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Anexo III – Notas de Campo 6

1. Conversa informal 1 7

Hoje falei pela primeira vez, pessoalmente, com a Diretora da Instituição.

Feitas as apresentações, ao entrar no café e num ambiente descontraído, expus o meu projeto de investigação e os seus objetivos no âmbito do mestrado em ESIC. A indicação para esta instituição foi feita pela Professora Rosinha Madeira. Declaro ainda que é minha professora, orientadora de estágio. A orientação para esta instituição foi feita a pensar no quão vantajoso seria para o trabalho a desenvolver no projeto. A Dra Maria faz uma breve apresentação da instituição. Aponta para uma matriz diferente do comum das instituições, tanto em relação ao número de crianças (8 em regime acolhimento prolongado), como à estrutura física (um apartamento, tipo T4, no centro da cidade), não possuindo qualquer sinalização visível de que se trata de uma instituição.

Lá vivem pessoas com idades entre os 8 e os 20 anos, mas já houve até aos 22. Atualmente, tem uma criança que foi adotada no passado. Ao fim de seis anos, a família de acolhimento rejeitou-a (afirma que não quis continuar a tomar conta) e ela voltou ao sistema de acolhimento prolongado.

Tem casos de transferência por motivos de mau comportamento. Nestes casos, os jovens melhoraram a sua conduta. Na

Instituição com 8 crianças em regime de acolhimento

prolongado num

apartamento T4, sem identificação diferenciada.

O Lar perspetiva uma melhor conduta dos jovens Participantes: Diretora do LIJ, Dra Maria Silva

Data: 2ª feira, 12 de novembro de 2012

Local: Café da cidade Hora: 10:00h – 11:30h

perspetiva de sucesso escolar e do seu futuro não seria o esperado, no entanto, o que se verifica nos exemplos destas crianças e jovens que acolhemos é o contrário.

Trata-se de um lar misto, essencialmente porque acolhe irmãos. Isto é “considerado um fator importante no desenvolvimento deles” enquanto, que nos outros lares, são separados.

Estes utentes têm um acompanhamento próximo, por parte dos funcionários que se encontram diariamente com eles, pela restante equipa de trabalho e ainda pelos seus familiares. Claro que depende do processo de cada um deles, mas, mais tarde ou mais cedo, esta relação subsiste.

A Dra Maria fala das tomadas de decisão. Estas são consideradas em grupo, com a presença dos envolvidos, ou seja, os próprios estão implicados neste processo, fazem parte deste momento. As decisões que os utentes tomam podem estar relacionadas consigo próprios ou mesmo com as outras crianças. Podem ser circunstanciais, do seu dia-a-dia, podem estar relacionadas com questões de castigos (definem como deve ser e se realmente é necessário), questões de férias (se vão para a praia, rio, quais os passatempos), saídas de fins de semana e todas as áreas que envolvem as suas vidas.

Destaca que têm duas figuras de referência no apartamento, feminina e masculina, sempre presentes no quotidiano. Têm sempre um funcionário, mesmo de noite.

Profere ainda que há um sistema de flexibilidade de horários, muito próximo do familiar, adaptado a cada criança. “Não são obrigados, em determinado horário, a fazer determinada coisa ao som de campainhas como é característico nas instituições”.

Lar misto por acolher irmãos.

As decisões são tomadas em conjunto com crianças e jovens, estão implicadas no processo.

A figura masculina e feminina está presente no Lar.

Flexibilidade de horários (individualidade) e sistema idêntico ao da família.

Outro fator importante referido é a oportunidade de eles terem as suas próprias roupas, não há necessidade de as mesmas serem partilhadas por todos. O Lar tem o cuidado de proporcionar roupas apropriadas, não havendo constrangimentos na forma como se vestem. Vestem-se de maneira semelhante aos seus colegas de escola.

A Dra Maria fala ainda das tarefas domésticas que lhes são atribuídas, no sentido de desenvolverem capacidades, aptidões de forma a aprenderem a ser autónomos nas lidas da casa. Exemplifica: desde pôr a mesa, aprender a cozinhar, limpar o pó, cuidar das roupas, tal como numa família seria normal.

Na escola, cada criança tem um encarregado de educação.

A Diretora dirige-me uma palavra de prevenção para as possíveis barreiras a encontrar: personalidades fechadas, intervalo grande de idades, o facto de viverem em meio muito familiar, intimista e ser uma instituição pequena (8crianças, sendo que uma tem um atraso de desenvolvimento). Como entrar lá? Vou parecer alguém estranho a querer saber da vida deles… Com quem vou trabalhar, com crianças ou jovens? O que fazer em concreto com eles? Quais as atividades a realizar?

Tem quatro jovens a frequentar o ensino superior, três deles em regime de autonomia (Viseu, Vila Real e Coimbra) e um no Lar. Foi um encontro agradável e muito proveitoso!

Depois desta conversa, fiquei ainda mais motivada com o projeto. Surge uma questão: trabalhar com as crianças ou jovens?

Efetivamente, a realidade desta instituição destaca-se, promove a

Não há partilha de roupas (individualidade).

As crianças e jovens fazem as tarefas domésticas – desenvolvem capacidade de autonomia.

Crianças e jovens com personalidades fechadas e intervalo de idades, uma criança com atraso de desenvolvimento e que vivem num contexto familiar.

proximidade de figuras vinculativas, assemelha-se muito ao funcionamento duma família nuclear, dum lar acolhedor, revisto nas minhas inquietações nesta valência de acolhimento.

Considerando os dados nacionais de crianças e jovens em situação de acolhimento, tal percurso de sucesso não seria expectável. Além de concluírem a escolaridade obrigatória22, estudam no ensino secundário. Alguns fazem-no via profissionalizante. Chegam mesmo a ingressar no ensino superior. Atualmente, quatro jovens frequentam este nível de ensino, um deles já se encontra a concluir o grau de mestre. Apesar de um percurso de vida tumultuoso, estes jovens chegam onde não seria de se esperar, ou seja, vão para além das expetativas.

Percurso dos jovens, para além das expetativas.