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3.4 A EXPERIÊNCIA DO CONRESOL

3.4.1 Do CONRESOL ao SIPAR

O CONRESOL foi estruturado como consórcio de direito privado, no ano de 2001, com o objetivo de “organizar e proceder ações e atividades para a gestão do sistema de tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos gerados pelos municípios

integrantes, obedecida a legislação vigente e aplicável, além das normas da ABNT” (CONRESOL, 2008). Na época ainda não tinha sido aprovada a Lei n° 11.107, sobre Consórcios Públicos. A constituição do Conresol se deu amparada pela Lei Complementar Estadual n° 82/98, que orienta que o Consórcio Intermunicipal será reconhecido pelo Estado quando legalmente constituído com personalidade jurídica de direito privado e revestido das exigências estipuladas pelo direito civil (PARANÁ, 1998, art. 1°, § 3°), e pelo Decreto Regulamentar n° 4.518/98, o qual dispõe sobre a criação e a implantação de consórcios intermunicipais no Estado do Paraná (CONRESOL 2008).

Inicialmente, o CONRESOL era composto por dez (10) municípios, quais sejam: Almirante Tamandaré, Balsa Nova, Campina Grande do Sul, Campo Magro, Contenda, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Mandirituba, Piraquara e São José dos Pinhais. Além destes municípios, outros cinco (5) integraram o consórcio, em 2001, por meio de um termo aditivo, quais sejam: Araucária, Colombo, Pinhais, Quatro Barras e Quitandinha (CONRESOL, 2008). Como alguns municípios coletavam todos os tipos de resíduos e outros coletavam apenas resíduos domiciliares, houve dificuldade de se chegar a um consenso sobre a abrangência da coleta. Deste modo, a decisão por parte do Conselho Diretor foi por licitar apenas serviço de aterro sanitário (ATOR H, entrevistada em 2012; NASCIMENTO NETO, 2011).

Após a criação do CONRESOL, a primeira licitação se realizou em 2002, com vistas a estruturar um novo serviço de gestão de resíduos sólidos na RMC. Este processo habilitou duas propostas. A primeira foi da empresa Estre Ambiental S/A, de um aterro no município de Fazenda Rio Grande. O problema se estabeleceu devido ao fato de a empresa não ter conseguido licenciamento ambiental. A segunda proposta foi apresentada pela empresa Cavo Gestão Ambiental, de um aterro no município de Mandirituba, o qual também não obteve a licença ambiental, por esta ter sido interrompida, devido uma ação civil que se encontrava em trâmite judicial. Em síntese, essa licitação acabou frustrada (ATOR H, entrevistada em 2012; ATOR I, entrevistado em 2012).

Por este impasse (devido a não conclusão da licitação), na primeira década dos anos 2000, conforme relatamos há pouco, o aterro do Caximba teve que passar por três fases de ampliação (CONRESOL, 2008). Esse processo ocorreu em um período que o CONRESOL se fragilizou devido à disputa política entre governo do estado (gestão Requião – PMDB) e a

prefeitura de Curitiba (gestão Taniguchi – PFL101) (ATOR H, entrevistada em 2012; ATOR I; entrevistado em 2012).

Quando do processo de instituição do CONRESOL, o governador era Jaime Lerner (entre 1995 e 2003), do PDT e depois PFL (atual DEM), e a prefeitura de Curitiba estava sob o comando de Cássio Taniguchi (entre 1997 e 2005), do PFL (atual DEM). Havia um alinhamento partidário entre os dois governos.

Em 2003, quando Requião (PMDB) assume o governo do estado, o processo de consolidação do CONRESOL perdeu ritmo, devido às divergências políticas (oposições) entre o então governador e o prefeito da capital do estado. Houve interferência de órgãos estaduais como SANEPAR e IAP, os quais desejavam se inserir no Conselho Diretivo do Consórcio, o que não aconteceu pelo fato de os municípios não abrirem mão de comandarem com exclusividade a Associação.

A prefeitura de Curitiba teve que encontrar solução sem apoio do estado, já que o novo governo adotou uma política de esvaziamento da COMEC (parte de seus servidores foram cedidos para outros órgãos do estado ou de municípios), o que fez com que esta coordenação metropolitana encontrasse dificuldades para continuar dando sustentação técnica ao CONRESOL. O único trabalho que a COMEC desenvolveu sobre resíduos sólidos urbanos, envolveu a parceria do IAP e da MINEROPAR, e teve como objetivo identificar áreas aptas a receber aterro sanitário na RMC, as quais serão destacadas mais à frente (NASCIMENTO NETO, 2011).

De acordo com o ATOR F (entrevistado em 2011), “o estado se eximiu dessa gestão.

