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Considerações sociais e organizacionais

No documento UNIVERSIDADE DE LEÓN (páginas 98-101)

Limitaciones y Sugerencias para Estudios Futuros

1.3 Formação em Segurança e Saúde

1.3.2 Considerações sociais e organizacionais

A formação em segurança, sendo uma ferramenta de características preventivas, acompanha a evolução ao longo dos anos da perspectiva sobre a prevenção, que todavia, não teve só a ver com o desenvolvimento de factores de produção. Com efeito, evoluiu ao mesmo tempo, o próprio conceito de saúde no trabalho, vindo este a ser entendido já não como um mero estado de ausência de doença, mas como necessidade de ser promovido um ambiente de bem-estar, gerador dos factores motivacionais dos trabalhadores nas organizações (CLBSP, 2001). Em termos éticos Colligan & Cohen, (2004), referem que é geralmente bem aceite, que os trabalhadores tenham direito a saber que riscos correm enquanto trabalhadores e que medidas podem ser tomadas tanto a nível organizacional como individual, de modo a gerir esses riscos.

A formação assume assim, uma importância fundamental, em termos sociais e organizacionais, no papel de mitigadora dos acidentes de trabalho e na sua prevenção, com consequências individuais e

familiares, grupais e organizacionais. Na prática, estas consequências podem significar para o trabalhador:

 A perda de parte da remuneração durante o período de incapacidade;

 A interrupção ou redução da sua actividade física e eventuais dificuldades para retomar o trabalho;

 O sofrimento moral da família e perdas materiais, nos casos em que membros da família tenham reduzido ou abandonado a sua actividade para acompanhar o sinistrado e a diminuição da qualidade de vida;

 Sentimento de afastamento/isolamento.

É de salientar que em situações de duplo emprego, a remuneração obtida na segunda empresa sofrerá, também, um rebate decorrente do sinistro ocorrido na primeira. As consequências dos acidentes constituirão na óptica da organização:

 Perda de trabalhadores e diminuição da produtividade;

 Aumento do absentismo;

 Danos a nível do equipamento;

 Incumprimento de prazos;

 Custos emergentes de acções em tribunal e indemnizações;

 Formação de trabalhadores substitutos;

E as consequências dos acidentes para o país, entre outras, serão:

 Custos com o recurso ao Serviço Nacional de Saúde;

 Aumentos dos custos de produção e efeitos nas exportações;

 Efeitos na imagem internacional;

Desta forma, Colligan & Cohen, (2004), defendem que caso a sensibilização, formação e desenvolvimento dum sentido crítico positivo das condições de trabalho por parte de todos os actores envolvidos nos processos de prevenção, contribuam para a redução da incidência dos danos/lesões e doenças profissionais, terão certamente melhor interesse tanto para os trabalhadores como empregadores. Apesar de a formação ser geralmente encarada como um esforço que vale a pena (Colligan & Cohen, 2004), consideram que não deve ser encarada como um factor propiciador de um acréscimo de custos, com incidência eventualmente negativa na competitividade mas, pelo contrário, como um investimento na produtividade, na qualidade e no clima laboral da empresa, com redução de encargos a vários níveis.

As empresas que já encaram a formação em segurança e saúde como um investimento com retorno (e não como um custo), consideram que esta atitude decorre num conjunto vasto de benefícios,

como sejam as reduções substanciais nos custos directos e indirectos dos acidentes, sendo os últimos por vezes dificilmente quantificáveis e, por vezes não cobertos em termos de seguradoras. Peretti (2004) afirma que, a formação deve ser sempre considerada como um investimento e nunca como uma despesa, porque de outro modo inevitavelmente condicionará os desempenhos nas organizações, como se condiciona a aquisição de equipamentos e materiais, reforçando que na sua óptica, o investimento em formação é provavelmente o investimento mais produtivo, se, se tiver como referência as organizações que têm alcançado o êxito, é de facto um investimento que não tem substituto. A formação será valorizada tanto pelos indivíduos, porque os recompensa através da promoção de competências, como pelas organizações, que beneficiam dessas competências ampliadas. Todavia, Colligan & Cohen (2004), chamam a atenção para alguns aspectos pouco positivos em torno da formação. Por exemplo, um programa de redução do ruído, pode reduzir o risco na origem, através da compra/aquisição de um equipamento menos ruidoso ou insonorizado, ou em alternativa assentar na abordagem aos EPI, em que os trabalhadores são formados acerca das consequências do ruído excessivo e instruídos sobre o uso correcto das protecções auditivas. A primeira estratégia à partida, requer consideráveis custos iniciais para a empresa, mas mínimos para os trabalhadores, tratando-se apenas de uma formação limitada ao uso e manutenção da maquinaria. A segunda estratégia reduz à empresa os custos iniciais à partida, mas aumenta as exigências sobre o trabalhador e requer uma formação mais intensiva e continuada, bem como, um esforço na administração da segurança. Se os trabalhadores perceberem que a formação em segurança está a ser efectuada, em vez da implementação de controlos mecânicos menos invasivos, podem considerar que a carga/peso da segurança foi desproporcionalmente e injustamente transferida para os seus ombros. Analogamente, se os trabalhadores forem treinados/formados em práticas que não são habitualmente seguidas pelas chefias, empregadores e/ou trabalhadores, a quem não são dados equipamentos, recursos e/ou apoio, para desempenharem os exercícios recomendados na aprendizagem, o programa de formação rapidamente perde credibilidade (Colligan & Cohen, 2004). Deste modo, em vez de realçar a protecção do trabalhador, a formação dada neste contexto, pode parecer meramente cosmética e de diversão.

Também a formação de segurança pode ser um assunto sensível durante a investigação de acidentes e de atribuição de responsabilidades. Assim, apesar de ser razoável assumir que os trabalhadores formados estarão melhor preparados do que os não formados para enfrentar as situações perigosas, esta condição pode não corresponder factualmente. Até porque a formação pode ser inadequada, o apoio da chefia pode faltar, os equipamentos de protecção necessários podem estar indisponíveis ou mal conservados, as pressões de produção por parte da organização podem resultar num abrandamento da enfatização dos procedimentos de segurança, e assim por diante. Uma coisa é

certa, querendo ou não, estes factores serão tidos em conta na investigação de acidentes, dependendo da cultura da organização e da sua filosofia de gestão.

Em conclusão, a formação não pode ser vista como uma panaceia geral ou solução rápida para todos os problemas organizacionais em matéria de segurança e saúde. A sua eficácia será em função do compromisso global da organização para proporcionar um ambiente de trabalho seguro e da percepção do reconhecimento desse compromisso por parte dos trabalhadores. Todavia, se a formação dos trabalhadores pode reduzir a incidência de doenças e lesões, então parece ser do maior interesse, quer seja dos trabalhadores, como dos empregadores, que tal formação seja fornecida (Colligan & Cohen, 2004).

1.3.3 Enquadramento legislativo da formação de segurança

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