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2.1 EDUCAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

2.1.1 Contexto de surgimento da Educação para Sustentabilidade

Conforme o exposto, diante dos desafios da sustentabilidade, é preciso que se avance na construção de uma visão integradora e holística de mundo, na qual não se restrinja a uma visão simplista do homem como centro das preocupações, mas que busque pensar na integração homem-natureza como um todo. Sendo a educação considerada, muitas vezes, um importante instrumento de humanização, socialização e de transformação da sociedade, na Conferência de Estocolmo, em 1972, a educação passa a ser reconhecida formalmente a nível internacional como uma das ferramentas mais importantes na promoção da proteção e conservação ambiental (LOZANO et al., 2014). Para Barbieri (2004), a Conferência de Estocolmo é considerada um marco para a educação ambiental, firmando as bases para um novo entendimento acerca das relações entre o ambiente e o desenvolvimento socioeconômico.

Desde então, a educação ambiental e para sustentabilidade passou a receber atenção especial em praticamente todos os fóruns relacionados com a temática do desenvolvimento e do meio ambiente, sendo que as instituições de ensino superior (IES) devem se tornar responsáveis em incorporar a educação ambiental e a educação para o desenvolvimento sustentável em seu sistema de ensino e aprendizagem (BARBIERI, 2004; LOZANO et al., 2014). Outras iniciativas surgiram, como as citadas no Quadro 3.

Quadro 3 - Resumo iniciativas globais de EpS

ANO EVENTO/DOCUMENTO BREVE DESCRIÇÃO

1972

Conferência Sobre Desenvolvimento Humano - Conferência de Estocolmo

Realizada em Estocolmo, na Suécia, promovida pela ONU, foram criados alguns instrumentos para tratar de problemas sociais e ambientais planetários, como a Declaração sobre o Ambiente Humano, com 26 princípios voltados para orientar a construção de ambiente que harmonize os aspectos humanos e naturais, considerados essenciais para o bem-estar dos humanos e para que possam gozar de todos os direitos fundamentais (BARBIERI,SILVA; 2011)

1975 Conferência de Belgrado

Criação de uma Carta e o início do Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA). A Carta de Belgrado de 1975 afirmou que Governos e formuladores de políticas para coordenar mudanças e novas abordagens, para o desenvolvimento, devem focar em mudanças na educação para que as alterações sejam duradouras.

1977 Conferência de Tbilisi

A declaração produzida entendeu a Educação Ambiental como o resultado da reorientação e compatibilidade de diferentes disciplinas e experiências educacionais que facilitam uma percepção integrada dos problemas ambientais, proporcionando capacitação para ações suficientes às necessidades socioambientais (JACOBI, 2005)

1983 Comissão Mundial para o

Meio Ambiente e o

A ONU cria a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, com sede na Noruega.

Desenvolvimento (CMMAD)

1987 Relatório Brundtland -

“Nosso Futuro Comum”

Nesse documento, há o comprometimento dos governos signatários a promover o desenvolvimento econômico e social em conformidade com a preservação ambiental (CMMAD, 1991)

1990 Declaração de Talloires

Criada em 1990, é a primeira iniciativa voluntária de caráter geral. Ela deu o tom para outras que vieram depois dela. Hoje, mais 400 IES subscreveram seus termos (BARBIERI;SILVA, 2011)

1991 Declaração de Halifax

Surge, em 1991, por iniciativa da Universidade das Nações Unidas e da Associação de Universidades Canadenses, a declaração que contém seis ações endereçadas às universidades. Além dela, foi elaborado um plano de ação que procura fornecer um senso de direção claro para as diversas atividades desenvolvidas pelas universidades, identificando-as como de curto e longo prazos e de abrangência local, nacional e internacional. Inclui também uma longa lista de recomendações nesses três níveis de abrangência (BARBIERI;SILVA, 2011)

