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Sinonímia por Equivalência de Sentido

No documento Sinonímia e textura (páginas 108-113)

CAPÍTULO 2 TEXTURA

2.4 PROPOSTA DE CATEGORIZAÇÃO POR ELOS COESIVOS

2.4.4 Mecanismo Coesivo por Anáfora Indireta

3.1.1.1 Sinonímia por Equivalência de Sentido

Para introduzir a discussão, parte-se do pressuposto de que os itens lexicais são considerados sinônimos quando entre eles há relação semântica de equivalência de sentido, como designa Lyons (1979, p. 474), levando em consideração que não existem sinônimos perfeitos, isto é, desconsidera-se a existência de palavras com total identidade semântica, isso porque há aspectos relativos ao texto que devem ser leva- dos em conta na identificação dos itens lexicais sinônimos.

Essa visão é percebida em Lyons (1995, p.56), quando argumenta que duas ou mais expressões são sinônimas se compartilham o mesmo sentido. No entanto, a sinonímia absoluta (nos termos do autor) teria de satisfazer as seguintes condições: a) todos os significados das expressões envolvidas teriam de ser idênticos; b) as expres- sões teriam de ser sinônimas em todos os contextos no texto; e c) os termos teriam de

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Equivalência de sentido, aqui, engloba os casos particulares que serão detalhados ao longo deste capítulo.

ser semanticamente equivalentes em todas as dimensões do significado (descritivo e não-descritivo21).

Essas condições excluem qualquer possibilidade de sinonímia absoluta, pois a maioria dos exemplos dessa manifestação apresentados em dicionários, especializa- dos ou não, tratam de casos do que se chama de “quase-sinônimos”, ou “sinônimos parciais”, isto é, expressões que têm significados similares. Além disso, variantes regionais, estilísticas, emocionais, ou até mesmo gramaticais praticamente impossibili- tam a total identidade entre os termos sinônimos.

Nessa perspectiva, Ilari (2002, p. 169) aponta alguns fatores determinantes da seleção vocabular (elementos léxicos): a) a preocupação de ressaltar diferenças de sentido, que podem assumir grande importância num texto mais técnico (por exemplo: para as pessoas comuns, “furto” e “roubo” são exatamente a mesma coisa; para a lei, há uma diferença: no “roubo” a vítima sempre sofre algum tipo de violência); b) o grau de formalismo na fala (por exemplo: uma atividade desagradável pode ser qualificada de “chata”, “aborrecida” ou “mofina”, mas é pouco provável que a primeira dessas ex- pressões apareça num discurso de um ministro – situação de fala altamente formal -, e é pouco provável que a última expressão apareça num diálogo de adolescente – situa- ção de fala informal; c) a preocupação em destacar, no objeto descrito, certos aspec- tos de forma ou função (por exemplo: um mesmo prédio pode ser descrito, em mo- mentos diferentes, como uma casa, a sede de um clube, o local de um crime, etc.).

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Para Lyons (1987, p.136-139), significado descritivo refere-se à relação paradigmática entre termos com a mesma “denotação” no sistema de signos, e significado não-descritivo (ou expressivo) parte-se de uma relação sintagmática entre termos, podendo o escritor revelar seus sentimentos, atitudes, cren- ças e personalidade.

Com o mesmo posicionamento, Bernárdez (1982, p. 103-105) menciona os seguintes exemplos: “estátua” por “escultura”, “automóvel” por “carro”, “cachorro” por “cão”, “caminhar” por “andar”, “velho” por “ancião”. No entanto, do ponto de vista da linguagem real, não existe igualdade de sentido entre esses termos, já que todos os elementos léxicos estão diferenciados de algum modo. Assim, não existe identidade semântica entre “cachorro” e “cão”, “casa” e “mansão”, por exemplo, pois variam tanto em suas conotações como em seu nível lingüístico, registro, etc.

Desse modo, os sinônimos são itens lexicais de sentido próximo, que se pres- tam à descrição dos mesmos objetos ou das mesmas situações no texto. Essa orien- tação de conceber os termos sinônimos no domínio interno do texto se baseia, neste estudo, na afirmação de Hasan (1989, p. 84-85): “‘a mesma coisa’ deve ser entendida como ‘a mesma coisa no contexto específico do texto’”, especialmente no caso dos sinônimos; além da definição de que a sinonímia “é a propriedade de dois ou mais termos poderem ser empregados um pelo outro sem prejuízo do que se pretende co- municar”, conforme Câmara Jr. (1991, p. 222). Por essas considerações, os itens lexi- cais se realizam como sinônimos no co-texto, confirmando, especialmente nesta pes- quisa, os textos que constituem o corpus deste estudo.

