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USO DE VINHETAS EM ESTUDOS DE LITERACIA EM SAÚDE MENTAL

No documento Literacia em saúde mental em adolescentes (páginas 71-75)

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO ESTUDO

CAPÍTULO 5 USO DE VINHETAS EM ESTUDOS DE LITERACIA EM SAÚDE MENTAL

1. Vinhetas clínicas e a sua aplicação em estudos de avaliação da LSM

Vinhetas podem ser descritas como histórias sobre pessoas e situações que fazem referência a pontos importantes no estudo de perceções, crenças e atitudes (Hughes, 1998a), favorecendo a produção de medidas de opinião do entrevistado mais válidas e mais confiáveis do que as questões simples e abstratas mais típicas dos questionários de opinião (Alexander & Becker, 1978), pelo que, cada vez mais são utilizadas em diversos tipos de estudos. Por exemplo, em investigação fatorial, os valores (níveis) de dimensões são experimentalmente variáveis, de modo que o seu impacto sobre as decisões dos entrevistados pode ser estimado (Auspurg & Jäckle, 2012).

As vinhetas poderão ser geradas a partir de uma variedade de fontes, incluindo resultados de estudos anteriores, (Carlson, 1996), em colaboração com outros profissionais que trabalham no terreno (Kalafat & Gagliano, 1996), ou com base em histórias sobre casos reais (Rahaman, 1996).

Os participantes são normalmente convidados a responder ou comentar as histórias, incidindo sobre o que fariam na situação específica apresentada ou sobre a forma como o personagem da história se iria sentir ou agir numa determinada situação. Como o foco está numa terceira pessoa, as vinhetas podem ser vantajosas em estudos de investigação sobre temas sensíveis, onde o participante pode não se sentir à vontade para discutir a sua situação pessoal e pode esconder a verdade sobre as suas próprias ações ou crenças (Gourlay et al., 2014). O uso de vinhetas pode também, através da normalização da situação, incentivar os participantes a revelar as suas experiências pessoais quando se sentirem confortáveis para o fazer (Barter & Renold, 2000; Hughes, 1998b).

Em investigação podemos usar vários tipos de vinhetas. De seguida faremos uma breve abordagem aos dois tipos mais comuns: ‘vinhetas de conteúdo específico’ (content

specific vignettes) e ‘vinhetas de ancoragem’ (anchoring vignettes).

As ‘vinhetas de conteúdo específico’ (Veal, 2002) são casos abertos que podem ser baseadas em experiências pessoais ou situações hipotéticas que são ocorrências comuns para os entrevistados. As vinhetas contêm uma introdução sobre o cenário, uma descrição dos participantes, uma explicação sobre o problema, uma descrição das

dimensões em interação no cenário, o diálogo entre os participantes, e o evento foco de atenção por parte do entrevistado (Veal, 2002).

As ‘vinhetas de ancoragem’ são descrições breves de situações fictícias, relacionadas com um único conceito, classificadas ou medidas numa escala do tipo Likert. Os entrevistados são questionados sobre cada situação através de itens de autoavaliação e itens hipotéticos, representando a gama de níveis possíveis da variável em estudo (King, Murray, Salomon & Tandon, 2004).

As vinhetas, sobretudo as ‘vinhetas de ancoragem’ têm sido tradicionalmente usadas no mundo desenvolvido, predominantemente em investigação quantitativa, nas áreas da psicologia e nas questões sociais e de saúde particularmente sensíveis como a saúde sexual, VIH, saúde mental, estigma, violência, e em populações vulneráveis específicas, como crianças e adolescentes (Barter & Renold, 2000; Gourlay et al., 2014; Hughes, 1998a; Reavley & Jorm, 2011; Swords, Heary & Hennessy, 2011b).

Apesar do uso generalizado das vinhetas, alguns autores (e.g. Barter & Renold, 2000; Hughes, 1998b), usando os resultados da sua própria investigação e recorrendo também a outros estudos realizados no mundo desenvolvido, têm refletido criticamente sobre esta metodologia, concluindo que a técnica pode ser uma ferramenta de investigação importante e valiosa, apesar de existirem algumas discussões em torno do seu uso, sobretudo em que medida a resposta às vinhetas espelha a realidade social.

No mesmo sentido, Caro et al. (2012) consideram que o uso de vinhetas é limitado em algumas áreas por causa do ceticismo dos investigadores sobre a validade dos estudos baseados em comportamento hipotético, como preditores de comportamento real. Um número limitado de estudos (e.g. Peabody, Luck, Glassman, Dresselhaus & Lee, 2000; Telser & Zweifel, 2007) tem examinado de forma sistemática, em que medida os comportamentos ou situações hipotéticas relatadas nas vinhetas são comparáveis ao comportamento real. Os resultados tendem a suportar a validade dos dados gerados através do uso de vinhetas.

Desde a conceção e definição do conceito de LSM temos assistido ao desenvolvimento dos métodos utilizados para a sua avaliação, com ênfase particular nos últimos anos. Na abordagem inicial da LSM, Jorm e os seus colaboradores usaram um instrumento baseado em vinhetas clínicas e descreveram o uso do método para avaliar a capacidade de os indivíduos reconhecerem as perturbações ou os problemas de saúde mental, utilizando-o no inquérito nacional levado a cabo em 1995 e publicado em 1997 (Jorm et al., 1997).

Amorim Gabriel Santos Rosa

Desde então, esta abordagem de avaliação da LSM tem sido amplamente adotada em diversos estudos (Burns & Rapee, 2006; Chen et al., 2000; Hernan et al., 2010; Kelly & Jorm, 2007; Kelly, Jorm & Rodgers, 2005; Leighton, 2009; Loureiro et al., 2013a; Loureiro et al., 2013b; McCann & Klarck, 2010; Olson & Kennedy, 2010; Scott & Chur-Hansen, 2008; Swords, Hennessy & Heary, 2011a) e desenvolvida de forma a incluir questões sobre outras dimensões importantes do conceito. Estas incluem: intenção de procurar ajuda; crença e intenção sobre a primeira ajuda; crença sobre formas de intervenção e prevenção (Jorm, 2000).

Considerando que as questões relacionadas com a saúde/doença mental e o estigma são particularmente sensíveis, mas também a vulnerabilidade específica dos adolescentes, o instrumento a desenvolver e validar nesta investigação irá utilizar a vinheta como estímulo principal para a avaliação da LSM.

Amorim Gabriel Santos Rosa

CAPÍTULO 6

No documento Literacia em saúde mental em adolescentes (páginas 71-75)