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Parte II – ESTUDO EMPÍRICO

Capitulo 7 – Discussão dos resultados

7.6. Constrangimentos e vantagens do EP

De seguida, abordaremos os constrangimentos e as vantagens relacionados com o EP, coincidentes com outro dos objetivos orientadores do nosso estudo, elencando as representações docentes sobre as barreiras que têm encontrado, por um lado, e sobre as vantagens que o EP lhes sugere, por outro.

No que diz respeito aos obstáculos que se apresentam à articulação com os profissionais de outros serviços, no âmbito da FCT, imperou a ideia de que os alunos têm de executar quaisquer tarefas nas empresas, o que está em consonância com Marques (2000), citada por Jerónimo (2012), quando, ao aludir à persistência de algumas reticências nos professores sobre a qualidade dos cursos profissionais, refere que se trata mais de adaptar os jovens aos contextos das empresas do que amplificar a sua capacidade técnica; que o empresário tem a possibilidade de usufruir de mão-de-obra “mais barata” e que há uma contradição entre as noções de lógica de produção e de lógica de formação. Esta última afirmação também parece ir ao encontro de uma outra barreira à articulação com os profissionais de outros serviços, no âmbito da FCT, apontada pelos docentes no nosso estudo: a “existência de desajustamentos entre a formação

escolar e o expectável por parte dos profissionais das entidades de acolhimento”.

Os outros estorvos referidos foram a “falta de diálogo entre os vários intervenientes”, a “não-aceitação de estagiários por parte das empresas”, a “dificuldade em arranjar tempo para

as reuniões de orientação” e a “insuficiente preparação por parte dos monitores”. Carvalho

(2000) aparenta concordância com esta última representação quando declara que a escola deve atuar em parceria com as empresas, designadamente através de tutores qualificados que estabeleçam um ponto de contacto entre a teoria e a prática, recolhendo informação que permita identificar as necessidades das empresas, com vista a uma reestruturação contínua e dinâmica do currículo e, por conseguinte, uma adaptação a essas mesmas necessidades.

Os docentes foram quase unânimes em reconhecer algumas vantagens do EP na melhoria das aprendizagens dos alunos. Segundo eles, o EP permite que os alunos consigam ingressar no mercado de trabalho, que melhorem o seu desempenho, que prestem mais atenção. Também entenderam que este tipo de ensino “abriu novos horizontes para alunos que entrariam em

aparece “como uma oportunidade mais acessível para alguns alunos terem sucesso escolar e,

eventualmente, arranjarem trabalho na área”, o que é consentâneo com a representação de

alguns professores inquiridos no trabalho de Jerónimo (2012), ao afirmarem que, hodiernamente, esta modalidade de ensino inclui muitos alunos “que não fariam o 12.º ano se não houvesse este tipo de cursos”. (p. 174). Azevedo (2010) está na mesma linha de pensamento ao sublinhar a importância dos cursos oferecidos pelas escolas profissionais, passados mais de vinte anos desde que foram criados, na motivação e na realização pessoal de muitos milhares de jovens portugueses. Acrescenta este autor, a respeito destes cursos:

Vi muitos destes jovens, muito desmotivados em relação à continuação de estudos e mesmo em relação à vida e ao futuro, ganharem nova coragem e força de viver ao aderirem a estes cursos e que hoje são profissionais muito realizados e melhores pessoas. (p. 26)

A este propósito, Estanqueiro (2012) também refere que uma das maiores fontes de indisciplina e de insucesso é, precisamente, a desmotivação, pois “Ensinar a quem não quer aprender é como lançar sementes em terreno pedregoso”. (p. 11). O autor explica esta falta de motivação pela desvalorização da instituição escola e do conhecimento e pela atração imediata pelos prazeres da sociedade de consumo. Assim, na sua perspetiva, os professores competentes tentam despertar nos alunos o desejo de aprender e a vontade de estudar. Trata-se de um círculo virtuoso, em que a motivação facilita o sucesso e, por sua vez, a obtenção do sucesso reforça a motivação. Também menciona Azevedo (2008) o seguinte:

a diversificação de itinerários de ensino e formação após o 9.º ano, se estiver ao serviço dos jovens e da sua realização pessoal e ao serviço do alcance de aprendizagens significativas e de qualificações adequadas… vai diminuir o absentismo, o abandono e a agressividade dentro das escolas. Porquê? Porque o percurso que mais interessa construir é o da motivação forte e do envolvimento pleno de cada aluno. (p. 4)

Azevedo (2012) apresenta como exemplo de medidas de prevenção do abandono escolar os itinerários educativos flexíveis, que combinam a formação geral e a formação profissional, e uma primeira experiência de trabalho, como acontece na Dinamarca.

