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Contextos: o grupo de participantes e a instituição

Capítulo II – Enquadramento Metodológico

2. Contextos: o grupo de participantes e a instituição

Os participantes nesta investigação são quatro jovens que integram a Instituição ABCD e que são estudantes do ensino superior. Três dos jovens já não habitam no Lar, encontrando-se no processo de autonomia, vivendo no Apartamento de Autonomização. Estes foram os primeiros a inaugurar o Lar, no ano 2000, sendo que nunca haviam estado noutra instituição de acolhimento. Em 2010, inauguraram também o Apartamento de Autonomia. O quarto jovem ainda permanece no Lar, já em processo de futura transição para o referido Apartamento. Efetivamente, estes jovens contam já aproximadamente com 13 anos de institucionalização, iniciando assim o processo de acolhimento institucional com idades entre os 13 e os 7 anos.

Contamos, assim, para a investigação, com quatro jovens que frequentam o ensino superior, em diferentes pontos do país, Vila Real, Viseu, Coimbra e Barcelos e em áreas distintas de estudos, desde desporto, área social, geografia e design, com idades compreendidas entre os 20 e os 26 anos, sendo constituído este grupo de participantes por uma rapariga e três rapazes.

Dois dos jovens são irmãos, o Carlos, com 22 anos e o Pedro, de 20 anos. Estes jovens têm dois irmãos mais novos na instituição. O Carlos era o único irmão que vivia com a avó antes de entrar no Lar, tendo vivido separado dos irmãos nessa altura. O seu sonho é deixar a marca no mundo e ser feliz [Anexo III.3; Anexo V]. Gosta de ler. Já está a terminar a licenciatura geografia, somente tem de fazer algumas unidades curriculares em atraso e pretende seguir um mestrado. Atualmente, não tem nenhuma atividade de lazer a que se dedique em particular, mas gosta de futebol, que costumava praticar até há algum tempo. Aos fins de semana costuma visitar os familiares. Agora fá-lo de 15 em 15 dias, após o falecimento da avó, uma fase muito tumultuosa da sua vida.

O Pedro é o jovem que ainda vive no Lar. Apesar de já frequentar a universidade, no segundo ano do curso de design, não reside na cidade onde estuda e vem todos os dias para o Lar. Agora não tem tempo, mas gostava de andar de skate e fazia atletismo. O seu sonho

A única rapariga do grupo é a Ana, que tem 23 anos. Este ano, está a terminar unidades curriculares de licenciatura serviço social e pretende seguir para mestrado. Já se encontra a trabalhar no Lar, faz algumas horas como auxiliar. Porém, nos últimos encontros, anunciou estar em vias de assinar contrato, realizando assim um sonho de vir a trabalhar na ABCD

[Anexo III.3, e Anexo V]. O seu outro sonho é abrir uma instituição de acolhimento de crianças e jovens como a dela, uma vez que considera-a um exemplo [Anexo IV. 1]. A Ana tinha aulas de dança, no ginásio que frequentava, na faculdade, tendo retomado a atividade recentemente. Antes da sua entrada no Lar, vivia com a mãe. Apesar de gostar muito dela, atualmente não a visita muitas vezes [Anexo IV.1, Anexo III.8].

Por último, temos o João, de 26 anos. Neste momento, encontra-se a terminar o mestrado em desporto coletivo e o estágio derivado do trabalho a realizar nesse âmbito. Entretanto, está à procura de emprego e a dar aulas de natação, na ABCD, às crianças e ginástica a idosos (é voluntário da ABCD). O seu sonho é ser treinador e a sua especialização permitirá realizá-lo. O João sempre esteve envolvido em várias atividades, desde ginásio, karaté, futebol, música (no secundário tinha uma banda). Aos fins de semana, costuma visitar a sua família que é bastante numerosa, tem doze irmãos [Anexo III.7] e sempre foi muito próximo deles.

O quotidiano destes jovens é passado em vários universos que compõem os seus contextos de vida. Divididos entre a universidade, o Lar, o Apartamento de Autonomia de vida, as suas famílias biológicas e amigos, os jovens têm vidas atarefadas, agitadas, diferenciadas e sem passarem muito tempo no mesmo sítio. Estes fatores expostos vão ao encontro do que havia sido referido pela Diretora, quando acautelava a parceria necessária com os jovens, dada a dificuldade em juntá-los a todos, no mesmo horário, pois eles têm horários muito trocados [Anexo III.2] e as suas personalidades são muito distintas.

2.2. A instituição ABCD6

AABCD é uma Instituição Privada de Solidariedade Social (IPSS), situada no Norte do País.

