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Era contemporânea, estado de bem estar social, socialismo e início da proteção social

CAPÍTULO 2 INFORMALIDADE DAS RELAÇÕES DE TRABALHO HISTÓRICO

2.1. Evolução histórica do trabalho e da proteção social

2.1.3. Era contemporânea, estado de bem estar social, socialismo e início da proteção social

No século XVIII, com os movimentos de Independência dos Estados Unidos (1776), a Revolução Francesa (1789) e, no âmbito nacional, a Conjuração Mineira (1789) e a Baiana (1798), tem início no cenário histórico a Era Contemporânea.

Embora de fundamental relevância política, tais movimentos pouco contribuíram para o tema da proteção social. Ao contrário, mesmo com a previsão expressa dos socorros públicos como princípio fundamental na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1789),79 fato é que a consolidação dos ideais liberais intimidou o avanço da proteção social pública, carreando aos particulares, empregados e empregadores, o ônus de custear os sistemas privados de seguro já instituídos.80

No plano econômico, como decorrência, mais uma vez, do aumento da demanda por produtos manufaturados nos mercados interno e externo, tem início na Inglaterra, a Revolução Industrial (século XVIII).

Importante frisar, acerca da evolução das formas de produção, que o padrão dominante durante a Idade Média era o artesanato, com atuação independente dos artesãos, que eram proprietários de suas ferramentas e instrumentos, destinando o produto do trabalho para sua subsistência ou para troca no mercado local.

Com o aumento da procura por produtos manufaturados, porém, o artesanato revelou-se insuficiente a atender às novas necessidades, o que implicou na elevação do número de trabalhadores subordinados ao dono da manufatura, bem como das ferramentas utilizadas na

78 COIMBRA, José dos Reis Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11ª edição. Rio de Janeiro: Edições

Trabalhistas, 2001, pp. 05 e 06.

79 “XXI - Os socorros públicos são uma dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes,

quer seja procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência àqueles que são impossibilitados de trabalhar.”

80 COIMBRA, José dos Reis Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11ª edição. Rio de Janeiro: Edições

confecção de mercadorias, sendo possível identificar evidente divisão social do trabalho, que se torna especializado, elementos configuradores da economia de manufatura.

Segundo Gézio Duarte Medrado,81 nesta etapa histórica, ainda sob influência do liberalismo jurídico, vigorou, no que diz respeito especificamente às relações de trabalho, o regime da locação de serviços, em que os trabalhadores cediam o próprio trabalho como objeto do contrato firmado com o tomador, fato que mais adiante deu origem ao trabalho contratado, ou subordinado.

Na segunda metade do século XVIII e durante o XIX, com a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra e depois expandida para os demais países do mundo, a utilização das máquinas movidas a vapor, a eletricidade e a combustão, alteram mais uma vez o sistema econômico em vigor.

A produção de mercadorias em massa e consequente especialização das atividades, dividindo a economia nos setores primário (matéria-prima), secundário (indústrias) e terciário (serviços), provocou o aumento geral de riqueza, atraindo os trabalhadores rurais para os centros urbanos.

Contudo, o incremento populacional nas cidades não contava com qualquer planejamento urbanístico, o que acarretou graves problemas de habitação e insuficiência das medidas públicas de amparo às necessidades sociais, além do confinamento de operários nas fábricas em ambientes insalubres, pagamento de baixos salários, jornada de trabalho excessiva e exploração da mão de obra feminina e infantil.

Diante deste quadro, assume contornos definitivos a classe do proletariado, a qual se organiza em sindicatos, conselhos de operários e comitês de greve, exigindo mudanças na estrutura liberal então instaurada.82

As críticas que se fizeram ao modelo liberal decorrem da constatação de que a livre concorrência ao invés de trazer o equilíbrio social esperado, legitimou uma nova ordem injusta, com proeminência exclusiva da burguesia capitalista. As novas teorias clamavam, portanto, por

81 A garantia de emprego na economia globalizada – reflexões e propostas. Tese de Doutorado. Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, 2002, pp. 16 e 17.

82ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando - introdução à filosofia. 2ª

igualdade formal e material, contrapondo o “socialismo” ao “individualismo” então instaurado.83

Com isso, despontam as primeiras manifestações do que se convencionou denominar “socialismo utópico”, movimento liderado por autores como Saint Simon, Fourier e Proudhon, e que propunha a igualdade real entre a burguesia e o proletariado, a descentralização do poder, a melhoria das condições de moradia, higiene, educação e salários, além da redução das jornadas de trabalho.

Inspirados nesse movimento, porém conjugando-o às teorias econômicas de Adam Smith e David Ricardo, bem como à filosofia hegeliana,84 Karl Marx e Friedrich Engels propõem o “socialismo científico”, ou “marxismo”, que vê na revolução, sucedida por uma fase de ditadura do proletariado e consequente abolição do Estado, a única forma de solução para a luta de classes e para a questão social.85 Sustentam, ainda, que apenas com o fim da propriedade privada e a rejeição do capital e do mercado, a igualdade real entre as classes sociais será atingida.

Na esfera previdenciária, em virtude das tensões sociais provocadas pelos movimentos socialistas, é instituída gradativamente na Prússia, pelo Chanceler Otto Von Bismarck como primeira manifestação de um típico sistema de seguro social, a “Lei do Seguro-Doença” (1883).

Inobstante a finalidade eminentemente política, o citado diploma conferia proteção aos trabalhadores expostos às contingências decorrentes de doença – concebidas como socialmente relevantes -, mediante contribuição destes, dos empregadores e do Estado. Ademais, era

83 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando - introdução à filosofia. 2ª

edição. São Paulo: Moderna, 1993, p. 237.

84 Sobre a filosofia hegeliana, esclarecem Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins que: “Ao

explicar o movimento gerador da realidade, Hegel desenvolve a dialética idealista: no sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a se aplicar, „mas é o próprio tecido do real e do pensamento‟. O mundo é a manifestação da Idéia, „o real é racional e o racional é real. „A história universal nada mais é do que a manifestação da Razão. No movimento dialético, a Razão passa por diversos graus, desde a natureza inorgânica até as formas mais complexas da vida social. Entre estas Hegel se refere ao espírito objetivo, ou seja o exterior do homem enquanto expressão da vontade coletiva por meio da moral, do direito, da política: o Espírito objetivo se realiza naquilo que se chama mundo da cultura. Para Hegel, o Estado é uma das mais altas sínteses do Espírito objetivo.” Filosofando - introdução à filosofia. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 1993, pp. 233 e 234.

85 O termo “questão social” é aqui empregada como o conflito entre o capital (burguesia) e o trabalho

(proletariado). Sobre o tema, sustenta Wagner Balera que: “Pode-se dizer, em suma, que a questão social é a questão do trabalho e das relações entre capital e trabalho.” Noções preliminares de direito previdenciário.

dispensada a prova de culpa do empregador para que o trabalhador fizesse jus à reparação dos danos causados.

No ano seguinte, é editada a “Lei do Acidente do Trabalho”, cujo custeio foi carreado exclusivamente aos empregados e, em 1889, é publicada a “Lei do Seguro Invalidez e Idade”, que adota o modelo de contribuição tripartite.86

Sob o ponto de vista jurídico, de se ressaltar que as leis de proteção social germânicas apresentavam como características essenciais: a generalidade, não se destinando somente a parte das categorias profissionais, mas a quaisquer trabalhadores; e a obrigatoriedade de filiação, motivo pelo qual são concebidas como a primeira manifestação de um seguro de caráter social.87

Nesta etapa, também, é possível verificar-se o início da proteção social no Brasil, o que se deu primeiramente através de ações sociais esparsas, sem qualquer unidade legislativa ou mesmo administrativa. Ademais, a cobertura não abrangia a todos, mas apenas a algumas categorias específicas de trabalhadores.

Com efeito, outorgada a Constituição Política do Império do Brasil, em 1824, limitou-se o constituinte a assegurar de forma genérica os socorros públicos (artigo 179, inciso XXXI88), com vistas a remediar a miséria89.