A COMEC não teve como auxiliar no processo de gestão de resíduos sólidos. O governo estadual passou a não dialogar com a prefeitura de Curitiba. O Estado “atrapalhou” o município de Curitiba”.

Em 2007, o ATOR H (entrevistada em 2012) inicia uma nova ação, buscando fortalecer o CONRESOL, por meio da sua transformação em um Consórcio Público. A aprovação da Lei de Consórcios Públicos n° 11.107/2005, assim como o problema de sustentabilidade do aterro do Caximba, instigaram o repensar o CONRESOL. Além destes elementos de ordem resolutiva (prática e conceptual), mais recentemente, em 2010, o fato de a União incentivar a criação de consórcios para gestão de resíduos sólidos, conforme política

101 Atualmente denominado de Democratas.

estruturada pelo Ministério das Cidades102 e pela Caixa Econômica Federal103, contribuiu à retomada do CONRESOL(ATOR H, entrevistada em 2012; ATOR I; entrevistado em 2012).

Com o advento da Lei Federal 11.107/2005, regulamentada pelo Decreto 6017/2007, no ano de 2007, o CONRESOL mudou sua personalidade jurídica para direito público (o que deu maior segurança jurídica ao consórcio), com ratificação (aprovação pela Câmara Municipal) em cada município integrante, em 20 de abril de 2007, constituindo-se como

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No site do Ministério das Cidades constatamos que: “o processo de diálogo e engajamento entre poder público, setor produtivo e sociedade civil é de fundamental importância para o alinhamento e a potencialização das orientações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n.º 12.305/2010), afirma. A PNRS também estabelece princípios para a elaboração dos Planos Nacional, Estadual, Regional e Municipal de Resíduos Sólidos. “De acordo com as novas orientações, os municípios têm um prazo até agosto de 2012 para que apresentem seus planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos ao Ministério das Cidades, segundo a Lei 12.305. Além disso, o País precisa reverter o quadro de quase mil lixões em aterros sanitários em diferentes regiões do país, em período inferior a quatro anos”, alerta Nascimento. O presidente do IBDS acredita também que os prazos criados pela PNRS dão base, mas são impossíveis de serem executados pela diversidade regional do país. Segundo ele “existem municípios que, pela sua própria localização geográfica e modais de transporte, não se adequaram às orientações da PNRS. Temos vários pontos que necessitarão de flexibilização pelo Governo Federal, mesmo nos posicionando que a PNRS é paradigmática para mudança na cultura do ‘lixo’.”

O governo pretende investir R$ 1,5 bilhão em projetos de tratamento de resíduos sólidos, na substituição de lixões e implantação da coleta seletiva e no financiamento de cooperativas de catadores. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, informou que R$ 1 bilhão já está previsto no Orçamento de 2011 e que R$ 500 milhões virão da Caixa Econômica Federal (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013). Site visitado em 09/03/2013.

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Conforme consta no site da Caixa Econômica Federal, “o programa Resíduos Sólidos Urbanos incentiva estados e municípios com mais de 50 mil habitantes ou integrantes de região metropolitana e de Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) a redução, reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos urbanos; a ampliação da cobertura e o aumento da eficiência e da eficácia dos serviços de limpeza pública, de coleta, de tratamento e de disposição final; e a inserção social de catadores por meio da eliminação de lixões e do trabalho infantil no lixo. A gestão do programa é feita pelo Ministério das Cidades (MCidades) e a operação ocorre com recursos do Orçamento Geral da União (OGU). Os recursos são depositados em conta específica, aberta em uma agência da CAIXA, exclusiva para movimentar valores relativos à execução do projeto. Os percentuais de contrapartida do programa são os mínimos definidos pelo MCidades, em conformidade com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)”. Destina-se a população urbana/famílias de baixa renda com demanda de recursos federais pelos estados, municípios e Distrito Federal por meio de órgãos das administrações direta e indireta. Os recursos podem ser pleiteados pelo Chefe do Poder Executivo dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Os pré-requisitos são: 1) Seleção da proposta pelo Gestor; 2) Apresentação pelo proponente de plano de trabalho e, nos casos de operações do PAC, de termo de compromisso; 3) Atendimento aos objetivos e às modalidades da Ação pretendida; 4) Análise preliminar da viabilidade da proposta pela CAIXA. As restrições de enquadramento no programa são: 1) Não são passíveis de repasse de recursos da União operações para sistemas ou componentes de sistemas com contrato de concessão para operação dos serviços com empresa privada; 2) Em sistemas operados em regime de concessão pública, o proponente deve comprovar que o instrumento legal de concessão dos serviços foi formalizado e está em vigor; 3) Não são admitidos projetos, em quaisquer modalidades que contemplem, exclusivamente, atividades de melhoria da qualidade dos serviços ligados ao desenvolvimento operacional e gerencial das concessionárias, por caracterizarem atividade de custeio; 4) Não são admitidos projetos, em quaisquer modalidades que contemplem, exclusivamente, a aquisição de materiais, equipamentos ou terrenos para execução de instalações ou serviços futuros; 5) Em sistemas operados diretamente pelo ente municipal, o proponente deve comprovar que a prestação dos serviços está institucionalizada no formato de autarquia, departamento ou empresa municipal; 6) Em qualquer modalidade, os projetos no âmbito desta Ação devem observar: a) Compatibilidade com Plano Municipal de Saneamento, com o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, com o Plano Diretor Municipal ou equivalente ou com Plano de Ação Estadual ou Regional, quando existentes; b) Plena funcionalidade das obras/serviços propostos, trazendo benefícios à população; c) Atendimento às normas de preservação ambiental nas áreas do projeto e entorno (CAXIA ECONÔMICA FEDERAL, 2013). Acesso ao site em 09 de março de 2013.