Em decorrência dessas considerações, enfatiza-se o argumento de que não há sinonímia absoluta, como também se concorda com a idéia de que são considera- das sinônimas palavras ou expressões que implicam similaridades semânticas, obser- vando as particularidades significativas à unidade textual.

Além disso, embora o fato de os termos serem intercambiáveis seja apontado como critério para reconhecimento entre duas unidades ou expressões sinônimas, como Ilari e Geraldi (1995, p. 44), que afirmam: “duas palavras são sinônimas sempre

que podem ser substituídas no contexto de qualquer frase, sem que a frase passe de falsa a verdadeira, ou vice-versa”; no domínio do texto, nem sempre este critério pode funcionar com inteira validade. A posição, neste estudo, é a de que duas unidades ou expressões são reconhecidas como sinônimas ainda que não se prestem a uma per- muta no texto, isso devido às restrições impostas por seus respectivos contextos de ocorrência no texto. Tal posição é reconhecida em Lyons (1979, p. 453) que rejeita “a hipótese de que as palavras não podem ser sinônimas num contexto, a menos que sejam sinônimas em todos os contextos”.

Dessa forma, mesmo admitindo a equivalência semântica entre dois segmen- tos textuais, não se pode manter, como uma constante, a possibilidade de, indistinta- mente, substituir-se um item lexical pelo outro item lexical sinonímico na seqüência textual. Em outras palavras, os itens lexicais que pertencem a pares de sinônimos nem sempre são intercambiáveis: podem ser caracterizados por um grau de formalismo diferente, como no caso de “criminoso” e “delinqüente”, ou podem diferir quanto às conotações ou associações, como por exemplo: “pão duro” e “avaro”.

A sinonímia lexical é a relação estabelecida entre palavras e aparece como um dos fatores possíveis pelos quais duas frases se revelam como paráfrases22. No entanto, nem sempre as mesmas palavras podem ser usadas em todos os contextos situacionais, tornando-se paráfrases. Ilari e Geraldi (1995, p. 42) citam os exemplos de “seco” e “enxuto”:

(54) a. Pegue o pano e seque a louça (p. 42). b. Pegue o pano e enxugue a louça (p. 42).

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Em situações que “dizem a mesma coisa”, não só o caso da sinonímia, mas também em situações de uso que traduzem a mesma intenção do locutor e visam a obter os mesmos resultados, a relação tem sido denominada de paráfrase (Ilari e Geraldi, 1995, p. 42).

(55) a. Mandou-nos a resposta numa carta ao estilo dele: enxuta e amável (p. 46).

b. Mandou-nos a resposta numa carta ao estilo dele: seca e a- mável (p. 46).

Nas frases apresentadas em (54), há um caso claro de sinonímia, as palavras “seque” e “enxugue” são equivalentes quanto ao sentido. O exemplo (55), entretanto, mostra que há aspectos relativos ao contexto do texto que devem ser considerados. Percebe-se que os itens lexicais “enxuta” e “seca” são sinônimas no sentido literal, mas não no texto.

A ligação entre sinônimos – ainda que não são sempre intercambiáveis - res- salta pela equivalência de sentido e pela coesão textual, pressuposta como condição subjacente da ligação referencial das expressões. Essa posição é assumida pela ob- servação nos textos da investigação, pela diversidade de vinculações referenciais que se podem cumprir na realização textual, diferentemente do que se depreende em es- tudos reduzidos à amostra dos casos típicos. Como se observa, tais vinculações con- dicionam-se também à determinação do co-texto.

A relação de sinonímia, aqui assumida, é aquela que mantém o sentido apesar da variação lexemática e depende do co-texto em que as palavras são empregadas para a sua realização. Os fatores que determinam a equivalência de sentido entre dois itens lexicais, neste estudo, são: a compatibilidade de traços semânticos característi- cos de dois termos e a utilização desses termos no texto. Nessa perspectiva, a sino- nímia é considerada no nível textual, porque o que interessa é fundamentalmente a equivalência semântica nas relações entre os segmentos, levando em consideração a linguagem do ponto de vista de seu uso no texto.

No documento Sinonímia e textura (páginas 108-113)