A grande maioria dos professores acredita que o EP poderá contribuir, a médio/longo prazo, para melhorar as práticas educativas, seja porque os professores desenvolvem metodologias mais ativas e dinâmicas, seja porque tendem a individualizar mais o ensino. Estas opiniões

corroboram as ideias expressas no estudo de Jerónimo (2012): “as estratégias de ensino são ajustadas” e “a própria forma de como os professores trabalham é muito mais individual e individualista nos cursos profissionais”. (p. 174). Também Gonçalves e Martins (2008) se referem ao desempenho docente como sendo resistente à uniformização ou a qualquer protótipo, assumindo uma marca de desafio permanente.

A quase totalidade dos docentes inquiridos considera que o EP introduziu uma melhoria nas aprendizagens e no sucesso educativo dos alunos. As justificações dadas mais representativas foram: “porque aproxima a oferta educativa do mercado de trabalho” e “porque permite encontrar mais facilmente um emprego”, representações que são também assumidas por Fialho et al. (2013), os quais, a este propósito, referem que existe uma forte relação entre a formação de tipo profissional e a empregabilidade; dois dos “outros motivos” apresentados pelos docentes foram: “permite recuperar para o ensino alguns jovens que não conseguem concluir os cursos

científico-humanísticos”; “de outra forma, muitos alunos não concluiriam o ensino secundário”, o que vai ao encontro das opiniões patentes nos estudos de Jerónimo (2012), que atribuem a estes cursos a possibilidade de facilitarem a muitos alunos a conclusão do 12.º ano, e de Azevedo (2010). Este último salienta a importância do EP na motivação dos jovens desmotivados para continuarem os estudos no ensino regular. Finalmente, foi afirmado, em jeito de justificação: “porque os conteúdos são, no geral, menos exigentes”, o que, em certa medida, contraria o que é veiculado por Gonçalves e Martins (2008), que ressaltam o grau de dificuldade dos cursos profissionais, tendo em conta que os alunos têm de concluir com aproveitamento todos os módulos.

Como exemplo do efeito a médio/longo prazo do EP, mais de metade da amostra refere a adequação da oferta educativa ao mercado de trabalho e cerca de um quarto aponta a existência de mão-de-obra especializada. Esta, por referência ao QNQ, corresponde ao nível 4, o que significa que estes jovens serão capazes de gerir a sua própria atividade de acordo com orientações estabelecidas em distintos contextos de trabalho, sendo até capazes de supervisionar a atividade rotineira de terceiros e assumir responsabilidades em matéria de avaliação e de melhoria da atividade profissional (Portaria n.º 782/2009). A este propósito, declara Costa (2010):

muitos alunos afirmam que o EP os ajuda a tornarem-se mais adultos e responsáveis. Há quem defenda a ideia de que o professor deve ter sempre em mente que estes alunos são jovens pré-profissionais e que o seu papel é também o de os preparar para essa etapa da sua vida. (p. 55)

Idêntica posição é assumida por Fialho et al. (2013), ao salientarem o desenvolvimento de competências, tais como a responsabilidade, a gestão de rotinas e a capacidade de supervisão, enquanto vantagens do EP.

A grande maioria dos docentes participantes no nosso estudo considerou uma mais-valia o facto de os cursos profissionais permitirem prosseguir os estudos no ensino superior. A sua posição é justificada por vários motivos: os alunos já se terem confrontado com o mundo real do trabalho, estarem mais bem preparados para o ingresso naquele tipo de ensino e terem adquirido mais competências técnicas. Fialho et al. (2013) corroboram esta opinião, pois afirmam que a aquisição de competências profissionais e dos saberes necessários para as desenvolver só se materializa quando se proporciona aos indivíduos uma aprendizagem não apenas nas instituições de ensino, mas também nas organizações onde podem trabalhar. A FCT leva à acomodação de competências, tanto no domínio técnico e cognitivo como no domínio social e relacional.

A nível da articulação com os profissionais de outros serviços, os facilitadores mais mencionados foram a abertura por parte das empresas e a progressiva uniformização da linguagem utilizada. As altas expectativas relativamente ao empenho dos estagiários configuraram o facilitador menos referido.