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DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR

2. Preditores e Correlatos da Saúde Mental em Estudantes do Ensino Superior

2.3. Satisfação com o suporte social

O suporte social é o apoio emocional e instrumental que a família27 e as redes sociais (familiares e pares) proporcionam aos seus membros, no quotidiano e perante adversidades

27 A proteção e autonomia oferecidas equilibradamente pela família favorecem a confiança, mediador fundamental das relações interpessoais, confirmando a relevância do papel da família enquanto sistema protetor do individuo perante as situações de crise (Barker, 2000; Macfarlane, 2014).

95 (Souza et al., 2010). A evolução teórica e empírica deste conceito tem contribuído para a consolidação do seu papel elementar na perceção de suporte social como um forte preditor da saúde mental. De acordo com Wang et al. (2014), o suporte social modera o efeito do stress na depressão em EES (Wang, Cai, Qian, & Peng, 2014). Por oposição a ausência de uma rede de suporte social é preditor de depressão em mulheres EES (Wilson et al., 2014).

A satisfação com o suporte social é o efeito benéfico que deriva da perceção positiva que o indivíduo tem desse apoio. Regra geral, o indivíduo sente-se amado, valorizado, compreendido e protegido (Ennis & Bunting, 2013; Gowers, 2001; Pernice-Duca, 2010). Este tipo de funcionamento no seio do grupo familiar28 oferece os recursos essenciais à construção da personalidade e ao desenvolvimento de modelos relacionais29 positivos (MacFarlane 2014; Barker, 2000; Souza & Baptista, 2008).

A perceção de suporte social alimenta sentimentos de autoestima, identidade, participação e partilha. Ajuda a enfrentar as adversidades e a gerir situações ansiogénicas, pois atenua o stress e alivia as tensões físicas e psíquicas e, em grande medida, é proporcionado pela família (Souza & Baptista, 2008). A perceção de proteção emerge da satisfação da necessidade humana fundamental de pertencer a redes de contacto, isto é, que permitam receber apoio e sentir-se conectado social e afetivamente, sentir-se valorizado e

cuidado emocionalmente. Mas também de partilhar afetos no âmbito das relações

interpessoais. Sentir-se conectado é o efeito que decorre da demonstração de proximidade afetiva, de entreajuda, autonomia e independência entre os elementos das redes familiares e académicas (Rodrigues & Madeira, 2009; Hlebec, Mrzel, & Kogovšek, 2009).

Os sentimentos positivos emergem da qualidade das relações, que têm subjacente a segurança emocional e a estabilidade, amortecedores dos eventos stressantes (Souza et al., 2010). É benéfico e securizante para o estudante acreditar que se interessam por ele, que o valorizam e aceitam, assim como, sentir que em caso de necessidade dispõe de ajuda para resolver os problemas e ultrapassar dificuldades. Neste sentido, nesta etapa, as redes de pares são de extrema importância, na medida em que cumprem a função de substituir o espaço emocional e relacional “deixado vazio” pelos movimentos de individualização e distanciação

28 Os atributos familiares (socialização, apoio material e emocional, valores e normas afetuosas, coesão, emoções positivas, limites claros, regras flexíveis, diálogo entre os membros) são fundamentais na construção do psiquismo e saúde mental dos indivíduos (MacFarlane, 2001; Macfarlane, 2014).

96 da família. Veiculam sentimentos de suporte e simultaneamente interações identitárias de pertença, para consolidação da identidade (Hardy et al., 2013; Snider & Dawes, 2006). No grupo de pares o estudante encontra apoio, empatia, ressonância e o alívio de alguns conflitos de emancipação, e partilha objetivos e dificuldades idênticas, promovendo o seu crescimento e maturidade (Swenson et al., 2008).

A perceção de suporte social tem sido investigada como preditor de melhor saúde mental, na medida em que é uma dimensão fundamental nos processos cognitivos e emocionais associados ao bem-estar e à qualidade de vida. A família é a fonte de suporte instrumental e afetivo mais importante do EES, fornecendo apoio material, emocional e orientação para enfrentar e resolver os problemas (Souza, Baptista, & Alves, 2008). As relações familiares positivas, isto é, ter tido “bons pais”, favorecem o desenvolvimento psicossocial saudável e a adaptação harmoniosa ao contexto académico (Souza, Baptista, & Baptista, 2010). Pelo contrário percecionar um deficitário suporte social, emocional, psicológico ou material é sentido como perturbador, com efeitos negativos significativos nos processos de adaptação (Souza et al., 2010).

Sisto & Oliveira (2007) encontraram correlações positivas significativas entre suporte familiar percebido e saúde mental e, correlações negativas entre agressividade familiar e saúde mental (Sisto & Oliveira, 2007). Outros estudos corroboram os benefícios do suporte social na SM em EES (Gonçalves et al., 2011; Tavares, 2012; Verger et al., 2009). Por exemplo num estudo que relaciona a SM com o suporte social, numa amostra randomizada de 1,378 EES usando o MSPSS30, os autores verificaram que os estudantes com perceção de fraca qualidade de suporte social tendem a experimentar mais problemas de SM e estão em grande risco de isolamento social (Hefner & Eisenberg, 2009a).

A perceção de ter suporte social tende a aumentar a autoestima, o otimismo a promover o humor positivo, a diminuir o stresse e os sentimentos de solidão e fracasso. Por oposição a perceção de níveis baixos ou ausência de suporte social e o isolamento têm surgido associados a níveis de stresse mais elevados e à depressão (Rodrigues & Madeira, 2009; Sisto & Oliveira, 2007; Sisto et al., 2008).

Por sua vez Verger et al. (2009), também encontraram um efeito protetor direto do suporte social no Distress Psicológico em estudantes francesas. Sugerindo os autores que esse

97 efeito não ocorra nos homens porventura devido às diferenças na socialização ente géneros (Verger et al., 2009). Segundo Pimentel (2014), os estudantes com redes académicas parcas - pouca atividade académica, associativa ou extracurricular e relacionamentos pobres com colegas ou docentes, manifestam mais sintomas de distress académico que os colegas mais ativos. O suporte familiar também parece ser um indicador de proteção face à ideação e risco de suicídio (Gonçalves et al., 2011; Wilson et al., 2014).

Os estudos revistos parecem indicar que a proteção facultada pelas redes familiares e dos pares favorecem a autoestima e a confiança dos EES, como um mediador elementar das relações interpessoais satisfatórias, na medida em que promovem desenvolvimento e habilidades para gerir situações de crise. Salienta-se a relevância da perceção de suporte social (família e pares) enquanto promotor de saúde mental e capacidade de ajustamento dos EES, dado que veicula sentimentos de segurança, pertença, empatia e ressonância no alívio de tensões e dificuldades. Apesar destas evidências em Portugal poucos estudos investigaram esta relação em EES.