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Ergonomia: situando a discussão

O conceito de ergonomia foi elaborado no ano de 1949, pelo psi- cólogo inglês Kenneth Frank HywelMuffel, o qual, em conjunto com outros pesquisadores, fundou “sociedade para o estudo dos seres humanos no seu ambiente de trabalho, a ErgonomicResearchSociety” (pheasant, 1997 apud moraes; mont’alvão, 2010, p. 14).

No Brasil, 21 anos após o surgimento do conceito de ergonomia, os primeiros estudos, na década de 1970, basearam-se no pesquisador francês Alain Wisner (silva; paschoarelli, 2010). Este pesquisador negava o paradigma dominante da comunidade científica de que os estudos ergonômicos deveriam ser realizados em laboratórios, por considerar que este tipo de pesquisa traria limitações para a prática da ergonomia (jackson filho, 2004). No entanto, somente nos anos 1990 é que as pesquisas se difundiram, graças à atuação das professoras Anamaria de Moraes e Cláudia Mont’Alvão (silva; paschoarelli, 2010). As áreas que iniciaram as pesquisas acerca da Ergonomia foram as engenharias e o design, somente mais tarde a área da saúde iniciou seus estudos em relação à saúde psicológica e física dos trabalhadores (mo- raes; mont’alvão, 2010). Considerando-se o histórico recente da Ergo- nomia no país, as primeiras legislações que amparam e regulamentam as ações voltadas às atividades trabalhistas datam da década de 1980.

Atualmente, as principais normas relacionadas à ergonomia são as Normas Regulamentadoras 11, 15 e 17 (nr11, nr15 e nr17, respectiva- mente). Essas normas estão relacionadas à segurança nos ambientes de trabalho e às adaptações necessárias a determinadas atividades (brasil, 2001, 2004, 2007).

Entretanto, o Ministério do Trabalho e Emprego dispõe de inúme- ras normas, decretos e legislações que buscam garantir a segurança e os direitos dos trabalhadores. Porém, ainda há muito que se avançar em termos de legislação, já que o aumento considerável da tecnologia exige capacitação e inova os postos de trabalho cotidianamente.

A ergonomia está apoiada em diversas disciplinas, como a ana- tomia a fisiologia, a antropologia, a biomecânica, a psicologia, as en- genharias, o design, entre outras. Ela busca, nestas disciplinas que a baseiam, elementos e conhecimentos que, examinados à luz da ativi- dade de trabalho, permitem enriquecer os diagnósticos e esclarecer os modelos conceituais para projetos do posto de trabalho (programação, necessidades ou projeto básico) (dul; weerdmeester, 2004; moraes; mont’alvão, 2010).

As demandas de estudo da ergonomia estabelecem campos de in- teresses amplos e diversificados, e, por isso, estão acima da capacidade de um único profissional, requerendo uma interdisciplinaridade, sen- do necessária a formação de uma equipe que se preocupe com a segu- rança, saúde, rentabilidade, qualidade e eficácia do trabalho realizado. A ergonomia está dividida em três grandes grupos, de acordo com o iea (2014): a ergonomia física, que contempla os estudos sobre ana- tomia, fisiologia, antropometria e biomecânica e sobre o modo como elas se relacionam com as atividades desenvolvidas, a ergonomia cog- nitiva, que está voltada aos processos mentais (percepção, memória, raciocínio e resposta motora) e ao modo como afetam as interações entre os seres humanos e os sistemas e a ergonomia organizacional, que relaciona a otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais e políticas e seus processos.

Dessa forma, a equipe que trabalha com a ergonomia atua no sen- tido de reduzir os riscos ergonômicos. O risco ergonômico é definido como os fatores psicofisiológicos relacionados aos trabalhos a que o ser humano é exposto. Esses riscos podem ser o trabalho físico pesado, as posturas e o mobiliário inadequado, o trabalho noturno ou prolongado, o ritmo excessivo, a repetitividade, a monotonia, os altos níveis de es- tresse, a pressão excessiva na busca por metas, os patamares de metas de produção crescente sem a adequação de condições para atingi-las, bem como o ambiente de trabalho desconfortável (muito frio ou seco, ex- cessivamente barulhento ou com a iluminação inadequada) (iea, 2014).

Assim, todo fator de risco pode ser causador de doenças do sis- tema musculoesquelético, cardiovascular, gastrointestinal e nervoso, como: Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (ler/dort),cansaço físico, fadiga por es- tresse, síndrome de Burnout, dores musculares (dor miofacial, trig- ger points), distúrbios do sono, ansiedade e depressão, hipertensão arterial, diabetes e doenças cardiovasculares, doenças do aparelho di- gestivo (gastrites e ulceras), doenças da coluna vertebral, entre outras (dul; weerdmeester, 2004).

Seguindo a mesma lógica de uma empresa, para que a produtivi- dade intelectual de um indivíduo seja efetiva, o local de estudo deve ser pensado de acordo com as necessidades da atividade. Nesse sen- tido, a ergonomia é fator essencial para a capacidade de produção do trabalhador intelectual.

A harmonia entre homem e trabalho, buscada pela ergonomia, provê a prevenção de doenças ocupacionais e maior produtividade. O objetivo da ergonomia é que o homem trabalhe com segurança e con- forto a fim de que obtenha melhor eficiência.

Entre as doenças ocupacionais, a ler/dort é o grupo de doenças mais incidentes entre os trabalhadores ao desenvolverem suas ativi- dades. A ler/dort é definida como uma síndrome relacionada ao tra- balho, resultante de sobrecarga e falta de tempo para recuperação do sistema osteomuscular; é uma doença multifatorial (brasil, 2006). Os sintomas são variáveis, geralmente passam despercebidos no início, pois só ocorrem no período de trabalho. Gradativamente, a dor torna- se contínua e piora durante a atividade, levando à sensação de peso e, por vezes, de formigamento, dormência, redução de força, perda de firmeza nas mãos, entre outros.

Metodologia

Para atingir o objetivo proposto no presente artigo, de base qua- litativa, foi realizado um levantamento sobre o estado da arte do tema ergonomia no ensino superior. Assim, este foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica de artigos científicos na base de dados do Scielo, datados do ano de 2004 a maio de 2014. Os indexadores utili- zados foram ergonomia e ensino superior.

O período elencado para a seleção de artigos foi delimitado a fim de contar apenas com as pesquisas mais recentes sobre ergonomia como conceito e sobre ensino superior, tendo em vista as políticas edu- cacionais de ampliação do ensino superior dos últimos 10 anos.

O estado da arte permite uma visão ampla de um dado, permitin- do desenvolver estratégias para o entendimento e questionamento de determinado tema. De acordo com Ferreira (2002), a construção do co- nhecimento por meio do estado da arte dá-se em dois momentos. No primeiro, o pesquisador interage com a produção acadêmica, quantifi- cando e identificando os dados bibliográficos. Essa fase tem por objeti- vo mapear a produção, delimitando período, locais e área de produção. No segundo momento, o pesquisador questiona as possibilidades de relacionar esta produção com as tendências, as ênfases, as escolhas metodológicas e teóricas, aproximando e diferenciando trabalhos.