• Nenhum resultado encontrado

O CONTEXTO HISTÓRICO DO PODER EM CAMARAGIBE 2.1 Os municípios brasileiros

Os primeiros municípios10 brasileiros têm suas formalidades legalmente definidas por meio de documentos expedidos pela realeza ou por quem decida em nome dela - o que se denomina de forais ou de cartas forais, conforme a legislação portuguesa (um procedimento que foi modificado no período imperial, quando a autonomia municipal passou a ser definida por meio de uma lei que tratasse do problema). Apesar da importância histórica e política de que são possuidores, os forais são documentos muito vagos quanto às delimitações territoriais e pouco precisos no que se referem às responsabilidades e ações dos que se tornam portadores destes diplomas.

Os estudiosos destas documentações identificam quatro tipos de forais. O primeiro tipo são cartas forais que tratam das relações entre um conselho administrativo local (atualmente câmara de vereadores) e a população de determinado território. As cartas forais são, na verdade, uma espécie de contrato social. Elas tratam da organização social e política da localidade. Nelas estão tentativas de definir ou descrever a forma de vida desejável e as atividades econômicas, sociais, religiosas e políticas nos limites de um território com um povoado (freguesia, vila e, cidade) que se torna a referência de passagem e de fixação para negociantes, aventureiros, extrativistas e outros, e que se denominou posteriormente de cidade (sede de um município)11. O segundo tipo de forais são os documentos de definições legais civis com determinações de penas e de competências administrativas dos conselhos existentes ou criados a partir dos referidos documentos. Nestes documentos estão expressas as leis civis locais ou mesmo reformulações de leis preexistentes. O terceiro tipo de forais engloba os documentos que tratam das delimitações ou ampliações do direito de foro. Estes documentos tratam do

10 O termo município é originário dos vocábulos latinos múnus capere, que se referem ao ato de assumir o ofício, assumir o cargo, ou ainda, assumir o governo. Posteriormente, o termo passou a fazer referência a um território sobre o qual as decisões decorrentes do governo deveriam ser acatadas pelas pessoas ali residentes ou que mantinham negócios (Cf. Aragão, 1977:81).

11 A Carta Foral tida como documento de criação da Vila de Olinda como sede da Capitania de Pernambuco tem a data de 12 de março de 1537. Esta Carta tem a assinatura do governador geral Duarte Coelho.

direito ao recebimento de foro ou de pensão por um senhor ou por parte da Coroa em razão do uso de uma propriedade que, em geral, referia-se ao uso de um território. Estes documentos eram, na verdade, a concessão de enfiteuses12 para dirimir conflitos e demarcar propriedades com as respectivas obrigações e direitos. O quarto e último tipo de cartas forais comportam documentos que procuram definir todas as questões tratadas pelos tipos anteriores de forais. Estes são redigidos em momentos de crises agudas em que a tensão social ameaçava os limites do controle político. Nestas crises surgiam, ou não, os fracionamentos de territórios e novos municípios com a acomodação de interesses locais e reforço da legitimação às vezes instável do pode absoluto centralizado (Bandecchi, 1983:15-25).

Estes fracionamentos de território aconteciam sob a responsabilidade dos governadores gerais, que obtinham seus cargos diretamente do governo português. Eles podiam conferir a categoria de vilas aos povoados que fossem convenientes ao poder central e à administração dos negócios, especialmente aqueles realizados com o Reino13. Havia um controle central absoluto sobre os poderes locais constituídos, embora com uma margem de manobra variável em conformidade com as situações específicas. Deste modo, os senados ou câmara municipais somente podiam atuar nos estritos limites das ordenações, isto é, “como sua majestade manda” e no controle dos governadores gerais (Bandecchi, 1983:27-29). Há casos em que as câmaras municipais comunicavam ao Rei reclamações por escrito, de certos procedimentos do governador geral que entendiam serem prejudiciais aos interesses locais14. Não se pode concluir daí que as vilas, isto é, os municípios brasileiros, diferentemente dos portugueses, eram sociedades entregues a si mesmas, com liberdade de organização e de desenvolvimento e entregues às pressões diretas dos fatores econômicos, sociais e religiosos presentes na localidade. Na verdade, havia um controle do governo absoluto centralizado e português no sentido de manter a colônia sob sua regência econômica, social e política. É isso o que se procura garantir com a definição jurídica das cartas forais (Cf. Bandecchi, 1983:28).