1992

II Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento - RIO-92

ou ECO-92

O objetivo principal da RIO-92 foi buscar meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. Neste sentido, a RIO-92, deu origem à elaboração de vários documentos oficiais tais como: A Carta da Terra, aprovada posteriormente pela ONU em 2002; as Convenções Internacionais de Mudanças Climáticas, de Biodiversidade e de Desertificação; a Declaração de Princípios sobre Florestas e a Agenda 21, principal documento da RIO-92 e que serve de base para que cada país, estado, município e/ou instituição elabore seu plano de preservação para o meio ambiente (MARQUES, 2016)

2005

Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS)

UNESCO lança a iniciativa “A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS)”, cujo objetivo é “integrar os valores inerentes ao Desenvolvimento Sustentável em todos os aspectos da aprendizagem com o intuito de fomentar mudanças de comportamento que permitam criar uma sociedade sustentável e mais justa para todos” (UNESCO, 2005)

2007

IV Conferência Internacional de Educação

Ambiental

Em Ahmedabad, na Índia, nessa conferência foi reafirmado que a EpS é uma importante estratégia para o desenvolvimento de ações em prol de uma sociedade mais justa e sustentável para todos (MARQUES, 2016) 2009 Conferência Mundial de Educação para o Desenvolvimento Sustentável

A UNESCO promoveu em Bonn, na Alemanha, buscando avaliar resultados das conferências anteriores e traçar metas para os próximos anos. Nesta declaração, houve a reafirmação dos objetivos da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável e identificação da necessidade de transição e adaptação para novas realidades socioeconômicas e ambientais (UNESCO, 2009).

2012

Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento

Sustentável

Aprovação da resolução “O Futuro que Queremos”, que enfatiza a relação existente entre a educação e o Desenvolvimento Sustentável, entre os quais: melhorar e qualificar os processos de formação de professores em EpS; elaborar planos de estudos sobre Sustentabilidade; elaborar programas que preparem os alunos para carreiras em âmbitos relacionados com a Sustentabilidade; usar de forma mais efetiva a tecnologia de informação e comunicação, com vistas à melhoria do ensino e da aprendizagem; promover maior cooperação e integração entre escolas, comunidades e autoridades para a promoção de uma educação de qualidade em todos os níveis (ONU, 2012).

2015 Agenda 2030

Agenda 2030 propõe 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com 169 metas sobre questões de desenvolvimento sustentável (ONU, 2015)

Após a Conferência de Estocolmo, o Programa Internacional de Educação Ambiental é lançado em Belgrado em 1975, no qual são definidos os princípios e as orientações para o futuro. Já em 1977, acontece a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, conhecida como Conferência de Tbilisi que, conforme Jacobi (2005) inicia um processo global voltado para a construção de uma nova consciência sobre o valor da natureza e para a reorientação da maneira como o conhecimento é produzido, devendo ser baseado nos métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade.

Conforme Leal Filho (2015), é a partir do relatório "Nosso Futuro Comum", também conhecido como Relatório Brundtland, de 1987, que o termo “educação ambiental” – restrito a abordagens sobre o meio ambiente – passa a ser substituído pelo termo educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) que é mais integrador e holístico, considerando outras esferas como a social, política, econômica e ambiental. Desta forma, ao ampliar o escopo, que antes era restrito a preocupações com o meio ambiente, a EDS passa a dar ênfase sobre conhecimentos e processos que façam com que as pessoas desenvolvam ou adquiram valores, competências e conhecimentos necessários para contribuir mais com uma sociedade sustentável (LEAL FILHO, 2015).

Outro marco na construção de acordos ambientais internacionais foi a II Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992, também chamada de RIO-92 ou ECO-92. Jacobi (2005) destaca que nesta conferência, foi redigido o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que estabelece dezesseis princípios fundamentais da educação para as sociedades sustentáveis, tornando-se marco referencial da educação ambiental. O tratado, conforme Jacobi (2005, p.242), enfatiza a “necessidade de um pensamento crítico, de um fazer coletivo e solidário, da interdisciplinaridade, da multiplicidade e diversidade. Estabelece igualmente um conjunto de compromissos coletivos para a sociedade civil planetária”.

