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Parte I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capitulo 1 – O Ensino Profissional em Portugal

1.2. O Programa Novas Oportunidades

1.2.1. Os cursos profissionais nas escolas secundárias

Os cursos profissionais foram criados pelo DL n.º 74/2004, de 26 de março, que define as condições para o funcionamento nas escolas/agrupamentos da rede pública de estabelecimentos de educação e de ensino dos cursos profissionais de nível secundário de educação, e enquadram- se na modalidade de formação profissional, consignada no Despacho n.º 14 758/2004, DR 172, Série II, de 23 de julho. Este despacho clarifica o funcionamento dos cursos profissionais nas escolas secundárias públicas e visa contribuir para o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais necessárias ao exercício de uma profissão. Nesta linha, os referidos cursos dão primazia às ofertas formativas que equivalem às necessidades de trabalho locais e regionais e preparam os alunos para o acesso a formações pós-secundárias ou ao ensino superior. Depois de concluído, com aproveitamento, um curso profissional dá origem à obtenção do diploma do ensino secundário e, ainda, à certificação profissional, concedendo o nível 4 de qualificação do QNQ.

Os programas das disciplinas têm por base uma estrutura modular dos conteúdos da formação, competindo ao Ministério da Educação e da Ciência (MEC) asseverar a elaboração dos programas das disciplinas das componentes de formação sociocultural e científica. As escolas alvitram os programas das disciplinas da componente de formação técnica, norteando- se pelos pressupostos estabelecidos no referencial de formação da família profissional em que se enquadra o respetivo curso. Os cursos, os planos de estudo e os programas das disciplinas da componente de formação técnica são submetidos aos serviços centrais, com competência na

orientações processuais necessárias e adequadas à apresentação das propostas supramencionadas.

A organização e a gestão do currículo dos cursos profissionais de nível secundário, definidas na Portaria n.º 550 C/2004, de 21 de maio, cingem-se, globalmente, aos princípios orientadores definidos para a generalidade das formações do nível secundário de educação e, especificamente, aos princípios que a seguir se enumeram:

 Desenvolvimento de competências vocacionais, cimentadas num conjunto de saberes humanísticos, científicos e técnicos, que lhes possibilitem uma efetiva inserção no mundo do trabalho e o exercício responsável de uma cidadania ativa;

 Adequação da oferta formativa aos perfis profissionais atuais e emergentes, no quadro do reconhecimento de áreas prioritárias e estratégicas para o desenvolvimento económico e social do país, num contexto de globalização;

 Racionalização da oferta de cursos profissionalmente qualificantes, recorrendo à publicação de referenciais de formação;

 Reforço da estrutura modular dos conteúdos da formação, no âmbito da demarcação da organização curricular dos cursos e do processo de avaliação das aprendizagens;  Valorização da vertente técnica e prática da aprendizagem;

 Valorização de conhecimentos adquiridos no âmbito das tecnologias da informação e comunicação, aprofundando, por exemplo, a formação que incida sobre instrumentos de produtividade que suportem as tecnologias particulares de cada curso, bem como o exercício da cidadania;

 Reconhecimento e fortalecimento da autonomia da escola, visando a definição de um projeto de desenvolvimento do currículo adequado ao contexto singular e integrado no respetivo projeto educativo;

 Consolidação da ligação entre a escola e as instituições económicas, financeiras, profissionais, associativas, sociais e/ou culturais locais e regionais;

 Preparação adequada para o exercício profissional qualificado, na linha da aprendizagem ao longo da vida.

A avaliação, no caso destes cursos, incide sobre as aprendizagens previstas nos programas das disciplinas das várias componentes de formação, sobre o plano de FCT e, ainda, sobre as competências identificadas no perfil de desempenho à saída do curso.

A conclusão, com aproveitamento, de um curso profissional, alcança-se através da aprovação em todas as disciplinas do mesmo, da FCT e da Prova de Aptidão Profissional (PAP).

Deverá, paralelamente, ser considerada a assiduidade do aluno, não podendo esta ser inferior a 85% da carga horária de cada módulo e a 95% da carga horária da FCT, mesmo que as faltas que ultrapassem os limites acima estabelecidos tenham sido aceites como justificadas.

A avaliação arroga um caráter diagnóstico, formativo e sumativo, visando: dar feedback ao aluno, e respetivo encarregado de educação, acerca dos progressos efetuados, das dificuldades reveladas e dos resultados obtidos na aprendizagem, clarificando as causas do (in)sucesso; adaptar e diferenciar as estratégias e metodologias de ensino, estimulando o desenvolvimento global do discente nas áreas cognitiva, afetiva, relacional, social e psicomotora; certificar os conhecimentos adquiridos e as competências desenvolvidas; contribuir para a melhoria da qualidade do sistema educativo, facilitando a tomada de decisões para o aperfeiçoamento e o reforço da confiança social no seu funcionamento (art.º 10.º da Portaria n.º 550 C/2004, de 21 de maio).

