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4.1 REFLEXÃO SOBRE A INSTITUIÇÃO E A INICIATIVA DE EDUCAÇÃO PARA A

4.1.2 Processo de aprendizagem

Assim como mencionado anteriormente, um dos desafios mais complexos para a educação para sustentabilidade é abordar o tema de maneira multidisciplinar. Pensando nisto, a proposta das disciplinas Projeto Interdisciplinar é adotar a metodologia de pesquisa para gerar uma nova perspectiva no processo de aprendizagem, sugerindo a colaboração e a interação entre professores, estudantes e comunidade, conforme evidenciado pela docente E2.

O que eu tô tentando fazer e na verdade é um dos objetivos do Projeto Interdisciplinar é interagir com as outras disciplinas, o que ano passado eu tinha que ter feito e não aconteceu muito bem e esse ano tô resgatando um pouco é que, cada projeto é orientado por um professor das outras áreas (básicas) e não da técnica, no 3º ano, que daí a gente faz a construção de um projeto de pesquisa e tal, e no 4º ano a ideia é que estejam envolvidos os professores das áreas técnicas (Professora E2).

A utilização da pesquisa como abordagem de ensino-aprendizagem, estruturada conforme os objetivos do Projeto Interdisciplinar, se configura como uma oportunidade para que o aluno esteja no centro do processo e consiga desenvolver atividades mais experienciais voltadas para a resolução de problemas do mundo real. Conforme afirmação da professora E2, a pesquisa torna-se adequada uma vez que o aluno tem a oportunidade de “se apropriar do tema, pra entender um pouco mais sobre aquilo que eles trouxeram, como um problema do cotidiano deles” (E2). Assim, há um resgate de eventos da vida do aprendiz nas atividades proporcionadas no ensino formal. Espera-se, com isso, o desenvolvimento do pensamento independente e da reflexão crítica para a construção de novas visões de mundo, conforme evidenciado pela professora E2:

Um projeto de pesquisa pra de fato eles se apropriarem um pouco mais sobre o tema né, e também uma coisa que eu bato bastante e tento fazer com que eles aprendam é eles saírem um pouco do [...] eles ampliarem um pouco a visão deles, aprender que a visão que eu tenho não necessariamente é o que acontece na realidade, eu posso está enxergando as coisas de um ponto de vista que eu vivo naquele meu mundinho, mostrar através da pesquisa que eles podem começar a olhar as coisas de forma diferente né, ver que não era bem como eu achava, praticamente com o objetivo de ampliar a visão deles mesmo né, de entender que nem sempre as coisas são como eles acham (Professora E2).

Assim, pode-se associar a manifestação da professora E2 ao que Kolb e Kolb (2005) afirmam de que o trabalho do educador não é apenas introduzir novas ideias, mas também trabalhar com a modificação das crenças e visões dos estudantes sobre uma temática que pode por eles ser examinada, testada e relacionada com novas ideias. A Aprendizagem Experiencial (AE) de Kolb (1984) tem como uma de suas premissas que o processo de aprendizagem envolve a interação entre o indivíduo e o meio. Ao questionar como ocorre esta interação na iniciativa, a professora E2 evidenciou que a mesma acontece ainda de maneira incipiente, uma vez que a interação, em maior parte, ocorre na fase de coleta de dados quando os alunos entram em contato com os indivíduos investigados em suas pesquisas, conforme exemplificado nas respostas dos professores:

Essa relação, a gente tenta forçar de alguma forma, então de alguma forma assim eles tem essa experiência [...]. Por exemplo, o pessoal que trabalhou aqui a falta de espaço pra esporte aqui acabaram fazendo uma pesquisa aqui dentro mesmo, fizeram essa interação mais de forma interna. Teve outras meninas que trabalharam a questão da alimentação e a influência das propagandas na alimentação infantil, então também elas tiveram que fazer uma pesquisa fora daqui, fizeram uma entrevista com pais e coisa do tipo [...] Outro exemplo, as meninas [...] que fizeram com os moradores nesse bairro próximo à Petrobrás, elas que fizeram todo o levantamento de dados com eles lá, eu não fui lá fazer com elas, eu acompanhei observando, lendo os relatos delas e os trabalhos (Professora E2).

Essa interação que tu diz é levar esse conhecimento pra fora [...] em princípio nenhum mostra isso, eles trazem exemplos do cotidiano, mas como não há uma interação, a gente não [...] a gente tentou no ano passado, a gente fez com uma meninada que trabalhou com os catadores, com material reciclado, pra poder desenvolver algum tipo de produto, uma parceria junto, mas não se consegue levar (Professor E1).