12 “Enfiteuse é o direito real de posse, uso herança e gozo do imóvel alheio, alienável e transmissível por herança, conferido, perpetuamente, ao enfiteuta, obrigando a pagar uma pensão anual (foro) ao senhorio direto” (Bandecchi, 1983:21).

13 Para controlar melhor os intercâmbios de produtos com a metrópole o governo português garantia a constituição de Companhias Comerciais como “empresas unidas ao Estado e dirigidas pelos próprios vassalos do Rei”, mais intensamente a partir de 1750 (Santos, 1980:18-19, 41, 123 e 156).

14 “Num simples caso de etiqueta surgido entre o governador e a Câmara de Olinda, teve a Coroa que decidir, concluindo que ambos representavam igualmente a pessoa do Rei” (Bandecchi, 1983:28 e 37).

O alcance jurídico-político do poder exercido nas vilas exige a consideração de outros elementos constitutivos da realidade local. Há uma conjugação de pelo menos dois elementos determinantes que são: a extensão territorial e o exercício de atividades produtivas.

A grande extensão de terras que compõe o território colonial do Brasil com o distanciamento geográfico da colônia brasileira em relação à metrópole portuguesa exige que sejam definidas e tomadas de decisões para enfrentar os problemas daí decorrentes, como, por exemplo, a comunicação com Portugal e também com as localidades entre as províncias.

A distância entre a sede local de poder em relação ao Reino instalado em Lisboa causava certa dificuldade para o controle mais efetivo sobre o exercício do poder local, que sempre se via diante de problemas da administração local sem respostas imediatas. A comunicação entre o Rio de Janeiro e Cuiabá era longa e complicada. Navegava-se pelo mar até o porto de Santos (SP). Transpunha-se a Serra do Mar por meio de estradas até o Porto Feliz, situado na vila de Araritaguaba, de onde, em navegação fluvial pelos leitos do Tietê, Paraná e Prado, era possível chegar ao destino. “De Porto Feliz a Cuiabá não se consumiam menos de 5 meses de jornada, que era exatamente o tempo empregado nas navegações de Lisboa à Índia” (Santos, 1980:71).

As relações entre as câmaras municipais e os governadores apresentavam certa tensão variável de acordo com as questões locais diante de decisões dos governadores. As atribuições das câmaras continham abrangências variadas num momento em que nem havia uma federação consolidada. As competências de cada uma das frações territoriais do reino português, especialmente do território do Brasil (capitanias, vilas), e também, durante o império brasileiro, (províncias e municípios) não estavam bem definidas. Ao município eram atribuídas competências de legislar sobre a moeda local, sobre o comércio, sobre as atividades agrícolas e comerciais, matérias tributárias e sobre as habitações15. Muitas destas competências foram sendo transferidas para outras esferas do exercício do poder no território brasileiro no decorrer do tempo. A grande

15 Os poderes locais “regulavam o curso e valor da moeda da terra, proviam sobre a agricultura, navegação e comércio, impunham e recusavam tributos, deliberavam sobre a criação de arraiais e povoações” (Bandecchi, 1983:39). A necessidade da produção e da troca torna necessária uma padronização com validade territorial mais ampla, nacional (Cf. Brunhoff, 1985:52).

extensão territorial acabava por provocar grandes intervalos de tempo no contato entre as sedes municipais coloniais.

A comunicação da orla marítima com o interior iniciou-se através do uso dos leitos fluviais. Por esta razão é que grande parte dos empreendedores preferiam as localidades próximas das margens de rios navegáveis, diante da facilidade proporcionada para a compra e venda de mercadorias. Foi seguindo o curso das águas do rio Capibaribe em direção à sua nascente que os portugueses encontraram os locais onde foram instalados os engenhos de Camaragibe, e o entreposto comercial de São Lourenço da Mata (Cf. Andrade, 1989:9-10).

