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O Islã em Terras Brasileiras, oriundo de Imigração

2. O ISLÃ EM TERRAS BRASILEIRAS

2.4 O Islã em Terras Brasileiras, oriundo de Imigração

‘O Imperador D. Pedro II, após efetuar uma viagem diplomática ao Oriente Médio, mostrou-se fascinado pela cultura local e pela cordialidade do povo árabe. Consta que, por meio do Imperador, as primeiras levas de imigrantes árabes foram atraídas para o Brasil. Há séculos dominados pelo Império Turco-Otomano, os árabes viram na emigração uma forma de fuga da violenta dominação turca. Os turcos, de fé islâmica, perseguiam as comunidades cristãs árabes.

Em fins do século XIX, os árabes cristãos, e, dentre estes, muçulmanos também, em sua maioria partindo da Síria e do Líbano, passaram a se espalhar pelo mundo: os destinos principais foram a América do Norte, América do Sul – em especial, o Brasil. O estabelecimento de um islamismo em solo brasileiro, portanto, se dá com a imigração de sírios, libanesses e turcos que portavam documentos de identificação emitidos por autoridades do Imperio Turco-Otomano57.

A orígem do termo “turco” que passa a ser designativo para todos aqueles que procediam da Síria, do Líbano e da Turquia, é uma herança dos resquícios do Império Turco Otomano, daí o termo turco ser usado até mesmo para aqueles que tinham ascendencia grega.

Embora sírios e libaneses tenham sido a grande maioria dentre os povos de origem árabe que vieram para o Brasil, houve uma ampla e confusa generalização que, por sua vez, negligenciou a presença de outros grupos menores como egípcios, palestinos, iraquianos. Além disso, diluía sua importância numérica em relação a outros grupos de maior expressão, levando também ao problema da análise estatística, pois os dados não coincidem, uma vez que, para um mesmo censo, foram usados duas ou mais categorias. Dentre as muitas denominações que estes grupos receberam por parte dos nativos brasileiros, de longe mais popular foi a de “turcos”. Não levando em consideração as diferentes procedências do mundo

57 Ele começou a nascer no século 11, quando tribos turcas nômades se fixaram na Anatólia, região

que hoje é parte da Turquia. Tais tribos ajudaram a difundir a religião muçulmana em terras que até então estavam sob o domínio de outro império, o Bizantino. "O termo otomano deriva do nome Osman, ou, em árabe, Uthman", diz o historiador inglês Malcolm Yapp, da Universidade de Londres. Osman, ou Otman I (1258-1324), foi um chefe turco que transformou essas tribos nômades em uma dinastia imperial. Durante os séculos 15 e 16, o Império Otomano tornou-se um dos estados mais fortes do mundo, englobando boa parte do Oriente Médio, do Leste Europeu e do norte da África. Além do poderio militar, o que ajudou a garantir essa expansão foi a tolerância dos otomanos com as tradições e as religiões dos povos conquistados.

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oriental. O maior número, seguramente, procedeu da Síria, do Líbano e da Palestina. Quando iniciou-se a imigração, o Império Turco Otomano era ainda respeitado. Os passaportes dos imigrantes eram emitidos pela autoridade Turca- Otomana; fato que, do ponto de vista dos imigrantes, era positivo, contudo, do ponto de vista dos nativos era fator negativo, haja vista que ser turco era sinônimo daqueles que “faziam qualquer negócio”. A estgmatização pelo olhar do outro, intensificada pela generalização do termo “turco” acabava por fazer emergir preconceitos étnicos em relação aos imigrantes. (OSMAN, 2011, p. 23).

Os primeiros sírios e libaneses chegaram em solo brasileiro nos anos 186058. Não há estatíticas precisas, mas as pesquisas sobre esse tema mostram que o fluxo de imigrantes não cessa de crescer até próximo do início da primeira guerra mundial. Dados registrados indicam que aproximadamente onze mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças foram registrados em 1913. Registra-se que nos anos 1920 e até a Grande Depressão contava-se em torno de cinco mil entradas de imigrantes por ano. Os dados do recensseamento de 1920 do Estado de São Paulo, apresentava cerca de vinte mil sírios e libaneses, aproximadamente quarenta por cento do total nacional. Note-se que esta tendência vai se confirmando ao longo das décadas seguintes e fazendo de São Paulo, o Estado da união com maior presença de muçulmanos de imigração do Brasil. Em seguida, vem o Estado do Rio de Janeiro seguido pelo Estado de Minas Gerais. A cidade de São Paulo se destacou por acolher seis mil imigrantes muçulmanos que se instalaram, principalmente, nos bairros da Sé e de Santa Ifigênia. Além da capital paulista, numerosos grupos se estabeleceram em São José do Rio Preto, Santos, Barretos e Campinas. ( TRUZZI, 1993, p. 186).

Na continuidade do processo imigratório, houve um segundo movimento, digno de nota, a partir de 1945 a 1955; 1956 a 1970 e o de 1971 até hoje. Importante destacar que de 1860 até 1938, a grande maioria de imigrantes eram cristãos. A partir de 1945 em diante, a imigração dividiu-se entre cristãos e muçulmanos. Segundo Ribeiro, apesar do número de muçulmanos serem, inicialmente, minoria no meio destes grupos de imigração, são eles, portanto, que irão iniciar o estabelecimento de uma comunidade islâmica sólida em terras

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Pelas linhas históricas convencionais, registra-se a primeira leva imigratória em 1860 a 1870, porém, há um relato ainda que impreciso, da presença libanesa já com a chegada da família real portuguesa em 1808. (NAME, 2009, p.14).

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brasileiras. Entre os muçulmanos imigrantes, a maioria eram de orientação sunita, uma parte menor de xiitas e ainda a presença de alawitas.59 Hoje, podemos

identificar alawitas na Síria, inclusive no governo deste país.

Como ponto de partida, a SBM teve a sua primeira sede instalada em 1928, com 62 pessoas arroladas, localizada à Rua da Mooca, porém, as orações eram realizadas em algumas salas alugadas na Avenida Rangel Pestana e Barão de Duprat. Em 1929 inicia-se a construção da primeira mesquita do Brasil, que será inaugurada em 1960, no bairro do Cambuci, em São Paulo. Esta mesquita levará o nome de Mesquita Brasil (RIBEIRO, 2013, p. 157).

59A doutrina alauíta - uma variante heterodoxa e esotérica do xiismo - foi elaborada no Iraque no

século IX por Mohammad bem Nusseir, discípulo do 10º imã Ali Hadi, que entrou em dissidência. Assim como os xiitas, que veneram Ali, primo e genro do profeta Maomé, os alauítas o idolatram. Para eles, Mohamed não é mais que um véu que esconde "a essência" encarnada por Ali. Seus seguidores acreditam na reencarnação, em geral carecem de mesquitas, ignoram o jejum e a peregrinação a Meca, toleram o álcool e suas mulheres não utilizam véu.

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