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Considerações teóricas e práticas sobre o ensino da leitura

CAPÍTULO 2: CONHECENDO ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TEMA

2.3 Considerações teóricas e práticas sobre o ensino da leitura

Para Kleiman (2002), “o ensino de leitura é fundamental para dar solução a

problemas relacionados ao pouco aproveitamento escolar: ao fracasso na formação de leitores podemos atribuir o fracasso geral do aluno no 1º e 2º graus”.

Para que atividade de leitura se torne eficaz, é preciso, segundo Kleiman, que o professor possa definir tarefas cada vez mais complexas aos alunos, porém passíveis de resolução; desde que ela tenha a orientação de um adulto ou de um colega mais proficiente. Aos poucos, o professor pode ir retirando os suportes e a criança redefine as tarefas para si própria, constituindo-se aí a aprendizagem de estratégias de leitura.

A compreensão de uma leitura necessita de uma prática colaborativa e comunicativa, por isso, é imprescindível que exista comunicação entre os sujeitos envolvidos, durante o processo, pois é durante interação dos sujeitos que é criado o ambiente para que se efetive a compreensão do texto lido, portanto, não é na

leitura silenciosa ou em voz alta que se compreende. E ainda nessa prática, é preciso que o texto tenha significado para o sujeito.

Kleiman (2002) considera a atividade de leitura como uma prática social que remete a outros textos e outras leituras, em que ao lermos um texto, colocamos em prática todo o nosso sistema de valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que se deu a nossa sociabilização primária, isto é, o grupo social em que fomos criados.

Bazi (2000) relacionou o desempenho na leitura e na escrita com os tipos de ansiedade. Ao observar seus resultados, pode-se concluir que crianças mais ansiosas têm um desempenho mais baixo na escrita e na leitura e que esses resultados são mais significativos quando comparadas às meninas em relação aos meninos, sendo estas no geral, mais ansiosas. Para Rocha 8 (1999) citado por Coelho (2002, p.2), em seu processo de aprender a ler e a escrever, a criança não deve apenas tornar-se alfabética ou ortográfica, já que o domínio do sistema alfabético-ortográfico de escrita é apenas o instrumento que lhe permitirá participar efetivamente das práticas sociais de escrita; ela deve também e talvez, sobretudo, aprender a produzir e a ler textos escritos com compreensão e capacidade de interpretação.

“O ser humano, a todo o momento, lida com as informações, receber ou buscar dados, elaborar, comunicar e compartilhar informações faz parte do nosso cotidiano e essas informações afetam a maioria das nossas atividades, pois pode haver informação sem aprendizagem, mas seguramente a maioria das aprendizagens inclui as informações (PFROMM NETTO, 1987)”. De acordo com Gomes (2002) “as informações são, na maioria das vezes

são, na maioria das vezes, um entrelaçamento de símbolos gráficos, o qual exige do leitor uma grande capacidade de decifração e interpretação”.

À luz das teorias cognitivas, a partir das décadas de setenta e oitenta, o modelo de processamento de informação na memória dominou a pesquisa. Mesmo havendo divergências entre as diferentes tendências da Psicologia Cognitiva, a grande maioria dos teóricos cognitivistas explica o processo da aprendizagem como o resultado das tentativas dos sujeitos em compreenderem o mundo a sua volta. Com esse objetivo os indivíduos utilizam todos os instrumentos mentais disponíveis e esse processo de pensar sobre as diferentes situações é influenciado pelas suas expectativas, interesses, sentimentos e interações com os outros. Portanto, as novas aprendizagens são influenciadas pelos conhecimentos prévios do sujeito, os quais atuam como andaimes que apóiam a aprendizagem de novos conhecimentos. Os conhecimentos são diferentes quanto à natureza. Os conhecimentos declarativos permitem falar sobre objetos, pessoas, situações e são muito ligados à representação verbal ou a outras formas de notação. Ainda, um outro tipo de conhecimento é o processual, que deve ser demonstrado por ações; é o saber fazer. O terceiro tipo é o conhecimento condicional, que consiste em saber aplicar os dois tipos de conhecimento anteriormente mencionados; isso exige saber o quando e o porquê utilizar informações e procedimentos. Os diferentes tipos de conhecimento podem ser gerais ou se referirem a uma esfera específica - Matemática, Física, Biologia e outras. Uma vez aprendidos esses conhecimentos são armazenados, mas, para serem utilizados, precisam ser lembrados. A esse processo, a Psicologia Cognitiva denomina Processamento da Informação.(GOMES, 2002)

Matos (2001) cita uma situação ainda mais grave no que se refere à leitura, a defasagem entre leitores e não-leitores reproduzem a divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os que são apenas executores. Neste confronto, a leitura aparece também como instrumento de conquista de poder, antes de ser meio de lazer ou evasão. Conforme Foucambert (1994), o acesso à leitura de novas camadas sociais implica que leitura e produção de texto se tornem ferramentas de pensamento de uma experiência social renovada; ela supõe a busca de novos pontos de vista sobre uma realidade mais ampla, que a

escrita ajuda a conceber e a mudar, a invenção simultânea e recíproca de novas relações, novos escritos e novos leitores.

Leitura vista em sua concepção mais ampla, pode ser entendida como

atribuição de sentidos, conforme Orlandi (1988).

Para Quintanal Diáz 9 (1998) citado por Gomes (2002, p.41) “aprender a ler

é aprender a utilizar a leitura para aprender e como fonte de prazer”.

