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Anexo III – Notas de Campo 6

6. Instrumentos Expressivos – Pedro 28

Já sentados, começo por explicar como decorrerá a sessão e o motivo de ser individual.

Começo com o “círculo de amigos”, exponho as diretrizes para o preencher. Em silêncio, identifica as pessoas do primeiro círculo. Fala, particularmente, da Alexandra que identifica como uma amiga da instituição que já não se encontra lá.

Comenta que, no Lar, são todos amigos, só com os mais novos é que não tem tanta intimidade. Afirma que: “A relação é muito mais próxima com os meus irmãos, com o João e a Ana que estão lá desde sempre.”

Depois de eu perguntar se estava completo, acrescenta ainda o nome da D. Orquídea. Rasura-o, de seguida, afirmando que fica no segundo círculo. Acrescenta ainda dois grandes amigos [Samuel e David, irmão]. Ao olhar para a folha, comenta que ainda não está completa, “falta a minha mãe”. Depois de escrever, pega na folha e diz: “acho que agora está completo”. Revela passar pouco tempo com sua mãe, mas inclui-a nos seus melhores amigos, assim como os técnicos e o pessoal de casa. Já no segundo círculo, diz ter amigos de Aveiro. Acha que se passasse mais tempo com eles, estariam no primeiro círculo. Para de preencher e assegura “dar que pensar, pois nem todos os dias pensa na roda desta forma, e provavelmente há mais pessoas

Laços afetivos – pessoas que passaram pelo Lar, os laços que se estabeleceram foram fortes.

Laços afetivos – a mãe faz parte dos melhores amigos como os técnicos, crianças e jovens do Lar.

Estruturar os laços de amizade “dá que pensar” Participantes: Pedro

Data:2ª feira, 9 de setembro de 2013

Local: Apartamento de Autonomização (sala) Hora: 11:00h – 11:45h Técnica: Instrumentos Expressivos – Círculo de amigos e Linguagem musical

mas não se recorda.”

No terceiro círculo, o Pedro não sabia o que haveria de colocar. Enuncio alguns exemplos, como os colegas de trabalho, da universidade, os amigos do atletismo… Sente alguma dificuldade em recordar-se das pessoas e de alguns nomes de amigos que conhece por alcunhas. A propósito das alcunhas, partilha o seu nome de praxe, “Poeta de Rocker”, por gostar de escrever e de música rock.

No quarto círculo lembra-se logo dos motoristas do autocarro que o levam até à cidade onde estuda, o Sr. Magalhães e o Sr. Jorge. Considera-os pessoas muito boas, “fixes”, assim como os senhores do café, onde vai muitas vezes. Estes são conhecidos da sua família.

Passo à segunda atividade, “linguagem musical”.

Dado que na sessão com o outro jovem, esta não teve boa recetividade, proponho-me, com este, alargar a outras vertentes artísticas. Explico o que se pretende e sugiro a inclusão de um livro ou poema, uma vez que é uma área do seu interesse.

Este jovem revela ter um grande conhecimento musical. Especifica conhecer músicas desde os anos 30 até aos dias de hoje. Porém, tem dificuldades em associar as músicas aos acontecimentos da sua vida. Tento explicar-lhe que a ideia é constatar e averiguar as emoções por detrás dos acontecimentos. Fala da música, Imagine, de John Lennon, e atribui ao primeiro momento (entrada na instituição), dizendo que gostaria de fundamentar a sua escolha.

Antes de escrever a justificação na folha, o Pedro explica que a

Caraterísticas individuais – Pedro gosta de música rock, de escrever, em particular poemas.

Escolhe “Imagine” de Jonh Lennon.

música Imagine está associada às questões da guerra e aos fundamentos da paz. Para si, o que traduz a sua guerra foi: “a vivência e os comportamentos que sofri, que levei quando estava na minha família biológica. Pra mim vir para a instituição foi um tratado de paz. Foi aquela paz que estava por trás da música, aquela paz que se queria transmitir às pessoas.”