A avaliação sumativa assume as funções de classificar e de certificar, manifestando-se na formulação de um juízo globalizante sobre as aprendizagens realizadas e as competências adquiridas e desenvolvidas pelos alunos (compreende a avaliação sumativa interna e a avaliação sumativa externa). A avaliação sumativa interna coincide com o final de cada módulo e requer a intervenção do professor e do aluno, sendo formalizada em reunião do conselho de turma. Cabe ao professor organizar e facultar, de forma participada, a avaliação sumativa de cada módulo, respeitando o ritmo individual de aprendizagem dos alunos. O momento da realização da avaliação sumativa, no final de cada módulo, resulta do acordo prévio entre o(s) aluno(s) e o professor. A avaliação de cada módulo expressa a conjugação da auto e heteroavaliação do(s) aluno(s) e da avaliação efetuada pelo professor, em função da qual se adequam as estratégias de ensino/partilha/aprendizagem e se combinam novos processos e prazos para a avaliação do módulo. O aluno pode requerer, no princípio de cada ano letivo e em condições a fixar pelos órgãos competentes, a avaliação dos módulos não realizados no ano letivo anterior. A avaliação sumativa interna recai ainda sobre a FCT e implica, no final do 3.º ano do ciclo de formação, uma PAP. (Portaria n.º 550 C/2004, de 21 de maio, art.º 14.º)

A aprovação em cada disciplina, na FCT e na PAP, procede da obtenção de uma classificação igual ou superior a 10 valores. A aprovação na disciplina dependerá, conforme o caso, da classificação final obtida: na avaliação sumativa interna, na ponderação das classificações alcançadas na avaliação sumativa interna e no exame nacional, nas situações em que haja lugar à sua realização.

nestes cursos, podem concluir-se vários módulos de uma mesma disciplina durante um ano letivo, ao invés do que acontece nos cursos científico-humanísticos, em que a conclusão das disciplinas poderá apenas efetuar-se no final de cada ano letivo, sendo o número de aprovações condição sine qua non para a progressão ao nível de escolaridade seguinte.

Vinhas (2012) considera que o ensino por módulos reúne várias vantagens, salientando, entre outras, uma maior motivação dos alunos e um mais alto nível de coerência entre conteúdos. Neste sentido, segundo a autora:

O ensino modular exige conexões entre especialistas quando se trata de um nível que exige competências científicas mais elaboradas por parte dos professores, mas é um recurso para a relação entre os saberes quando o estilo dominante não é o trabalho de grupo entre os professores; permite não apenas relacionar conteúdos intelectuais, mas também conectá-los com atividades práticas, habilidades diversas que não costumam depender de conteúdos específicos. Os módulos originam a preocupação de uma atividade metodológica potencialmente mais variada, integradora de recursos diversos, materiais, meios audiovisuais, entre outros. (p. 53)

Os módulos reclamam, certamente, numa mesma unidade metodológica, ciclos de ação alargados, beneficiando a organização do trabalho dentro da sala de aula, em grupos heterogéneos, o que se reveste de grande importância nos procedimentos a adotar com os diferentes discentes. A organização modular pode, pois, representar um recurso tão válido como qualquer outro para responder às necessidades singulares de cada elemento do grupo (Vinhas, 2012).

O módulo, segundo Perrenoud (2000), assinala períodos de atividade para conteúdos com coerência interna, atestando o sentido de determinados objetivos intermédios, o que pode ocasionar o esboço da apreciação que o professor executa, documentando os progressos ou os retrocessos, mas permitindo, acima de tudo, regular a aprendizagem do aluno e a atividade do professor. Representando os módulos unidades de conteúdo diminutas, por conseguinte, mais acessíveis, eles pretendem motivar aqueles a quem a escola nada suscita. Assim, uma organização modular subentende uma estruturação curricular numa sucessão de módulos, definidos como espaços de tempo de formação qualificados por uma unidade temática e por objetivos de formação delimitados e que sejam interligados formando um todo coerente.

Síntese

Levando em linha de conta a diversidade de ofertas formativas de nível secundário, o crescente número de alunos que o cursam e o alargamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos/12.º ano, os cursos profissionais, na qualidade de percursos educativos qualificantes, constituem-se como uma resposta consentânea com o desenvolvimento de competências técnicas essenciais à inserção profissional.

Os cursos profissionais contemplam estágios em ambientes reais nas empresas, permitindo não só um ingresso mais rápido no mundo do trabalho, para quem pretende concluir os seus estudos neste nível de ensino, mas também o prosseguimento dos mesmos para o ensino superior. Uma vez concluído, com aproveitamento, um curso profissional permite obter, simultaneamente, um diploma do ensino secundário e uma certificação profissional de nível 4, por referência ao QNQ.