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CONSTRUÇÃO E PRÉ-TESTE DO INSTRUMENTO

No documento Literacia em saúde mental em adolescentes (páginas 123-127)

PARTE II PERCURSO METODOLÓGICO E EMPÍRICO

CAPÍTULO 5 CONSTRUÇÃO E PRÉ-TESTE DO INSTRUMENTO

Nesta fase do estudo procedemos à construção do instrumento. Foram definidos os itens integrantes de cada uma das subescalas e respetivos componentes da LSM, em função dos resultados dos focus group, da síntese dos resultados do ‘Estudo I’ e da revisão da literatura sobre estilos de vida e comportamentos de saúde. A seleção dos itens apropriados seguiu também as recomendações propostas por Freire e Almeida (2001), recorrendo-se à análise de outras escalas, à revisão de bibliografia na área e ao contacto com especialistas nas áreas a avaliar.

1. Construção do instrumento

O instrumento inicialmente construído e sujeito ao processo de validação neste estudo (Anexo V) é composto por três escalas semelhantes, diferenciando-se unicamente na perturbação retratada na vinheta clínica. Cada escala, por sua vez, é constituída por cinco subescalas com questões sobre as dimensões do conceito de LSM: (i) ‘Reconhecimento do problema’; (ii) ‘Recursos e opções de ajuda’; (iii) ‘Crenças e

intenções para prestar a primeira ajuda’; (iv) ‘Barreiras e facilitadores na procura de ajuda’; e (v) ‘Estilos de vida e comportamentos de saúde’.

A parte inicial de cada escala, para além de uma mensagem de apresentação com informações e orientações para a resposta aos itens, contém perguntas sobre dados sociodemográficos e visa caraterizar o perfil do respondente. Avalia dados como: género, idade, concelho de residência, estado civil, escolaridade, profissão, escolaridade e situação profissional dos pais.

A subescala I avalia a componente ‘Reconhecimento do problema’ e é composta por 24 opções de resposta múltipla. Destas, 23 emergiram da exploração realizada nos focus

group, sendo introduzida uma 24ª opção que corresponde à resposta nula (Não tem

nada). Nesta subescala, os respondentes, após leitura da vinheta, são convidados a responder à questão colocada: “na tua opinião o que é que se passa com o/a José/Inês;

Tiago/Susana; Pedro/Francisca?”, assinalando uma ou mais opções que considerem

válidas ou que se apliquem.

As restantes quatro subescalas têm opções de resposta fechada e são avaliadas em escalas tipo Likert de 5 pontos. Este formato é o mais consensual (Freire & Almeida,

2001), na medida em que permite a resposta neutra, assim como respostas intermédias entre os polos, sendo percetível por pessoas com reduzidas ou elevadas habilitações literárias (Hill & Hill, 2005).

A subescala II avalia a componente ‘Recursos e opções de ajuda’ sendo composta por nove opções de resposta à questão “Como consideras que cada uma das seguintes

pessoas poderia ajudar o/a José/Inês; Tiago/Susana; Pedro/Francisca?”. As opções

apresentadas incluem recursos de ajuda profissional (e.g. psicólogo, psiquiatra, enfermeiro especialista) e ajudas informais (e.g. familiares, amigos). É solicitado aos participantes que pontuem numa escala de 1 (prejudicaria muito) a 5 (ajudaria muito) de que forma cada um dos recursos apresentados poderia ajudar a pessoa, na situação expressa na vinheta.

A subescala III avalia a componente ‘Crenças e intenções para prestar a primeira ajuda’ e inclui dez opções de resposta à questão “O que farias para ajudar o/a José/Inês;

Tiago/Susana; Pedro/Francisca?” As opções de resposta apresentam um conjunto de

possíveis ações a desenvolver para ajudar a pessoa, mas também situações que não traduzem uma ajuda efetiva (e.g. dar-lhe apoio e animá-lo/a; encaminhar para um profissional de saúde especializado; continuar a tratá-lo/a como se ele/ela não tivesse qualquer tipo de problema). É pedido aos participantes que assinalem numa escala de 1 (discordo muito) a 5 (concordo muito), em que medida concordam com cada uma das ações apresentadas.