Esta associação iniciou as suas atividades com um projeto de luta contra a pobreza, há mais de 20 anos, num território semi-urbano, ou seja, misto entre o tecido rural e a indústria manufatureira. Alguns anos mais tarde, depois de o projeto ter terminado, a associação constituiu-se com objetivos orientados para a criação de condições de inclusão social e bem-estar na comunidade local, primando para o desenvolvimento de uma intervenção comunitária, integrada e sustentada. Atualmente, trabalha numa diversidade de ações, no âmbito da intervenção social, de forma a mobilizar todos os seus esforços, partindo daquilo que são as iniciativas das populações e daquilo que é a participação das comunidades, para desenvolver respostas integradas aos problemas sociais sentidos na comunidade local. Entre as suas valências, podem referir-se o Centro Comunitário, o Centro de Formação, a Ação Social, o Trabalho com Crianças e Jovens. A Associação contava, recentemente, com cerca de 30 colaboradores (houve uma redução devido à diminuição de formadores, tendo antes totalizado 76 colaboradores) que visam um quadro de referências postuladas pela

solidariedade, flexibilidade, responsabilidade, ética, proximidade, qualidade e cooperação7, com fim a alcançar a realização dos objetivos de desenvolvimento social e cultural.

Ao longo dos anos, a ABCD tem desenvolvido inúmeros trabalhos e projetos em que se destacam três áreas de intervenção, concretamente, Sociocomunitária, Educação/Formação, e Infância e Juventude. Na primeira área temos o centro Comunitário, a Hemeroteca-Mediateca Educativas, que engloba várias iniciativas culturais, Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social, Serviço de Apoio Domiciliário e Gabinete de Inserção Profissional.

Quanto à segunda área, esta conta com o Centro Educação/Formação que tem os cursos EFA (Educação e Formação de Adultos), CEF (Cursos de Educação e Formação) e PIEF

6 Os dados que se seguem foram retirados dos documentos relacionados com a Instituição e o Lar, cedidos pela Diretora Maria Silva.

(Planos Integrados de Educação e Formação); o Centro de Novas Oportunidades, a funcionar desde 2008, e o Centro de Recursos em Conhecimento, sendo que, nestas valências, houve cortes orçamentais recentes.

Na última área insere-se o Centro de Atividades e Tempos Livres; o Projeto Puerpolis; Serviço de Psicologia e Orientação; Projeto IN-Formar; Apartamento de Autonomia e Lar de Infância e Juventude. Em seguida, serão retratadas, de forma mais detalhada, estas duas últimas respostas da área de intervenção na Infância e Juventude, uma vez que é onde se desenvolve este trabalho de investigação.

2.2.1. Lar – Projeto LIJ

O projeto, Lar da Infância e Juventude, nasceu da ideia de contrariar o ambiente frio e tipicamente ausente de afetos, de acolhimento institucional das crianças, segundo a Vice- Presidente da ABCD8. Nesse sentido, foi criado um Lar em 2000 para os mais novos, centrado na vivência dos afetos, na individualidade, aproximando o crescimento da criança ao típico ambiente familiar. Nasceu, assim, um Lar de reduzidas dimensões, num apartamento tipo T4, no centro da cidade, com a particularidade de não ter qualquer identificação especial, para que as crianças e jovens estejam livres de possíveis discriminações e estigmatizações.

O Lar acolhe somente oito crianças e procura também dar prioridade ao acolhimento de irmãos, tratando-se de um lar misto. Considerando a linha orientadora da instituição, que passa por servir a comunidade local, as crianças e jovens envolvidas no projeto LIJ são provenientes das localidades próximas à sua instalação.

De acordo com o objetivo de atuação, marcado pela afetividade, vinculações positivas e a criação de laços matriz, o Lar procura criar um ambiente familiar, harmonioso, flexível e participativo, tendo espaço para o restabelecimento dos laços familiares, e cuidando da integração dos utentes nos diferentes domínios das suas vidas. Todos os seus esforços são

orientados no sentido de assegurar a proteção, promover o bem-estar, respeitar a individualidade e privacidade de cada criança e jovem, proporcionar um ambiente de vida adequado às suas necessidades, preparando as crianças e jovens para a sua autonomia e integração, com valores, capacidades e competências.

No Projeto Educativo do Lar de Infância e Juventude é salvaguardado que “As crianças e jovens do LIJ são muito mais que o objetivo do seu trabalho, são os protagonistas, o centro e o fim.”9

2.2.2. Apartamento de Autonomia

O apartamento resultou de uma proposta, levada a cabo em 2010, para uma resposta social perante os jovens que ficaram sem a possibilidade de voltar à família, sem retaguarda de autonomia de vida e que não passasse pela institucionalização prolongada.

De acordo com a legislação, a instituição criou o apartamento enquadrando a

“Resposta Social, desenvolvida em equipamento – apartamento inserido na comunidade local – destinada a apoiar a transição para a vida adulta de jovens que possuem competências pessoais específicas, através da dinamização de serviços que articulem e potenciem recursos existentes nos espaços territoriais”10

Semelhante ao Lar, o Apartamento de Autonomia também se localiza no centro da cidade, mas destinado a acolher jovens a partir dos 16 anos, como medida de proteção e promoção para a autonomia de vida. Preparado para seis jovens, com este apartamento pretende-se proporcionar todas as condições para mediar o processo de autonomização de vida, quer através de estratégias desenvolvidas individualmente, a nível de acompanhamento e apoio psicossocial, material e de inserção sócio laboral, quer da supervisão de uma equipa técnica que intervirá com o sentido de orientação e promoção de competências para a autonomia.