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1.2 METODOLOGIA

1.2.5 A construção das histórias

Compuseram os enredos desta tese as narrativas auferidas por meio de entrevistas abertas, de registros (produzidos por variados institutos ou centros de pesquisa – IBGE, IPARDES e Observatório das Metrópoles) e oriundas de documentos e da revisão de literatura sobre o tema.

Como o primeiro estudo que realizei para escrever este trabalho foi ler sobre a literatura referente aos arranjos institucionais e gestão metropolitana no Brasil, decidi por começar o desenvolvimento da tese abordando esta revisão de literatura.

Com a revisão de literatura, o intuito foi o de contar ao leitor a história sobre gestão metropolitana no Brasil, colocando em evidência os novos espaços de governança e, principalmente, as dificuldades para a consolidação da prática de gestão metropolitana.

A partir da identificação de limites de gestão metropolitana no Brasil, busquei conhecer como duas experiências de associativismo territorial (CGM e CONRESOL) se desenvolveram na RMC, com o objetivo de identificar movimentos e elementos que indicassem ao menos a eminência da construção de uma prática de gestão metropolitana.

Como já destaquei, as entrevistas tiveram início a partir da agenda de disponibilidade apresentada pelos primeiros contatados, servidores da COMEC. Após os primeiros contatos, o estudo se desenvolveu conforme a técnica “bola de neve”, com pessoas que passaram a ser citadas pelos próprios entrevistados. Além das treze pessoas entrevistadas, é pertinente destacar que tentei contatar outras três, sem êxito, sendo elas: Ricardo Bindo (Supervisor de Planejamento do IPPUC), Marilza Dias (Secretaria Executiva do CONRESOL) e Paulo Yoshikatsu Kawahara (Arquiteto e Urbanista). O quadro n° 1 apresenta a relação das pessoas entrevistadas para cada um dos dois casos, bem como as que não foram entrevistadas e o motivo. Para a leitura da experiência do CISAMUSEP, na RM de Maringá, realizei sete (7) entrevistas, as quais não integralizaram a presente tese. Não revelei os nomes dos entrevistados, por motivo de sigilo, denominando-os de ATORES, com exceção do Promotor do Meio Ambiente e do Presidente do Tribunal de Contas do Paraná.

Por meio de diferentes narrativas, compreendi cada história através do encadeamento de sentidos, apreendendo o dito e o não dito, o subtexto que sustenta a história central (CZARNIAWSKA, 2004).

O processo de estudos da narrativa compreendeu familiarizar com as histórias das duas experiências, superar as inconsistências (relevância, problemas relacionados e pistas) e identificar os mistérios. Para desvendá-los, realizei uma leitura questionando cada narrativa e retomando alguns contatos. Por fim, parti para a reformulação do enredo, reescrevendo a versão final de cada experiência. Deixo claro que estas interpelações não estão inscritas no texto da tese.

Entrevistado Quantidade de entrevistas

Que lugar ocupa? Experiência Lugar e dia Forma ATOR A 4 Arquiteta e Urbanista

Coordenadora de Planejamento da COMEC CGM Conversas, em três momentos, na COMEC (07/03/2011, 11/07/2011 e 13/07/2011) e uma entrevista por telefone

(04/03/2013).

Caderno de Anotações

ATOR B 1 Engenheiro Civil,

servidor da COMEC CGM

Conversa na COMEC (13/07/2011).