A subescala IV avalia a componente ‘Barreiras e facilitadores na procura de ajuda’ e inclui 17 proposições sobre fatores que podem condicionar ou comprometer a procura de ajuda profissional (e.g. medo das consequências, estigma, confidencialidade) e fatores que a podem facilitar (e.g. apoio social, acompanhamento, consciência do problema). Os participantes são convidados a responder à questão “Se estiveres preocupado/a com a

tua saúde mental, o que consideras mais importante para te levar a procurar ajuda profissional?”, pontuando numa escala de 1 (discordo muito) a 5 (concordo muito) a

relevância de cada um dos fatores apresentados.

As opções de resposta da subescala V ‘Estilos de vida e comportamentos de saúde’ resultam da revisão da literatura, integrando um conjunto de itens capazes de avaliar a importância atribuída pelos participantes a um conjunto de fatores (e.g. alimentação, exercício físico, prevenção de riscos, imagem corporal) que, para além de prevenirem a doença, poderão ser considerados como promotores de saúde mental.

Sabemos que os adolescentes são, na generalidade, um segmento relativamente saudável da população. No entanto, alguns adotam comportamentos de risco que podem

Amorim Gabriel Santos Rosa

prejudicar o seu percurso social e o seu estado global de saúde, incluindo a saúde mental. De facto, os problemas de saúde dos adolescentes comummente resultam da sua incapacidade de avaliar corretamente riscos e benefícios (Guzman & Bosch, 2007), conjuntamente com uma grande propensão para o envolvimento em comportamentos de risco (acidentes, violência, uso de substâncias, comportamentos sexuais de risco, etc.). Com base neste pressuposto, os profissionais de saúde em geral e o enfermeiro em particular, têm um papel importante no processo de mudança, uma vez que, na sua prática clinica, o enfermeiro pode facilitar os processos de cessação de comportamentos de risco e/ou adoção de comportamentos de saúde. Por esta razão considerámos pertinente a inclusão na MentaHLiS de uma dimensão com o propósito de identificar as crenças sobre a importância dos estilos de vida e comportamentos de saúde, enquanto fatores de prevenção das doenças mentais, integrando-a no componente da LSM

“public's knowledge of how to prevent mental disorders” (Jorm, 2012).

Nesta subescala é pedido aos participantes que respondam à questão “Na tua opinião

até que ponto consideras importantes os seguintes comportamentos?”, assinalando a sua

resposta numa escala de 1 (nada importante) a 5 (muito importante).

2. Pré-teste do instrumento

O questionário foi submetido a um pré-teste no qual participaram 15 adolescentes, estudantes do ensino secundário público, com frequência do 10º e 11º ano, com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos (𝑥 = 16,53 e DP= 0,83), sendo 9 (60,0%) do género feminino e 6 (40,0%) do género masculino. Formaram-se dois painéis que permitiram testar sequencialmente e em momentos diferentes, duas versões do instrumento. Previamente foi explicado o caráter de teste da aplicação e foi solicitado aos participantes que expressassem as suas dúvidas e sugestões.

A versão inicial do instrumento foi aplicada ao primeiro painel, constituído por 8 adolescentes, procurando avaliar aspetos como a compreensibilidade dos itens, a sua aceitação geral e o tempo médio de resposta. Após o teste, o instrumento foi aprimorado em aspetos relacionados com a compreensibilidade de alguns itens. A nova versão foi aplicada ao segundo painel, não tendo sido necessário introduzir novas alterações. A versão final do instrumento foi submetida a uma avaliação das suas propriedades psicométricas.

Amorim Gabriel Santos Rosa

CAPÍTULO 6

No documento Literacia em saúde mental em adolescentes (páginas 123-127)