Para Gomes, entre os diferentes objetos de ensino de que se ocupa currículo escolar, entende-se que um lugar privilegiado cabe à leitura, porque dela dependem muitas outras aprendizagens.

Geraldi 10 (1996) citado por Matos (2001, p.38) afirma que, da experiência

da leitura, o leitor sai modificado ou porque assume os pontos de vista com que compreende o mundo ou modifica tais pontos de vista em face do diálogo mantido através do texto com seu autor.

O leitor não interage diretamente com o texto (relação sujeito/objeto), mas com outro (s) sujeito (s) (leitor virtual, autor, etc); são relações entre homens, sociais e históricas, mediadas por objetos (como o texto).(MATOS, 2001)

Danyluk (1989) afirma que “... a linguagem é um meio de estabelecer

relações humanas e um aspecto fundamental do modo de ser e de existir do ser humano que, por meio dela, expressa a linguagem do ser”. Portanto, ler, implica

compreender o que se está sendo expresso pela linguagem e, desta forma, entrar em comunicação com o autor. A leitura da palavra, do símbolo, ou a leitura do mundo, realiza-se plenamente quando o significado das coisas que estão representadas emerge pelo ato da interpretação.

Para Gomes (2002) a leitura, hoje, é vista não mais como um processo de pronunciar o texto, mas como uma atividade complexa que envolve raciocínio, ou seja, ler é compreender. A leitura é um processo interativo e construtivo, no qual entram em jogo as relações entre as diferentes partes do texto e os

9QUINTANAL DÍAZ, J. Estratégias lectoras. Revista Portuguesa de Educação, 11(1), p.123-

134,1998.

10 GERALDI, J.W. Linguagem e Ensino: exercícios de militância e divulgação.Campinas, SP:

conhecimentos prévios do leitor. O processo de compreensão envolve a coordenação de múltiplos fatores: as particularidades do texto, os objetivos visados pela leitura, as circunstâncias em que esta ocorre e as características pessoais do leitor.

“Ter competência em leitura significa possuir um repertório de procedimentos estratégicos, saber gerenciar de forma adequada a sua utilização e aplicá-los de modo flexível, em cada situação” (SOLÉ & VAZ; 1998).

Segundo Gomes, a compreensão de um texto consiste, fundamentalmente, em estabelecer relações entre as diferentes idéias aí veiculadas -processo de integração, e na ligação da informação do texto com os conhecimentos anteriores do leitor - processo de construção. Para que o leitor forme um modelo do texto é necessário que a informação seja integrada num todo coerente (foco explícito) o que, por sua vez, exige o estabelecimento de uma continuidade referencial.

“A capacitação especificamente humana para a linguagem habilita as crianças a providenciarem instrumentos auxiliares na solução de tarefas difíceis, a superar a ação impulsiva, a planejar uma solução para um problema antes de sua execução e a controlar seu próprio comportamento. Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais. (VIGOTSKY, 1998)”.

Vaz (1998) citado por Gomes (2002 p.46):

“Distingue entre estratégia de leitura e habilidade de leitura. As habilidades são rotinas aplicadas de forma mais automática, estão associadas a processos mais elementares de pensamento, são procedimentos aplicáveis segundo um padrão fixo a uma grande variedade de textos, envolvem exercícios repetitivos, não havendo lugar para o seu uso consciente e intencional. As estratégias, pelo contrário, implicam planos deliberados e sob controle do leitor;

exigem raciocínio e pensamento crítico; são flexíveis por definição, sendo adaptáveis aos diferentes tipos de texto e aos objetivos da leitura; pressupõem o recurso a metacognição e podem adotar procedimentos de regulação para recuperar a compreensão perdida”.

Foucambert (1994) diz que: “ser leitor é saber o que se passa na cabeça do

outro para compreender melhor o que se passa na nossa”.

Dos anos 80 em diante, os documentos produzidos pelo setor de Educação da UNESCO enfatizam que: “o conceito atual de alfabetização esforça-se por

introduzir a idéia de que a aprendizagem da leitura e da escrita deve vincular-se o máximo possível a realidades concretas – sejam de ordem cotidiana, técnicas, econômicas, políticas, culturais – dos alfabetizados” (PERROTA 1985, citado por

SILVA & ESPÓSITO, 1990, p.66).

2.3.1 Por que meu aluno não lê? 11

Para KLEIMAN (2002), a leitura tem ocupado cada vez menos espaço no cotidiano das pessoas devido a fatores como: a pobreza no seu ambiente de letramento, o material escrito com o qual o aluno entra em contato - tanto na escola como fora dela - ou ainda, à própria formação precária de um grande número de professores que não são leitores, mas, no entanto, tem que ensinar a ler e a gostar de ler.

A leitura passa a ser difícil quando não faz sentido, descortinada de significados ela se torna uma tarefa árdua para qualquer pessoa.

Kleiman lembra que, para a maioria das pessoas a leitura não é aquela atividade prazerosa, no aconchego do lar, no canto preferido, que nos permite nos isolarmos, sonhar, esquecer, entrar em outros mundos e que tem associações com nossas primeiras estórias contadas por nossos pais ou avós.

Ainda de acordo com kleiman, muitos professores são responsáveis por práticas pedagógicas que inibem ou até desestimulam o aluno a ler. As ações pedagógicas nesse sentido não levam em conta alguns critérios para a escolha do texto, como a, legibilidade, ou grau de dificuldade, a relevância e o interesse, tanto do aluno, quanto dos objetivos acadêmicos da escola. A escolha do tema é o fio que permite a percepção e a produção da linguagem e o desenvolvimento de um novo sistema simbólico, o da linguagem escrita.