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Forma de representação: vestuário, gestos e ações as peculiaridades do ser

O ser humano atua em áreas diferentes ao longo da vida. Atua no sentido de que representa papéis sociais, seja dentro de uma escola como aluno, correndo em um parque, como esportista ou mesmo de- senvolvendo seu trabalho. Segundo Schechner (2010), cada trabalho e papel social preveem um vestuário, gestos e ações que lhe são pecu- liares, uma forma de representação, e, também, um lugar em que são encenados. Sendo assim, o professor e a professora também cumprem um papel performático dentro da sala de aula.

Ensinar – como qualquer outra ocupação – traz consigo cer- tas convenções de comportamento, de vestuário, linguagem

e por aí em diante. Se uma pessoa apresenta-se totalmente desgrenhada, vestindo roupas sujas, falando de modo incoe- rente, deixando a sala de aula antes do tempo marcado, seria muito difícil aceitá-la como um/a professor/a. Essa pessoa não estaria desempenhando o papel do professor ... É claro que todos os papéis sociais são em algum grau definidos de antemão. (schechner, 2010, p. 31).

Seguindo essa mesma ideia, para Santos (2009), o homem como um ser livre, funcional e sentimental nivela suas escolhas entre o bom senso do belo e a razão dá lugar a sua autonomia ao mundo. Porém, escolher em um mundo onde as leis amparam, mas a sociedade nem sempre é tão sensível, pode ser uma tarefa difícil. A lei que trata dis- criminação e preconceito em âmbito geral no Estado do Rio Grande do Sul e a própria Constituição Federal, que no artigo 5º, diz que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; É inviolá- vel a liberdade de consciência e de crença; São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas”.

Questões de gênero e identidade são há muito tempo discutidas, pois se nasce com um gênero para depois adquirir uma identidade. Butler apud Schechner, Icle e Pereira (2010) argumenta que: o gênero – e não apenas o gênero, mas todas as identidades sociais – são cons- truções, não determinadas biologicamente. Assim, apesar da socieda- de possuir dois gêneros, vem sofrendo alterações no que diz respeito às distintas, identidades que têm surgido e ocupado novos espaços. O campo educacional é um dos ambientes a fazer parte desta nova realidade. É nos centros educacionais que essas identidades vão se en- contrando e formando novos grupos sociais, muitas vezes não aceitos pela sociedade ou por parte dela.

O Brasil ainda é um país predominantemente católico, o que traz consigo tanto historicamente como religiosamente um forte precon- ceito no que diz respeito a gênero e identidade.

Deixemos claro que o gênero com o qual uma pessoa se identifica pode ou não concordar com o gênero do seu nascimento. Para a litera- tura específica da área existem dois sexos, mulher e homem, e dois gê-

neros, feminino e masculino. Embora a maioria das mulheres se reco- nheça no gênero feminino e a maioria dos homens no masculino, isto nem sempre acontece. Existem pessoas cujo sexo biológico discorda do gênero psíquico: os travestis e transexuais, ou transgêneros. Quase sempre vistos as margens da sociedade e não como profissionais. Po- rém, isso vem mudando e hoje é possível encontrar transgêneros em di- versas áreas, inclusive na educação. Exemplo disso, no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul, os professores e professoras transexuais forma- ram uma associação com sede na cidade de Porto Alegre. Isso é um avanço não só do ponto de vista sociológico, mas também educacional.

Existem muitos conflitos entre o que é orientação sexual e gê- nero, mas a verdade é que são coisas distintas. A atualidade vive um momento de transformação, no que tange em especial a sexualidade. Esse movimento permite que se manifestem novas identidades. As divergências quanto ao sexo, gênero, identidade e sexualidade ainda divergem, tanto na literatura, quanto nos novos estudos. Para alguns autores existe gênero psíquico e gênero de nascimento, para outros a identidade sexual e orientação sexual. Independente do título que o estudo dê, o mais importante é saber que cada pessoa é diferente da outra. Suas ações, seus gostos e suas particularidades fazem com que se aproximem de quem se assemelham formando grupos sociais.

A roupa é um dos identificadores desses grupos. A diversidade quanto a identidade tanto sexual como social vem sendo cada vez mais discutida. Talvez a vestimenta seja um dos fatores mais visuais no que diz respeito a identificação desses grupos.

De acordo com Pinheiro (2010), uma pessoa de sexo biológico fe- minino pode se enquadrar no gênero masculino e se sentir atraído ex- clusivamente por homens. Ele seria, então, um homem transexual gay. A tabela A sumariza as possibilidades existentes de orientação sexual e identidade de gênero.

