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Contexto da pesquisa: aspectos legais

A ufsm possui a Resolução 011/07 que institui o Programa das Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social, que é um sistema de co- tas para a promoção de inclusão social e democratização do acesso ao Ensino Superior, envolvendo o vestibular, reingressos e transferências, em que 5% das vagas são reservadas para pessoas com deficiência. É

por meio da implementação desse Programa que a inclusão dos alunos surdos se amplia no contexto do Ensino Superior nessa Universidade.

Ações afirmativas são ações que auxiliam os mais desfavorecidos que não têm ou têm poucas condições de acessar o Ensino Superior. Por isso, surge a necessidade de reservar vagas a esses sujeitos. Sarai- va & Lopes (2011) dizem que,

para aqueles que não têm condições nem mesmo de iniciar o jogo, deve-se prover recursos mínimos que garantam pelo menos a sua entrada. Investir em inclusão [...] será muito mais econômico do que investir em assistência (2011, p. 19).

Nesse entendimento, as ações afirmativas têm a função de prover recursos para garantir, no mínimo, o ingresso na Universidade.

De acordo com Contins, Sant’Ana (1996), a ação afirmativa tem

[...] como função específica a promoção de oportunidades iguais para pessoas vitimadas por discriminação. Seu ob- jetivo é, portanto, o de fazer com que os beneficiados pos- sam vir a competir efetivamente por serviços educacionais e por posições no mercado de trabalho (contins, sant’ana, 1996, p.210).

A partir das diferentes funções que a ação afirmativa possui, Mo- ehlecke (2002) entende ação afirmativa como uma ação reparatória, compensatória e/ou preventiva, que busca corrigir uma situação de desigualdade social de certos grupos.

O termo “ação afirmativa” chega ao Brasil por volta de 1980 e não atinge somente os negros, mas abrange também minorias étni- cas e raciais, mulheres e pessoas com deficiência. As principais áreas contempladas são o mercado de trabalho e o sistema educacional, es- pecialmente o Ensino Superior. Nesse sentido, torna-se interessante pensar no termo “ação afirmativa”, pois, pela perspectiva assumida nesta pesquisa, ação pode ser entendida como condução. Então, o que

uma “ação afirmativa” afirma? É possível pensar que afirma o compro- misso e a responsabilidade de todos em incluir aqueles que estiveram à margem da sociedade. Por isso, conduzir todos e cada um a fim de promover a inclusão.

As ações afirmativas operam como práticas inclusivas e funcio- nam sob a lógica contemporânea, em que incluir passa a ser algo natu- ral. É possível afirmar que a inclusão, por meio das ações afirmativas, se torna um imperativo e passa a operar na condução da conduta. As- sim, a inclusão pode ser tomada como imperativo do Estado, sendo entendida como um princípio que serve para todos e é bom para todos. É importante mencionar que há uma Lei Federal que dispõe so- bre a reserva de vagas no Ensino Superior, a Lei12.711 trata sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de en- sino técnico de nível médio. Importante salientar que essa legislação em momento algum exige a reserva de vagas para pessoas com defici- ência. Em contrapartida, com a oficialização dessa condição, emergiu a possibilidade de criação de reserva de vagas para outros sujeitos que não estejam contemplados nesse documento, desde que seja respeita- do o que a Lei dispõe, ou seja, reserva de vagas para estudantes que cursaram integralmente o Ensino Médio em escolas públicas, estu- dantes oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita e autodeclarados pretos, pardos e indígenas.

A legislação exige reserva para esses casos, mas nada impede que sejam reservadas vagas para algum outro tipo de candidato, como candidatos deficientes. Foi exatamente isso que a ufsm fez após a publicação da legislação vigente, adaptando as reservas para que se cumprisse o que é exigido e permanecendo com a reserva de candidatos deficientes.

Agora, apresento três documentos legais específicos para alunos surdos, um deles é a Lei 10.436 de 2002, Essa legislação reconhece a Libras como meio legal de comunicação e expressão, como um siste- ma linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, oriundo de comunidades de pessoas surdas do Brasil (brasil,

2002). Isso implica reconhecer a Libras como língua oficial deste país e dar ao sujeito surdo o direito de comunicar-se em sua língua materna. Com essa Lei aprovada, surge a possibilidade de lutar por mais acessibilidade linguística. No momento em que a primeira língua dos sujeitos surdos é reconhecida legalmente no país, a comunidade surda começa a luta pela garantia de seus direitos linguísticos.

O segundo é o Decreto 5.626, que regulamenta a Lei que reco- nhece a Libras como meio de comunicação das pessoas surdas. Esse Decreto é bem extenso, contendo vários capítulos sobre a educação de surdos. O documento é muito importante para a comunidade surda, pois assegura muitos direitos dos surdos enquanto usuários de uma língua viso-espacial. A Libras ganha força nesse documento ao ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores e nos cursos de Fonoaudiologia a partir de 2006. O documento também prevê que, até 2015, todos os cursos das instituições de Ensino Superior deverão ter a disciplina de Libras na grade curricular.

A Lei 10.436 garante a acessibilidade linguística no processo do vestibular da ufsm, que coloca em funcionamento a estratégia de con- vocação, isto é, com o vestibular traduzido para a Libras, os surdos são convocados a ingressar no Ensino Superior.

Com esse Decreto, que regulamenta a Lei anterior, a Libras passa a ser utilizada e conhecida por muitos que frequentam o meio acadê- mico, dando mais visibilidade e espaço aos sujeitos surdos. Com isso, surge o convencimento de que estar incluído na Universidade é uma necessidade, o que pode ser uma das estratégias em jogo no movimen- to da inclusão.

E o terceiro e último é a Lei 12.319 de 2010 que regulamenta o profissional Tradutor Intérprete de Libras - Língua Portuguesa. Essa legislação garante ao aluno surdo a presença do tils em sala de aula.

Assim, o aluno surdo matriculado na Universidade tem o direito de ter o tils em sala de aula para interpretar as aulas e auxiliar na co- municação entre surdos e ouvintes nesse espaço. Por muito tempo, o

tils foi visto como um voluntário que ajudava na comunicação da pes- soa surda com os ouvintes, mas, com a regulamentação da profissão, aos poucos o tilsganha espaço e reconhecimento como profissional que faz a interpretação da língua de sinais para a língua portuguesa e vice-versa.

Estratégias de captura