Algumas soluções não ameaçadoras da ordem absolutista, colocadas em práticas a partir das Câmaras (conselhos ou senados) locais, eram toleradas - apesar de haverem sido tomadas à revelia da ciência e do ordenamento do poder central. Não se pode entender que havia no Brasil, uma sociedade entregue a si mesma e autônoma16. Havia sim uma tensão de grau variável nas relações entre o governo da Coroa e a colônia do Brasil, na proporção em que os problemas comuns da vida colonial exigiam soluções cuja expressão política intensificava as diferenças de interesses entre as duas partes fazendo com que houvesse sempre concessões do governo de Lisboa em favor dos brasileiros como forma de ceder anéis para preservar os dedos. Neste contexto insere-se, por exemplo, a assinatura do decreto de 07 de março de 1821 que concede a deputados eleitos no Brasil a participarem das Cortes de Lisboa na proporção de um deputado para cada 30.000 (trinta mil habitantes) (Cf. Bandecchi, 1983:50; e Porto, 1989:17). Mas, as representações da colônia no parlamento metropolitano não atendiam a todas as aspirações da parte representada em seu conjunto, pois, as decisões eram sempre favoráveis à Coroa e, quando possível, surgiam as concessões aos territórios dominados17. Os fracionamentos no interior da classe dominante com o fortalecimento de posições em torno de interesses localizados e os conflitos envolvendo outras classes

16 Assim deve ser entendida a elevação do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, ocorrida em 16 de dezembro de 1815 (Cf. Bandecchi, 1983:46).

17 Na relação entre os Estados Unidos da América do Norte e a Inglaterra ocorreu algo semelhante, conforme Thomas Jefferson na declaração de independência: “Com a restauração de Sua Majestade o rei Carlos II, seus direitos de livre comércio (Virgínia) foram mais uma vez vítimas do poder arbitrário; e por vários atos de seu reino, bem como do de seus sucessores, o comércio das colônias foi colocado sob restrições tais que demonstram que poucas esperanças poderiam ter na justiça de um Parlamento britânico” (Jefferson, 1964:18).

sociais podem levar às rupturas políticas e constituições de novas nações, como acabou por acontecer entre Portugal e Brasil.

Outro elemento relevante é o conjunto de atividades produtivas relacionadas ao tipo de expropriação do excedente, que eram exercidas nas localidades associadas às necessidades de garantias de realização das transações comerciais. As principais atividades produtivas iniciais no Brasil colonial foram as da extração do pau-brasil e o cultivo da cana de açúcar, com a finalidade primordial de atender o mercado europeu18. Em períodos críticos, o transporte de mercadorias entre a colônia e a metrópole era feito diretamente ou protegido por naus de guerra (Cf. Santos, 1980:192). O proprietário de terras coloniais assumia ainda a segurança para realizar seus negócios e proteger suas mercadorias dos possíveis piratas e dos ataques dos índios às propriedades e aos entrepostos comerciais19. Para realizar estas atividades, constituía-se um grupo de pessoas armadas que agiam em volta de seus senhores e dos respectivos negócios. “Não é só pela riqueza e pela força do seu élan de capangas que o senhor de terras é o patrono ideal do baixo povo. Toda a legislação colonial tende a fazê-lo centro histórico de gravitação do povo rural” (Maranhão, 1981:18).

Para realizar o trabalho produtivo direto, os portugueses implantaram nas terras recém-descobertas o trabalho escravo, composto por pessoas da raça negra e trazidos do continente africano. Foi uma escravização diferenciada na medida em que ela possuía características muito específicas quando comparada com a que foi praticada na antigüidade.

Deste modo, instaura-se no Brasil uma ordem social escravista fundamentada, dentre outros aspectos, num aparato jurídico com especificidades relacionadas com a escravidão. “Só a forma violentamente aberta e juridicamente garantida de apropriação da força de trabalho alheia, que é a escravidão, poderia prover o contingente requerido pelo setor açucareiro (...). O escravo africano revela-se o agente de trabalho adequado à

18 A Capitania de Pernambuco dispunha de 60 engenhos de açúcar ano de 1587 (Cf. Gândavo, 1995:5). 19 Esta forma de proteger os interesses da classe dominante revelou-se ineficaz quando ocorreu a invasão holandesa. A expulsão das milícias de Maurício de Nassau, ocorrida em 1654, exigiu a constituição de uma força militar destacada dos negócios privados e que tivesse a responsabilidade por um território e que atendesse aos interesses comuns das diversas frações da classe dominante. Depois, D. João IV resolveu anexar as capitanias de Itamaracá e de Pernambuco novamente ao reino português sob a responsabilidade de um governador nomeado pelo Rei (Cf. Porto, 1978:47).

produção vinculada ao comércio do açúcar: podia ser acrescentado (ou retirado) conforme as tendências de expansão” (Franco, 1976:28).

