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Capítulos IV – Deram-me as asas para voar

1. A importância da ABCD na vida dos participantes

1.2. Dimensão de apoio à vida escolar

(…)essa base de apoio, de afeto, de carinho, de amor, por parte das pessoas que

trabalharam connosco que foram pessoas muito chegadas a nós e (…) acabou por lançar- me as bases, e deram-me as asas para eu voar [João, Anexo IV.2].

O apoio e orientação do Lar abrangeu diversas áreas do desenvolvimento pessoal e social dos jovens. Neste ponto damos destaque ao apoio à vida escolar.

Pedro fala de alguns problemas, antes da entrada no Lar. Refere-se a algumas dificuldades que sentia para comunicar, só dizia disparates, nem uma frase completa. Tinha muitas dificuldades e ninguém me ensinava nada [Anexo III.6]. Pedro explica que sentiu um apoio forte do Lar neste sentido, para melhorar, muita orientação e estímulo: ensinaram a estudar e a ter domínio, permitiram e deram condições para eu saber, ler, aprender a estudar, para eu ter domínio, controlo de mim, aprender novas maneiras de estudar

[Anexo III.5]. Para Pedro, estes esforços tornaram o estudo numa atividade mais fácil. No caso do João, autoconsiderava-se um caso de problemas comportamentais e de insucesso escolar, relatando que “Eu não tinha hábitos, completamente nenhuns, de

estudar era um miúdo muito rambo (…) completamente um miúdo selvagem (…) não tinha

hábitos de ir à escola, não tinha hábitos de ir estudar. Cheguei cá com sete negativas, menos a educação física que era a única [Anexo IV.2]. Mas o apoio proporcionado no Lar, ajudou-o a ultrapassar essa fase. Contou-nos que a sua maior dificuldade (…) foi mesmo

começar a ter regras (…) ter de começar a ganhar hábitos de estudar que ainda hoje

Pelos jovens são partilhados momentos especiais, particularmente de recompensas por parte dos funcionários, como incentivo por conseguirem alcançar os objetivos nos estudos. Trata-se de uma abordagem positiva de encorajamento que marcou as suas vidas.

O João fala de um momento em particular de reconhecimento do esforço. Partilha a sua história do kinder bueno18, que poderemos ler mais em detalhe no Anexo IV. Ana também partilha um momento de recompensa nos exames do 11º ano “Ai a mim foi um vestido, no final do 11º ano, nos exames nacionais, assim valeu a pena” [Anexo IV.3] Estes e outros

episódios de recompensas vão ao encontro dos gostos e desejos dos jovens. Esclarecem que “no segundo ciclo, havia sempre recompensas sempre que tirávamos boa nota, depende se nos esforçávamos pra isso, ou era um euro, ou alguma coisa que nós gostávamos”[Anexo IV.3].

Este acompanhamento era proporcionado pelos três funcionários acima já mencionados (Raquel, Melina e Gonçalo). Tal como refere a Diretora Maria Silva, o acompanhamento escolar era assegurado pelos funcionários contando que cada criança tinha um encarregado de educação [Anexo III.1]. Até mesmo os jovens, já no processo de Autonomia de Vida e a frequentarem o ensino superior, contam com uma pessoa responsável pelo seu acompanhamento e supervisão. A título de exemplo a Ana e o Carlos comentam que no primeiro dia da universidade a Raquel acompanhou-os. Ana diz que: O melhor até foi que a Raquel levou-me no primeiro dia a Viseu, se não me tivesse levado, eu acho que nem tinha ido [Anexo IV.3]. Acrescenta Carlos que: A Raquel também me levou no primeiro dia e eu fiquei a chorar [Anexo IV.3].

Este acompanhamento inicial teve sempre continuidade, tal como nos descreve João:

Lembro-me da Melina, que desde que fui para a faculdade tinha aquela preocupação de: João leva isto, leva aquilo, leva aquel´outro(…) estava sempre a ver se eu estava bem, se estava mal, como tinha corrido a faculdade, como tinha corrido a semana [Anexo IV.3]. O João sugere que se trata de uma relação além do mínimo profissional, por parte dos funcionários. Todo o envolvimento contribuiu verdadeiramente para o sucesso alcançado. Sendo que ainda hoje todo esse apoio e incentivo permanece.

18

Do ponto de vista dos jovens, a instituição nas suas vidas representou a possibilidade de atingir metas importantes particularmente na sua educação / formação, como elucida a expressão do Carlos nem sequer tinha o 12º ano, só por aí. [AnexoIV.3]. Afirma que não iria pensar como pensa hoje, não teria as mesmas oportunidades, como podemos rever no discurso de Carlos, nas Notas de Campo [Anexo III.5].

Ainda a propósito do apoio prestado pela instituição no âmbito das exigências escolares, os dois irmãos (Carlos e Pedro) partilham o gosto por línguas estrangeiras e quando chegaram à Instituição, pediram para ter aulas de inglês e foram para o Instituto Britânico [Anexo III.5].

Adiantaram no OT1 que, além do apoio na instituição nos estudos, já mencionados, tinham também outros apoios. Ana refere que: Eu tinha explicações na escola. E Pedro indica: Eu cheguei a ter uma explicação suplementar [Anexo IV.4].

Este apoio e incentivo à formação dos jovens permitiu-lhes desenvolver hábitos de estudo, aptidões e competências para continuarem o percurso formativo agora no ensino superior. Em resultado da análise dos jovens do OT3 e OT4 [Anexo IV.4], relacionados com o contexto universitário, afirmaram os jovens, Ana, Carlos e Pedro, dedicar mais tempo aos estudos, no entanto João afirmou ter sido o contrário para ele, na medida em: Eu levei uma bagagem muito grande, em termos de conhecimento, do liceu para a faculdade e já não precisei de dar o litro na faculdade [Anexo IV.4].

De facto, os meios e recursos reunidos pela intuição influenciaram o projeto de vida destes jovens e, como será retratado posteriormente, os sonhos dos jovens estão a poucos passos de serem concretizados – terminar a formação superior e entrar no mercado de trabalho, colocados numa perspetiva de sucesso educativo.