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3 METODOLOGIA

3.2 A pesquisa-ação

Conforme já foi exposto no capítulo 2, me alinho à concepção de língua como prática social (FAIRCLOUGH, 2008) imbricada de ideologias e relações assimétricas de poder (THOMPSON, 1990; FERREIRA, 2012; MOITA LOPES, 2012). Dessa forma, as identidades sociais de gênero e raça/etnia, que são o foco desta pesquisa, são construídas na e pela língua dentro de práticas sociais discursivas específicas de um determinado grupo social.

Realizar uma pesquisa que visa problematizar questões sociais em sala de aula me leva automaticamente a refletir sobre a minha prática pedagógica. Implica encarar meus medos, reconhecer minhas falhas e limitações. Ao repensar minhas ações em sala de aula, há o desejo de mudança e de transformação dessa prática a fim de contribuir para a educação do nosso país e vislumbrar um ensino de línguas mais problematizador e transgressivo.

Com base nisso, ancoro-me nos pressupostos metodológicos da pesquisa-ação (P-A), que busca desenvolver uma prática crítico-reflexiva com a participação direta da/o pesquisador/a e das/os participantes na pesquisa. Além disso, ela apresenta caráter intervencionista de transformação social, indo ao encontro da educação como prática da liberdade proposta por Paulo Freire (2011), bem como do LC que demanda participação crítica dos sujeitos na percepção da sua própria realidade social.

Nesse sentido, Franco (2005) ressalta que a P-A é um procedimento essencialmente pedagógico e político com característica social que pode ter como objetivos a compreensão das práticas. Para tanto, é necessário levar em consideração os novos elementos que podem surgir durante o processo, influenciados pela própria pesquisa. Dessa maneira, não é possível controlar o que acontece na P-A, devido à imprevisibilidade nas ações a serem tomadas.

Assim, pesquisa e ação caminham juntas na busca pela transformação das práticas pedagógicas. A/O professor/a-pesquisador/a mergulha na “práxis do grupo social em estudo” (FRANCO, 2005, p. 486) de forma crítica e colaborativa a fim de gerar um processo de reflexão dessas práticas. Trata-se de uma busca pelo conhecimento pautado na “pedagogia de mudança da práxis” (FRANCO, 2005, p. 490), ou seja, um conhecimento que visa aprimorar as ações em sala de aula. Para isso, a voz dos sujeitos, suas perspectivas e pontos de vista, são essenciais, não apenas para fins de registro e posterior interpretação, mas para a composição dos processos de investigação.

Buscando encontrar alternativas para discutir e refletir sobre as construções sociais das identidades de gênero e raça/etnia na sala de aula de francês língua adicional, encontrei, nas perspectivas críticas de línguas, bem como na P-A, um possível caminho para desenvolver esse ensino.

Moita Lopes (1996) lembra que as pesquisas em sala de aula de línguas tendem a enfatizar o papel da/o professor/a-pesquisador/a que se envolve na investigação crítica da sua própria prática. Para o autor, essa tendência, chamada de P-A, pode ser compreendida de duas maneiras: “a) como uma maneira privilegiada de gerar conhecimento sobre a sala de aula, devido à percepção interna do processo que o professor tem; e b) como uma forma de avanço educacional, já que envolve o professor na reflexão crítica do seu trabalho” (MOITA LOPES,

1996, p. 89). O autor acredita que esse tipo de pesquisa será cada vez mais realizado por professoras/es a fim de contribuir para a teorização do processo de ensino e aprendizagem de línguas, além de se encontrarem mais presentes nos cursos de formação de professoras/es que investigam as práticas de ensinar e aprender línguas.

Barbier (2007) define a P-A como pesquisa-ação existencial que privilegia temas ligados à afetividade humana e se caracteriza como “uma arte de rigor clínico, desenvolvida coletivamente, com o objetivo de uma adaptação relativa de si ao mundo” (BARBIER, 2007, p. 67). Segundo o autor, a arte, na P-A, diz respeito à sua inserção no domínio da intuição, da criação e da improvisação, além do seu sentido ambivalente e ambíguo.

A P-A enfatiza o caráter subjetivo da/o pesquisador/a que está presente na pesquisa “com todo o seu ser emocional, sensitivo, axiológico”, bem como com o seu ser “dubidativo, metódico, crítico, mediador, enquanto pesquisador profissional” (BARBIER, 2007, p. 69). Ela reconhece o rigor da dialética da/o pesquisador/a que “articula constantemente a implicação e o distanciamento, a afetividade e a racionalidade, o simbólico e o imaginário, a mediação e o desafio, a autoformação e a heteroformação, a ciência e a arte” (BARBIER, 2007, p. 18). Isso se torna relevante nesta pesquisa uma vez que a minha subjetividade enquanto professora- pesquisadora, minhas emoções e meus valores interferem na maneira como vejo e entendo as práticas sociais, logo, na maneira como me posiciono em sala de aula. Assim, minhas múltiplas identidades fazem parte do processo de pesquisa, influenciando no modo como interpreto as situações e os eventos ocorridos nesse contexto de ensino.

Essa metodologia leva ainda a/o pesquisador/a a lançar novos olhares sobre a complexa realidade investigada. Nesse sentido, Barbier (2007, p. 14) ressalta que a P-A leva a/o pesquisador/a a implicar-se, ou seja, a engajar-se no ambiente social no qual está inserida/o, levando as/os outras/os a se engajarem igualmente no processo da pesquisa. Assim, a/o pesquisador/a entende “que não se trabalha sobre os outros, mas e sempre com os outros” (BARBIER, 2007, p. 14). Desse modo, me sinto totalmente inserida nesta pesquisa, com todo o meu emocional me levando a perceber a realidade complexa da sala de aula com outros olhares e perspectivas. Ao mesmo tempo, busco levar minhas/meus alunas/os a perceber as relações de poder que envolvem as identidades sociais, compreendendo como elas se encontram na sociedade e a maneira como as relações sociais foram construídas historicamente. Dessa forma, estou subjetivamente envolvida na pesquisa, visando trabalhar

com minhas/meus alunas/os em busca de um ensino transgressivo e útil para suas vidas em

Portanto, a metodologia da P-A vem ao encontro dos objetivos desta pesquisa que busca possíveis caminhos para problematizar e questionar as construções das identidades sociais de gênero e raça/etnia, trazendo um olhar mais político para o ensino da língua francesa e aprimorando as práticas pedagógicas da sala de aula. Para esse fim, foi fundamental a participação ativa das/os alunas/os nesse processo de problematização, pois suas opiniões me auxiliaram no planejamento das aulas, bem como na preparação das atividades de intervenção que foram desenvolvidas durante o semestre, buscando a melhor maneira de abordar esses temas em sala de aula e de conduzir as discussões.