A escravização do negro no Brasil possuía em comum com o tratamento dispensado aos antigos escravos dois pontos essenciais. O primeiro era a legitimidade da forma de emprego da força de trabalho. O outro era a distinção entre pessoas possuidoras de vontade própria e de pessoas desprovidas da capacidade de decidir sobre a própria vida. O primeiro ponto sustentava a garantia da legitimidade desta forma de extorquia de trabalho excedente. A lei garantia o poder de individualidades pertencentes a uma classe social se tornar proprietária de outras individualidades. Assim, o direito constitui indivíduos portadores de vontade, sendo desde modo sujeitos jurídicos, enquanto que, a outros, reserva a condição de coisas que são apossadas como mercadorias. “A ideologia escravista dominante declarava que o direito de propriedade sobre o homem – o escravo – era tão ‘natural’ quanto o direito de propriedade sobre os instrumentos de produção” (Saes, 1985:324). O segundo ponto sustentava a condição juridicamente desigual entre as pessoas diante do Estado. Desprovidos de vontade própria, os escravos eram juridicamente incapazes de exercerem atividades pertinentes aos cargos públicos. Diferentemente do direito antigo, a escravidão brasileira não prescrevia formas legais de renovação do contingente de escravos como: a guerra de conquista, forma de pagamento de uma dívida, ou ainda, como meio de devolução de valor ou coisa roubada. Portanto, não havia forma de escravizar novas populações. Aqui, o direito escravista era limitado quanto à garantia da escravização (Cf. Saes, 1985:57-179; e Idem, 1999:104-119).

A partir da combinação destes fatores, uma pequena nobreza exercia o poder sob pressões sociais locais pela sua própria composição e pelos conteúdos (definições, concessões, proibições...) das atividades decorrentes deste mesmo poder. A condição do Brasil, enquanto dispunha de grandes extensões de terra e do surgimento de novos povoamentos, fazia com que houvesse uma considerável elasticidade na composição da classe nobre. A essa classe pertenciam “os homens bons”. Fazer parte dessa classe era a garantia de poder desfrutar de privilégios, como o da ociosidade que se sustenta sobre o trabalho alheio. Esta categoria de pessoas comportava “os nobres de linhagem e seus descendentes; os senhores de engenho, a alta burguesia civil e militar e seus descendentes. A esse grupo, se juntavam os “homens novos”, burgueses que o comércio

enriquecera (...). Desta classe só eram excluídos os servos e os indivíduos assoldadados, que serviam em casa alheia” (Porto, 1985:10).

A ocupação de cargos eletivos possuía critérios um pouco mais rigorosos durante o período colonial e imperial. Além dos escravos e dos militares de baixa patente, as mulheres também estavam impedidas de exercer o voto.

Assim foram as providencias quanto aos cargos nas Câmaras Municipais: a ocupação de cargos nas câmaras municipais acontecia como sendo uma reprodução do governo absolutista da Coroa portuguesa e que permaneceu com a mesma orientação, depois da independência, a partir das determinações do império brasileiro. A colonização do Brasil proporcionou, com o decorrer do tempo, o surgimento de nobres “brasileiros de nascimento” por descendência de portugueses, ou através da aquisição de títulos nobiliários. Este contingente social, na verdade, uma fração da classe nobre, procurou garantir para si mesma, a ocupação dos cargos públicos diante das ameaças e interesses mercantis e do pensamento liberal. Por isso, surgiram as especificações de tipos de profissionais que poderiam ocupar posições nas câmaras (senados, ou conselhos) municipais. Enquanto o mundo inteiro passava por uma transição política em direção a uma sociedade em que a burguesia em ascensão procurava obter o controle do poder político e determinar o conteúdo das políticas de Estado, os portugueses procuravam manter no Brasil, um modelo de gerenciamento dos negócios coletivos ainda baseados nos valores e interesses da nobreza. O choque era inevitável. Eram propostas políticas com grandes margens de incompatibilidades. Tudo era uma questão de tempo e de lugar (Cf. Porto, 1989:45).

