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Construção da Escala de Satisfação com Vida Académica ESVA

DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR

2. Construção da Escala de Satisfação com Vida Académica ESVA

A construção da Escala de Satisfação com Vida Académica (ESVA) surgiu da necessidade de validar um conjunto de itens que se desejava incluir no estudo principal como variáveis. Obedeceu, por isso, aos objetivos do mesmo e à revisão de literatura levada a cabo para o efeito, que permitiu identificar as varáveis habitualmente selecionadas para estudar a satisfação com vida académica em EES e os respetivos métodos e técnicas para as medir (Almeida et al., 2002; Santos et al., 2013; Soares et al., 2006).

Destacaram-se dois instrumentos de autorrelato validados para a população em estudo: (1) Questionário de Vivências Académicas - reduzido (QVA-r) (Almeida et al., 2002), que contém 55 itens e 5 dimensões e (2) Escala de Satisfação Experiência Académica (ESEA) (Santos, Polydoro, Scortegagna, & Linden, 2013), com 35 itens e 3 dimensões.

A construção da ESVA orientou-se por princípios teóricos. A seleção dos oito itens que a compõem foi feita a partir de dois instrumentos já existentes, ancorados no Modelo

Multidimensional de Ajustamento de jovens ao contexto Universitário (MMAU) (Soares,

Almeida, Dinis, & Guisande, 2006). Este modelo preconiza que a adaptação ao contexto académico não ocorre dissociada dos processos de desenvolvimento humano ou de aprendizagem, pelo contrário, abrange dimensões de vária ordem, tais como: a satisfação com

146 o ambiente relacional, pedagógico e físico do contexto académico; compromissos com o curso; atividades extracurriculares da instituição; condições para estudar; habilidades e competências dos EES; perceção de desempenho académico; relacionamento com colegas e professores (Soares et al., 2006; Santos te al., 2013).

2.1. Método

Participantes

A amostra foi constituída por 500 EES que integram a amostra em estudo, com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos.

Procedimento de seleção dos itens a incluir na ESVA

Numa primeira etapa procedeu-se à revisão de literatura com base em dois objetivos, cujo resultado permitiu: (1) identificar instrumentos de avaliação da satisfação académica; (2) conhecer os instrumentos usados em países de língua Portuguesa. Numa segunda etapa, conforme nosso objetivo, foram analisados os constructos dos instrumentos e procedeu-se à seleção dos itens que a literatura indica como variáveis pertinentes para medir satisfação com vida académica (Bardagi & Hutz, 2010; Soares et al., 2007).

Como referido anteriormente destacaram-se dois instrumentos, ambos em língua portuguesa, que são frequentemente usados para avaliar satisfação com a vida dos EES (Almeida, Ferreira, & Soares, 1999a; Santos & Suehiro, 2007). Destes instrumentos foram criteriosamente selecionados os itens de interesse:

- QVA-R - foram selecionados 5 itens relativos às dimensões: pessoal, carreira, interpessoal, estudo e institucional;

- ESEA - foram selecionados 3 itens relativos à satisfação com o curso, oportunidade de desenvolvimento e satisfação com a instituição.

Estes oito itens acomodam as variáveis habitualmente estudadas em consonância com modelo teórico subjacente. A ESVA inclui uma dimensão de carater mais externo (ambiente físico, pedagógico, interesse e compromissos com o curso, atividades extracurriculares da instituição, condições para estudo) e outra mais interna (habilidades e competências dos EES, perceção de desempenho académico e relacionamento com colegas e professores).

147 Seguidamente procedeu-se à validade facial do conjunto dos itens, usando o método “Thinking aloud Method” (Someren et al., 1994), com um grupo de quinze EES, que analisaram a pertinência, adequação, a aceitabilidade dos itens e as palavras e frases utilizadas. Desta etapa, após pequenos ajustes – gramaticais, léxico e sentido de formulação das perguntas, resultou uma versão corrigida, com base nas sugestões propostas, e foi-lhe atribuída a designação de Escala de Satisfação com a Vida Académica (ESVA). Seguiu-se o estudo psicométrico para estudar a validade e a fidelidade.