Caderno de anotações

ATOR C 1 Engenheiro, Diretor

Técnico da COMEC CGM Conversa COMEC na (11/07/2011)

Caderno de anotações ATOR D 1 Arquiteta e Urbanista

Professora da PUC- PR CGM Conversa na PUC- PR (12/07/2011) Caderno de anotações ATOR E 2 Engenheiro, Presidente do Instituto Paranaense de Águas CGM Conversa na sede da Águas do Paraná (07/03/2012) e por meio de telefone (01/03/2012) Caderno de anotações ATOR F 2 Arquiteto e Urbanista, Coordenador Operativo da Unidade Centro do IPPUC CGM e CONRESOL Conversa no IPPUC (10/04/2012). Caderno de anotações

ATOR G 2 Engenheiro Civil, Professor da PUC-PR

CGM e CONRESOL Conversa na PUC- PR (10/04/2012)

Caderno de anotações Dr. Saint-Claire 2 Procurador do Meio

Ambiente CGM e CONRESOL Conversa Ministério Público no do Meio Ambiente (11/04/2012)

Caderno de anotações

ATOR H 3 Advogada, assessora jurídica do CONRESOL

CGM e CONRESOL Conversa na sede do CONRESOL (06/03/2012) e uma entrevista por telefone

11/09/2012.

Caderno de anotações

ATOR I 1 Administrador do

CONRESOL

CONRESOL Conversa na sede do CONRESOL (06/03/2012) Caderno de anotações ATOR J 1 Assessor administrativo do CONRESOL

CONRESOL Conversa na sede do CONRESOL (15/07/2011)

Caderno de anotações ATOR K 1 Engenheira, servidora

da Prefeitura Municipal de Curitiba

CONRESOL Conversa na sede do CONRESOL (06/03/2012) Caderno de anotações Dr. Fernando (Fernando Guimarães) 1 Presidente do Tribunal de Contas do Paraná CONRESOL Conversa na Universidade Estadual de Maringá (06/06/2012). Caderno de anotações Total 22 - - - -

Não entrevistados Motivo Experiência O lugar que ocupa Marilza Não tinha agenda CONRESOL Secretária Executiva do CONRESOL Paulo Kawahara Não consegui contato CGM Arquiteto e urbanista no escritório de Jaime

Lerner Ricardo Bindo Não consegui contato CGM IPPUC

Quadro 1 - Entrevistas realizadas e não realizadas Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas entrevistas.

Para a construção das histórias das experiências, também considerei os seguintes documentos como narrativas: Atas e Leis federais e estaduais (dentre elas as de constituição

do Conselho Gestor de Mananciais e do CONRESOL), Decretos estaduais, Protocolos de intenções e Plano de Gerenciamento do Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos do CONRESOL, bem como os Planos de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Curitiba, conforme consta no quadro n° 2.

Documento Conteúdo Experiência

Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Curitiba de 1978

Orientação para a produção do espaço urbano na RMC.

Conselho Gestor dos Mananciais e CONRESOL

Plano de Desenvolvimento Integrado da

Região Metropolitana de Curitiba de 2001 Orientação para a produção do espaço urbano na RMC. Conselho Gestor dos Mananciais e CONRESOL Plano de Desenvolvimento Integrado da

Região Metropolitana de Curitiba de 2006

Orientação para a produção do espaço urbano na RMC e proposta de reforma do Sistema de Gestão da Região Metropolitana de Curitiba.

Conselho Gestor dos Mananciais e CONRESOL

Atas referentes ao Conselho Gestor dos Mananciais de 1999 até 2011

Criação e alteração de APAs e UTPs Conselho Gestor dos Mananciais Plano de Gerenciamento do Tratamento e

Destinação de Resíduos Sólidos do CONRESOL, 2007.

Aborda o sistema regionalizado para tratamento e destinação dos resíduos sólidos gerados nos municípios, que se dará de forma consorciada, em uma planta de tratamento denominada Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos Sólidos - SIPAR.

CONRESOL

Protocolos de Intenções de criação de

Consórcio Público Associação para gerir os serviços de tratamento dos resíduos sólidos urbanos. CONRESOL Lei federal nº 6.766/79 Trata do parcelamento do solo urbano e

estabelece a obrigatoriedade da anuência do órgão metropolitano para aprovações.

Conselho Gestor dos Mananciais Decreto estadual nº 2.964/80 Delimita as áreas de mananciais de

abastecimento hídrico da RMC.