Tabela A — Orientação sexual e identidade de gênero. (pinheiro, 2010, s/p).

A Tabela A, simplifica alguns dos grupos sociais, mas não deve ser seguida como regra. Outro quesito que também não deve ser levado a regra, é o vestuário que existe nesses grupos, pois muitos se vestem com o gênero do seu nascimento, mas não com a identidade que se reconhece ou vice e versa.

Grossi (1998) refere estudos que tratam o pensamento da diferen- ça sexual, salientado sobre a construção do gênero na relação homem/

mulher, pois as pessoas não vivem sozinhas nem sem regras de re- presentações sociais. Outro aspecto, refere-se a definição da categoria gênero, pois gênero é uma categoria historicamente determinada e não construída sobre a diferença de sexos. No que tange aos conceitos de gênero, sabe-se que são expressões utilizadas historicamente para compreender as relações entre homem e mulher. Gênero também de- fine tudo que é social, cultural e histórico. Referindo-se ao sexo, esta- mos agindo de acordo com o gênero associado ao sexo daquela pessoa. Porém o sexo nem sempre tem relação com a sexualidade ou com o tipo de roupa e até mesmo ao grupo a que se pertence.

Segundo Stoller (1978, s/p) “é mais fácil mudar o sexo biológico do que o gênero de uma pessoa”. Para ele, todo indivíduo tem um núcleo de identidade de gênero, que é um conjunto de convicções pelas quais se considera socialmente o que é masculino ou feminino. Este núcleo não se modifica ao longo da vida psíquica de cada sujeito, mas pode- mos associar novos papéis a esta “massa de convicções”.

Ainda segundo Stoller (1978), a escolha do objeto sexual, de de- sejo, dá-se a partir da adolescência e não interfere na identidade de gênero do indivíduo “normal”, criado segundo sua rotulação de ma- cho ou fêmea, portanto masculino ou feminino. Um homem que não deseje mulheres e que se sinta atraído por homens não deixa de se sentir homem. Mas é claro que, devido a pressões sociais, alguém que não é heterossexual se sente “diferente” daquilo que aprendeu como o comportamento sexual correto. Mesmo as travestis sabem que são “homens”, e algumas chegam mesmo a dizer que estão apenas “brin- cando” de ser mulheres ao se vestirem e se portarem corporalmente enquanto tais. A sexualidade é apenas uma das variáveis que configu- ra a identidade de gênero.

Muito se cria com base nesse tema. Manifestos como o dia do orgulho gay é um forte exemplo disso, pois existe em quase todos os países. No Brasil, em quase todas as principais capitais. Esse movi- mento surgiu na Europa no final do século passado e celebra-se no dia 28 de junho. O orgulho gay ou orgulho lgbt é um conceito onde gays,

lésbicas, bissexuais e transexuais ou transgêneros (lgbt) devem ter orgulho da sua orientação sexual e identidade de gênero. Sua bandei- ra tem as cores do arco íris.

Figura 1 — Bandeira do Orgulho Gay.

Outros símbolos também são utilizados na identificação desses grupos sociais. Segundo Jesus (2012, 11-2), alguns símbolos se destacam:

Figura 3 — Borboleta: simboliza a metamorfose, de “lagarta” para quem a pessoa realmente é.

Figuras 4 e 5 — Escudo composto: autora: Holly Boswell. Combina símbolos refe- rentes a organismos masculinos e femininos para identificar travestis, transexuais e outras pessoas transgênero; Referente a mulheres virgens, tem sido utilizado por

mulheres transexuais.

Figura 7 — Sereias: representam, de forma genérica, a multiplicidade de expressões do corpo feminino. Aqui, reprodução de xilogravura de Ivan Borges.

Conclusão

Ainda existe muito preconceito com o diferente, isso em tantas outras áreas, que no que se refere à sexualidade parece ser dado uma importância muitas vezes desnecessária. Com o objetivo de conhecer o impacto da vestimenta das diferentes identidades em comunidades educacionais e tendo por base os pressupostos da performance de gê- nero, estabelece as seguintes considerações:

— A roupa é um definidor de grupo social, não só visualmente, expressa mensagens de comportamento.

— No contexto educacional atual, marcado amplamente pelos processos de inclusão social, é um tema que merece atenção, pois a re- presentação social repercute diretamente no desenvolvimento, com- portamento e aprendizagem humana.

— Apesar das divergências referentes aos títulos como identidade, gênero, sexo, todos os estudos mostram uma preocupação em identi- ficar e esclarecer que cada indivíduo é único.

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