Descrição da ESVA

A ESVA é uma escala de autorresposta composta por oito itens/frases referentes à satisfação dos EES relativamente às suas vivências académicas na instituição de Ensino Superior que frequentam. Informa acerca da qualidade da sua adaptação ao ambiente académico em que se insere. A resposta é dada numa escala tipo Likert de 5 pontos 1«discordo totalmente»; 2«discordo»; 3«nem concordo nem discordo»; 4«concordo»; 5«concordo totalmente». As pontuações totais da ESVA resultam do somatório dos valores brutos dos itens. Quanto mais alto o valor maior a perceção de satisfação académica do estudante. Pode ainda ser analisada de acordo com os dois fatores - Satisfação Pessoal e Satisfação com Ambiente Académico, encontrados na análise fatorial.

2.2. Resultados

Fidelidade

A fidelidade da ESVA foi avaliada através da consistência interna. Os resultados da Tabela 5.3 revelam um índice de fiabilidade bom na escala total, indicando confiabilidade pelo método da consistência interna

Tabela 5. 3. Médias, desvio-padrão e consistência interna da ESVA

ESVA M DP Cronbachalfa

Satisfação Pessoal (SP)(a) 14,61 2,92 ,72

Satisfação com Ambiente Académico (SAA)(b) 14,59 3,19 ,74

Escala Total(c) 29,20 5,33 ,80

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Independência dos itens

A independência dos itens foi estudada com recurso à correlação de Pearson inter-item (Tabela 5.4). Verifica-se que todas as correlações são positivas significativas, a um nível de significância α=0,01 e variam entre valores mais baixo r=0,12 e mais alto e r=0,55. A correlação do item-total corrigido variou entre 0,40 e 0,56, e para dois dos oito itens da ESVA a correlação do item-total corrigido > 0,50. Apenas o item 6 teve um valor mais baixo, ainda assim aceitável.

Tabela 5. 4 Correlação Pearson inter-item da ESVA N=500

Itens ESVA 2 3 4 5 a 6 a 7 a 8 a 1 b ,52 ,38 ,50 ,38 ,30 ,30 ,34 2 b ,29 ,27 ,55 ,39 ,17 ,31 3 b ,41 ,36 ,26 ,20 ,27 4 b ,34 ,17 ,12 ,24 5 ,62 ,35 ,45 6 ,26 ,42 7 ,45 Validade

O método de extração de fatores foi Componentes Principais, com Rotação Ortogonal Varimax, que assume a independência entre os fatores encontrados. Os resultados do teste de esfericidade de Bartlett´s [Qui-quadrado (28) = 1198,968; p = 0,00 <0,001] indica que as correlações entre os itens são adequadas para a realização da análise. A medida de Kaiser-

Meyer-Olkin verificou a adequação da amostra para a análise fatorial (KMO = 0,77> 0,5) e

todos os valores da MSA - Matriz anti imagem, foram maiores que 0,71, considerando 0,30, o valor mínimo aceitável de significância prática (Marôco, 2011).

A análise inicial mostrou que dois componentes obedeceram o critério de Kaiser52 e o

Scree plot mostrou dois componentes posicionados antes da inflexão. Considerando o

tamanho da amostra e a convergência entre o Scree plot e o critério de Kaiser, 2 foi o número de componentes mantidos na análise final. A Tabela 5. 5 mostra a estrutura da ESVA (Análise Fatorial Varimax - Rotação Ortogonal). A matriz rodada mostrou que os itens 5, 6, 7 e 8 tiveram maior carga no componente 1 - denominado de Satisfação Pessoal, cuja relação com o fator 2, variou entre 0,68 e 0,74. Os itens 1, 2, 3 e 4, tiveram maior carga no componente 2 -

149 denominado Satisfação com Ambiente Académico, a relação variou entre 0,54 e 0,83. Os autovalores rotacionados, do Componente 1=2,36 explica 29,5% da variância, o Componente 2=2,22 explica 27,7% da variância. O primeiro, mais forte, é o que melhor explica a variância total de 43,1%, o segundo explica 14,2%, explicando no total a variância acumulada de 57,24%.

Tabela 5. 5 Matriz estrutural dos componentes rodadas da ESVA(a)

Itens Componentes

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