Nota-se, então, que as interações são limitadas a uma etapa específica do trabalho que é realizado durante a disciplina, o que sugere que seria interessante se pensar em diferentes estratégias que busquem esta maior interação do indivíduo com seu ambiente, fazendo com que o mesmo possa sentir-se capaz de mudar a realidade em que vive. Esta preocupação é retratada na manifestação da professora E2 que afirma que “gostaria muito de trabalhar mais próximo da pesquisa ação e fazer com que eles tivessem intervenções nas realidades deles” (E2), ainda a entrevistada complementa afirmando que é uma abordagem mais difícil de ser

desenvolvida pela demanda de tempo e pessoas para acompanhar os alunos fora do ambiente formal de ensino. O professor E1 também evidencia esta problemática ao afirmar que “Talvez se nós tivéssemos uma outra infraestrutura voltada para uma incubadora, algo assim [...] ainda continuo dizendo que não é falta de interesse deles (alunos) ou incompetência, muitas vezes, é falta de tempo tanto deles quanto nossa (professores)” (E1).

Outro aspecto que a AE destaca é que o aprendizado é um processo de adaptação do ser humano às mudanças do mundo, sendo essa uma concepção que vai além da sala de aula, envolvendo os vários estágios da vida humana, sua inteligência mental, comportamental, sentimental (KOLB, 1984; LEITE; GODOY; ANTONELLO, 2006). Quando questionados se percebiam este envolvimento por completo do estudante na experiência, ambos os professores E2 e E1 concordam que isto depende do perfil de cada turma, sendo que os alunos que estão cursando o quarto ano tornam-se menos envolvidos com o processo uma vez que estão com inúmeras atribuições de final do curso. Este fato evidencia, mais uma vez o impacto negativo do currículo lotado e da demasiada fragmentação curricular no desenvolvimento de uma pedagogia ativa de ensino.

Considerando que reflexão é elemento central no processo da aprendizagem experiencial, ao serem questionados sobre este aspecto, a professora E2 considera que há espaços informais para reflexão. No entanto estes são limitados ao final da disciplina, não permeando todo o processo de aprendizagem e considera importante pensar em estratégias para inserir mais espaços de reflexão durante o desenvolvimento das atividades. Já o professor E1 acredita que realizar momentos de reflexão com os alunos é “muito difícil porque eles não [...] tá ali as portas de terminar o ano, é só formatura, ninguém não quer nem saber mais, a última semana não se quer nem se falar em aula [...] é um pouco complicado” (E1). Isto revela uma visão limitada do processo de reflexão integrado às experiências educacionais vivenciadas na disciplina e a necessidade de se pensar no processo de aprendizagem a partir dos quatro estágios do ciclo de aprendizagem experiencial de Kolb (1984) – Experiência concreta, Observação reflexiva, Conceituação abstrata e Experimentação ativa.

Por outro lado, evidencia-se que há um forte processo de reflexão por parte dos docentes vislumbrando o aperfeiçoamento da iniciativa. A afirmação do professor E1 demonstra isto: “é, a gente tem feito aqui, os professores, mas sempre fica nessas questões né, temos que melhorar, temos que refazer”. Além disso, a professora E2 corrobora ao afirmar que “eu procuro detectar o que deu certo e o que não deu certo e buscar estratégias”. Esta reflexão acerca da disciplina já resultou em diversas reformulações na estrutura da mesma e do próprio PPC do curso.

Assim como Jiji et al. (2015) constataram em seu estudo que o desenvolvimento de projetos interdisciplinares é desafiador, evidenciando a grande demanda por professores experientes e dedicados das mais diversas disciplinas. Para os autores, estes professores devem ser preparados e estar dispostos a orientar grupos de alunos de maneira a ir além de suas fronteiras disciplinares habituais. Este desafio é latente na iniciativa estudada, uma vez que todos os entrevistados relatam a dificuldade no trabalho em conjunto dos professores para possibilitar o diálogo entre as áreas.

É difícil [...] o trabalho em conjunto é difícil porque os professores tem que romper algumas coisas assim [...] mas aí a gente vai garimpando aqui uns que são mais acessíveis (Professora E2).

[...] qual a falha que se percebe logo de início? Que é uma disciplina interdisciplinar, teria que haver uma possibilidade de todos os demais professores da área, que trabalham nos assuntos específicos, por exemplo, finanças, a parte contábil, cada um deles vir ali e fazer uma retrospectiva daqueles conteúdos que foram ministrados na época pra esses alunos, tenham sido eles ou não professores desses alunos, mas de qualquer sorte eles tiveram o conteúdo, auxiliando naquela etapa do desenvolvimento daquele projeto (Professor E1).

Para isso, uma variedade de processos precisa ser desenvolvida, como por exemplo, a sensibilização dos docentes, o estabelecimento formal de fluxos de comunicação entre os docentes orientadores e os estudantes. Estas ações poderiam possibilitar um avanço eficiente no complexo processo de aprendizagem guiada pelos princípios da AE e adotando a metodologia de pesquisa como base. Assim, apesar de ainda existir componentes comportamentais e curriculares que dificultam este processo de ensino-aprendizagem ativo, como a necessidade de docentes dispostos e engajados com a causa e o desafio destes em trabalhar de maneira multidisciplinar em uma lógica de integração dos saberes, a iniciativa está evoluindo e se constituindo frente ao corpo docente e discente.

A partir dessa discussão dos dados obtidos na etapa exploratória do estudo, e vislumbrando a identificação dos resultados que estão sendo obtidos com a iniciativa, a próxima seção apresenta as análises dos dados obtidos com a pesquisa participante.