A composição das câmaras municipais ficou legalmente restrita aos de descendência nobre. Quem se ocupava de atividades comerciais era impedido de ocupar cargo no poder público em razão de a nobreza classificar estas atividades como sendo próprias de pessoas ávidas por uma ascensão social impossível e, ainda, uma ocupação inerente à natureza plebéia. Os municípios constituíam-se como espaços de conflitos entre classes e de tentativas de ruptura dos laços coloniais quando aprofundam as divergências na condução de políticas díspares. Exemplo desse fenômeno foi Olinda, quando, em dado momento, o acirramento do conflito entre a aristocracia nativa e a burguesia metropolitana resultou na divisão do território. Era um momento em que os

burgueses passaram a expressar interesses opostos aos da classe nobre por excelência. A burguesia, impedida de obter representação no legislativo local, passou a organizar suas intervenções políticas a partir do local em que já exercia as atividades de expressão social e mercantil. Estabeleceram-se relações contraditórias entre o poder local e o metropolitano além mar. Burgueses metropolitanos lutando contra a aristocracia local, mas fiéis à aristocracia metropolitana. Ao passo que aristocratas locais na tentativa de manter seus espaços e abrangência do poder tentam proclamar uma ordenação republicana para o governo colonial20. Com o decorrer do processo da luta que ficou conhecida como Guerra dos Mascates (1709-1711), esta burguesia consolidou o controle dos arrecifes e do porto, e empreendeu com sucesso, a luta pela autonomia do território que passou a se chamar de cidade do Recife21, embora isto não resultasse um questionamento profundo e imediato do poder central aristocrata na época. (Cf. Bandecchi, 1983:25-42).

Havia uma forte razão para que o direito de voto fosse restritivo. O impedimento para que indivíduos de certas frações e classes sociais não pudessem praticar o exercício do voto e de ser votado representa uma torção na representação política da sociedade. A Constituição imperial de 1824 manteve e consolidou o princípio da restrição político-eleitoral. Os filhos que vivessem sob o mesmo teto que o dos próprios pais não podiam tomar parte nas eleições, salvo se estivessem em atividade num emprego público. Ainda era exigida uma renda mínima para exercer o ato de votar e ser votado. No final do período imperial brasileiro esta exigência teve o seu valor dobrado (Cf. Bandecchi, 1983:43 e 69).

2.2 - O surgimento de Camaragibe

O nome Camaragibe faz refletir sobre os momentos iniciais da colonização portuguesa do território. O termo camargibe resulta da junção dos vocábulos indígenas camará e gybe, cujo significado em língua portuguesa é Rio Camará. O uso destes

20 Em 10 de novembro de 1710, o escravocrata de Olinda, Bernardo Vieira de Melo proferiu o primeiro “Grito de República” no Brasil, com o propósito de alcançar a independência da Capitania de Pernambuco com relação a Portugal, mantendo a sede do governo em sua cidade (Cf. Aragão, 1977:46). 21 O movimento é motivado pela Carta Régia de 19 de novembro de 1709 que concede a separação da Vila do Recife da tutela de Olinda. Apesar disso, Recife mantém a comemoração de sua data cívica como sendo o dia 12 de março constante da Carta Foral de 1537 (Cf. Aragão, 1977:43-48).

termos desde os primórdios da colonização passou a registrar a expressão Rio Camaragibe, o que é um pleonasmo. Outra referência lingüística que contribui para a denominação para a localidade é a farta vegetação nativa de arbustos que os indígenas conheciam por lamanta camará, e que, na linguagem popular atual é o chumbinho. Os habitantes da região na época da chegada dos portugueses no local também eram identificados como pertencentes à tribo dos índios Camarás (Cf. Mendonça, Sousa e Santana, 2004:24-25).

O município de Camaragibe surgiu dos freqüentes fracionamentos de territórios municipais anteriores ocorridos no Brasil. Este fenômeno é resultante dos confrontos