Conselho Gestor dos Mananciais Lei Federal n° 7.990 Institui, para os Estados, Distrito Federal e

Municípios, compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de recursos minerais em seus respectivos territórios, plataformas continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, e dá outras providências. (Art. 21,XIX da CF)

Conselho Gestor dos Mananciais

Lei Estadual 8.935/89 Proíbe a instalação, em áreas de mananciais, de indústrias altamente poluentes, estabelecimentos hospitalares, depósitos de lixo e parcelamentos do solo de alta densidade, remetendo à Resolução n. 20/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) os outros critérios que caracterizam a água nos seus padrões físico-químicos.

Conselho Gestor dos Mananciais

Lei Federal nº 9.433/97 Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

Conselho Gestor dos Mananciais

Lei estadual nº 12.248/98 Introduz o sistema de gestão e proteção dos mananciais da RMC.

Conselho Gestor dos Mananciais

Quadro 2 - Documentos sobre a RMC, o CGM e o CONRESOL Fonte: Elaborado pelo autor

Ao lidar com o campo-tema, percebi a intersubjetividade a que Spink se refere. Os significados não são percebidos somente a partir das descrições e interpretações literais. Pelo contrário, as vozes se entrecruzam reforçando sentidos e contrapondo argumentos. Como

resultado da expressão do campo-tema, verifiquei a existência de uma rede de significados construída, desconstruída e reconstruída pelas próprias ações dos sujeitos, por meio de encontros, contradições, sentidos, inconsistências, fissuras e diálogos.

É importante esclarecer que esta abordagem que resulta na construção de um novo enredo só é pertinente quando não se tem literatura ou versões que dão conta de explanar a história ou explicar as inconsistências (ALVESSON; KARREMAN, 2007). Com base na minha investigação no portal da CAPES (Banco de teses), não houve, até esta tese, outra, no Brasil, que tivesse como objetivo compreender como experiências de associativismo territorial têm auxiliado na construção de práticas de gestão metropolitana, muito menos teorias que expliquem como este processo ocorre.

Com as histórias sobre as experiências do Conselho Gestor dos Mananciais e do Conresol contadas, parti para a construção dos enredos sobre o “como” e o “por que” tais experiências têm contribuído para a construção de práticas de gestão metropolitana. Para tanto, realizei uma leitura sobre a intersetorialidade ou transversalidade das políticas em questão, a continuidade das experiências em relação às mudanças de governo, a existência de sentido metropolitano presente nas histórias sobre o processo de construção do problema, da formulação de alternativas e da decisão pela solução e, por fim, a existência de vínculos intermunicipais no campo da operacionalização das políticas por meio de Planos Diretores.

Quanto mais positiva fosse a leitura a respeito desses aspectos, maior seria o indício de haver um processo de construção de gestão metropolitana. Para construir esta tese, tive como referência o conceito de gestão metropolitana que demarquei há pouco, neste capítulo, e considerei os seguintes elementos, como aqueles que dão sustentação à prática desta modalidade de gestão (metropolitana), a saber: 1) planejamento de uso e ocupação do solo urbano em uma escala metropolitana; 2) existência de políticas intersetoriais ou transversais; 3) continuidade das políticas metropolitanas; 4) decisões tomadas a partir da percepção de um território metropolitano (reconhecimento de uma cidade metropolitana) ou por haver identidade metropolitana.

Ao construir novos enredos, realizei uma leitura mais qualificada das narrativas (entrevistas) a partir de diálogos que promovi entre elas e entre elas e o arcabouço teórico escolhido para iluminar melhor a trama. Esta leitura foi exitosa por ter permitido compreender com profundidade as construções das novas práticas de associativismo territorial estudadas, no intuito de saber se estas têm contribuído com a construção de práticas de gestão metropolitana, as quais, por sua vez, se estruturam a partir de uma inteligibilidade (sentido) de unidade territorial metropolitana (cidade metropolitana).