Proclamada a República, dada a ideologia positivista que lhe permeava, pouco foi dito acerca da assistência aos necessitados pela Constituição de 1891. Embora previstos os socorros

86 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 7ª edição. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 25. 87 Sobre o tema, pondera Celso Barroso Leite que: “O seguro social constituiu um reconhecimento algo tardio de

que, sobretudo nas sociedades industrializadas e urbanas de assalariados, não se podia esperar que os indivíduos e as famílias cuidas- sem de sua própria segurança. Em alguns países a primeira proteção adotada foi contra o risco de acidentes do trabalho e, algum tempo mais tarde, de enfermidade. As aposentadorias e pensões foram instituídas como resposta à prática cada vez mais comum de aposentar para compensar os leais serviços prestados; e com a pensão foram reconhecidos os direitos da mulher casada. Mas foi a amarga experiência da depressão econômica ocorrida entre as duas guerras mundiais que deu forte impulso às políticas de seguridade social, pois se tornou indiscutível que não se podia responsabilizar simplesmente o indivíduo pelo fato de não encontrar trabalho. O desemprego prolongado privava suas vítimas da possibilidade de poupar e de se garantirem contra os demais riscos sociais e econômicos. O seguro social foi considerado um meio não só de proteger pessoas mas também de dar maior estabilidade a sistemas econômicos que se tinham revelado instáveis.”

A seguridade social na perspectiva do ano 2000. São Paulo: LTr, 1985, p. 33.

88 “Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a

liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. (...) XXXI. A Constituição tambem garante os soccorros publicos.”

89 BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, pp.

públicos a serem prestados pelo Estado (artigo 5º90), tal garantia restou deslocada do âmbito social, para o administrativo, uma vez que o dever de ação estatal apenas surgiria na hipótese de calamidade pública.91

Ademais, de acordo com o artigo 7592 da mesma Carta, havia a possibilidade de concessão de aposentadoria por invalidez em favor dos funcionários públicos, não se fazendo qualquer menção às demais categorias de trabalhadores93. Com isso, as ações assistenciais persistiam sob a regulamentação da legislação esparsa.

Não é possível, destarte, falar-se em um sistema de proteção, o qual se consolidaria, no âmbito nacional, apenas mais adiante, nas primeiras décadas do século XX.

Retomando-se a perspectiva histórica, dado o anseio por mudança proclamado através dos movimentos operários durante o século XIX, e levando-se em conta os resultados negativos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tal como a “Grande Depressão” com a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e o surgimento do nazismo (1922-1945) e do fascismo (1933- 1945) na Europa, cujo fim deu-se apenas no final da Segunda Guerra Mundial (1945), o Liberalismo teve de passar por sensíveis transformações, cedendo espaço ao que se convencionou denominar Estado de Bem Estar Social.

De acordo com o novo modelo trazido pelo Welfare State,94 o Estado passa a intervir de forma moderada na tutela dos interesses individuais e coletivos dos cidadãos, provendo a assistência às necessidades sociais básicas e garantindo condições dignas de trabalho à

90“Art 5º - Incumbe a cada Estado prover, a expensas próprias, as necessidades de seu Governo e administração;

a União, porém, prestará socorros ao Estado que, em caso de calamidade pública, os solicitar.”

91 BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p.

19.

92“Art 75 - A aposentadoria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da

Nação.”

93 BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, pp.

19 e 20.

94 Sobre o tema, pontua Juliana Presotto Pereira Netto: “Mas o Estado de Bem-Estar, segundo os teóricos que o

defendem, vai além dos fins meramente materiais, para assumir também a defesa de valores não-materiais, como o desenvolvimento da pessoa humana e a busca da tranquilidade espiritual. Objetivos estes que se adequam perfeitamente ao âmbito da previdência social, e lá encontram terreno fértil para se desenvolver, na medida em que esta também visa o atendimento das necessidades humanas tanto materiais (de sobrevivência com dignidade), quanto psíquicas (de segurança em relação ao futuro).” A previdência social em reforma – o desafio da inclusão de um maior número de trabalhadores. São Paulo: LTr, 2002, p.45.

