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Contatando a Mulher Muçulmana de Reversão em São Paulo

3. SINAIS DE UM ISLÃ BRASILEIRO

4.1 Focando a Mulher Muçulmana na Cidade de São Paulo

4.1.3 Contatando a Mulher Muçulmana de Reversão em São Paulo

O contato que fiz em seguida foi com uma jovem de 22 anos, técnica em laboratório e estudante da última etapa do curso de farmácia. B. K. , brasileira, revertida há aproximadamente oito meses. Disse que desde criança sempre foi fascinada pela cultura do Oriente Médio. Dizia ela: “eu nunca entendi ao certo, o porquê do meu interesse, uma vez que não tenho nenhuma ascendência, seja libanesa, síria ou árabe em minha família. Minha mãe se converteu à igreja protestante evangélica quando eu ainda era criança, portanto, cresci praticamente dentro da denominação Congregação Cristã no Brasil. Eu frequentava a igreja ao menos uma vez por semana e tinha envolvimento e responsabilidades lá.

Perguntei se houve algum motivo que tenha feito com que deixasse a sua primeira denominação religiosa. Ela disse o seguinte: “Entrei numa fase muito difícil da minha vida. Minha mãe ficou doente e eu não recebi nenhum apoio daqueles que falavam tanto do amor entre seus próprios irmãos. Após essa fase de doenças da minha mãe, chegou minha vez de ficar doente também. Mais uma vez eu percebi a grande hipocrisia destas pessoas que me rodeavam. Juntei estes acontecimentos ao fato de eu estar agora crescida e com mais maturidade, foi então que muitas questões começaram a fervilhar em minha mente. “Ali, naquela igreja, não estavam as respostas de que eu precisava”.

Perguntei quais eram estas questões que tanto mexiam com sua cabeça? “São muitas”, disse ela. E começou a enumerá-las. Eu tinha muitas dúvidas relacionadas à criação, ao papel da mulher, à importância da família, etc., mas, acima de tudo, eu não me sentia mais um membro daquela igreja, embora eu me vestisse como todos eles e estivesse no meio deles, eu me sentia diferente, sentia que minha crença não me levava a adorar a Deus como deveria num lugar como aquele. “Esta era uma questão que me preocupava muito”.

Você deixou de frequentar a igreja? Perguntei. “Sim. Foi quando comecei a estudar sobre o Islã. Na faculdade, tive uma professora muçulmana. Sua conduta, seus exemplos e a bondade do seu coração desencadearam em mim, a vontade de conhecer mais sobre o islamismo, entender os motivos, aqueles, em que a mídia dizia coisas tão ruins a respeito do povo muçulmano. Eu percebia que nada daquilo que a mídia dizia se encaixava com o que realmente eu estava vendo”. Perguntei se

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ela sabia se sua professora era uma muçulmana de imigração ou se era uma revertida? B. K. respondeu: “que era uma descendente de libaneses, nascida no Brasil e que dominava o idioma árabe e o Português”.

Como você chegou à convicção de que no islamismo você encontraria seu equilíbrio religioso? Perguntei. B.K: “Estudei durante seis meses, aproximadamente. Pesquisei e li muito sobre o Islã na internet. Muitas dúvidas que eu tinha foram sanadas através de ótimos sites que divulgam o Islamismo com muita seriedade e clareza. Por outro lado, eu tirava minhas dúvidas mais íntimas com minha professora, que agora é minha amiga”.

Perguntei se ela estava ciente das opiniões veiculadas e tidas como certas de que as mulheres muçulmanas são submetidas e dominadas pelos homens, numa relação de gêneros totalmente assimétrica. B.K: “Nesse meu período de buscas e conhecimento do Islã, percebi que muitas opiniões e atitudes radicais e extremistas não eram fundamentadas na religião, mas sim na cultura dos países orientais. Percebi ainda que outros países também podem ter uma visão estereotipada de nossa realidade brasileira. Somos conhecidos lá fora pelo carnaval, pelo samba e por mulheres seminuas, mas isso não quer dizer que todos os brasileiros andem seminus, participam de carnaval e gostam de samba etc”.

