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Contributos do modelo de promoção da saúde de Nola Pender

No documento Literacia em saúde mental em adolescentes (páginas 81-87)

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO ESTUDO

CAPÍTULO 6 TEORIAS E MODELOS DE ENFERMAGEM

2. Contributos do modelo de promoção da saúde de Nola Pender

A Carta de Ottawa (WHO, 1986) propõe a promoção da saúde como fator fundamental para a melhoria da qualidade de vida e defende a capacitação da comunidade neste processo, salientando que a promoção da saúde é uma responsabilidade de todos e não exclusiva dos sistemas de saúde.

Como resultado das discussões posteriores, ocorridas nas conferências internacionais de promoção da saúde (Ottawa, 1986 a Helsínquia, 2013), as atividades de promoção da saúde passaram a ser amplamente estimuladas. Desde então, a promoção da saúde passou a ser uma atividade transversal a todos os profissionais de saúde, sendo crescente a participação dos enfermeiros no seu planeamento e implementação, apesar de serem tímidas as propostas de estudos de eixos norteadores para a promoção da saúde, especialmente, na adoção de modelos e teorias que fundamentem essas experiências (Victor, Lopes & Ximenes, 2005).

A utilização de modelos e teorias no campo da promoção da saúde pode facilitar a compreensão dos determinantes dos problemas de saúde e orientar nas soluções que respondem às necessidades e interesses das pessoas envolvidas (Victor et al., 2005). Dentre os modelos e teorias de enfermagem que sustentam intervenções no âmbito da promoção da saúde, Polit e Hungler (1995) destacam o Modelo de Promoção da Saúde (MPS) de Nola Pender. O modelo foi desenvolvido nos Estados Unidos, na década de 80, constituindo um referencial de enfermagem que permite dar respostas à forma como as pessoas tomam decisões sobre a sua própria saúde (Hoyos, Borjas, Ramos & Meléndez, 2011).

O MPS expõe os aspetos relevantes envolvidos na modificação do comportamento dos seres humanos, as suas atitudes e motivações para as ações que promovem a saúde, e pretende ilustrar a natureza multifacetada da interação das pessoas com o meio ambiente na procura do estado de saúde desejado. Enfatiza a relação entre as

caraterísticas pessoais e as experiências, os conhecimentos, as crenças e os aspetos situacionais relacionados com os comportamentos de saúde que se pretendem alcançar (Hoyos et al., 2011).

Pender propõe um modelo inspirado na teoria da aprendizagem social de Albert Bandura (1977) e no modelo de valorização das expetativas da motivação humana de Feather (1982).

O primeiro modelo postula sobre a importância do processo cognitivo na modificação do comportamento, ou seja, a existência de uma interação entre pensamentos, comportamento e meio ambiente, o que implica que, para alterar o modo como as pessoas se comportam, elas devem alterar a forma como pensam. O segundo defende que os indivíduos se envolvem em ações para alcançar objetivos que são percebidos como possíveis e que resultam em resultados tangíveis (Pender, 2011).

O modelo identifica fatores de fundo que influenciam os comportamentos de saúde. No entanto, o foco central do modelo é constituído por um conjunto de crenças que podem ser avaliadas pelos enfermeiros e que constituem pontos críticos para a intervenção de enfermagem.

Utilizando o modelo e trabalhando em colaboração com a pessoa, o enfermeiro pode ajudá-la na mudança de comportamentos para alcançar um estilo de vida mais saudável (Pender, 2011).

O MPS explica a forma como as caraterísticas e experiências individuais, bem como os conhecimentos e afetos associados ao comportamento específico, levam o indivíduo a participar ou não em comportamentos de saúde. Esta perspetiva é apresentada no diagrama do MPS (Figura 1).

Nas colunas do diagrama podem ser observados os três componentes do modelo proposto por Pender (2011): ‘caraterísticas e experiências individuais’; ‘sentimentos e conhecimentos sobre o comportamento que se quer alcançar’; e ‘resultados do comportamento’.

O primeiro componente integra dois conceitos: (i) ‘comportamento anterior’ (a ser mudado) - refere-se a experiências anteriores que podem ter efeitos diretos e indiretos na probabilidade da pessoa se envolver em comportamentos de promoção da saúde; (ii) ‘fatores pessoais’, podendo estes ser biológicos (e.g. idade, índice de massa corporal, agilidade); psicológicos (e.g. autoestima, auto motivação); e socioculturais (e.g. educação, nível socioeconómico), que, de acordo com esta abordagem, são preditivos de

Amorim Gabriel Santos Rosa

um determinado comportamento, e estão marcados pela natureza dos comportamentos alvo (Hoyos et al., 2011; Silva & Santos, 2010).