população. Passa o Estado, ainda, a dirigir por meio de fiscalização e incentivos os rumos do mercado econômico que não mais é pautado exclusivamente na autorregulação.95

Diante desse quadro, as formas de proteção social em vigor também passam por alterações, especialmente através da expansão do modelo de seguro social pioneiramente desenvolvido na Alemanha e na Inglaterra, para os mais diversos países do mundo.96

Demais disso, com o aumento do número de necessitados, houve ampliação da cobertura e do atendimento pela previdência social,97 o que se verifica, de início, apenas na Inglaterra. Nesse sentido, são as leis de Old Age Pensions (1908) - que assegurava o pagamento de pensão aos maiores de 70 anos -, e o National Insurance Act (1911) - que instituiu sistema de proteção social de caráter obrigatório, mediante custeio tripartido.98

Contudo, as principais inovações jurídicas trazidas durante o período entre guerras foram, sem dúvida, os Relatórios Beveridge: Social Insurance and Allied Services e Full Employment in a Free Society.

Isso porque através deles, pela primeira vez na História é completamente abandonado o modelo proposto por Bismarck, superando-se a ideia de seguro social, rumo a um efetivo sistema de seguridade social, caracterizado, essencialmente, pela universalidade da cobertura e do atendimento.99

O primeiro Plano, datado de 1942, nada mais fez do que constatar as deficiências do sistema de previdência inglês, a partir da análise das regras de direito positivo em vigor.

Já o segundo, editado em 1944, traz relevantes inovações, propondo o atendimento a toda a população necessitada, a garantia a qualquer homem de um nível de vida digno, e o sistema contributivo baseado na remuneração efetivamente percebida por cada cidadão. Sugere

95 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando - introdução à filosofia. 2ª

edição. São Paulo: Moderna, 1993, , p. 260.

96 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2008, 7ª edição, p. 50. 97 Sobre a expressão “previdência social”, aponta Wagner Balera: “A previdência social é, antes de tudo, uma

técnica de proteção que depende da articulação entre o Poder Público e os demais atores sociais. Estabelece diversas formas de seguro, para o qual ordinariamente contribuem os trabalhadores, o patronato e o Estado e mediante o qual se intenta reduzir ao mínimo os riscos sociais, notadamente os mais graves: doença, velhice, invalidez, acidentes no trabalho e desemprego.” in BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de

1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p. 49.

98 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 7ª edição. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 25. 99 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de previdência social. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 21.

o estudioso, portanto, a concretização da plena universalidade subjetiva e objetiva de proteção social, através da contribuição indireta de toda a sociedade.100

No Brasil, por sua vez, o esquema protetivo persiste até a década de 1930 em uma fase inicial, com a edição de normas esparsas, dentre as quais a Lei nº 3.724/1919 que, baseada na responsabilidade objetiva do empregador, previa o pagamento de indenização em caso de acidente do trabalho, além da Lei Elói Chaves (Decreto Legislativo nº 4.682/1923), considerada a primeira lei brasileira sobre previdência social, instituindo as Caixas de Aposentadorias e Pensões para os ferroviários, com cobertura das contingências decorrentes de doença, velhice, invalidez e morte.101

No entanto, dada a limitação subjetiva de cobertura apresentada pelo sistema em questão, foram organizadas, gradativamente, outras diversas Caixas de Aposentadorias e Pensões, vinculadas a empresas de natureza privada, como forma de atender às demais classes trabalhadoras. Cada uma delas possuía regras de atuação próprias, inclusive quanto aos benefícios concedidos, o que resultou na insuficiência do atendimento aos filiados.102

Logo, com a edição do Decreto 20.465/1931, as Caixas de Aposentadorias e Pensões relativas a categorias semelhantes de trabalhadores, foram reunidas em institutos – como o dos comerciários, industriários, bancários, servidores públicos, dentre outros -, de natureza pública, com vistas à uniformização das espécies de benefícios passíveis de concessão, no âmbito nacional.

Ainda assim, no entanto, a atuação de tais órgãos era desarticulada e não uniforme, acarretando, não raras vezes, o tratamento desigual a situações concretas semelhantes.103 Ademais, ressalte-se que não havia qualquer tipo de cobertura pelos institutos aos trabalhadores autônomos, domésticos e rurais.

