigação oportuniza reflexões: é preci- so compreender, as atribuições prescritas nas falas que reme- tem ao entendimento de que as gestoras devem apresentar um perfil típico de liderança: delegar funções, reunir e conduzir reuniões, administrar prazos e urgências relacionadas a dife- rentes públicos. Para as participantes da pesquisa esse tipo de relação institucional impulsiona a busca de outros tipos de formação mais específica, a inserção em uma cultura profissio- nal mais colaborativa, estratégias de sedução pedagógica, pauta- das nas experiências formativas advindas das interações sociais cotidianas com os seus pares. A trajetória vivida pelas gestoras deste estudo permite identificar dois movimentos reflexivos: um mais subjetivo individual, fruto das experiências pessoais das gestoras e o outro fruto de uma visão mais coletiva viven- ciada na formação tanto inicial quanto continuada. Faz parte do ser humano essa busca pela plenitude prazerosa do saber e da arte do fazer, principalmente quando se trata das atividades da educação infantil. A fim de concluir ou não a máxima: não há educação infantil sem interferência da afetividade, sem a força das emoções e sem o interesse pela autoformação socializadora.

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