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3 METODOLOGIA

3.3 O contexto da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida na Aliança Francesa de Brasília, escola na qual atuei há mais de 3 anos. Trata-se de uma instituição formada por associações sem fins lucrativos que difunde o conhecimento do francês como língua de oportunidade e de cultura além de enfatizar sua importância para o desenvolvimento profissional e pessoal. A pedra fundamental da AF foi lançada no dia 25 de agosto de 1959 com a presença do então presidente Juscelino Kubitschek e do ministro da Cultura da França, André Malraux, meses antes da inauguração da nova capital do país.

A escola se encontra em um bairro prestigiado de Brasília com habitantes de classes média e alta, tendo em vista o padrão socioeconômico do Estado do DF. Ela funciona nos três turnos, com aulas das 7h às 22h. As/Os professoras/es e estudantes contam com salas de aula equipadas com mapas e quadros que retratam traços das culturas francesa e francófona, além de diversos recursos de multimídias, como computador, tela de projeção, projetor e aparelhos de DVD e CD player. A escola conta ainda com uma sala equipada com um quadro interativo, uma midiateca com livros, jornais, revistas, histórias em quadrinhos, CDs, DVDs etc., tudo na língua francesa, oferecendo maior suporte pedagógico para professoras/es e alunas/os. Inclusive há uma exigência da escola de que as aulas sejam ministradas em francês e que as/os alunas/os se expressem, preferencialmente, em francês na sala de aula. Portanto, nesta pesquisa, busco favorecer o uso da língua-alvo durante as interações.

A instituição promove ainda programas culturais como palestras, exposições, cursos, filmes, shows, dentre outros, para divulgar, sobretudo, eventos ligados às culturas francesa e francófona, incentivando uma imersão na língua, não apenas para alunas/os e professoras/es, como também para a comunidade.

Vale ressaltar que a instituição mantém um acordo de cooperação técnica com a SEEDF desde 1966 que prevê que professoras/es servidoras/es da rede pública de ensino sejam lotadas/os na instituição sem nenhuma troca financeira. Em contrapartida, a escola oferece vagas para alunas/os e servidoras/es da rede pública de ensino. Logo, há uma grande diversidade social e racial em sala de aula, tendo em vista que alunas/os da própria instituição e da rede pública compartilham o mesmo espaço e interagem na aprendizagem da língua francesa, algo significativo para favorecer a imersão social e discutir questões identitárias tão presentes na sociedade, mas que, muitas vezes, não são devidamente questionadas.

Com base na realidade encontrada nesse contexto de ensino e aprendizagem do francês, pedi à direção da escola permissão para assumir uma turma no primeiro semestre de 2016. Contudo a turma ainda pertencia à outra professora, minha colega da SEEDF, pois retirar uma turma do quadro significaria deixar uma turma a menos para as/os professores da AF, afetando seus salários. Na intenção de evitar qualquer desentendimento, decidimos, a diretora, o coordenador pedagógico e eu, que ela continuaria mantendo essa turma, me auxiliando no que fosse necessário, enquanto eu seria a responsável pelas aulas.

A pesquisa foi desenvolvida do dia 1º de março ao dia 28 de junho. Tivemos um total de trinta e duas aulas, das quais três correspondiam a testes escritos e orais organizados pela própria instituição. Duas dessas aulas foram ministradas pela professora regente da turma, uma vez que não pude comparecer devido a compromissos do mestrado. As aulas tinham duração de 1h40 com uma pausa de 10 minutos geralmente após 1h de aula. Os encontros ocorriam às terças e quintas-feiras das 16h00 às 17h50.

O livro didático usado em sala foi o Amis et compagnie 4 da Editora CLE

International. Trata-se de um livro voltado para pré-adolescentes e adolescentes a partir de 11

anos e que foi adotado pelas Alianças Francesas do Brasil para trabalhar com esse público- alvo. O conteúdo do semestre era composto por 6 unidades que retratavam a cultura de alguns países que têm a língua francesa como língua materna ou como língua estrangeira privilegiada. Dentre eles, encontram-se a Bélgica (Unidade 1), a Suíça (Unidade 2), a Romênia (Unidade 3), o Vietnã (Unidade 4) e Madagascar (Unidade 5). A Unidade 6 trazia algumas celebridades de origem francesa e francófona.

No primeiro semestre de 2016, assumi uma turma de adolescentes de nível intermediário de francês na AF de Brasília. A turma era composta por 6 meninas e 7 meninos em uma faixa etária variando entre 14 e 17 anos de idade.

Na tabela a seguir, elenco os dados das/os participantes em maiores detalhes. Vale ressaltar que os nomes são fictícios e foram escolhidos por elas/es mesmas/os:

Tabela 1 – Perfil das/os participantes da pesquisa18

Nome Nacionalidade Idade Sexo Cor/Raça Cidade Escola Ano

Alexandre Agrigento

Portuguesa 15 anos M Branca Lago Sul Privada Nono

Anna W Brasileira 15 anos F Branca Asa Sul Privada Segundo

Biel Brasileira 15 anos M Parda Sobradinho Pública Primeiro

Cléo Brasileira 15 anos F Branca Guará Privada Primeiro

Johnson Brasileira 16 anos M Parda Samambaia Privada Terceiro

José Brasileira 14 anos M Branca Sudoeste Privada Nono

Lara Brasileira 16 anos F Branca Asa Norte Pública Segundo

Lauren Brasileira 15 anos F Branca Samambaia Privada Primeiro

Lenor Estevão

Portuguesa 16 anos F Branca Lago Sul Privada Primeiro

Manoca Brasileira 17 anos M Amarela19 Lago Oeste Pública Terceiro

Roberta Brasileira 16 anos F Outro Lago Sul Privada Segundo

Robervaldo Brasileira 16 anos M Parda Lago Oeste Pública Segundo

Washington Brasileira 16 anos M Branca Asa Sul Privada Segundo

No início do semestre havia 16 alunas/os matriculadas/os. Com a organização de horários, típica no início dos semestres letivos, 5 alunas/os saíram. Os alunos Robervaldo e Manoca entraram na turma posteriormente, nos dias 05/04/16 e 12/05/16 respectivamente, e concordaram em participar da pesquisa, ficando, no total, 13 alunas/os participantes. Desses, 9 são oriundos de escolas privadas e 4 da rede pública de ensino por meio do convênio com a SEEDF. A turma foi escolhida devido ao nível da língua e à quantidade relativamente equilibrada de alunas/os pagantes e da SEEDF. O objetivo era possibilitar problematizar mais profundamente sobre as identidades de gênero e raça/etnia além de verificar se havia diferenças na maneira como as/os alunas/os da rede pública e privada visualizavam e compreendiam a dinâmica dessas identidades. Contudo, com a saída de algumas/uns, não foi possível manter o mesmo equilíbrio.

Dentre as/os alunas/os, 11 eram brasileiras/os. Lenor Estevão e seu irmão Alexandre Agrigento eram portugueses. Algumas/ns já se conheciam por ter estudado juntas/os no

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Na tabela 1, utilizo as siglas M para masculino e F para feminino. O termo Cidade diz respeito à cidade onde as/os participantes moram. O Ano se refere ao ano escolar no qual elas/es se encontram matriculadas/os.

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semestre anterior. Desde o início, elas/es se mostraram favoráveis à pesquisa e foram bastante participativas/os durante as atividades desenvolvidas ao longo do semestre.