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Consultar o oráculo do I Ching não tem nada de anedótico Efetivamente, nos revela que nada é fixo nem definitivo, o que provoca ao mesmo tempo tranqüilidade e angústia.

S

egundo os chineses da Antigüidade, a adivinha­ ção através do I Ching se ba­ seia em dois princípios fun­ damentais:

l. O I Ching é uma linguagem mágica que permite ao ho­ mem comunicar-se com inte­ ligências superiores a ele. Por isso, nunca deve abusar de suas consultas ao oráculo do I Ching, com o risco de perder esta comunicação, útil para sua evolução pessoal.

2. Esta linguagem mágica se baseia na utilização do N ú ­ mero e seu simbolismo.

AS BASES DA LINGUAGEM DO I CHING Segundo os criadores do I Ching, o mundo está consti­ tuído de quatro princípios es­ senciais e básicos, agrupados de dois cm dois: o céu c a terra por um lado, e o espírito e a matéria por outro. Por­ tanto, o espírito tem que ver com o céu, e a matéria com a terra. Desta forma, para os antigos chineses, depois da morte, o que está aparentado com a terra — isto é, a maté­ ria, a carne e o corpo — volta à terra, e o que pertence ao céu — isto é, o espírito —, volta ao céu.

Continuando com os criado­ res do I Ching, para eles a terra e a matéria são conside­ rados princípios derivados, isto é, procedentes de uma realidade anterior, indivisível e absoluta, que engendra todas as manifestações de

vida no mundo das aparências, tanto no mundo visível como no invisível. Por isto, atribuiu- se à terra o Número 2, repre­ sentado por um traço inte­ rrompido. O céu e o espírito, seu equivalente no homem, se vê como a unidade última. No entanto, não está representado pelo 1, pois os chineses pen­ savam que continha a terra ou matéria cm seu interior em germe, potencialmente ou em seu seio. Daí que o Número que deram a ele foi o 3, em lugar do 1. De fato, o 1 não pode ser dividido nem multi­ plicado. Não pode integrar-se na realidade física nem ma­ terial do mundo manifesto, e ainda menos no dos homens c sua linguagem. Por outro lado, e sempre segundo os fi­ lósofos chineses da Antigüi­ dade, o 1 não pode represen­ tar o mundo concreto. C o m o não é influenciável, tampouco pode influenciar. Aí reside um dos grandes prin­ cípios e mistérios, transmiti­ dos pelo I Ching.

Essas concepções nos fazem pensar nas do aleph, definidas pelos cabalistas, embora a cul­ tura chinesa e a tradição he­ braica pareçam, se não opos­ tas em muitos pontos, pelo menos contraditórias. O I Ching, a partir desses 8 trigramas que constituem sua estrutura, nos revela esse jogo de transformações que é a vida.

OS NÚMEROS E OS TRIGRAMAS

Assim, o 2, N ú m e r o par, pertence ao mundo terrestre, enquanto o 3, N ú ­ mero ímpar, designa o mundo celeste. A partir de ambos, todos os números pares estão relacionados com a terra e todos os números ímpares com o céu. Segundo os chineses, este sistema tão coerente e aparentemente simplista, os­ tenta na realidade todos os mistérios e os segredos de uma verdadeira gênese do mundo. Por isso, para eles, quem manipula as varinhas de mil-em-rama propícias à adivinhação ou quem jogar as fichas do oráculo do I Ching, estará entrando no jogo cósmico incessante da criação do mundo, que sempre torna a começar; ou, se se prefere, de um mundo que se encontra em um estado de gênese perpétua.

De fato, as relações que se estabelecem entre o 3 e o 2, agrupadas de três em três, oferecem 8 combinações que cons­ tituem os 8 trigramas, que por sua vez representam tudo que acontece no céu e na terra. Estas múltiplas combinações de três em três dos dois números de base 3 e 2, são uma representação per­

feita do movimento incessante ou da transformação constante dos fenôme­ nos que se produzem no universo. Assim, o I Ching também foi denomi­ nado Livro das transformações ou das mu-

tações. Mediante a transformação de um

traço inteiro (3) em traço interrompido (2) dentro do mesmo trigrama, os oito trigramas nos revelam o processo do jogo das modificações que se produzem

sem cessar no céu e na terra graças a eles:

1. 4 trigramas produzidos pela intro­ dução de um traço inteiro

2. 4 trigramas produzidos pela intro­ dução de um traço interrompido

Estes trigramas desdobrados oferecem 64 hexagramas, que correspondem a todas as situações terrestres relaciona­ das com todas as possibilidades celes­ tes. Portanto, o oráculo do I Ching está em condições de responder a todas as situações da vida, pois dá a possibili­

dade ao consultante de compreender como se transformam as situações, circunstâncias e acontecimentos que nos cercam, mediante a inversão ou a modificação dos chamados traços mu­ táveis.

0 SENTIDO PROFUNDO DA ADIVINHAÇÃO ATRAVÉS

DO I CHING

As bases do I Ching revelam, portanto, que existe uma ordem no caos, que tudo que existe no universo, assim como tudo que acontece em nossa vida, denota um mundo em perpétua formação. Por isso, o que nos ensina de saída o I Ching é que, tanto no céu como na terra, tanto em nós como em nosso meio, nada se fixa de uma vez por todas. E certo que uma consulta inteligente do I Ching pode ser con­ siderada uma verdadeira psicoterapia (assim o chamaríamos atualmente), no sentido cm que os fundamentos e a linguagem do I Ching nos induzem a lançar, apreender e em seguida a in­ tegrar em nossa vida o grande prin­ cípio das transformações. É muito mais importante do que parece, por­ que, de saída, nossa mente nos incita a estabelecer-nos cm determinados es­ tados psíquicos e físicos, tanto por razões de ordem afetiva como mate­ rial, psicológica ou moral. Se atuamos assim, é para compensar ou acalmar as angústias, pois todos as temos. N o en­ tanto, vivemos em um mundo mate­ rialista, que não nos oferece muitas oportunidades para deter-nos e refle­ tir sobre ele. E quando o fazemos é, quase sempre, tarde demais, porque fisicamente já não estamos em con­ dições de compreendê-lo ou enfrentá- lo, ou então porque nossas angústias nos abateram e não somos capazes de perceber isto.

Finalmente, a adivinhação do I Ching, além de nos ajudar a solucionar alguns problemas aos quais temos que en­ frentar durante nossa vida cotidiana, também pode nos permitir compre­ ender a verdadeira natureza de nossas angústias e chegar a dominá-las.