Ademais, ainda na RIO-92, houve um passo importante para o que tange o envolvimento das universidades no processo de desenvolvimento sustentável, com a origem de importantes documentos, com destaque para a Agenda 21. A criação da Agenda 21 impulsionou a importância da EpS, tendo em vista que dois capítulos desse documento tratam do papel do ensino na busca pela sustentabilidade. O Capítulo 8 aborda a necessidade da intensificação da educação e do treinamento como maneiras para integrar o meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões. Já no Capítulo 36, há uma ênfase especial na educação para o desenvolvimento sustentável, demonstrando o potencial fundamental do

ensino na promoção do desenvolvimento sustentável e no desenvolvimento de capacidades nos indivíduos em abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento (CNUMAD, 1992).

Já em 2005, a UNESCO lança a iniciativa “A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS)”, cujo objetivo principal consiste em integrar os valores intrínsecos ao DS na aprendizagem, em todos os seus aspectos, buscando incentivar mudanças de comportamento em prol de uma sociedade mais justa e sustentável (UNESCO, 2005). Além disso, a Década fundamenta-se em uma visão pela qual a educação pode beneficiar a todos ao possibilitar a aprendizagem de valores, comportamentos e modos de vida exigidos para um futuro sustentável e para uma transformação positiva da sociedade (UNESCO, 2005). Neste documento, a UNESCO (2005) caracteriza a EDS como educação de qualidade, devendo esta ser holística e multidisciplinar, visar à aquisição de valores, estimular o processo participativo de tomada de decisão, estar estreitamente relacionada com a vida local, desenvolver o pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, recorrer à multiplicidade de métodos e ser aplicável.

Outra iniciativa configura-se na Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2012, conhecida como Rio+20, na qual houve a aprovação do documento o “O Futuro que Queremos”. O relatório apresenta um item destinado à educação, que ressalta:

A importância de apoiar instituições de ensino, especialmente instituições de ensino superior em países em desenvolvimento, para efeitos de investigação e inovação para o desenvolvimento sustentável, nomeadamente no domínio da educação, para desenvolver programas de qualidade e inovadores, incluindo o empreendedorismo e formação de habilidades profissional, formação técnica e profissional e aprendizagem ao longo da vida, orientada para preencher as lacunas de competências para promover os objetivos nacionais de desenvolvimento sustentável (ONU, 2012, p.44).

Desta maneira, enfatiza-se o compromisso com a promoção da educação para o desenvolvimento sustentável e com a integração mais ativamente do desenvolvimento sustentável na educação para além da Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2012). Já na mais recente inciativa, a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, a integração do desenvolvimento e da educação mundiais é abordada no ODS 4 dedicado à educação, que promete: “assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2015, p. 18). Embora a educação apareça especificamente no ODS 4, a educação é importante para o desenvolvimento de todos os 17 objetivos propostos pela

Agenda, isto pois a sustentabilidade, em essência, representa um desafio educacional para a humanidade (BELL, 2016).

No contexto brasileiro, a inserção da Educação Ambiental nas políticas educacionais brasileiras se deu por meio da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999) que estabelece no Art. 2º: “a educação ambiental como um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (BRASIL, 1999).

De acordo com Jacobi (2005), estas iniciativas voltadas para as práticas de educação ambiental explicitam o desafio de construção de uma formulação conceitual que estabeleça uma comunicação entre ciências sociais e exatas, tendo a missão de fortalecer as condições que possibilitem o surgimento de uma sociedade mundial, global, na qual os cidadãos sejam protagonistas, conscientes e criticamente comprometidos com a construção de uma civilização que seja planetária (MORIN et al., 2003). Para Figueiró (2015), essas inúmeras iniciativas globais são encaradas como tentativas de resposta, aonde o ser humano é a figura capaz de mudar e lutar por mudanças.