autarquia interfederativa. Porém, o referido consórcio sempre tomou como referência a autarquia para se operacionalizar, desde a sua criação. A ideia de direito público sempre foi defendida (depois de 2005), pois a equipe executiva do consórcio o concebe como órgão de interesse público.

Apesar de ter havido mudança de personalidade jurídica, nada mudou de fato no CONRESOL, haja vista que o consórcio não abriu concurso público desde então (ainda conta com apenas gestores que ocupam cargos de confiança) e ao que se refere a licitação de serviço a ser prestado por uma empresa de aterro sanitário, antes de se transformar em consórcio público, o CONRESOL já se utilizava desta prática, assim como ao que se refere a política de rateio. A modalidade de Consórcio Público exige que sua manutenção ocorra por meio de um rateio dos custos de operacionalização e de recursos para investimentos, considerando, por exemplo, o montante de resíduos que um dado município movimenta, o que já era realizado.

Por meio da elaboração do Protocolo de Intenções em 2007, o qual foi construído a partir da adequação do consórcio para pessoa jurídica de direito público, o CONRESOL passou a se constituir conforme estrutura expressa na figura n 10 (organograma), sua legenda de atribuições exposta no quadro n 22.

Assembleia Geral: instância máxima do Consórcio Intermunicipal, constituída pelos prefeitos dos municípios consorciados, com direito de um voto cada, cabendo o voto de qualidade do Presidente, quando necessário. Dentre suas diversas competências se destacam: a eleição da presidência; a indicação do Secretário Executivo; a modificação e aprovação do Estatuto do Consórcio; a deliberação sobre a contratação de serviços e outorga de concessão dos serviços inerentes ao consórcio; e a aprovação anual de contrato de rateio;

Presidência: constituído pelo chefe do poder executivo de um dos municípios consorciados, é eleito pela Assembleia Geral para o mandato de dois anos. Suas atribuições envolvem a representação legal do Consórcio (judicial e extrajudicialmente), o ordenamento da arrecadação do consórcio e o

encaminhamento das deliberações da Assembleia Geral;

Conselho Fiscal: composto por um representante de cada membro consorciado, indicado pelo prefeito de cada município, tem por função o acompanhamento e fiscalização das operações econômicas e financeiras do consórcio;

Conselho Técnico: constitui o órgão de planejamento do consórcio, formado por um representante de cada membro consorciado, indicado pelo prefeito de cada município, dentre suas atribuições encontra-se o planejamento, acompanhamento e fiscalização permanente das atividades do consórcio, e a elaboração de estudos e pareceres sobre os assuntos de sua competência;

Câmaras Técnicas: formado a partir de solicitação do conselho técnico, tem por função estabelecer um fórum para a discussão de um assunto específico. É composto por um representante de cada município, havendo a possibilidade de inclusão de profissionais de notório saber, desde que aprovado pela presidência;

Secretaria Executiva: órgão executivo do CONRESOL, constituído pelo secretário executivo e pelo corpo técnico e administrativo;

Assessoria Jurídica: subordinada à Secretaria Executiva, é responsável pelo acompanhamento e apoio jurídico às atividades do consórcio;

Gerências Técnica, Administrativa e Financeira: subordinadas à Secretaria Executiva, tem por responsabilidade a execução e acompanhamento das atividades intrínsecas ao funcionamento do consórcio em relação aos seus aspectos técnicos e administrativos, respectivamente.

Quadro 21 - Estrutura Administrativa do CONRESOL Fonte: CONRESOL, 2008