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Considerações Sobre as Abordagens Descritas

No documento Sinonímia e textura (páginas 58-62)

CAPÍTULO 1 COESÃO TEXTUAL E COESÃO LEXICAL

1.1 COESÃO TEXTUAL

1.2.3 Considerações Sobre as Abordagens Descritas

Após a apresentação dos pontos fundamentais que caracterizam os modelos de Halliday e Hasan (1976), Halliday (1985), Hasan (1984, 1989), Hoey (1991), An- tunes (1996) e Krás (2002) sobre a coesão lexical, verifica-se que há algumas diferen- ças entre as propostas e análises. É necessário, portanto, retomar alguns aspectos e compará-los, esclarecendo a posição tomada na presente investigação.

O trabalho de Halliday e Hasan (1976) está centrado em fornecer uma descri- ção detalhada do conjunto de recursos de que dispõe uma língua para gerar coesão. “Cohesion in English” é um estudo básico para todos os interessados em estudar a

coesão; no entanto, de sua proposta resultam críticas de alguns pesquisadores, como Brown e Yule (1983), os quais afirmam que, do ponto de vista semântico, os meca- nismos coesivos (referência, substituição, elipse e coesão lexical) mantêm com algum outro elemento lingüístico do texto relação de correferência.

Hoey (1991, p.269) denomina substituição a retomada de um ou mais itens le- xicais por um item não-lexical. O autor enfatiza que o termo “substituição”, como ele o emprega, engloba o que Halliday e Hasan (1976) chamam de “substituição” e “refe- rência”.

Outro aspecto controverso refere-se à coesão lexical. Koch (1994, p. 23-24) e Fávero (1991, p. 15-16) consideram que a coesão lexical também tem a função de estabelecer referência ou recorrência: o uso de sinônimos, hiperônimos e nomes ge- néricos constitui uma das formas de remissão a elementos do mundo textual, tendo, pois, a mesma função coesiva dos pronomes.

Para Halliday e Hasan (1976), a substituição e a coesão lexical são categorias distintas. A diferença na caracterização da substituição lexical em Antunes (1996) e Krás (2002), contrariando essa noção, está na visão de que a substituição lexical constitui-se em um mecanismo da coesão lexical.

Vale ressaltar que essas observações não devem diminuir a riqueza das aná- lises que Halliday e Hasan propõem, assim como o enorme interesse que, ainda hoje, a descrição dos recursos lingüísticos da coesão textual apresenta, como já menciona- do na Introdução.

No trabalho de Antunes (1996), o problema abordado concerne à forma como se organiza a seqüência do texto e de como o emprego do léxico pode intervir na or- ganização coesiva do texto. A autora analisa a coesão em editoriais jornalísticos, de-

tendo-se no estudo e na análise dos recursos da repetição e da substituição. Na inves- tigação de Krás (2002), o estudo limita-se à substituição lexical como elemento coesi- vo na produção textual de universitários, examinando e correlacionando as manifesta- ções tipológicas da substituição lexical e dos problemas de emprego dos dispositivos coesivos que podem intervir na organização coesiva do texto de acadêmicos de dife- rentes cursos.

Verifica-se um aspecto em comum nos diferentes modelos, quanto ao trata- mento da sinonímia: o de exercer o papel de coesão lexical. Para Halliday e Hasan (1976), um sinônimo ou quase-sinônimo está inserido na categoria da reiteração e e- xerce a função de um subtipo da coesão lexical, em que esta última é um mecanismo de coesão, noção essa seguida por todos os autores mencionados e, também, nesta pesquisa.

No entanto, o que diferencia, no que se refere à sinonímia, é que Halliday (1985) distingue a sinonímia com identidade de referência e sem identidade de refe- rência, afirmando que a hiponímia, a meronímia e a antonímia também são casos de sinonímia. Hasan (1984 e 1989) apresenta a sinonímia como um subtipo da coesão lexical com similaridade referencial. Para Hoey (1991), a sinonímia é um tipo de repe- tição, que ele chama de paráfrase simples. Antunes (1996) e Krás (2002) classificam a sinonímia como uma das manifestações do recurso de substituição lexical, que se constitui em uma subclasse da reiteração, pertencente ao tipo coesão lexical.

Como se pode perceber, a classificação da substituição por equivalência si- nonímica é evidenciada em Antunes (1996) – que categoriza por unidades lexicais si- nônimas e por perífrases sinonímicas – e em Krás (2002) – que tipifica por unidades sinônimas, por perífrases sinonímicas e por metáforas.

Pode-se dizer, dessa forma, que todos compreendem o papel da sinonímia como mecanismo de coesão lexical, porém Antunes (1996) e Krás (2002) tratam esse mecanismo de coesão lexical em textos genuínos criados em situações de uso, levan- do em consideração a construção do sentido do texto. Essa posição é também adota- da neste estudo implicando utilizar métodos de análise que privilegiam a apreensão do sentido a partir da linguagem em uso, isto é, pela escolha e análise de textos em situação de uso.

Na linha que se propõe seguir este trabalho, a substituição lexical é uma for- ma de referência, isto é, por meio do mecanismo da substituição, um termo lexical po- de retomar outro termo lexical no texto. O efeito coesivo das relações lexicais é obtido por meio dessa retomada e da seleção vocabular. Desse modo, um termo sinônimo é uma forma de remissão a outro elemento constitutivo do texto com equivalência de sentido, podendo acrescentar novos significados e valores que ajudam a explicitar o ponto de vista do produtor do texto. Esses aspectos serão retomados no Capítulo 3, que se limita à categoria sinonímica.

Além disso, a posição adotada para esse estudo é a de que os termos substi- tutos, no caso dos grupos nominais sinonímicos, podem ser preenchidos por itens le- xicais, representados por uma unidade lexical, expressão nominal ou oração. É impor- tante destacar que nem todos os itens lingüísticos são tratados neste estudo, ficando fora da análise do corpus as conjunções, preposições e o procedimento coesivo “colo- cação” (mesmo campo semântico).

O próximo capítulo dedica-se a definir a textura e a descrever o modelo teórico de Hasan para avaliar o grau de textura, propondo modificações ao modelo da autora e outra categorização por elos coesivos para a avaliação da textura no corpus desta investigação.

No documento Sinonímia e textura (páginas 58-62)