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1. A Saúde Mental em Estudantes do Ensino Superior: um problema contemporâneo

1.2. Respostas institucionais supranacionais e nacionais

As respostas institucionais têm sido pouco eficientes na abordagem da problemática da saúde mental dos EES (Kitzrow, 2009), embora haja evidências de que nos últimos anos as Políticas têm recomendado a dinamização de programas promotores de bem-estar e da saúde mental, e os responsáveis dos estabelecimentos de ensino têm-se esforçado por organizar repostas de saúde nos campus universitários (Gallagher, 2013).

39 ambiente académico, na lógica whole university approach (Dooris & Doherty, 2010) subjacente à filosofia das Universidades e Escolas Promotoras de Saúde (UEPS)4. Estas

abordagens inspiradas na Carta de Ottawa, no âmbito dos ambientes favoráveis à saúde da OMS, têm-se convertido num movimento global, recentemente impulsionado pelo encontro científico: 2015 International Conference on Health Promoting Universities and Colleges: 10

Years After the Edmonton Charter. Este movimento tem granjeado muita popularidade e

simpatia, embora haja grande disparidade entre instituições de ensino dos vários países, além da necessidade de diferenciar entre o conceito de promoção da saúde em contexto de

contexto promotor da saúde (Dooris & Doherty, 2010).

A promoção da saúde mental (PSM) é central e parte integrante das recomendações plasmadas em vários documentos5 nacionais e supranacionais, reforçando-se

designadamente que “Mental health, like other aspects of health, can be affected by a range

of factors (…) that need to be addressed through comprehensive strategies for promotion, prevention, treatment and recovery in a whole-of-government approach”(p. 8)( WHO, 2013).

A abordagem Holística da promoção da saúde mental (Hunt & Eisenberg, 2010) parece particularmente promissora para incrementar o bem-estar e o sucesso do estudante. Para aproveitar esta oportunidade é importante melhorar a investigação e coordenar respostas integradas, sistemáticas e sustentadas pela evidência.

Genericamente as instituições centram-se em oferecer serviços quando os estudantes pedem ajuda, na promoção e prevenção. Com a primeira ação respondem aos problemas mais urgentes, desencadeando ou proporcionando respostas mais imediatas. Com a segunda apostam em programas de promoção e educação para a saúde, de apoio e orientação pedagógica. A literatura tem demonstrado que as intervenções no âmbito da PSM em EES se têm destacado como eficientes, com resultados muito promissores (Conley, Travers, & Bryant,

4 Redes nacionais: American Network of Health Promoting Universities com 72 universidades;

Colombian Network of Health Promoting Higher Education Institutions and Universities com 66 membros; German Health Promoting Universities Network com 80 membros; Spanish Network for Health Promoting Universities com 48 instituições; UK National Healthy Universities Network com 73 nacionais e 12

estrangeiras (Healthy Campuses, 2015; Heraud, 2013). Redes supranacionais: a celebre Red

Iberoamericana de Universidades Promotoras de Salud (RIUPS) (www.paho.org/), a European Health Promoting Universities (EuroHPU) (www.capfoods.aau.dk/kindergarten‑school‑university/eurohpu/) e a AsiaPacific Network of Health Universities (www.cuhk.edu.hk/cpr/pressrelease/070310e.htm).

5 Promoting Mental Health. Concepts, Emerging Evidence, Practice (WHO, 2005b) e Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, e no WHO’s Comprehensive Mental Health Action Plan 2013-2020, emanado da 66ª Assembleia da OMS, que em maio de 2013 reuniu os ministros da saúde de 194 Estados Membros (World Health Organization, 2013)

40 2013). Focam-se na educação para a saúde integrada, compreensiva e abrangente, sobretudo na capacitação, autonomia e no reforço dos recursos positivos. É dirigida às singularidades dos estudantes e dos contextos académicos, visando diminuir, minimizar ou eliminar condicionantes negativos (Kalra et al., 2012). Na generalidade PSM inclui a gestão de stress, ansiedade, serviços de apoio e orientação e têm como escopo patrocinar os estudantes nos processos de transição, aprendizagem e desenvolvimento (Souza, Paro, Morales, Pinto, & Silva, 2012).

As instituições de ensino Portuguesas também tem feito esforços no sentido de implementar iniciativas de promoção da saúde. Embora pouco operacionalizadas ou especificamente dirigidas, abordam variáveis relevantes da saúde mental - disciplina de opção6; educação para a saúde nos curricula7; formação dirigida à comunidade educativa8; consulta do sono (Gomes, 2006); programa de educação de sono para universitários (Vieira, Gomes, & Marques, 2012); o programa “Stress em Linha” (Oliveira, 2008); o programa de intervenção na qualidade de vida (Martins, Jesus, & Pacheco, 2008).

De um modo geral as instituições de ensino estão munidas de Gabinetes de Apoio Psicopedagógico ao Estudante (GAPE) ou similar. Embora muito díspares estão normalmente focadas no apoio do sucesso académico, com fraco investimento na promoção da saúde mental e bem-estar. Oferecem sobretudo:

- Serviços Remediativos, que visam o suporte terapêutico a quem carece de acompanhamento profissional imediato.

- Serviços Preventivos, baseados na promoção e educação para a saúde no momento da admissão e posteriormente na integração na vida profissional.

- Serviços de Desenvolvimento Pessoal, dirigidos à otimização do máximo potencial do estudante.

Porém, existem diversas razões pelas quais o estudante com problemas de saúde mental tem relutância em procurar ajuda ativamente. Como principais barreiras apontam-se as crenças (e.g., Toda a gente irá saber; Eu consigo resolver o meu problema; Eu não tenho

6 Universidade de Aveiro (2004/2005), com estrutura modular que incluiu (1) ritmos de sono e vigília

e (2) stresse e ansiedade) (Tavares et al., 2006, 2008).

7 Exemplos de Escolas superiores de saúde (e.g. www.ensp.unl.pt, www.esesjd.uevora.pt, www.esevr.pt, www.essv.ipv.pt)

8 Em 2002 a 2004 na Universidade de Aveiro- módulos mensais temáticos (e.g., gestão do stress, higiene do sono, expressão corporal, atividades promotoras de bem‑estar) (Pereira et al., 2005).

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qualquer problema) (Royal College of Psychiatrists, 2006). Mas a principal barreira continua a

estigma e o medo de repercussões profissionais futuras (Eisenberg, Downs, et al., 2009; Eisenberg et al., 2011; Sartorius, 2007). Consequentemente alguns estudantes embora necessitando não recebem qualquer tipo de apoio profissional (Hunt & Eisenberg, 2010).

Os modelos Portugueses de vigilância de saúde vigentes são deficitários quanto a programas dirigidos à PSM dos EES e, estas lacunas identificam-se tanto ao nível da oferta de cuidados especializados, como nos cuidados de saúde primários. Existem sobretudo obstáculos à continuidade e transferência de cuidados de saúde, razão pela qual é necessário desenhar intervenções de saúde mental centradas nos EES, no âmbito das redes atuais de cuidados, articuladas entre equipas de saúde e instituições de ensino superior. Seja como for, as instituições de Ensino Superior não devem subestimar o necessário investimento na saúde mental dos estudantes, pois o saldo do custo/benefício deste tipo de intervenção é muito vantajoso para as instituições, para os estudantes e para sociedade em geral.

Perante a complexidade, extensão social e relevância desta problemática, atual e futura, é prioritário implementar abordagens ajustadas aos EES a partir de uma visão salutogénica e positiva da saúde mental. Por conseguinte, justifica-se explicitar a perspetiva o quadro conceptual que o orienta este estudo.