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4. MÃOS À OBRA

7.3. DRAMATIZANDO O TRABALHO INFANTIL

Pela primeira vez na história do grupo, eram 14h10min e todos os participantes já haviam chegado, totalizando 12 (doze) jovens. O horário combinado para o início do grupo era às 14h30min e, apesar de todos saberem disso, percebemos que naquele dia o grupo havia chegado mais cedo para ficar por ali, conversando uns com os outros antes de iniciarmos as atividades (grupo-ainda-mais-e-mais-vinculado). Segundo Ribeiro (1994, p.67): “Na fase comportamental, [...] as pessoas se conhecem, se relacionam e, de certo modo, os papéis já se encontram definidos. [...] O grupo se tornou grupo e aprendeu a se comportar como grupo. Ele é agora uma unidade significativa”. Tal constatação deu-se do fato de os participantes terem chegado mais cedo para ficarem conversando uns com os outros antes de iniciarmos as atividades.

Percebemos que, mesmo chegando cedo para viver esse momento antes do encontro, o grupo ainda tinha subgrupos (grupo-dividido): Anderson, Lailson e Helton; Lia, Glória e Wilson; Pâmela e Dilma. Rômulo ficou conversando com Dara (2º encontro que participava), ambos “novos” no grupo, pois mesmo Rômulo tendo participado de 5 (cinco) encontros, não teve facilidade de inserir-se nos subgrupos já formados. Rômulo também não estava fazendo o curso de informática, portanto não convivia com o restante do grupo durante a semana, o que dificultava a sua vinculação com eles.

Esse foi o primeiro encontro que José faltou e não justificou. Ficamos curiosas para saber o que havia acontecido com ele, uma vez que era sempre um dos primeiros a chegar (participante-pontual). No dia anterior, encontramos Lívia na caminhada contra a exploração sexual infantil organizada pelo MSMCBJ e ela disse que estaria cansada para vir, justificando previamente sua falta. Wilson disse o mesmo, no entanto compareceu.

Iniciamos o 10º encontro, realizado no dia 16 de Maio de 2008, discutindo sobre a caminhada acima referida: “O que era? Qual o objetivo? Quantos participantes estavam? Quais as atividades?” Os participantes permaneceram calados e somente Wilson, Roberto, Waderson e Helton tinham ido à caminhada. Roberto respondeu a esses pontos, apresentando para o restante do grupo o evento. Anderson e Helton reclamaram do lanche. Questionamos como tinha sido a preparação dos jovens para a participação nesta atividade e eles falaram que foram à Casa de Aprendizagem assistir aula de informática e, quando chegaram lá, souberam que não teriam aula e que todos iriam para a caminhada. Ficamos, então, nos perguntando qual o sentido da participação nesse evento para cada um que estava ali, pois eles pareciam desconhecer o tema. E para os moradores do bairro, qual o impacto? Mais uma ação isolada? Perguntas ainda sem respostas.

Retomamos o encontro passado e o dia das mães, mas somente o Roberto falou. Quando o grupo não estava aquecido, evidenciava a personagem grupo-calado, e a palavra geralmente era centralizada no Roberto. Além disso, pelo número de participantes ser superior ao de 8 (oito), o caracterizaríamos novamente como grupo- tímido. Demos alguns informes sobre o passeio previsto para o dia 06/06/08 e iniciamos o que havíamos preparado para aquela tarde.

Exibimos o filme: “Você viu a Rosinha?”, uma vez que segunda-feira desta semana, dia 12/05/08, no terminal do Siqueira houve uma campanha contra o trabalho infantil. Durante o filme, Wilson esteve sonolento. Paulo Cesar, Anderson e Lailson fechavam os olhos e olhavam em volta da palhoça. Após a exibição, discutimos alguns aspectos do filme a partir da seguinte pergunta geradora: que sentimentos emergiram?

Dilma: angústia; Roberto: ingenuidade; Anderson: impunidade;

A palavra de Anderson levou o grupo para outra discussão: como se dá o processo de punição/educação do sistema judicial? Qual a eficácia do sistema

carcerário? O grupo iniciou uma discussão muito fértil, enfatizando que a solução seria garantir a punição de casos como esses (grupo-falante). Os atos infracionais cometidos por adolescentes foram trazidos, tendo a mesma necessidade de punição. Introduzimos as medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, direcionando para outro pólo, fazendo emergir, então, a necessidade de educação e não somente de punição. Trouxemos o sistema de garantia de direitos e enfatizamos o papel do Conselho Tutelar no cumprimento de ações no tocante aos direitos de crianças e adolescentes.

A discussão foi necessária para embasar a construção do final da estória da Rosinha. O grupo foi dividido em 3 (três) equipes composta por 4 (quatro) jovens: Lia, Wilson, Glória e Rômulo (grupo 1); Helton, Anderson, Lailson e Pedro (grupo 2); Raquel, Roberto, Pâmela e Lia (grupo 3).

O processo de cada grupo foi interessante. O grupo 1 esteve o tempo inteiro mobilizado na construção da estória. Seus participantes riam, gesticulavam e olhavam envolvidos para o papel. Foi o primeiro a finalizar, sendo visível a energia criativa mobilizada.

O grupo 2 teve um processo bem lento. Ficaram inicialmente calados, trocaram algumas idéias e, ao final, Anderson assumiu a liderança, escrevendo sozinho a estória a partir de idéias suas e de algumas sugeridas pelo grupo.

O grupo 3 concluiu a estória com a ajuda de todos. No entanto, Roberto e Raquel assumiram a liderança de construí-la.

Fomos compartilhar os finais. O grupo 1 fez questão de iniciar, apresentando sua versão com uma riqueza de detalhes, cenas, seriedade, irreverência e com um final interessante. A estória grupo 2 foi apresentada por Anderson, trazendo as idéias na 1ª pessoa “eu coloquei...”, “eu pensei...”. O final foi trágico e ainda inconcluso.

O grupo 3 trouxe na sua estória a dimensão legal dos fatos, mostrando que se a lei e o sistema de garantia de direitos forem efetivos, a punição e a solução dos casos acontecem.

O grupo, por unanimidade elegeu a criação do grupo 1 como sendo a melhor estória e fomos encená-la, dividindo os papéis e partindo para a ação:

Raquel: Rosinha

Wilson: Compadre Antônio Lia: Comadre Francileide Facilitadora 1: Raimunda

Roberto: delegado

Anderson e Helton: policiais

Pedro: oferecer emprego a Raimunda Facilitadora 2: Rosinha adulta

Dilma, Lailson e Pâmela: crianças no Conselho Tutelar Rômulo: filmagem

Glória: narradora

A dramatização foi filmada. Nela, Pedro, Pâmela (participante-tímida) e Lailson participaram no papel de figurantes, não tiveram nenhuma fala ou ação. Ao final da dramatização, o grupo estava visivelmente espontâneo (grupo-espontâneo) o que nos faz coadunar com Cionai ao afirmar que “na arte, a pessoa pode relaxar suas defesas e permitir-se [...] exprimir o que de outra forma poderia ser perigoso e/ou ameaçador” (1994, p.16).

O lanche foi realizado posteriormente e este teve também um caráter lúdico, repleto de conversas entre os jovens.