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Saberes e fazeres das gestoras de Educação Infantil: forças das emoções experienciais?

A discussão sobre saberes e fazeres das gestoras (análises parciais da pesquisa) remete a caracterização de quem são as gestoras que participam desta discussão. Para isso, e no intuito de preservar a identidade dessas profissionais, elas serão iden- tificadas como: Arco-violeta, Arco-azul, Arco-verde e Arco-vermelho (nomes fictícios alusivos as cores do arco-íris). Os nomes citados são pseudônimos atribuídos pelas próprias respondentes:

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• A coordenadora pedagógica (Arco-violeta) tem 45 anos de idade, realizou curso de Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN tendo obtido o título de licencia- do no ano de 1991. Seguindo sua formação inicial realizou o curso de especialização em Psicologia na Universidade Potiguar – UNP no ano 2000, Mestrado e Doutorado em Estudos da Criança na Universidade do Minho/Portugal, obtendo a titulação no ano 2011. Atualmente é coordenadora pedagógica, do referido centro com uma carga horária de 30 horas/aula. • A coordenadora pedagógica (Arco-vermelho) tem 29

anos de idade, realizou curso de Licenciatura em Pedagogia em uma universidade do setor privado, no Estado do Rio Grande do Norte, (Universidade Estadual do Vale do Acaraú – UVA), tendo obtido o título de licenciado no ano de 2004. A professora possui ainda a formação em Magistério por meio de outra universidade conveniada (Fundação Bradesco). Atualmente, ela está cursando uma Especialização em Gestão Escolar, atua no referido CMEI desta pesquisa. • A vice-gestora escolar (Arco-azul) tem 27 anos de idade, egressa de um curso de Licenciatura em Pedagogia em uma universidade do setor público, no estado do Rio Grande do Norte, tendo obtido o título de licenciado no ano de 1994. A vice-gestora possui especialização em educação (área alfabetização) e Mestrado em Educação na área de formação, também por essa universidade pública. Atualmente, a gestora atua na gestão escolar

no CMEI, com uma carga horária de 40 horas/aula. Assume outras atividades tais como minicursos na área de Educação Infantil e Alfabetização.

• A gestora escolar (Arco-verde) tem 55 anos de idade, realizou curso de Licenciatura em Pedagogia na UFRN, tendo obtido o título de licenciado no ano de 1985. A gestora possui especialização em Educação Infantil e nas 1ª séries do ensino fundamental, por uma universidade particular – FACINTER. Atualmente, ela atua, no referido centro, com carga horária de 40 horas/aula, com dedicação exclusiva.

Torna-se evidente que, a composição do grupo baseia-se em algumas características determinantes de uma boa qualifica- ção: todas as participantes têm formação superior (Licenciatura plena em Pedagogia) e fizeram formação continuada (especia- lização, mestrado e doutorado), com formação em magistério e consubstanciam a equipe gestora do referido CMEI; a carga de trabalho diária é de oito horas, sendo que apenas uma das parti- cipantes trabalha seis horas diárias. Já as variações são em relação ao tempo de exercício docente (entre cinco e vinte e sete anos) e experiências diferenciadas no que diz respeito às instituições de ensino em que cursaram a formação acadêmica.

A formação acadêmica é tema complexo, nem sempre fácil de analisar. No tocante a educação infantil, ainda há muitas controvérsias. O objetivo, tal como apresentado na introdução foi compreender as especificidades das práticas desenvolvidas por cada uma delas, assim como os intercâmbios simbólicos e afetivos envolvidos nessas práticas, as relações de afetividade presentes entre os saberes e os fazeres das gestoras de educação

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infantil no contexto de gestão escolar. Ao atentar aos depoi- mentos das gestoras interrogadas, torna-se possível fazer uma análise relacional estabelecendo articulações entre pensamento e ação, ou seja, como se organiza o pensamento das participan- tes da pesquisa no relato de suas trajetórias percorridas.

Entre os aspectos, que emergiram das questões da entre- vista, alguns se destacam pela presença afetiva, pelos vestígios do (inconsciente) pelo imaginário simbólico. Para esse trabalho, foram elencadas 02 (duas) questões que apontam esses aspectos:

quais foram as contribuições que os conteúdos curriculares da forma- ção inicial (pedagogia) trouxe para sua atuação prática?; e, quais os caminhos formativos que levaram as gestoras à educação infantil?

Referindo-se a questão “da contribuição dos conteú- dos curriculares cursados ao longo do curso de pedagogia e como são colocados em práticas pelas gestoras” tivemos como respostas: da coordenadora Arco-verde [...] As contribuições que

considero foram as da disciplina de psicologia, ajudaram entender melhor as fases da infância. Conforme Arco-violeta, a formação

inicial é importante porém é distante da realidade da educação que atuo: [...] sem dúvida é de suma importância a formação inicial

para o desempenho de qualquer profissão, porem o considero ainda muito limitado e ideal para a realidade da nossa educação pública.

Arco-azul, diz que a formação inicial contribuiu na sua atuação profissional: [...] É interessante colocar que tive uma excelente formação inicial e essa formação reflete hoje na minha trajetória profissional. Por último, Arco-vermelho expõe que as contribui- ções vieram da formação no magistério, principalmente para as relações com as pessoas: [...] o magistério me trouxe contribuições

muito importante [...] lá eu aprendi muitas coisas não só na questão de conhecimentos mas na questão pessoal eu era muito tímida.

Sobre os relatos pessoais de formação, ao longo das apre- sentações, é importante destacar as várias formas que levaram as gestoras a perceberem as contribuições da formação inicial para o seu desempenho profissional e mais diretamente, à educação infantil. Por outro lado, na fala de uma delas, outros fatores são apontados, tais como a limitação de conteúdos e idealização no curso de formação (pedagogia) como potencial de bloqueio para aplicação na prática cotidiana. Poderíamos dizer que se trata de uma tensão entre o que se aprende na formação acadêmica e o que se aplica no fazer do dia a dia.

Essa dicotomia da relação teoria e prática é ressaltada por Formosinho (2002) quando afirma que no desempenho docente há sempre uma tensão entre “informação e artesania” conhecimento obtido de forma estruturada e conhecimento experiencial, pois corresponde parcialmente ao eterno debate entre teoria e prática na formação inicial de professores. Isto nos remete à estéril controvérsia “filosófica” sobre a separação entre teoria e prática analisada por Ferreira (2007), que diz ser recorrente nas ciências sociais e na educação em especial, pois ainda que ultrapassada (porque a teoria é um conhecimento prático e a prática tem sempre uma teoria) está presente nos argumentos sobre a falaciosa divisão entre os que “pensam” e os que “praticam”. Entende-se, que essa relação pressupõe movimento de mudanças e aperfeiçoamento das aprendizagens formais em suas múltiplas dimensões e interações, de acordo com as demandas cotidianas que desafiam a educadora infantil. Fica evidente que as gestoras informantes, por mais que tenham formações acadêmicas bem sucedidas (conforme registros), são mobilizadas por vários outros saberes, tais como o saber da experiência obtido como filha no seio familiar, as conversas nos intervalos e corredores da escola, dentre outras. Isso tem

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sido expresso no momento em que elas recorrem aos desafios do cotidiano para o aperfeiçoamento de seus desempenhos. Em suma, são as experiências formativas advindas das interações sociais e históricas cotidianas que influem em seu conhecimen- to profissional, trazendo reflexão, criatividade e táticas para o trabalho coletivo, isto é, sendo todas elas habilidades de um status de gestor escolar.

A afetividade: evento oportuno como