Não preenche o segundo momento, pois sente dificuldades em associar uma música “de um avanço da solidão para amigos na instituição”.

De imediato, sabe qual a música a identificar no terceiro momento. Na altura em que entrou para a universidade começou a ouvir música rock and roll e “rock pesado”, por sentir mais liberdade de expressão, ter acesso a outras coisas e ver de forma diferente. Quando ouvia uma música sentia que podia fazer inúmeras coisas. Comenta que, apesar de não fazerem muito sentido, para a própria pessoa faz sentido. O Pedro diz que, ao ouvir esta música: “Quis pôr em prática todos os meus fundamentos, liberdade, movimento de estar aqui, estar ali, de poder agora e o que quiser.”

No final, volto ao segundo momento. Porém, sem sucesso. Diz somente ter de ser uma música muito melancólica porque só quando chegou à instituição é que percebeu o verdadeiro significado de ter amigos. Sabia o que era, mas não os tinha, apenas o Carlos. Afirma ter estado incapacitado. Diz ainda que, até chegar ao Lar, era um “ignorantezinho qualquer” na questão de falar e de dar a opinião em público, “só dizia disparates, nem uma frase completa. Tinha muitas dificuldades e ninguém me ensinava nada, também porque a minha mãe não sabia ler e nem sabe. Passava os dias a jogar futebol sozinho, a subir às árvores sozinho e também a partir-me todo sozinho.” Havia alturas em

Dois mundos diferentes: a família biológica representa o mundo da guerra e a Instituição representa o tratado de paz.

Antes da instituição vivia numa solidão; no Lar encontrou amigos

A universidade representa mais liberdade de expressão e poder. A música rock representa para ele a procura da liberdade.

Laços de amizade – no Lar aprendeu o verdadeiro sentido de ter amigos.

Antes de entrar no Lar - passava momentos sozinho, não tinha capacidade de comunicar, expressar-se e não tinha ninguém para o ensinar, passava os dias sozinho.

que chorava sozinho porque queria estar com o Carlos.

Nesta altura, pergunto o que considerou crucial para entrar na universidade.

Ele conta que, no primeiro ano, quando foi para Aveiro, não foi com vontade de estudar, apesar do objetivo ser estudar, “enganei-me a mim mesmo”. Foi com vontade de fazer contactos e estar com os amigos, de gozar ao máximo aquilo que não teve, como ele próprio diz, “não o fez aos poucos e de uma forma periódica e controlada.” Pergunto quando e como é que teve consciência deste facto. Argumenta ter tido um ano muito difícil e percebeu que agora tem a oportunidade de consertar o erro. Voltou a entrar na universidade e tenta cumprir as responsabilidades. “Não vou falhar comigo mesmo”, fala de uma forma convicta. Diz ter voltado com outro objetivo, de livre vontade, tal como fez sempre. Foi muito estimulado na casa e sempre gostou de estudar também. Partilha que “eles permitiram que chegasse até aqui, pois ensinaram-me a estudar, entre as “mil e uma” maneiras de saber e aprender como estudar. Se não tivesse ido para a instituição não saberia nem uma. Aqui permitiram, deram condições para eu saber, ler, aprender a estudar, para eu ter domínio, controlo de mim, aprender novas maneiras de estudar, uma vez que não gostava que fosse sempre da mesma forma, assim era mais fácil.”

Terminadas as atividades com o Pedro, comenta não estar muito à vontade para se expor, mas compreender da importância deste projeto. Afirma não lhe custar assim tanto ajudar. Sugere ainda, de uma próxima vez que estivermos juntos, falar destas atividades, pois talvez se lembre de mais algum fator importante que possa acrescentar.

A universidade, no primeiro ano, foi experimentar a máxima liberdade e fazer novas amizades.

Teve outra oportunidade de voltar a estudar mesmo depois de o primeiro ano não ter corrido bem.

No Lar sempre houve apoio e estímulo, ensinaram a estudar.

A Instituição ensina-o a estudar, a ter domínio próprio, a ser e estar.