Na Constituição de 1934 é feita pela primeira vez menção expressa (artigo 121, § 1º, h104) acerca do seguro social o qual, além de basear-se no custeio tripartite, tinha caráter

100 RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de previdência social. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 22.

101 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 7ª edição. São Paulo: Quartier Latin, 2008, pp. 27 e 28. 102 BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria geral da previdência social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 123. 103BERBEL, Fábio Lopes Vilela. Teoria geral da previdência social. São Paulo: Quartier Latin, 2005, pp. 124 e

125.

104“Art 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos

campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.

§ 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador: h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta

público, na medida em que gerido pelo próprio Estado, e obrigatório no que diz respeito à filiação.

Desta feita, inaugura-se uma nova etapa da evolução histórica da proteção social no país, com expansão do sistema rumo à uniformização de tratamento e passagem, da mera assistência, para a previdência social.105

Interessante ressaltar a esse respeito, a influência do governo de Getúlio Vargas, na proteção laboral e previdenciária do trabalhador.

Diante das tensões políticas verificadas na segunda metade do século XX entre a oligarquia paulista (produtora de café), as camadas médias e alguns integrantes do Exército, tem início o Estado Novo no ano de 1937.

Inspirado ideologicamente no movimento fascista, o governo comandado por Getúlio Vargas busca conter os conflitos instaurados, combinando o autoritarismo e o populismo e objetivando o crescimento do setor industrial.

Tendo em vista a diminuição de mão de obra imigrante à época, em razão da Segunda Guerra Mundial, o incentivo estatal à industrialização implicou na integração de trabalhadores rurais ao proletariado urbano. Em virtude do baixo conhecimento técnico dessa população, contudo, muitos deles eram subempregados, quando não desempregados, o que agravou a marginalidade urbana.106

Com a crise instaurada no cenário internacional, buscou Getúlio Vargas desenvolver políticas que permitissem a acumulação de capital industrial, notadamente através da elevação do índice inflacionário, o que garantia a captação de recursos dos setores agrícolas e das classes trabalhadoras, além do aumento do meio circulante em relação à produção interna, o que acarretava a alta de preços no mercado brasileiro.107

descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte.”

105 BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p.

22.

106 ALENCAR, Chico; CARPI, Lucia; e RIBEIRO, Marcus Venicio. História da sociedade brasileira. São Paulo:

Ao Livro Técnico, 1996, pp. 322 e 323.

107 ALENCAR, Chico; CARPI, Lucia; e RIBEIRO, Marcus Venicio. História da sociedade brasileira. São Paulo:

De qualquer maneira, ainda que de forma limitada e desigual, foi possível verificar uma ampliação do mercado interno, o que, entretanto, não foi suficiente a tornar a economia do país independente, na medida em que baseada essencialmente na exportação de produtos primários, o que se contrapunha à carência por bens de capital, fundamentais à elevação das taxas de acumulação interna de capital.108

Inobstante o intenso apoio conferido pelo governo aos proprietários de terra, com a crise da agricultura de exportação, verificou-se na década de 1940, a venda em massa de terras, com agravamento da situação já precária dos trabalhadores rurais, que se sujeitavam a baixa remuneração, subnutrição, falta de assistência médica e de proteção trabalhista. Essa a principal motivação do êxodo rural ocorrido à época.109

Não comportando os centros urbanos a absorção da elevada mão de obra que se apresentava, constata-se uma elevação da miséria nos centros urbanos, agravando a crise social já instaurada, o que motivou o crescimento do movimento operário, com a intensificação dos protestos, das greves e da organização em sindicatos.

Outro resultado negativo da pauperização nas cidades foi a limitação do poder de compra no mercado consumidor, o que repercutiu negativamente no incentivo ao setor industrial.

Em razão disso, volta o governo populista de Getúlio Vargas suas atenções à questão social, mediante instituição da legislação trabalhista e previdenciária, organização dos sindicatos e instituição do salário mínimo. Tais mecanismos, contudo, revelavam um avanço