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CONSIDERAÇÕES SOBRE O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

4. MÃOS À OBRA

6.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Utilizamos o círculo de cultura como instrumento de coleta de dados a fim de sistematizá-los dentro dessa possibilidade metodológica, nesse sentido algumas observações merecem ser colocadas, uma vez que num primeiro momento, erros e acertos cometidos, que foram melhorados na segunda coleta de dados, merecem ser compartilhados para que outros pesquisadores o evitem.

A estratégia que utilizamos de escolher 5 (cinco) temas geradores e convidar os jovens para escreverem suas palavras geradoras sobre cada tema para, a partir delas, iniciarmos o diálogo não foi muito eficaz. Como o grupo era significativamente grande, totalizando 15 (quinze) pessoas, foram geradas 75 (setenta e cindo) palavras, um número excessivo para serem aprofundadas em 2h30min de encontro, pois esse tempo

foi dividido em apresentação da pesquisa, assinatura do termo de compromisso, visualização criativa, escrita das palavras geradoras e diálogo.

Para as organizarmos de forma a facilitar a problematização no momento do diálogo, pedimos para que cada jovem colocasse as palavras que escrevessem de cada tema gerador alinhadas na horizontal, assim na vertical tínhamos a coluna correspondente ao tema gerador e na horizontal, as palavras geradoras de cada participante. Apesar desse critério, quando o quadro foi criado, o grande número de palavras diluiu a identidade dos participantes no grupo, no entanto, nós facilitadoras atentas ao processo de elaboração do quadro gerador, sabíamos quem havia escrito cada uma e pudemos convidar determinados participantes a falarem sem nos dirigirmos diretamente a ele, e sim, fazendo referência a sua palavra.

Por um lado, as palavras geradoras garantiram que, de algum modo, cada jovem participasse, no entanto, no momento do diálogo 2 (dois) deles não se pronunciaram. Ou seja, o quadro gerador não possibilitou o levantamento de discurso de todos os participantes e, além do número excessivo de palavras geradoras já referenciado alhures, outro componente não possibilitou tal fato: pouca animação das facilitadoras.

Percebemos que para garantir um processo dialógico, permitindo a expressão de cada participante, faz-se necessário movimentar os discursos, de modo que haja oportunidade para todos se expressarem. No entanto, caso o participante não o queira fazer e se contente somente em assumir um papel de observador, o facilitador reserva- lhe o direito de participar do modo que lhe for possível naquele momento. Mas, o círculo de cultura que estávamos propondo naquela tarde tinha como objetivo a coleta de dados de uma pesquisa, assim o discurso de cada jovem era precioso para nós.

Com isso, concluímos que utilizando o círculo de cultura como instrumento de coleta de dados, o facilitador precisa ser semi-diretivo na condução do processo grupal a fim de garantir a palavra de todos os envolvidos no encontro, dirigindo-se diretamente a cada um através da criação de regras, de jogos, de dinâmicas ou mesmo convidando especificamente um participante pelo nome para emitir sua opinião acerca de um tema discutido. Ou seja, o facilitador-pesquisador utilizando o círculo de cultura como instrumento de coleta de dados veste o mesmo papel do animador proposto do Paulo Freire.

A ausência de uma boa animação na facilitação do círculo de cultura gerou no grupo conversas paralelas (Facilitadora: “o que é que vocês estão falando

aí?”referindo-se a José e Lailson; Lailson: “não, é individual.”) CC1.P16.L837-838),

dispersando a construção de um conhecimento coletivo acerca dos temas discutidos, bem como potencializou a timidez de alguns participantes, que omitiram sua opinião em muitos momentos do processo. Tais considerações foram implementadas no 2º círculo de cultura e serão mais bem descritas posteriormente.

Outra consideração a ser pontuada acerca desse instrumento de coleta de dados é que, através do quadro gerador, como optamos fazer nesse encontro, não foi possível que o diálogo fluísse entre os participantes sem a intervenção da facilitadora. Ou seja, a palavra circulou mais com a nossa intervenção do que como parte de um processo dialógico do grupo.

Avaliamos que, como um primeiro momento, o material coletado foi rico e significativo para a discussão dos resultados. Percebemos também que esse primeiro círculo de cultura foi eminentemente mais um espaço de familiarização e introdução da pesquisa do que de cumprimento dos objetivos da pesquisa.

Outra avaliação a ser evidenciada foi que o local escolhido para a realização do 1º círculo de cultura não foi estratégico. Utilizamos a palhoça da instituição, local onde realizávamos semanalmente o grupo, mas por ser um espaço aberto comprometeu a qualidade da gravação do material, bem como o fato de outras pessoas e animais transitarem ao redor dispersou em alguns momentos o processo grupal (“olha a zuada

aí gatinho, por favor. Tá gravando? Vai gravar os gato viu, miando?”, Ricardo,

CC1.P04.L155-156). E ainda, a facilitadora perguntou: “E aí, aqui no grupo, como é?

Como é que eu sou? (risos – uma criança passando ao lado da palhoça cai no chão e dispersa o grupo) Sim, a gente estava começando a discussão, né?, do grupo, pegando essas diferenças que cada um é, ou dependendo do contexto, dependendo do lugar”

(CC1.P06L222-226). A mudança de local para o 2º círculo de cultura solucionou essas questões.

7. 3º ATO: CLÍMAX

E continuamos nossa pesquisa-facilitação. Nesse capítulo, apresentaremos o processo vivido do 8º ao 13º encontro do grupo de arte-identidade. É válido ressaltar que os jovens que participaram desses encontros já estavam inseridos num campo de pesquisa, uma vez cientes do nosso estudo. Nas linhas que seguem, o leitor encontrará, respectivamente, os seguinte tópicos: cantando nossa canção, criando cartões orgânicos, dramatizando o trabalho infantil, mostrando as máscaras, visitando o zoológico e mandalas.