Os componentes da segunda coluna são os centrais no modelo e relacionam-se com os afetos (sentimentos, emoções e crenças) específicos do comportamento.

Esta componente integra seis conceitos: (i) ‘Perceção de benefícios para a ação’ – corresponde às representações mentais ou resultados positivos antecipados que reforçam as consequências de adotar um comportamento de saúde; (ii) ‘perceção de barreiras para a ação’ – refere-se às avaliações negativas da própria pessoa que podem dificultar um compromisso com a ação, a mediação do comportamento e o comportamento real (e.g. negatividade, dificuldades e custos pessoais); (iii) ‘perceção de autoeficácia’ – alude ao julgamento das capacidades pessoais de organizar e executar ações e representa a perceção de competência de si mesmo para se comprometer com uma determinada ação que conduz ao desempenho real do comportamento; (iv) ‘sentimentos em relação ao comportamento’ - reflete uma reação emocional direta ou uma resposta nivelada ao pensamento que pode ser positivo ou negativo; (v) ‘influências interpessoais’ - o comportamento pode ou não ser influenciado por outras pessoas, como a família ou os profissionais de saúde, ou por normas e modelos sociais, sendo mais provável que ocorram mudanças quando elas são esperadas e apoiadas pelas pessoas consideradas importantes; (vi) ‘influências situacionais’ - o ambiente pode facilitar ou impedir o compromisso com determinados comportamentos promotores de saúde (Hoyos et al., 2011; Pender, 2011; Silva & Santos, 2010).

Os diversos conceitos enunciados relacionam-se de forma a influenciar o compromisso com um plano de ação e o resultado final desejado, ou seja, a adoção de comportamentos promotores de saúde. Este conceito encontra-se localizado na terceira coluna e corresponde ao terceiro componente do modelo que corresponde aos ‘resultados do comportamento’.

Este componente integra três conceitos: (i) ‘compromisso com o plano de ação’ - ações que possibilitem a manutenção do comportamento de promoção da saúde esperado, isto é, as intervenções de enfermagem; (ii) ‘exigências imediatas e preferências’ - baixo controle sobre os comportamentos que requerem mudanças imediatas, enquanto as preferências pessoais exercem um alto controle sobre as ações de mudança de comportamento; (iii) ‘comportamento de promoção da saúde’ - resultado da implementação do MPS (Silva & Santos, 2010).

Figura 1. Diagrama do Modelo de Promoção da Saúde de Pender

Fonte: Hoyos et al. (2011, p. 18)

Em síntese, o MPS é, fundamentalmente, um modelo de enfermagem, que surge como proposta de integrar as ciências do comportamento nas teorias de enfermagem, procurando identificar os fatores que influenciam a adoção de comportamentos saudáveis a partir do contexto biopsicossocial. O modelo, ao estudar a inter-relação entre as caraterísticas e experiências individuais, os sentimentos sobre o que se quer alcançar e o comportamento de promoção de saúde desejável, pode ser usado para fundamentar a conceção e a implementação de ações de promoção da saúde voltadas para o

Comportamento anterior Fatores pessoais - Biológicos - Psicológicos - Socioculturais Perceção de barreiras para a ação Perceção de benefícios para a ação

Perceção de autoeficácia Sentimentos relacionados com o comportamento Exigências imediatas (de baixo controle) e

preferenciais (de alto controle) sobre as ações de mudança de comportamento Influências interpessoais Influências situacionais Compromisso com o plano de ação Comportamentos de promoção da saúde Caraterísticas e experiências individuais Sentimentos e conhecimentos sobre o comportamento que

se quer alcançar

Resultados do comportamento

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desenvolvimento de competências que mantenham ou melhorem os indicadores de bem- estar da pessoa.

Assim, a promoção da saúde é uma atividade fundamental nas diferentes áreas de atuação dos enfermeiros. Esta consideração consubstancia a relevância dada à Educação para a Saúde como intervenção chave nas estratégias de promoção da LSM em adolescentes.

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PARTE II

No documento Literacia em saúde mental em adolescentes (páginas 81-87)