Perguntei se B. K. já estava praticando os rituais religiosos do Islã e se ela estava feliz com sua nova religião muçulmana. B.K: “A cada dia mais eu percebo que tudo o que estava estudando, de alguma forma, respondia às minhas mais íntimas questões e me trazia uma sensação de paz interior que eu não encontrava antes. Foi quando tomei a decisão de iniciar minha vida religiosa muçulmana, propriamente dita. Iniciei com o jejum do mês do Ramadã, quando minha reversão, pelo menos para mim, ainda não era total”.

Por que alguém não revertido ainda, ou pelo menos não, totalmente, faria o jejum do Ramadã? Perguntei para B. K. Ela olhou para mim meio desconcertada, mas respondeu com firmeza: “foi a maneira de tentar me aproximar de Deus, uma experiência incrível! Comecei a frequentar a Mesquita sunita do Pari. Era a mais acessível para mim, e lá encontrei um ambiente acolhedor, tanto por parte das revertidas quanto por parte de algumas descendentes de imigrantes muçulmanos. Foi fácil encontrar o endereço e o telefone da mesquita.

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Como foi sua experiência? Chegar sozinha em uma mesquita pela primeira vez, sem nenhuma orientação prévia, ainda mais para uma brasileira revertida e mulher? B. K: “na minha primeira visita fui com a cara e a coragem, literalmente sozinha, mas recebi muita atenção e orientações da minha amiga, principalmente de como me vestir. Minha recepção foi muito boa como já disse. Depois dessa visita, comecei a frequentar as aulas de religião todos os sábados. Trinta dias depois, decidi realizar minha Shahada (reversão na qual se declara que há um único Deus digno de louvor e que Muhammad é seu profeta e mensageiro)”.

Perguntei se as relações com sua família estavam boas. Como eles aceitaram esta reversão ao Islã? B. K: “Minha Família aceitou muito bem minha decisão, exceto minha mãe. Estava difícil para minha mãe entender os meus motivos, no entanto, minha essência não mudou, mas sim minha maneira de adorar a Deus.

Perguntei para B. K. sobre a questão das Indumentárias femininas no Islã e se ela já estava usando o hijab? B. K: “Ainda não uso o hijab, por enquanto. Após a minha reversão, ainda há muitas mudanças que vão ocorrer, as vestimentas que caracterizam uma muçulmana é uma delas. Tento, ao máximo, adequar minhas roupas à minha nova religião, pois tenho convicção de que a mulher deve se preservar como forma de valorizar e guardar sua beleza para aqueles que ela ama. Quanto ao uso do hijab, sei que vai chamar muito a atenção, mas para mim será mais um passo, algo muito importante, pois faz parte da minha religião e de minha nova vida e estarei seguindo aquilo que foi preconizado por Deus”.

E quanto às orações diárias? Você já está praticando e realizando as abluções? B. K: “Não. As orações diárias ainda não estou fazendo. Minha reversão foi uma decisão muito importante e sei que ainda tenho muito o que aprender. Por isso mesmo, continuo frequentando as aulas na mesquita, adequando minhas roupas e também a minha rotina para iniciar as cinco orações diárias. Minha rotina de trabalho e estudos ainda não foi organizada e muitas vezes eu não tenho um lugar adequado e disponível para realizar as orações diárias como determina o Islã.

Você espera iniciar um namoro ou mesmo um casamento com um muçulmano ou ainda não pensou sobre isso? B. K. “Ainda não parei para pensar neste assunto. Mas penso que o melhor seria mesmo casar com alguém do mesmo credo religioso”.

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Você imagina um marido que seja atencioso, amável e que lhe trate com igualdade? B. K. “É o que eu espero e creio que terei. Pois confio que Deus honrará minha fé”.

Você tem consciência de que o Corão preconiza, por via de regra, uma relação de submissão da mulher ao homem e que por esta razão, há uma polêmica muito grande envolvendo as relações de gênero no meio do islamismo? B. K. Já ouvi falar e já li bastante sobre esta questão. Há muito exagero por parte dos que estão de fora. Por outro lado, há uma tendência de minimizar por parte dos que estão do lado de dentro do Islã. Preciso, quando chegar a hora, adequar esta questão à minha realidade de mulher muçulmana brasileira revertida.

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